• Autor
  • O Blog

vicio da poesia

Tag Archives: Rosalia de Castro

Ainda a poesia de Rosalia de Castro e Cantar de Emigração por Adriano Correia de Oliveira

14 Segunda-feira Mar 2016

Posted by viciodapoesia in Convite à música

≈ 1 Comentário

Etiquetas

Adriano Correia de Oliveira, Giovanni Segantini, José Niza, Rosalia de Castro

E0702 SEGANTINI 7997

Nos tempos das canções de intervenção, há mais de quarenta anos, foi popular o poema de Rosalia de Castro (1837-1885), transcrito no artigo anterior, [Este vai-se, aquele vai-se, …], cantado por Adriano Correia de Oliveira (1942-1982) com música de José Niza (1938-2011), Cantar de Emigração.

Era um tempo em que estava bem presente a sangria de homens levados pela emigração para terras de França em busca do pão de cada dia que Portugal não tinha.

Portugal foi frequentemente terra madrasta para os seus filhos e de novo, nestes anos recentes, os filhos vimos partir em busca do destino que o país não sabe ou não lhes quer dar.

Esta dor funda da partida ouve-se na canção, provavelmente a mais bela canção que Adriano gravou: eterno tanger da solidão de quem fica apenas com a memória dos vivos que se afastam.

Na música a flauta segue a voz de Adriano Correia de Oliveira numa pungente interpretação do poema em versão portuguesa, esta mais tocante que a transcrita no artigo anterior.

Cantar de Emigração por Adriano Correia de Oliveira com poema de Rosalia de Castro e música de José Niza.

 

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/15+Can%C3%A7%C3%A3o+T%C3%A3o+Simples.mp3

 

Cantar de Emigração

 

Este parte, aquele parte,

e todos, todos se vão:

Galiza sem homens ficas

que possam cortar teu pão.

Tens em troca, órfãos e órfãs

tens campos de solidão;

tens mães que não têm filhos

filhos que não têm pais.

Coração que tens e sofre

longas ausências mortais.

Viúvas de vivos mortos

que ninguém consolará.

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Giovanni Segantini (1858-1899).

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Share on Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Este vai-se, aquele vai-se… e mais poemas de Rosalia de Castro

13 Domingo Mar 2016

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

≈ Deixe um comentário

Etiquetas

Courbet, Rosalia de Castro

Gustave-Courbet-The-Stonebreakers 600pxA dureza da vida estala sem contemplação na poesia de Rosalia de Castro (1837-1885). Nela não há amabilidades ou concessões ao sentimentalismo, tão só a dor de ver o mundo ao redor, a raiva e a amargura de quanto a vida é difícil quando pão e liberdade faltam, ainda que vez por outra uma nota pessoal surja.

Deixo uma curta escolha.

 

*

Este vai-se, aquele vai-se,

e todos, todos se vão:

Galiza sem homens ficas

que te possam trabalhar.

Tens, em troca, órfãos e órfãs

e campos de solidão;

e mães que não têm filhos

e filhos que não têm pais.

E tens corações que sofrem

longas ausências mortais.

Viúvas de vivos e mortos

que ninguém consolará.

 

**

Foi a Páscoa enxuta,

choveu no São João.

À Galiza a fome

logo chegará.

 

Com melancolia

olham o mar

os que noutras terras

têm de buscar pão.

 

***

Meses do inverno frios

que eu amo a todo o amar:

meses dos fartos rios

e o doce amor do lar.

 

Meses das tempestades

que imagem são da dor

que aflige as mocidades

e as vidas corta em flor.

 

Chegai, e atrás do Outono

que as folhas faz morrer,

nelas deixai que o sono

eu durma no não-ser.

 

E quando o Sol formoso

de Abril sorria outra vez,

dê luz ao meu repouso,

já não ao meu sofrer.

 

****

Dizem alguns: Minha terra!

Dizem outros: Meu carinho!

E este: Minhas lembranças!

E aquele: Oh, meus amigos!

Todos suspiram, todos,

por algum bem perdido.

Eu só não digo nada.

Eu só nunca suspiro.

Que o meu corpo de terra

e o meu cansado espírito,

aonde quer que eu vá

vão comigo.

 

*****

Mas vê que o meu coração

é uma rosa de cem folhas,

e cada folha é uma pena

que vive apegada noutra.

 

Tiras uma, tiras duas,

penas me ficam de sobra;

dez hoje, amanhã quarenta,

desfolha que te desfolha…

 

O coração me arrancaras

se me as arrancasses todas!

 

******

Tal como as nuvens

que o vento leva

e agora ensombram, e agora alegram

os espaços imensos do céu,

assim as ideias

loucas que eu tenho

as imagens de múltiplas formas

de cores estranhas, de feitios incertos

agora ensombram

agora aclaram

o fundo sem fundo do meu pensamento

 

Poemas em adaptação do galego por Ernesto Guerra da Cal.

Transcritos de Rosalia de Castro, Antologia Poética e Cancioneiro Rosaliniano, Guimarães Editores, Lisboa, 1985.

Termino com o Cantar Gallego XXVII que dá bem conta dos sentimentos de galegos perante Castela e castelhanos.

A transcrição feita a partir da edição Aguilar, Rosalia de Castro, Obras Completas, Madrid, 1947, levantou-me dúvidas de ortografia do galego, que desconheço. Se algum leitor com domínio do galego identificar erros ortográficos agradeço se os referir.

Cantar Gallego XXVII

 

Castellanos de Castilla,

tratade ben ós galegos;

cando van, van como rosas;

cando vén, vén como negros!

 

Cando foi, iba sorrindo,

cando veu, viña morrendo;

a luciña d’os meus ollos,

o amantiño do meu peito.

 

Aquel, máis que neve branco,

aquel de doçuras cheyo,

aquel por quen eu vivía

e sin quen vivir non quero.

 

Foi a Castilla por pan

e saramagos lle deron;

déronlle fel por bebida,

peniñas por alimento.

 

Déronlle, en fin, canto amargo

tén â vida no seu seo…

¡Casteláns, casteláns,

tendes coraçón de ferro!

 

¡Ai!, no meu coraçonciño

xa non pode haber contento,

qu’ está de dolor ferido,

qu’ está de loito cuberto.

 

Morreu aquel qu’ eu quería

e para min n’ hai consolo:

so hai para min, Castilla,

a mala lei que che teño.

 

Permita Deus, casteláns,

casteláns que aborrezo,

que antes os galegos morran

que ir a pedirvos sustento.

 

Pois tan mal coraçón tendes,

secos fillos do deserto,

que se amargo pan vos gañan,

dádesllo envolto en veneno.

 

Aló van, mal pocadiños,

todos de esperanzas cheyos,

e volven, ¡as!, sen ventura

cun caudal de desprezos.

 

Van probes e tornan probes,

van sans e tornan enfermos,

que anque eles son como rosas,

tratádelos como negros.

 

¡Casteláns de Castela,

tendes corazón de aceiro,

alma como as penas dura,

e sen entrañas o peito!

 

En tros de palla sentados,

sen fundamentos, soberbos,

pensas que os nosos filliños

para servirvos naceron.

 

E nunca tan torpe idea,

tan criminal pensamento

coubo en máis fatuas cabezas

ni en máis fatuos sentimentos.

 

Que Castela e Casteláns,

todos nun montón, a eito,

non valen o que unha herbiña

destes nosos campos frescos.

 

Só pezoñosas charcas

detidas no ardente solo

tes, Castela, que humedezan

eses teus labios sedentos.

 

Que o mar deixoute esquecida

e lonxe de ti correron

as brandas augas que traen

de plantas sen sementeiros.

 

Nin árbores que dean sombra,

nin sombra que preste alento…

Chaira e sempre chaira,

deserto e sempre deserto…

 

Esto che tocou, coitada,

por herdanza no universo,

¡miserable fanfurriñeira!,

triste herdanza foi por certo.

 

En verdade non hai, Castela,

nada coma ti tan feo,

que aínda mellor que Castela

valera dicir inferno.

 

¿Por que aló fuches, meu ben?

¡Nunca tal houberas feito!

¡Trocar campiños floridos

por tristes campos sen rego!

 

¡Trocar tan claras fontiñas,

ríos tan murmuradores

por seco polbo que nunca

mollan as bágoas do ceo!

 

Mais, ¡ai!, de onda min te fuches

sen dó do meu sentimento,

e aló a vida che quitaron ,

aló a mortiña che deron.

 

Morriches, meu queridiño,

e para min non hai consolo,

que onde antes te vía, agora,

xa solo unta tomba vexo.

 

Triste como a mesma noite,

farto de dolor o peito,

pídolle a Deus que me mate,

porque xa vivir non quero.

 

Mais en tanto non me mata,

casteláns que aborrezo,

hei, para vergonza,

heivos de cantar xemendo:

 

¡Casteláns de Castela,

tratade ben ós galegos:

cando van, van como rosas;

cando vén, vén como negros!

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Gustave Courbet (1819-1877).

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Share on Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Visitas ao Blog

  • 1.945.750 hits

Introduza o seu endereço de email para seguir este blog. Receberá notificação de novos artigos por email.

Junte-se a 869 outros seguidores

Página inicial

  • Ir para a Página Inicial

Posts + populares

  • Camões - reflexões poéticas sobre o desconcerto do mundo
  • A valsa — poema de Casimiro de Abreu
  • Vasos Gregos

Artigos Recentes

  • Sonetos atribuíveis ao Infante D. Luís
  • Oh doce noite! Oh cama venturosa!— Anónimo espanhol do siglo de oro
  • Um poema de Salvador Espriu

Arquivos

Categorias

Site no WordPress.com.

  • Seguir A Seguir
    • vicio da poesia
    • Junte-se a 869 outros seguidores
    • Already have a WordPress.com account? Log in now.
    • vicio da poesia
    • Personalizar
    • Seguir A Seguir
    • Registar
    • Iniciar sessão
    • Denunciar este conteúdo
    • Ver Site no Leitor
    • Manage subscriptions
    • Minimizar esta barra
 

A carregar comentários...
 

    loading Cancelar
    O artigo não foi enviado - por favor verifique os seus endereços de email!
    A verificação do email falhou, tente de novamente
    Lamentamos, mas o seu site não pode partilhar artigos por email.
    %d bloggers like this: