Nos tempos das canções de intervenção, há mais de quarenta anos, foi popular o poema de Rosalia de Castro (1837-1885), transcrito no artigo anterior, [Este vai-se, aquele vai-se, …], cantado por Adriano Correia de Oliveira (1942-1982) com música de José Niza (1938-2011), Cantar de Emigração.
Era um tempo em que estava bem presente a sangria de homens levados pela emigração para terras de França em busca do pão de cada dia que Portugal não tinha.
Portugal foi frequentemente terra madrasta para os seus filhos e de novo, nestes anos recentes, os filhos vimos partir em busca do destino que o país não sabe ou não lhes quer dar.
Esta dor funda da partida ouve-se na canção, provavelmente a mais bela canção que Adriano gravou: eterno tanger da solidão de quem fica apenas com a memória dos vivos que se afastam.
Na música a flauta segue a voz de Adriano Correia de Oliveira numa pungente interpretação do poema em versão portuguesa, esta mais tocante que a transcrita no artigo anterior.
Cantar de Emigração por Adriano Correia de Oliveira com poema de Rosalia de Castro e música de José Niza.
Cantar de Emigração
Este parte, aquele parte,
e todos, todos se vão:
Galiza sem homens ficas
que possam cortar teu pão.
Tens em troca, órfãos e órfãs
tens campos de solidão;
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pais.
Coração que tens e sofre
longas ausências mortais.
Viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará.
Abre o artigo a imagem de uma pintura de Giovanni Segantini (1858-1899).
Muito bonito e muito triste. Rosalía de Castro que li e leio teve uma vida também amargurada. Mas a tristeza por vezes também nos consola. Para saber mais sobre Rosalía entre em Biografias em http://www.leme.pt
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