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Vinicius de Moraes — Soneto da mulher ao sol e Os quatro elementos

26 Terça-feira Nov 2019

Posted by viciodapoesia in Poesia Brasileira sec. XX

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Tom Wesselmann, Vinicius de Moraes

As horas de prazer voam ligeiras, as de espera custam a passam. Ocupá-las com poesia de Vinicius de Moraes (1913-1980) é ter boa companhia. E para quem aprecia o fogo por detrás das palavras eis uma escolha. São poemas do Livro de Sonetos e contam em palavras o que a acção consegue no caminho para o incêndio dos sentidos.

Poesia da carne feliz, nela o amor nunca é platónico, mas vivido na plenitude do sexo. Lê-la encanta e comove. Tanto do que gostaríamos de dizer, está ali na forma incomparável.

 

 

Soneto da mulher ao sol

 

Uma mulher ao sol — eis todo o meu desejo 

Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz 

A flor dos lábios entreaberta para o beijo 

A pele a fulgurar todo o pólen da luz. 

 

Uma linda mulher com os seios em repouso 

Nua e quente de sol — eis tudo o que eu preciso 

O ventre terso, o pêlo úmido, e um sorriso 

À flor dos lábios entreabertos para o gozo. 

 

Uma mulher ao sol sobre quem me debruce 

Em quem beba e a quem morda e com quem me lamente 

E que ao se submeter se enfureça e soluce 

 

E tente me expelir, e ao me sentir ausente 

Me busque novamente – e se deixa a dormir 

Quando, pacificado, eu tiver de partir… 

 

A bordo do Andrea C, a caminho da França, nov. 1956.

 

 

Depois deste sonhado e desejado prazer, um ciclo de quatro deliciosos e tematicamente originais sonetos: Os Quatro Elementos.

Reflectindo sobre a volúpia do contacto do corpo com a natureza, aqui os quatro elementos: terra, ar, água e fogo, lemos do prazer a sua enunciação. 

É no dispositivo narrativo que a originalidade dos sonetos surge. Temos um casal de amantes; a mulher amada quando exposta a cada elemento da natureza, um por soneto, desenvolve atitudes de prazer que desencadeiam o ciúme do amante e provocam a sua intervenção num comportamento de antes eu que ele, como se lerá a seguir…

 

 

OS QUATRO ELEMENTOS

 

I — O FOGO

 

O sol, desrespeitoso do equinócio

Cobre o corpo da Amiga de desvelos

Amorena-lhe a tez, doura-lhe os pelos

Enquanto ela, feliz, desfaz-se em ócio.

 

E ainda, ademais, deixa que a brisa roce

O seu rosto infantil e os seus cabelos

De modo que eu, por fim, vendo o negócio

Não me posso impedir de pôr-me em zelos.

 

E pego, encaro o Sol com ar de briga

Ao mesmo tempo que, num desafogo

Proibo-a formalmente que prossiga

 

Com aquele dúbio e perigoso jogo…

E para protegê-la, cubro a Amiga

Com a sombra espessa do meu corpo em fogo.

 

 

II — A TERRA

 

Um dia, estando nós em verdes prados

Eu e a Amada, a vagar, gozando a brisa

Ei-la que me detém nos meus agrados

E abaixa-se, e olha a terra, e a analisa

 

Com face cauta e olhos dissimulados

E, mais, me esquece; e, mais, se interioriza

Como se os beijos meus fossem mal dados

E a minha mão não fosse mais precisa.

 

Irritado, me afasto; mas a Amada

À minha zanga, meiga, me entretém

Com essa astúcia que o sexo lhe deu.

 

Mas eu que não sou bobo, digo nada…

Ah, é assim… (só penso) Muito bem:

Antes que a terra a coma, como eu.

 

 

III — O AR

 

Com mão contente a Amada abre a janela

Sequiosa de vento no seu rosto

E o vento, folgazão, entra disposto

A comprazer-se com a vontade dela.

 

Mas ao tocá-la e constatar que bela

E que macia, e o corpo que bem posto

O vento, de repente, toma gosto

E por ali põe-se a brincar com ela.

 

Eu a princípio, não percebo nada…

Mas ao notar depois que a Amada tem

Um ar confuso e uma expressão corada

 

A cada vez que o velho vento vem

Eu o expulso dali, e levo a Amada:

— Também brinco de vento muito bem!

 

 

IV — A ÁGUA

 

A água banha a Amada com tão claros

Ruídos, morna de banhar a Amada

Que eu, todo ouvidos, ponho-me a sonhar

Os sons como se foram luz vibrada.

 

Mas são tais os cochichos e descaros

Que, por seu doce peso deslocada

Diz-lhe a água, que eu friamente encaro

Os fatos, e disponho-me à emboscada.

 

E aguardo a Amada. Quando sai, obrigo-a

A contar-me o que houve entre ela e a água:

— Ela que me confesse! Ela que diga!

 

E assim arrasto-a à câmara contígua

Confusa de pensar, na sua mágoa

Que não sei como a água é minha amiga.

 

Montevidéu, abril de 1960.

Poemas transcritos de Livro de Sonetos, 3.ª edição, Editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1967.

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Tom Wesselmann (1931-2004). A pintura pertence à série Sunset Nudes (2002-2004).

 

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Vinicius de Moraes — Balada das duas mocinhas de Botafogo

11 Quinta-feira Abr 2019

Posted by viciodapoesia in Poesia Brasileira sec. XX

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Vinicius de Moraes

Habituados que estamos à poesia luminosa de Vinicius de Moraes (1913-1980), encontrar o mundo de trevas de Marília e Mariana é uma dolorosa surpresa. Dolorosa pela história contada no poema-narrativa, não pela arte poética, que suprema, nos faz mergulhar no tenebroso da vida e do abismo para onde ela arrasta algumas criaturas.

 

Balada das duas mocinhas de Botafogo

Eram duas menininhas
Filhas de boa família:
Uma chamada Marina
A outra chamada Marília.
Os dezoito da primeira
Eram brejeiros e finos
Os vinte da irmã cabiam
Numa mulher pequenina.
Sem terem nada de feias
Não chegavam a ser bonitas
Mas eram meninas-môças
De pele fresca e macia.
O nome ilustre que tinham
De um pai desaparecido
Nelas deixara a evidência
De tempos mais bem vividos.
A mãe pertencia à classe
Das largadas de marido:
Seus oito lustros de vida
Davam impressão de mais cinco.
Sofria muito de asma
E da desgraça das filhas
Que, posto boas meninas
Eram tão desprotegidas
E por total abandono
Davam mais do que galinhas.

Casa de porta e janela
Era a sua moradia
E dentro da casa, aquela
Mãe pobre, e melancolia…
Quando à noite as menininhas
Se aprontavam pra sair
A loba materna uivava
Suas torpes profecias.
De fato, deve ser triste
Ter duas filhas assim
Que nada tendo a ofertar
Em troca de uma saída
Dão tudo o que têm aos homens:
A mão, o sexo, o ouvido
E até mesmo, quando instadas
Outras flores do organismo.

Foi assim que se espalhou
A fama das menininhas
Através do que esse disse
E do que aquele diria.

Quando a um grupo de rapazes
A noite não era madrinha
E a caça de mulher grátis
Resultava-lhes maninha
Um deles qualquer lembrava
De Marília e de Marina
E um telefone soava
De um constante toque cínico
No útero de uma mãe
E suas duas filhinhas.

Oh, vida tôrva e mesquinha
A de Marília e Marina
Vida de porta e janela
Sem amor e sem comida
Vida de arroz requentado
E média com pão dormido
Vida de sola furada
E cotovelo puído
Com seios moços no corpo
E na mente sonhos idos!

Marília perdera o seu
Nos dedos de um caixeirinho
Que o que dava em coca-cola
Cobrava em rude carinho.
Com quatorze apenas feitos
Marina não era mais virgem
Abrira os prados do ventre
A um treinador pervertido.
Embora as lutas do sexo
Não deixem marcas visíveis
Tirante as flores lilases
Do sadismo e da sevícia
Às vezes deixam no amplexo
Uma grande náusea íntima
E transformam o que é de gosto
Num desgosto incoercível.

E era esse bem o caso
De Marina e de Marília
Quando sozinhas em casa
Não tinham com quem sair.
Ficavam olhando paradas
As paredes carcomidas
Mascando bolas de chicles
Bebendo água de moringa.
Que abismos de desconsolo
Ante seus olhos se abriam
Ao ouvirem a asma materna
Silvar no quarto vizinho!
Os monstros da solidão
Uivavam no seu vazio
E elas então se abraçavam
Se beijavam e se mordiam
Imitando coisas vistas
Coisas vistas e vividas
E enchendo as frondes da noite
De pipilares tardios.

Ah, se o sêmen de um minuto
Fecundasse as menininhas
E nelas crescessem ventres
Mais do que a tristeza íntima!
Talvez de novo o mistério
Morasse em seus olhos findos
E nos seus lábios inconhos
Enflorescessem sorrisos.
Talvez a face dos homens
Se fizesse, de maligna
Na doce máscara pensa
Do seu sonho de meninas!

Mas tal não fosse o destino
De Marília e de Marina.
Um dia, que a noite trouxe
Coberto de cinzas frias
Como sempre acontecia
Quando se achavam sozinhas
No velho sofá da sala
Brincaram-se as menininhas.
Depois se olharam nos olhos
Nos seus pobres olhos findos
Marina apagou a luz
Deram-se as mãos, foram indo
Pela rua transversal
Cheia de negros baldios.
Às vezes pela calçada
Brincavam de amarelinha
Como faziam no tempo
Da casa dos tempos idos.
Diante do cemitério
Já nada mais se diziam.
Vinha um bonde a nove-pontos..
Marina puxou Marília
E diante do semovente
Crescendo em luzes aflitas
Num desesperado abraço
Postaram-se as menininhas.

Foi um só grito e o ruído
Da freada sobre os trilhos
E por toda a parte o sangue
De Marília e de Marina.

in O Mergulhador, poemas de Vinicius de Moraes ilustrado com fotografias de seu filho Pedro de Moraes, Edição do Atelier de Arte, Rio de Janeiro, 1968.

Abre o artigo a imagem de um detalhe de uma pintura de Théodore Chassériau (1819-1856), As duas irmãs do pintor, pertença da colecção do Museu do Louvre.

A escolha da imagem não tem qualquer associação à vida das irmãs de Botafogo. Apenas na eloquência da sua visível falta de alegria, encontro o trágico mistério que por vezes se esconde sob vidas aparentemente banais.

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Com mulher nas 4 estacões – anúncio de jornal e três poemas de Vinicius de Moraes

24 Terça-feira Set 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Crónicas, Poetas e Poemas

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Toquinho, Vinicius de Moraes

c842b.jpg (JPEG Image, 477x738 pixels)A presença de uma mulher na nossa vida adulta é para qualquer homem uma exigência e um desafio. Estou a lembrar-me da canção de Vinicius de Moraes, Mulher, sempre mulher, aqui cantada por Toquinho.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/09+Mulher+Sempre+Mulher.mp3

Mulher, sempre mulher

Mulher, ai, ai, mulher

Sempre mulher

Dê no que der

Você me abraça, me beija, me xinga

Me bota mandinga

Depois faz a briga

Só pra ver quebrar

Mulher, seja leal

Você bota muita banca

Infelizmente eu não sou jornal

 

Mulher, martírio meu

O nosso amor

Deu no que deu

E sendo assim, não insista

Desista, vá fazendo a pista

Chore um bocadinho

E se esqueça de mim

E se conservá-las é uma arte, a procura reveste as formas mais variadas.

Enviou-me mão amiga um anúncio de homem procurando namorada, publicado num jornal de Ceará no Brasil. O extraordinário da prosa faz com que o transcreva na forma em que me chegou.

Homem descasado de 40 anos, que só gosta de mulher, após casamento de sete anos, mal sucedido afetivamente, vem através deste anúncio, procurar mulher que só goste de homem, para compromisso duradouro, desde que esta preencha certos requisitos:

O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE tenha idade entre 28 e 40 anos, não descartando, evidentemente, aquelas de idade abaixo do limite inferior, descartando as acima do limite superior.

Devem ter um grau razoável de escolaridade, para que não digam, na frente de estranhos: ‘menas vezes’, ‘quando eu si casar’, ‘pobrema no úter’, ‘eu já si operei de apênis’, ‘é de grátis’, ‘vamo de a pé’, ‘adoro tar com você’ e outras pérolas gramaticais.

Os olhos podem ter qualquer cor, desde que sejam da mesma e olhem para uma só direção.

Os dentes, além de extremamente brancos, todos os 32, devem permanecer na boca ao deitar e nunca dormirem mergulhados num copo d’água.

 Os seios devem ser firmes, do tamanho de um mamão papaia, cujos mamilos olhem sempre para o céu, quando muito para o purgatório, nunca para o inferno. Devem ter consistência tal que não escapem pelos dedos, como massa de pão.

 Por motivos óbvios, a boca e os lábios, devem ter consistência macia, não confundir com beiço.

A barriga, se existir, muito pequena e discreta, e não um ponto de referência.

 O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE seja sexualmente normal, isto é, tenha orgasmos, se múltiplos melhor, mas mesmo que eventuais, quando acontecerem, que ela gema um pouco ou pisque os olhos, para que ele sinta-se sexualmente interessante.

 Independentemente da experiência sexual do PRETENDIDO, este exige que durante o ato sexual a PRETENDENTE não boceje, não ria, não fique vendo as horas no rádio relógio, não durma ou cochile.

O PRETENDIDO exige que a PRETENDENTE não tenha feito nenhuma sessão de análise, o que poderia camuflar, por algum tempo, uma eventual esquizofrenia.

A PRETENDENTE deverá ter um carro que ande, nem que seja uma Brasília, ou que tenha dinheiro para o táxi, uma vez que pela própria idade do PRETENDIDO, ele não tem mais paciência para levar namorada de madrugada para casa.

Enviar cartas com foto recente, de corpo inteiro, frente e costas, da PRETENDENTE, para a redação deste jornal, para o codinome:

‘CACHORRO MORDIDO DE COBRA TEM MEDO ATÉ DE BARBANTE’.

Há nesta prosa uma sinceridade reveladora do homem no que à mulher exige para o servir, que dificilmente alguém conseguiria inventar. Estamos, neste anúncio, num mundo de títeres. A dignidade que se exige a cada um para ser parte da humanidade anda longe daqui.

É outro o universo onde a humanidade que se respeita vive. E é do Brasil que nos vem, de novo, pela inspiração de Vinicius de Moraes a acertada forma de perguntar a uma mulher — Você quer ser minha namorada?

Oiçamo-la na voz de Maria Bethânia, numa versão que não inclui a primeira estrofe do poema.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Beth%C3%A2nia+canta+Minha+Namorada+de+Vinicius+de+Morais.mp3

Você quer ser minha namorada?

Meu poeta eu hoje estou contente

Todo mundo de repente ficou lindo

Ficou lindo de morrer

Eu hoje estou me rindo

Nem eu mesma sei de que

Porque eu recebi

Uma cartinhazinha de você

Se você quer ser minha namorada

Ai que linda namorada

Você poderia ser

Se quiser ser somente minha

Exatamente essa coisinha

Essa coisa toda minha

Que ninguém mais pode ser

Você tem que me fazer

Um juramento

De só ter um pensamento

Ser só minha até morrer

E também de não perder esse jeitinho

De falar devagarinho

Essas histórias de você

E de repente me fazer muito carinho

E chorar bem de mansinho

Sem ninguém saber porquê

E se mais do que minha namorada

Você quer ser minha amada

Minha amada, mas amada pra valer

Aquela amada pelo amor predestinada

Sem a qual a vida é nada

Sem a qual se quer morrer

Você tem que vir comigo

Em meu caminho

E talvez o meu caminho

Seja triste pra você

Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos

E os seus braços o meu ninho

No silêncio de depois

E você tem que ser a estrela derradeira

Minha amiga e companheira

No infinito de nós dois

Música de Carlos Lyra

Termino com os conselhos do sábio poeta sobre como viver um grande amor

Para Viver Um Grande Amor dito por Vinicius de Moraes

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/11+Para+Viver+Um+Granda+Amor.mp3

Para Viver Um Grande Amor

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é p’ra quem quer… — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro, e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for.

Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor direito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador.

É sempre necessário ter em vista um crédito de rosas no florista, muito mais, muito mais que na modista! — para viver um grande amor.

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, filets com fitas — comidinhas para depois do amor.

E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor.

É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer “baixo” seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor.

Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — não ser um ganhador.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva escura e desvairada não se souber achar a grande amada para viver um grande amor.

Transcrevi a versão lide pelo poeta nesta gravação. Existem outras versões do poema publicadas em livro.

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A mulher segundo o zodíaco de Vinicius de Moraes

02 Segunda-feira Set 2013

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Vinicius de Moraes

Zodíaco

O fascínio do simbólico como explicação do incompreensível é de todas as épocas e civilizações. Encontramos o circulo zodiacal dividido em 12 partes, da China à Europa, com uma simbologia apenas pontualmente divergente. Enquanto fonte de explicação dos homens, a sua associação a animais retira das particularidades cinésicas destes, o grosso da explicação comportamental dos humanos nascidos no período associado a cada signo zodiacal.

 

Numa tentativa de leitura fiel da natureza humana feminina nascida sob cada um dos signos do zodíaco seguido no ocidente, compôs Vinicius de Moraes(1913-1980) 12 poemas que foram pela primeira vez publicados no primeiro número de 1971 de Manchete, como presente de Ano Novo aos leitores da revista.

 

Estes poemas forma posteriormente editados em livro, Um signo uma mulher, sob os cuidados de Pedro Moacir Maia, em Setembro de 1975, em Buenos Aires.

 

 

ÁRIES

Branca, preta ou amarela

A ariana zela.

 

Tem caráter dominador

Mas pode ser convencida

E aí, então, fica uma flor:

Cordata … e nada convencida.

 

Porque o seu denominador

É o amor.

 

Eu cá por mim não tenho nenhum preconceito racial:

Mas sou ariano!

 

 

TOURO

O que é que brilha sem

Ser ouro? — A mulher de Touro!

É a companheira perfeita

Quando levanta ou quando deita.

Mas é mulher exclusivista

Se não tem tudo, faz a pista.

Depois, que dona-de-casa …

E à noite ainda manda brasa.

Sua virtude: a paciência

Seu dia bom: a sexta-feira

Sua cor propícia: o verde

As flores dos seus pendores:

Rosa, flor de macieira.

 

 

GÉMEOS

A mulher de Gêmeos

Não sabe o que quer

Mas tirante isso

É boa mulher.

 

A mulher de Gêmeos

Não sabe o que diz

Mas tirante isso

Faz o homem feliz.

 

A mulher de Gêmeos

Não sabe o que faz

Mas por isso mesmo

É boa demais …

 

 

CÂNCER

Você nunca avance

Em mulher de Câncer.

 

Seu planeta ê a Lua

E a Lua, é sabido

Só vive na sua.

 

É muito apegada

E quando pegada

Pega da pesada.

 

É mulher que ama

Com muito saber

No tocante à cama

Não sei lhe dizer …

 

 

LEÃO

A mulher de Leão

Brilha na escuridão.

 

A mulher de Leão, mesmo sem fome

Pega, mata e come.

 

A mulher de Leão não tem perdão.

 

As mulheres de Leão

Leoas são.

 

Poeta, operário, capitão

Cuidado com a mulher de Leão!

 

São ciumentas e antagônicas

Solares e dominicais

Igneas, áureas e sardônicas

E muito, muito liberais.

 

 

VIRGEM

Se Florence Nightingale era Virgem

Não sei. .. mas o mal é de origem.

 

A mulher de Virgem aceita a amante

Isto é: desde que não a suplante.

 

Sexo de consumo, pães-de-minuto

Nada disso lhe há de faltar

O condomínio é absoluto

A Virgem é mulher do lar.

 

Opala, safira, turquesa

São suas pedras astrais

Na cuca, muita esperteza

Na existência, muita paz.

 

 

LIBRA

A mulher de Libra

Não tem muita fibra

Mas vibra.

 

Quer ver uma libriana contente?

Dê-lhe um presente.

 

Quando o marido a trai

A mulher de Libra

Balança mas não cai.

 

Se você a paparica

Ela fica.

 

Com librium ou sem librium

Salve, venusina

Que guarda o equilíbrio

Na corda mais fina.

 

 

ESCORPIÃO

Mulher de Escorpião

Comigo não!

É a Abelha Mestra

É a Viúva Negra

Só vai de vedete

Nunca de extra.

Cria o chamado conflito

de personalidades.

É mãe tirana

Mulher tirana

Irmã tirana

Filha tirana

Neta tirana

tirana tirana.

Agora, de cama diz –

que é boa paca.

 

 

SAGITÁRIO

As mulheres sagitarianas

São abnegadas e bacanas

Mas não lhe venham com grossuras

Nem injustiças ou censuras

Porque ela custa mas se esquenta

E pode ser muito violenta.

Aí, o homem que se cuide …

—Também, quem gosta de censura!

 

 

CAPRICÓRNIO

A capricorniana ê capricomial

Como a cabra de João Cabral.

Eu amo a mulher de Capricórnio

Porque ela nunca lhe põe os próprios.

 

A caprina é tão ciumenta

Que até os ciúmes ela inventa.

Mulher fiel está aí: é cabra

Só que com muito abracadabra.

 

Suas flores: a papoula e o cânhamo

De onde vêm o ópio e a maconha

Ela é uma curtição medonha

Por isto nos capricorniamos.

 

 

AQUÁRIO

Se o que se quer é a boa esposa

A aquariana pousa.

 

Se o que se quer é uma outra coisa

A aquariana ousa.

 

Se o que se quer é muito amor

A aquariana

É mulher macho sim senhor.

 

Porém não são possessivas

Nem procuram dominar

Ou são meigas e passivas

Ou botam para quebrar.

 

 

PEIXES

Mulher de Peixe . .. peixe é

Em águas paradas não dá pé

Porque desliza como a enguia

Sempre que entra numa fria.

Na superfície é sinhazinha

E festiva como a sardinha

Mas quando fisga um namorado

Ele está frito, escabechado.

É uma mulher tão envolvente

Que na questão do Paraíso

Há quem suspeite seriamente

Que ela era a mulher e a serpente.

Seu Id: aparentar juízo

Seu Ego: a omissão, o orgulho

Sua pedra astral: a ametista

Seu bem: nunca ser bagulho

Sua cor: o amarelo brilhante

Seu fim: dar sempre na vista.

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A MULHER segundo Vinicius de Moraes

02 Sexta-feira Dez 2011

Posted by viciodapoesia in A mulher imaginada, Convite à fotografia, Poetas e Poemas

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Ruth Bernhard, Vinicius de Moraes

… e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

Infatigável cantor da mulher, Vinicius de Moraes (1913-1980) dá-nos neste Receita de Mulher um retrato ideal do feminino, onde alguma ironia perpassa a espaços.

Simultaneamente retrato, desejo e conselhos, à medida que lemos o poema somos enviados para Arte de Amar de Ovídio, não por qualquer imitação, mas por uma semelhante qualidade de inspiração sobre o ser e o fazer do amor, onde certa afinidade de assunto se revela.

Receita de mulher

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança,
qualquer coisa de haute couture
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize
elegantemente em azul,
como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso
que súbito tenha-se a
impressão de ver uma
garça apenas pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só
encontrável no terceiro minuto da aurora.
É preciso que tudo isso seja sem ser, mas
que se reflita e desabroche
No olhar dos homens. É preciso,
é absolutamente preciso
Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que
umas pálpebras cerradas
Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços
Alguma coisa além da carne: que se os toque
Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos
Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro
Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e
Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem
Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então
Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca
Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos
Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas,
e as pontas pélvicas
No enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras:
uma mulher sem saboneteiras
É como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida
A mulher se alteie em cálice, e que seus seios
Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca
E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral
Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!
Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas
E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem
No entanto, sensível à carícia em sentido contrário.
É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio
Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos
De forma que a cabeça dê por vezes a impressão
De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre
Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos
Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face
Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior
A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras
Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes
E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e
Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão
Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta
Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abri-los ela não estará mais presente
Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

O poema Receita de Mulher foi publicado em plaquette em 1957.

Deixo AQUI a ligação para a sua edição original  disponibilizada on-line por Brasiliana USP, biblioteca digital mantida pela Universidade de S. Paulo no Brasil.

Nota

A fotografia é de Ruth Bernhard (1905-2006), autora de algumas das mais belas fotos de nus femininos da história da fotografia. Viveu 101 anos. A foto foi tirada provavelmente em 1962.

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VINICIUS DE MORAES – A última elegia

02 Sexta-feira Dez 2011

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Vinicius de Moraes

Para estreia da poesia de Vinicius de Moraes (1913-1980) no blog escolhi um poema afastado do que da sua poesia nos é familiar através das canções:  A Última Elegia.

Poema de estonteante modernidade em 1939, quando foi escrito, este A Última Elegia conta e canta a vertigem da paixão:

… but the morning

Rises, o perfume da madrugada em Londres

Makes me fluid… darling, darling, acorda, escuta

Amanheceu, não durmas… o bálsamo do sono

Fechou-te as pálpebras de azul… Victoria & Albert resplende

Para o teu despertar; ô darling, vem amar

À luz de Chelsea! não ouves o rouxinol cantar em Central Park?

Escrito em português e inglês, a invenção da linguagem necessária à expressão da descoberta percorre o poema num vendaval de emoção:

Há um grande aluamento de micro-erusíferos

Em mim!

Vale a pena ler o que o poeta escreveu sobre este poema quando da primeira edição no livro 5 Elegias em 1943:

Quanto à última, escreví-a de jato, naquele Maio de 1939, em Londres, vendo, do meu apartamento, a manhã nascer sobre os telhados novos do bairro de Chelsea. A qualidade da experiência vivida e o lugar onde a vivi criaram-lhe espontaneamente a linguagem em que se formou, mistura de português e inglês, com vocábulos muitas vezes inventados e sem chave morfológica possível. Mas não houve sombra de vontade de parecer original. É uma fala de amor como a falei, virtualmente transposta para a poesia, na qual procurei traduzir, dentro de sonoridades estanques de duas línguas que me são tão caras e com arranjos gráficos de ordem puramente mnemônica, isso que foi a maior aventura lírica da minha vida.

Junho de 1943.

Despeço-me antes do poema com este belo verso:

O darling, acorda, give me thy eyes of brown,

A ÚLTIMA ELEGIA

                                      PARA TATI

      O              L

    O   F          E   S

  R      S       H       E

O          O F C           A

Greenish, newish roofs of Chelsea

Onde, merencóreos, toutinegram rouxinóis

Forlornando baladas para nunca mais!

O imortal landscape

               no anti-climax da aurora!

                               ó joy for ever!

Na hora da nossa morte et mine et semper

Na minha vida em lágrimas!

                       uér ar iú

0 fenesnites, calmo atlas do fog

Impassévido devorador das estelúridas?

Darling, darling I listen…

               ” it is, my soul, it is

Her gracious self!…”

               murmura adormecida

É meu nome!…

               sou eu, sou eu, Nabucodonosor!

Motionless I climb

               the wat

                       e

                       r

                       s

               Am I    p       a Spider?

                       i

               Am I    p e     a Mirror?

               Am I    M       an X Ray?

No, I’m the Three Musketeers

               rolled in a Romeo.

                                  Vírus

Da alta e irreal paixão subindo as veias

Com que chegar ao coração da amiga.

                               – Alas, celua

Me iluminou; celua me iludiu cantando

The songs of Los; e agora

               meus passos

                       são gatos

Comendo o tempo em tuas cornijas

Em lúridas, muito lúridas

Aventuras do amor mediúnico e miaugente..

So I came

               — from the dark bull-like tower

                               fantomática

Que à noite bimbalha bimbalalões de badaladas

Nos bem-bons da morte e ruge menstruosamente sádica

A sua sede de amor; so I came

De Menáipa para Forox, do rio ao mar — e onde

Um dia assassinei um cadáver aceso

Velado pelas seis bocas, pelos doze olhos, pelos centevinte dedos espalmados

Dos primeiros padres do mundo; so I came

For everlong that everlast — e deixa-me cantá-lo

À voz morna da retardosa rosa

Mornful and Beátrix

Obstétrix

Poesia.

                       *

Dost thou remember, dark love

Made in London, celua, celua nostra

Mais linda que maré nostrum?

               quando early morn’

Eu vinha impressentido, like the shadow of a cloud

Crepitante ainda dos aromas emolientes de Christ Church Meadows

Frio como uma coluna dos cloisters de Magdalen

Queimar-me à luz translúcida de Chelsea?

Fear love..

               ô brisa do Tâmisa, ô ponte de Waterloo, ô

Roofs of Chelsea, ô proctors, ô preposterous

Symbols of my eagerness!

                — terror no espaço!

                        — silêncio nos graveyards!

                               — fome dos braços teus!

Só Deus me escuta andar..

               — ando sobre o coração de Deus

Em meio à flora gótica.., step, step along

Along the High. “— I don’t fear anything

But the ghost of Oscar Wilde. ” ô darlingest,

I feared… A ESTAÇÃO DE TRENS.., I had to postpone

All my souvenirs! there was always a bowler-hat

Or a POLICEMAN around, a stretched one, a mighty

Goya, looking sort of put upon, cuja passada de cautchú

Era para mim como o bater do coração do silêncio (I used

To eat all the chocolates from the one-penny-machine

Just to look natural; it seemed to me que não era eu

Any more, era Jack the Ripper being hunted) e suddenly

Tudo ficava restful and worm.. — o siiiiiiiii

Lvo da Locomotiva — leit-motiv — locomovendo-se

Through the Ballad of READING gaol até a visão de

PADDINGTON (quem foste tu de tão grande

Para alevantares aos amanhecentes céus do amor

Os nervos de aço de Vercingetorix?) Eu olharia risonho

A Rosa dos Ventos. S. W. 3. Loeste! no dédalo

Se acalantaria uma loenda de amigo: “I wish, I wish

I were asleep”. Quoth I: — O squire

Please, à Estrada do Rei, na Casa do Pequeno Cisne

Room twenty four! ô squire, quick, before

My heart turns to whatever whatsoever sore!

Há um grande aluamento de micro-erusíferos

Em mim! ô squire, art thou in love ? dost thou

Believe in pregnancy, kindly tell me? ô

Squire, quick, before alva turns to electra

For ever, ever more! give thy horses

Gasoline galore, but do take me to my maid

Minha garota — Lenore!

Quoth the driver: — Right you are. sir

                       *

O roofs of Chelsea!

Encantados roofs, multicolores, briques, bridges, brumas

Da aurora em Chelsea! ô melancholy!

” I wish, I wish I were asleep. ” but the morning

Rises, o perfume da madrugada em Londres

Makes me fluid… darling, darling, acorda, escuta

Amanheceu, não durmas.. o bálsamo do sono

Fechou-te as pálpebras de azul… Victoria & Albert resplende

Para o teu despertar; ô darling, vem amar

À luz de Chelsea! não ouves o rouxinol cantar em Central Park?

Não ouves resvalar no rio, sob os chorões, o leve batei

Que Bilac deitou à correnteza para eu te passear ? não sentes

O vento brando e macio nos mahoganies? the leaves of brown

Came thumbling down, remember?

“Escrevi dez canções…

               … escrevi um soneto…

                               … escrevi uma elegia.. “

O darling, acorda, give me thy eyes of brown, vamos fugir

Para a, Inglaterra?

“… escrevi um soneto…

                               escrevi uma carta. “

O darling, vamos fugir para a Inglaterra?

                               ..”que irão pensar

Os quatro cavaleiros do Apocalipse…”

                               .. escrevi uma ode…”

O darling!

               O PAVEMENTS!

                               O roofs of Chelsea!

Encantados roofs, noble pavements, cheerful pubs, delicatessen

Crumpets,a glass of bitter, cap and gowu… -— don’t cry don’t cry!

Nothing is lost, I’ll come again, next week, I promise thee…

Be still, don’t cry..

               … don’t cry…

                       … don’t cry…

                               RESOUND

Ye pavements!

               — até que a morte nos separe —

                       ó brisas do Tâmisa, farfalhai!

Ó telhados de Chelsea,

                               amanhecei!

Também neste poema, longe do recorte clássico de muita da sua poesia, como os sonetos, onde foi grande como poucos no século XX, também aqui, dizia, é o apaixonado Vinicius que ao longo da vida cantou a mulher, os amigos e o amor, quem se mostra todo inteiro na desmesura do seu génio.

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