• Autor
  • O Blog

vicio da poesia

Category Archives: Convite à música

Vozes, incêndios de imaginação – Marlene Dietrich

09 Segunda-feira Jan 2017

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Poetas e Poemas

≈ 2 comentários

Etiquetas

Marlene Dietrich, Peter Sarstedt, Zizi Jeanmaire

dietrich1939-500pxNuma das canções de adolescência que ainda ouço com emoção, Where Do You Go To (My Lovely), Peter Sarstedt fala-nos de uma paixão que acabou, e descreve-nos a mulher, de alguma forma ideal, onde sobressaem as qualidades: falar como Marlene Dietrich e dançar como Zizi Jeanmaire.
Talvez haja leitores do blog que tenham visto dançar Zizi Jeanmaire e possuam a memória de  como as suas pernas falavam, dizendo-nos da graça, da beleza e do erotismo de um corpo de mulher. Também assim com a Dietrich. Continua a correr mundo a famosa fotografia de promoção de Der Blaue Engel (O Anjo Azul)

onde um grande plano da bela, sentada, nos mostra em perfil a perna dobrada, encaminhando o olhar espectador para onde a promessa de paraíso se esconde.

Não é das pernas de Marlene Dietrich que a canção nos fala, do que também valeria a pena,  mas da sua voz, afinal o pretexto para esta divagação.

Pouco mais haverá a dizer sobre as contraditórias emoções que ouvi-la provoca. Em dia de maior disponibilidade, deu-me para registar a emoção provocada por uma sua interpretação de Johnny, wenn du Geburtstag hast, que hoje aqui revelo.

ouvi-la cantar

“Johnny wenn du geburtstag hast”

acariciar o microfone

a voz rouca

de um desejo guardado

a ponta do dedo que aflora, pressiona

e o volume cresce

c r e s c e

c  r  e  s  c  e

ah!

acabou

 

vi, ouvi, senti

senti a mão acariciar-me a alma

suave e intensamente

fazendo crescer um desejo que a ausência acumulou

 

lembro-a, o braço estendido

vestido branco

o carro que se afasta

e a felicidade que fugiu

 

talvez para sempre

A canção Johnny, wenn du Geburtstag hast foi escrita por Frederick Hollander, famoso compositor berlinense de canções de cabaret.

O texto reporta-se a uma interpretação de Johnny, wenn du Geburtstag hast no New London Theatre de Londres em 1972, quando a Dietrich tinha a voz da experiência de uma vida de sedução. Embora abundem no youtube excertos deste concerto, a todos falta a interpretação /pretexto desta divagação emocionada.

Termino com a canção de abertura: Where Do You Go To (My Lovely) e a respectiva letra que, julgo, dispensa tradução, ou mesmo elucidação dos personagens e lugares nela referidos.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Peter+Sarstedt+-+Where+do+you+go+to+my+lovely+-+1969.mp3

You talk like Marlene Dietrich
And you dance like Zizi Jeanmaire
Your clothes are all made by Balmain
And there’s diamonds and pearls in your hair, yes there are
You live in a fancy apartment
Of the Boulevard Saint-Michel
Where you keep your Rolling Stones records
And a friend of Sacha Distel, yes you do
But where do you go to my lovely
When you’re alone in your bed
Tell me the thoughts that surround you
I want to look inside your head, yes I do
I’ve seen all your qualifications
You got from the Sorbonne
And the painting you stole from Picasso
Your loveliness goes on and on, yes it does
When you go on your summer vacation
You go to Juan-les-Pins
With your carefully designed topless swimsuit
You get an even suntan on your back and on your legs
And when the snow falls you’re found in Saint Moritz
With the others of the jet-set
And you sip your Napoleon brandy
But you never get your lips wet, no you don’t
But where do you go to my lovely
When you’re alone in your bed
Won’t you tell me the thoughts that surround you
I want to look inside your head, yes I do
Your name, it is heard in high places
You know the Aga Khan
He sent you a racehorse for Christmas
And you keep it just for fun, for a laugh a-ha-ha-ha
They say that when you get married
It’ll be to a millionaire
But they don’t realize where you came from
And I wonder if they really care, or give a damn
Where do you go to my lovely
When you’re alone in your bed
Tell me the thoughts that surround you
I want to look inside your head, yes I do
I remember the back streets of Naples
Two children begging in rags
Both touched with a burning ambition
To shake off their lowly-born tags, so they try
So look into my face Marie-Claire
And remember just who you are
Then go and forget me forever
But I know you still bear the scar, deep inside, yes you do
I know where you go to my lovely
When you’re alone in your bed
I know the thoughts that surround you
‘Cause I can look inside your head
(na na-na-na na na-na-na na-na na na na na)
(na na-na-na na na-na-na na-na na na na na)

 O artigo foi antes piblicado no blog em Abril de 2012.

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Cantiga do campo — poema de Gomes Leal para canção dos Madredeus

14 Quinta-feira Jul 2016

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Poesia Antiga

≈ Deixe um comentário

Etiquetas

Gomes Leal

Millet 1857 500pxA música de Pedro Ayres Magalhães e Rodrigo Leão para o poema de Gomes Leal (1848-1921) Cantiga do Campo capta a atmosfera luminosa deste, simultaneamente ensolarada e fresca, qual a da natureza pelo verão, servida por uma refinada orquestração.

Jean-Francois Millet 09 500px

O mundo rústico de que o poema fala está extinto, mas o desejo do contacto com a natureza assalta as gentes urbanas nestes dias de verão que incendeiam corpos e almas, levando multidões atrás da música em festivais com a paisagem silvestre quase intocada por cenário.

A música no seu mistério de devolver a harmonia ao humano é o catalisador destes parêntesis numa vida por demais enfeudada à vertigem das exigências de todos os dias.

Woodstock poster

Antes de transcrever o poema, registo além das variadas versões pelos Madredeus a belíssima e original interpretação da canção por Mylene, cantora brasileira que em 2007 gravou um esplêndido disco com diversas canções dos Madredeus.

As canções tanto nas interpretações dos Madredeus como de Mylene encontram-se on-line nos lugares do costume.

Jean-Francois Millet 02 450px

 

Cantiga do Campo

 

 

Por que andas tu mal comigo

Ó minha doce trigueira?

Quem me dera ser o trigo

Que, andando, pisas na eira!

 

Quando entre as mais raparigas

Vais cantando entre as searas,

Eu choro ao ouvir-te as cantigas

Que cantas nas noites claras!

 

Os que andam na descamisa

Gabam a viola tua,

Que, às vezes, ouço na brisa

Pelos serenos da lua.

 

E falam com tristes vozes

Do teu amor singular

Àquela casa onde cozes,

Com varanda para o mar.

 

Por isso nada me medra,

Ando curvado e sombrio!

Quem me dera ser a pedra

Em que tu lavas no rio!

 

E andar contigo, ó meu pomo

Exposto às chuvas e aos sois!

E uma noite morrer como

Se morrem os rouxinóis!

 

Morrer chorando, num choro

Que mais as magoas consola,

Levando só o tesouro

Da nossa triste viola!

 

Por que andas tu mal comigo?

Ó minha doce trigueira?

Quem me dera ser o trigo

Que, andando, pisas na eira!

 

in Gomes Leal, Claridades do Sul, Braz Pinheiro Editor, Lisboa, 1875.

Modernizei a ortografia.

Jean-Francois Millet 03 500px

 

Acompanham o artigo imagens de pinturas de Jean-Francois Millet (1814-1875) entremeadas com a imagem do poster original do Festival de Woodstock em 1969, pontapé de saída para os festivas de verão em ambiente rural.

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

La foule — canção por Piaf e o poema de Jorge de Sena

12 Terça-feira Jul 2016

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Poetas e Poemas

≈ Deixe um comentário

Etiquetas

Edith Piaf, Jorge de Sena

Piaf500pxJe revois la ville en fête et en délire [Revejo a cidade em festa e em delírio]
Suffoquant sous le soleil et sous la joie [Sufocando sob o sol e sob a alegria

Não, não são sobre o delírio do futebol observado em Lisboa a pretexto da vitória contra a França na final do EURO2016, os versos transcritos acima. São o início de uma canção popular — La foule — que Edit Piaf (1915-1963) cantou, frequentemente, de forma fabulosa.
Fala a canção de um encontro de acaso entre um homem e uma mulher desconhecidos,  empurrados para os braços um do outro por uma multidão em festa (o que bem pode ter acontecido a alguém naqueles eufóricos festejos). Enlaçados, os desconhecidos voam levados pelo turbilhão das gentes. Surge súbito a paixão na faísca de um sorriso para logo, na voragem da festa, a multidão os separar e não mais se encontrarem.
Segue a canção, e ao júbilo do amor adivinhado sucede a raiva na voz magoada que ainda hoje toca quem alguma vez entreviu por momentos a paixão, e esta sem remédio se esfumou perante a indiferença do mundo que continuou imperturbável no seu giro.
Desta, como de outras canções, a variada amálgama de sentimentos que a voz de Edit Piaf continua a destilar em quem a ouve, fala de forma superlativa o poema de Jorge de Sena (1919-1978) que a seguir transcrevo.

A Piaf

Esta voz que sabia fazer-se canalha e rouca,
ou docemente lírica e sentimental,
ou tumultuosamente gritada para as fúrias santas do “Ça irá”,
ou apenas recitar meditativa, entoada, dos sonhos perdidos,
dos amores de uma noite que deixam uma memória gloriosa,
e dos que só deixam, anos seguidos, amargura e um vazio ao lado
nas noites desesperadas da carne saudosa que se não conforma
de não ter tido plenamente a carne que a traiu,
esta voz persiste graciosa e sinistra, depois da morte,
como exactamente a vida que os outros continuam vivendo
ante os olhos que se fazem garganta e palavras
para dizerem não do que sempre viram mas do que adivinham
nesta sombra que se estende luminosa por dentro
das multidões solitárias que teimam em resistir
como melodias valsando suburbanas
nas vielas do amor
e do mundo.

in Jorge de Sena, Obras Completas, Poesia 1, edição de Jorge Fazenda Loureirio, Babel, 2013.

 

A canção encontra no YouTube quem tiver curiosidade. No entanto, para mim, a melhor interpretação disponível encontra-se no Disque d’or saído em 2012 e que pode ser ouvido no Spotify.
Para quem leia francês fica a seguir a respectiva letra. Na Wikipédia encontram os leitores a longa história dos variados sucessos da canção.

La Foule

Je revois la ville en fête et en délire
Suffoquant sous le soleil et sous la joie
Et j’entends dans la musique les cris, les rires
Qui éclatent et rebondissent autour de moi
Et perdue parmi ces gens qui me bousculent
Étourdie, désemparée, je reste là
Quand soudain, je me retourne, il se recule,
Et la foule vient me jeter entre ses bras…

Emportés par la foule qui nous traîne
Nous entraîne
Écrasés l’un contre l’autre
Nous ne formons qu’un seul corps
Et le flot sans effort
Nous pousse, enchaînés l’un et l’autre
Et nous laisse tous deux
Épanouis, enivrés et heureux.

Entraînés par la foule qui s’élance
Et qui danse
Une folle farandole
Nos deux mains restent soudées
Et parfois soulevés
Nos deux corps enlacés s’envolent
Et retombent tous deux
Épanouis, enivrés et heureux…

Et la joie éclaboussée par son sourire
Me transperce et rejaillit au fond de moi
Mais soudain je pousse un cri parmi les rires
Quand la foule vient l’arracher d’entre mes bras…

Emportés par la foule qui nous traîne
Nous entraîne
Nous éloigne l’un de l’autre
Je lutte et je me débats
Mais le son de sa voix
S’étouffe dans les rires des autres
Et je crie de douleur, de fureur et de rage
Et je pleure…

Entraînée par la foule qui s’élance
Et qui danse
Une folle farandole
Je suis emportée au loin
Et je crispe mes poings,
Maudissant la foule qui me vole
L’homme qu’elle m’avait donné
Et que je n’ai jamais retrouvé…

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Ainda a poesia de Rosalia de Castro e Cantar de Emigração por Adriano Correia de Oliveira

14 Segunda-feira Mar 2016

Posted by viciodapoesia in Convite à música

≈ 1 Comentário

Etiquetas

Adriano Correia de Oliveira, Giovanni Segantini, José Niza, Rosalia de Castro

E0702 SEGANTINI 7997

Nos tempos das canções de intervenção, há mais de quarenta anos, foi popular o poema de Rosalia de Castro (1837-1885), transcrito no artigo anterior, [Este vai-se, aquele vai-se, …], cantado por Adriano Correia de Oliveira (1942-1982) com música de José Niza (1938-2011), Cantar de Emigração.

Era um tempo em que estava bem presente a sangria de homens levados pela emigração para terras de França em busca do pão de cada dia que Portugal não tinha.

Portugal foi frequentemente terra madrasta para os seus filhos e de novo, nestes anos recentes, os filhos vimos partir em busca do destino que o país não sabe ou não lhes quer dar.

Esta dor funda da partida ouve-se na canção, provavelmente a mais bela canção que Adriano gravou: eterno tanger da solidão de quem fica apenas com a memória dos vivos que se afastam.

Na música a flauta segue a voz de Adriano Correia de Oliveira numa pungente interpretação do poema em versão portuguesa, esta mais tocante que a transcrita no artigo anterior.

Cantar de Emigração por Adriano Correia de Oliveira com poema de Rosalia de Castro e música de José Niza.

 

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/15+Can%C3%A7%C3%A3o+T%C3%A3o+Simples.mp3

 

Cantar de Emigração

 

Este parte, aquele parte,

e todos, todos se vão:

Galiza sem homens ficas

que possam cortar teu pão.

Tens em troca, órfãos e órfãs

tens campos de solidão;

tens mães que não têm filhos

filhos que não têm pais.

Coração que tens e sofre

longas ausências mortais.

Viúvas de vivos mortos

que ninguém consolará.

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Giovanni Segantini (1858-1899).

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

SUMMERTIME e o JAZZ

11 Sexta-feira Set 2015

Posted by viciodapoesia in Convite à música

≈ Deixe um comentário

Etiquetas

Gershwin, Summertime

SummertimeEscapa-se o Verão levado pelo inexorável fluir do tempo. Aos ecos dos seus esplendores junta-se a música que as noites cálidas chamam, e nos acordes do saxofone se transportam, em enlace de sonhos vividos.

Nunca é tarde para recomeçar. E levar connosco o lastro do que nos fez feliz é uma companhia duplamente apetecida, qual seja, por exemplo, uma canção-âncora de tudo isso: Summertime.

Na origem Summertime é cantada por Clara enquanto adormece o filho nos braços, no inicio da ópera de Gershwin, Porgy and Bess, concluída em 1935. Cedo esta e outras canções da ópera passaram a integrar os standards do jazz. Hoje, as interpretações devem contar-se por centenas. São muitas as interpretações da minha afeição e algumas aqui ficam.

Começo com a limpidez da voz incomparável de Ella Fitzgerald em três concertos.

Primeiro no famoso concerto de Berlim de 13-02-1960 com o quarteto de Paul Smith, em que se esqueceu da letra de Mack The Knife e improvisou em scat de forma genial, num dos maiores momentos da história da música ao vivo, mas aqui, desse concerto, vamos ouvir apenas Summertime.

Depois ouviremos duas interpretações próximas no tempo, em 1970 e 1971, como o mesmo trio: Tommy Flanagan ao piano, Frank de la Rosa no contrabaixo e Ed Thigpen na bateria, uma em Budapeste (20-05-1970) e a outra em Nice (21-06-1971). Sendo tão diferentes as interpretações, venha o diabo e escolha qual a mais bela, pois eu não consigo.

Finalmente, em estúdio com Louis Armstrong e orquestra, integrando a gravação dos estratos da ópera que ambos fizeram em conjunto.

Ella Fitzgerald – Berlim
https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Summertime+Berlim.mp3

Ella Fitzgerald – Budapeste
https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/16+Summertime.mp3

Ella Fitzgerald – Nice

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/05+Summertime.mp3

Ella Fitzgerald com Louis Armstrong

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Ella+Louis+Summertime.mp3

Depois da trompete de Louis Armstrong, experimentemos as possibilidades expressivas da canção no saxofone e numa talvez menos conhecida interpretação de Art Pepper, com Russ Freeman ao piano, Ben Tucker no contabaixo e Chuck Perkins na bateria, onde o génio espreita a cada nota.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/10+Summertime+%5B%23%5D.mp3%20

Regresso ao canto para ir aos abismos com a interpretação de Sarah Vaughan captada ao vivo no Japão em 1973, usando apenas o registo grave da sua interminável voz, com Carl Schroeder no piano, John Gianelli no contrabaixo e Jimmy Cobb na bateria.

Por curiosidade ouçamos depois aquela que é a mais antiga gravação vocal desta escolha, de 1949, também na voz light, à época, da bela e jovem Sarah. Foi o tempo em que gravou com Miles Davis, mas que nesta canção não a acompanha.

Sarah Vaughan no Japão

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Sarah+Vaughan+Summertime+Jap%C3%A3o.mp3

Sarah Vaughan 1949

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Sarah+Vaughan+Summertime.mp3

É a uma jam session de Dinah Washington (15-08-1954) que vou buscar a interpretação que segue, para a qual não há adjectivos, no trompete de Clifford Brown.

Clifford Brown

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/03+Summertime.mp3

 E regresso ao saxofone com a interpretação de Charlie Parker com orquestra de cordas, naquela que foi a gravação (30-11-1949) que deu o ponto de partida para o que passou a ser moda: musicos de jazz gravarem com acompanhamento de cordas.

Charlie Parker

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/04+Summertime.mp3%20

Termino esta visita com a interpretação atípica de Cathy Berberian, deusa de quem já aqui falei, num cruzamento entre o standard da interpretação clássica e a improvisacão da música de vanguarda. A gravação foi efectuada nas Semanas Musicais de Ascona em 07-10-1975.

Cathy Berberian

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/33+Track+33.mp3%20

E para ficarem com uma ideia do que está escrito na partitura da ópera, vou buscar à famosa e premiada interpretação da ópera por Sir Simon Rattle, gravada quando da produção do Festival de Glyndebourne em 1988 com a orquetra Filarmónica de Londres, a canção de Clara e o respectivo texto, cantado por Harolyn Blackwell.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/02+A+Woman+Is+A+Sometime+Thing.mp3

Summertime and the livin’ is easy

Fish are jumpin’ and the cotton is high.

Oh yo’ daddy’s rich, and yo’ ma is good lookin’,

So hush, little baby, don’ yo’ cry.

 

One of these mornin’s you’re goin’ to rise up singin’,

Then you’ll spread yo’ wings an’ you’ll take the sky.

But till that mornin’, there’s a-nuttin’ can harm you

With Daddy and Mammy standin’ by.

A predominância na escolha de gravações ao vivo prende-se com a minha preferência absoluta por estas actuações, em detrimento de gravações de estúdio, sempre para além das considerações de qualidade audiófila.

Os momentos mágicos passíveis de acontecer num concerto ao vivo raramente se reproduzem no estúdio, e o calor das interpretações, quando é possível a comparação, são disso espelho.

Nota final

Artigo publicado inicialmente no blog em Setembro de 2011 e agora ligeiramente retocado com foto reformatada.

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Beethoven — Quarteto de cordas op. 59 Nº1

19 Domingo Out 2014

Posted by viciodapoesia in Convite à música

≈ Deixe um comentário

Etiquetas

Beethoven

Visito as páginas do blog com música, perdidas no vasto arquivo que o blog já é, e surge-me o desejo de as voltar a mostrar, sobretudo aos novos leitores que nos últimos meses têm chegado às dezenas. Hoje revisito este texto sobre quartetos de cordas de Beethoven publicado originalmente em Outubro de 2011.

Há dias, de passagem, quando aqui contava a Aventura Polaca, referi os quartetos Razumovsky. É com a sensação de revelar um segredo íntimo que vos falo desta música, para deixar aqui uma interpretação de minha especial afeição.

As composições para quarteto de cordas são conversações sobre o belo e o sublime, e nessa medida, parte essencial da vida de qualquer melómano que as conheça.

Conversas entre dois violinos, uma viola e um violoncelo, como todas as conversas, uns são mais interessantes que outros, e alguns têm o privilégio  de se poderem escutar a vida inteira.

A atenção exigida ao outro, o sublinhar de uma frase musical ecoando-o com nova intenção, a entrada de uma terceira voz e uma quarta, fazendo o assunto musical divergir ligeiramente, depois o regresso ao assunto principal num uníssono de acordo, contêm, quando os interpretes são de primeira, o intenso prazer da pura beleza.

É sempre música sem assunto. Apenas o jogo da melodia ou do contraste importa, criando a atmosfera sonora do mais perfeito equilíbrio.

A primeira vez que reparei num quarteto de cordas e o identifiquei, tendo passado a fazer parte de mim, foi há trinta e muitos anos. Escutava como habitualmente o programa Em orbita, a maior parte das vezes como fundo musical enquanto estudava, quando um clik me fez pôr de lado os livros e fiquei a ouvir.

No final o locutor de serviço ao programa, anunciou a peça. Tratava-se do quarteto de cordas op. 127 de Beethoven, na interpretação do Quarteto Alban Berg.

Durante muitos anos e muitos quartetos ouvidos, as preferências foram mudando e umas paixões dando lugar a outras. No entanto, um conjunto houve que permaneceu e permanece quase como parte de mim. A ele regresso quando reencontrar o sentido da vida se torna necessário. Falo dos três quartetos op 59 de Beethoven, conhecidos como Quartetos Razumovsky.

Embora a minha preferencia não se fique apenas por um deles, e umas vezes estou mais virado para o nº3, outras para o nº1, e tantas vezes para o nº2, fiquemo-nos apenas pelo nº1.

Ao pensar escrever sobre estas maravilhas voltei a ouvi-los detalhadamente, tendo regressado a interpretações que não ouvia há anos. Detenho-me num conjunto de interpretações sublimes, cada qual com as suas peculiaridades e aproximações singulares a estas formas puras de beleza.

Talvez as possa, para facilidade de exposição, arrumar por famílias, encontrando-lhes afinidades estilísticas, que não de escola.

Falemos então, para inicio de conversa da especial sonoridade dos quartetos daquela Europa, pertença do império austro-húngaro até ao século xx, sobretudo checos e húngaros, com a emocionante rugosidade no ataque às cordas dos instrumentos. Ouvi-los transmite uma espécie de arrepio que numa volta ou outra da interpretação nos põe em pele de galinha.

Diferenciam-se estas interpretações pelo tempo e pela dinâmica, transmitindo uma vivacidade especial às interpretações quer as dos checos  Quarteto Pratzak ou Quarteto Talich ou então a interpretação do hungaro quarteto Vegh.

Com um tempero estilístico vindo do classicismo vienense, e parecendo acabado de chegar dos tempos de Haydn, temos o Quarteto Budapeste nas suas duas formações, e que fez escola nos EUA através dos seus herdeiros, o Quarteto Julliard.

Guardiães da tradição vienense temos o Quarteto Alban Berg em qualquer das suas formações, embora em geral prefira as interpretações da primeira formação.

Numa espécie de cruzamento entre as escolas austríaca e checa encontram-se os ingleses do Quarteto Lindsay. Tocando com uma entrega emocional total, vê-los no histriónico da sua interpretação, envolve-nos numa total adesão e mergulhamos na essência mesma desta música.

Chego agora aquela que foi a interpretação primeira e mais duradoura de minha paixão, a do Quarteto Italiano. Combinando a refinada articulação vienense com a paixão  própria do sul, a sua interpretação derrama uma emoção em cada nota que simultâneamente nos comove e euforiza, fazendo encontrar ali, naquela música, o caminho a seguir.

Este quarteto e esta interpretação estiveram no cume das minha preferências até que um dia me cruzei com uma gravação da radio austríaca, feita no final da WWII, a 19 de Março de 1945. Tocava o Quarteto Schneidermann. A atmosfera de entendimento e concórdia destilada pela interpretação do primeiro dos quartetos op. 59 levou-me a um completo êxtase. É ainda hoje a minha escolha primeira sobre qualquer das interpretações que atingem a excelência e que felizmente alguém gravou para nosso prazer e memória.

No seu estilo eram sem rival e inimitáveis… A sua execução  não conhecia quaisquer problemas técnicos, nem de outra natureza. Harmonia e beleza de som eram soberanas. Da sensual opulencia sonora  do conjunto, faziam suave música, quais sonâmbulos mergulhados em doces sonhos despreocupados das perigosas alturas onde se moviam. Mais ou menos isto escrevia um critico vienense, Hans Wiegel, a proposito do Quarteto Schneiderhan em 1961, quase uma década depois de o quarteto se ter dissolvido.

Na impossibilidade de facultar a algum interessado a audição de todas as gravações que referi (se algum pretender detalhes pode perguntar por e-mail), deixo esta interpretação do Quarteto Schneidermann. Possa algum leitor/ouvinte sentir o milagre que me aconteceu, espero!

Op. 59 nº1:  1 – Allegro

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/String+Quartet+No.+7+in+F+major+(%27Rasumovsky+1%27)+Op.+59-1-+1+Allegro.mp3

Op. 59 nº1:  2 – Allegretto vivace e sempre scherzando

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/String+Quartet+No.+7+in+F+major+(%27Rasumovsky+1%27)+Op.+59-1-+2+Allegretto+vivace+e+sempre+scherzando.mp3

Op. 59 nº1:  3 – Adagio molto e mesto

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/String+Quartet+No.+7+in+F+major+(%27Rasumovsky+1%27)+Op.+59-1-+3+Adagio+molto+e+mesto.mp3

Op. 59 nº1:  4 – Allegro

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/String+Quartet+No.+7+in+F+major+(%27Rasumovsky+1%27)+Op.+59-1-+4+Allegro.mp3

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Langston Hughes — I, too

08 Domingo Dez 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Convite à música, Poetas e Poemas

≈ 2 comentários

Etiquetas

Langston Hughes, Marian Anderson, Romare Bearden

Romare Bearden 02Avesso que sou a efemérides com pretexto necrófilo, passo habitualmente esses eventos mediáticos em silêncio. A morte de Mandela, no que pode significar do fim de um tempo, leva-me a recordar o belo poema de Langston Hughes (1902-1967) I, Too. Romare Bearden The Block

Eu também

Eu, também, canto América.

Sou o irmão negro.

Mandam-me comer na cozinha

Quando chega alguém,

Mas rio,

E como bem,

E cresço forte.

 

Amanhã,

Estarei à mesa

Quando alguém chegar.

Ninguém se atreverá,

Então,

A dizer-me,

“Come na cozinha”.

 

Além disso,

Verão como somos belos

E terão vergonha—

 

Eu, também, sou América.

Romare Bearden - La Primavera - 1967

Original

I, Too

I, too, sing America.

 

I am the darker brother.

They send me to eat in the kitchen

When company comes,

But I laugh,

And eat well,

And grow strong.

 

Tomorrow,

I’ll be at the table

When company comes.

Nobody’ll dare

Say to me,

“Eat in the kitchen,”

Then.

 

Besides,

They’ll see how beautiful we are

And be ashamed–

 

I, too, am America.

Romare Beardwn EVENING 1985

Pode o leitor interessado ouvir aqui o poema lido pelo  poeta.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Langston+Highes+I%2C+Too.mp3

 Romare Bearden Gospel-Morning 1987

Termino com He’s got the whole world in his hands cantado por Marian Anderson (1897-1993).

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/01+He%27s+Got+the+Whole+World+in+His+Hands.mp3

Romare Bearden Fish Fry

Acompanham o artigo imagens de pinturas/colagens de Romare Bearden (1911–1988).

O leitor curioso encontra nas páginas da Wikipédia informação relevante sobre Langston Hughes, Romare Bearden e Marian Anderson.

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Com mulher nas 4 estacões – anúncio de jornal e três poemas de Vinicius de Moraes

24 Terça-feira Set 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Crónicas, Poetas e Poemas

≈ Deixe um comentário

Etiquetas

Toquinho, Vinicius de Moraes

c842b.jpg (JPEG Image, 477x738 pixels)A presença de uma mulher na nossa vida adulta é para qualquer homem uma exigência e um desafio. Estou a lembrar-me da canção de Vinicius de Moraes, Mulher, sempre mulher, aqui cantada por Toquinho.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/09+Mulher+Sempre+Mulher.mp3

Mulher, sempre mulher

Mulher, ai, ai, mulher

Sempre mulher

Dê no que der

Você me abraça, me beija, me xinga

Me bota mandinga

Depois faz a briga

Só pra ver quebrar

Mulher, seja leal

Você bota muita banca

Infelizmente eu não sou jornal

 

Mulher, martírio meu

O nosso amor

Deu no que deu

E sendo assim, não insista

Desista, vá fazendo a pista

Chore um bocadinho

E se esqueça de mim

E se conservá-las é uma arte, a procura reveste as formas mais variadas.

Enviou-me mão amiga um anúncio de homem procurando namorada, publicado num jornal de Ceará no Brasil. O extraordinário da prosa faz com que o transcreva na forma em que me chegou.

Homem descasado de 40 anos, que só gosta de mulher, após casamento de sete anos, mal sucedido afetivamente, vem através deste anúncio, procurar mulher que só goste de homem, para compromisso duradouro, desde que esta preencha certos requisitos:

O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE tenha idade entre 28 e 40 anos, não descartando, evidentemente, aquelas de idade abaixo do limite inferior, descartando as acima do limite superior.

Devem ter um grau razoável de escolaridade, para que não digam, na frente de estranhos: ‘menas vezes’, ‘quando eu si casar’, ‘pobrema no úter’, ‘eu já si operei de apênis’, ‘é de grátis’, ‘vamo de a pé’, ‘adoro tar com você’ e outras pérolas gramaticais.

Os olhos podem ter qualquer cor, desde que sejam da mesma e olhem para uma só direção.

Os dentes, além de extremamente brancos, todos os 32, devem permanecer na boca ao deitar e nunca dormirem mergulhados num copo d’água.

 Os seios devem ser firmes, do tamanho de um mamão papaia, cujos mamilos olhem sempre para o céu, quando muito para o purgatório, nunca para o inferno. Devem ter consistência tal que não escapem pelos dedos, como massa de pão.

 Por motivos óbvios, a boca e os lábios, devem ter consistência macia, não confundir com beiço.

A barriga, se existir, muito pequena e discreta, e não um ponto de referência.

 O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE seja sexualmente normal, isto é, tenha orgasmos, se múltiplos melhor, mas mesmo que eventuais, quando acontecerem, que ela gema um pouco ou pisque os olhos, para que ele sinta-se sexualmente interessante.

 Independentemente da experiência sexual do PRETENDIDO, este exige que durante o ato sexual a PRETENDENTE não boceje, não ria, não fique vendo as horas no rádio relógio, não durma ou cochile.

O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE não tenha feito nenhuma sessão de análise, o que poderia camuflar, por algum tempo, uma eventual esquizofrenia.

A PRETENDENTE deverá ter um carro que ande, nem que seja uma Brasília, ou que tenha dinheiro para o táxi, uma vez que pela própria idade do PRETENDIDO, ele não tem mais paciência para levar namorada de madrugada para casa.

Enviar cartas com foto recente, de corpo inteiro, frente e costas, da PRETENDENTE, para a redação deste jornal, para o codinome:

‘CACHORRO MORDIDO DE COBRA TEM MEDO ATÉ DE BARBANTE’.

Há nesta prosa uma sinceridade reveladora do homem no que à mulher exige para o servir, que dificilmente alguém conseguiria inventar. Estamos, neste anúncio, num mundo de títeres. A dignidade que se exige a cada um para ser parte da humanidade anda longe daqui.

É outro o universo onde a humanidade que se respeita vive. E é do Brasil que nos vem, de novo, pela inspiração de Vinicius de Moraes a acertada forma de perguntar a uma mulher — Você quer ser minha namorada?

Oiçamo-la na voz de Maria Bethânia, numa versão que não inclui a primeira estrofe do poema.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Beth%C3%A2nia+canta+Minha+Namorada+de+Vinicius+de+Morais.mp3

Você quer ser minha namorada?

Meu poeta eu hoje estou contente

Todo mundo de repente ficou lindo

Ficou lindo de morrer

Eu hoje estou me rindo

Nem eu mesma sei de que

Porque eu recebi

Uma cartinhazinha de você

Se você quer ser minha namorada

Ai que linda namorada

Você poderia ser

Se quiser ser somente minha

Exatamente essa coisinha

Essa coisa toda minha

Que ninguém mais pode ser

Você tem que me fazer

Um juramento

De só ter um pensamento

Ser só minha até morrer

E também de não perder esse jeitinho

De falar devagarinho

Essas histórias de você

E de repente me fazer muito carinho

E chorar bem de mansinho

Sem ninguém saber porquê

E se mais do que minha namorada

Você quer ser minha amada

Minha amada, mas amada pra valer

Aquela amada pelo amor predestinada

Sem a qual a vida é nada

Sem a qual se quer morrer

Você tem que vir comigo

Em meu caminho

E talvez o meu caminho

Seja triste pra você

Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos

E os seus braços o meu ninho

No silêncio de depois

E você tem que ser a estrela derradeira

Minha amiga e companheira

No infinito de nós dois

Música de Carlos Lyra

Termino com os conselhos do sábio poeta sobre como viver um grande amor

Para Viver Um Grande Amor dito por Vinicius de Moraes

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/11+Para+Viver+Um+Granda+Amor.mp3

Para Viver Um Grande Amor

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é p’ra quem quer… — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro, e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for.

Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor direito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador.

É sempre necessário ter em vista um crédito de rosas no florista, muito mais, muito mais que na modista! — para viver um grande amor.

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, filets com fitas — comidinhas para depois do amor.

E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor.

É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer “baixo” seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor.

Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — não ser um ganhador.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a grande amada para viver um grande amor.

Transcrevi a versão lide pelo poeta nesta gravação. Existem outras versões do poema publicadas em livro.

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Lydia, the Tattooed Lady

22 Quinta-feira Ago 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Crónicas

≈ Deixe um comentário

Peter Lavely -  homem da tribo Yawalapili - Brasil 1988Peter Lavely –  homem da tribo Yawalapili – Brasil 1988

Que parte de nós, seres dotados de pensamento e razão, é atraída por mutilações corporais decorrentes de motivações religiosas ou estéticas, continua a ser-me motivo de interrogação.

Entre a compressão dos pés das meninas na China ou da cabeça entre os Mangbetu e a furacão das orelhas que entre nós de forma generalizada se pratica, vai evidentemente um abismo no sofrimento imposto.

Lydia Jovem MangbetuMulher e criança Mangbetu com cabeça deformada deliberadamente

Há depois as inserções de objectos estranhos, como um prato no lábio inferior que certa tribo em África praticava, e era o melhor da minha colecção de cromos na infância com exemplos dos costumes de raças humanas; ou pendurezas diversas no nariz, essas um pouco mais espalhadas, para chegarmos às nossas hipercivilizadas sociedades de hoje onde alguma popularidade existe para a colocação dos chamados piercings nas partes moles do corpo, com atracção especial pelos órgãos com alguma participação na actividade sexual, a começar pela língua.

Lydia - Portrait of a india rajasthan woman withher henna tattoo

E as pinturas, que desde sempre nos criaram a ilusão do outro e por isso mesmo efémeras, como no teatro ou nos palhaços.

PHOTO NUDE 020A

São caso diferente as pinturas permanentes no corpo como as tatuagens, que afinal, são ao que queria chegar hoje.

Lydia - Tatood girl

As tatuagens são um mundo de oportunidades: do arabesco mínimo à paisagem com recantos secretos, as possibilidades têm apenas como limite a imaginação. Mas desenganem-se aqueles que supõem ser entusiasmo recente, isso de tatuagens sobre o corpo. Demonstro-o com uma velha canção de Harol Arlen (música) e Yip Harbourg (letra), surgida pela primeira vez no filme dos Irmãos Marx, Os Marx no Circo, em 1939. Nela seguimos uma espécie de viagem ao mundo geográfico, histórico e cultural, pelas tatuagens de Lydia, a dama tatuada.

E como diz a canção: You can learn a lot from Lydia!

Lydia world map

A letra é uma graça, e a interpretação que vos trago, de Bobby Short (1924–2005), cantor residente do Café Carlyle de New York, durante 35 anos, e tornado uma lenda viva, absolutamente imperdível.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Harold+Arlen+-+Bobby+Short+-+Lydia%2C+the+Tattooed+Lady+-+American+Songbook+Series.mp3

Lydia, the Tattooed Lady

Oh Lydia, oh Lydia, say, have you met Lydia?

Lydia The Tattooed Lady.

She has eyes that folks adore so,

and a torso even more so.

Lydia, oh Lydia, that encyclo-pidia.

Oh Lydia The Queen of Tattoo.

On her back is The Battle of Waterloo.

Beside it, The Wreck of the Hesperus too.

And proudly above waves the red, white, and blue.

You can learn a lot from Lydia!

 

La-la-la…la-la-la.

La-la-la…la-la-la.

 

When her robe is unfurled she will show you the world,

if you step up and tell her where.

For a dime you can see Kankakee or Paree,

or Washington crossing The Delaware.

 

La-la-la…la-la-la.

La-la-la…la-la-la.

 

Oh Lydia, oh Lydia, say, have you met Lydia?

Lydia The Tattooed Lady.

When her muscles start relaxin’,

up the hill comes Andrew Jackson.

Lydia, oh Lydia, that encyclo-pidia.

Oh Lydia The Queen of them all.

For two bits she will do a mazurka in jazz,

with a view of Niagara that nobody has.

And on a clear day you can see Alcatraz.

You can learn a lot from Lydia!

 

La-la-la…la-la-la.

La-la-la…la-la-la.

 

Come along and see Buffalo Bill with his lasso.

Just a little classic by Mendel Picasso.

Here is Captain Spaulding exploring the Amazon.

Here’s Godiva, but with her pajamas on.

 

La-la-la…la-la-la.

La-la-la…la-la-la.

 

Here is Grover Whelan unveilin’ The Trilon.

Over on the west coast we have Treasure Isle-on.

Here’s Nijinsky a-doin’ the rhumba.

Here’s her social security numba.

 

La-la-la…la-la-la.

La-la-la…la-la-la.

 

Lydia, oh Lydia, that encyclo-pidia.

Oh Lydia The Champ of them all.

She once swept an Admiral clear off his feet.

The ships on her hips made his heart skip a beat.

And now the old boy’s in command of the fleet,

for he went and married Lydia!

 

I said Lydia…

(He said Lydia…)

They said Lydia…

We said Lydia, la, la!

 

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Ana Hatherly – tisana 387

02 Quinta-feira Maio 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Poetas e Poemas

≈ Deixe um comentário

Etiquetas

Ana Hatherly, Elizabeth Schwarzkopf, Richard Strauss, Vier Letzte Líeder

12Estou triste e só. Ligo o rádio. Oiço duas das últimas Canções de Strauss. Sinto de uma maneira profunda a sua fluidez cromática, a sua riqueza orquestral. Os metais soam como vibrantes florestas. A voz da cantora é a de uma grande ave solitária. Sinto-me um lobo sem alcateia. Quando se está muito só o gemido transforma-se em uivo

Esta Tisana 387 consta do livro 463 tisanas que reuniu em 2006 o conjunto destes poemas, publicado por Quimera Editores.

Pequenos poemas em prosa que constituem uma espécie de work in progress, tendo vindo a ser publicadas desde 1969, As TISANAS de Ana Haterly (1929) são uma meditação poética sobre a escrita como pintura e filtro da vida. No seu conjunto formam uma espécie de cidade-estado construída pela escrita criadora, que é abolição obliqua, delírio provocado e lição de tentativa. O mundo das TISANAS é um mapa emotivo de uma conjuntura cultural em que os agentes do sentido têm por árbitro o espírito.

Clarificado que está o poema no seu contexto, acrescento apenas uma nota musical sobre as peças nele mencionadas.

Nota musical

No poema referem-se duas canções de um ciclo de quatro canções, conhecido como Vier Letzte Líeder (Quatro Últimas Canções) e foram compostas por Richard Strauss no final da vida, em 1947.
Não tendo sido pensadas como um ciclo coerente, desde a sua publicação são usualmente cantadas como tal.

Matéria de paixão para quem as conhece, e na minha discoteca conto uma dúzia de interpretações, nelas se percorre musicalmente uma espécie de ciclo vital desde a alegria primaveril ao repouso final.

Dos quatro poemas cantados, três são de Hermann Hesse (Beim Schlafengehen – Indo Dormir; September – Setembro; Frühling – Primavera) sendo o quarto poema de Joseph von Eichendorff (Im Abendrot – Ao Anoitecer).

Termino com uma ligação YouTube onde as canções podem ser ouvidas na voz de Elizabeth Schwarzkopf (segunda gravação), a qual é, para muitos, a melhor interpretação de sempre destas canções.

A ordem porque as canções são cantadas é a seguinte:

Frühling

September

Beim Schlafengehen

Im Abendrot

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...
← Older posts

Visitas ao Blog

  • 2.061.304 hits

Introduza o seu endereço de email para seguir este blog. Receberá notificação de novos artigos por email.

Junte-se a 874 outros subscritores

Página inicial

  • Ir para a Página Inicial

Posts + populares

  • A valsa — poema de Casimiro de Abreu
  • Camões - reflexões poéticas sobre o desconcerto do mundo
  • Escultura votiva da pré-história mediterrânica

Artigos Recentes

  • Sonetos atribuíveis ao Infante D. Luís
  • Oh doce noite! Oh cama venturosa!— Anónimo espanhol do siglo de oro
  • Um poema de Salvador Espriu

Arquivos

Categorias

Create a free website or blog at WordPress.com.

  • Seguir A seguir
    • vicio da poesia
    • Junte-se a 874 outros seguidores
    • Already have a WordPress.com account? Log in now.
    • vicio da poesia
    • Personalizar
    • Seguir A seguir
    • Registar
    • Iniciar sessão
    • Denunciar este conteúdo
    • Ver Site no Leitor
    • Manage subscriptions
    • Minimizar esta barra
 

A carregar comentários...
 

    %d bloggers gostam disto: