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O fascínio do simbólico como explicação do incompreensível é de todas as épocas e civilizações. Encontramos o circulo zodiacal dividido em 12 partes, da China à Europa, com uma simbologia apenas pontualmente divergente. Enquanto fonte de explicação dos homens, a sua associação a animais retira das particularidades cinésicas destes, o grosso da explicação comportamental dos humanos nascidos no período associado a cada signo zodiacal.
Numa tentativa de leitura fiel da natureza humana feminina nascida sob cada um dos signos do zodíaco seguido no ocidente, compôs Vinicius de Moraes(1913-1980) 12 poemas que foram pela primeira vez publicados no primeiro número de 1971 de Manchete, como presente de Ano Novo aos leitores da revista.
Estes poemas forma posteriormente editados em livro, Um signo uma mulher, sob os cuidados de Pedro Moacir Maia, em Setembro de 1975, em Buenos Aires.
ÁRIES
Branca, preta ou amarela
A ariana zela.
Tem caráter dominador
Mas pode ser convencida
E aí, então, fica uma flor:
Cordata … e nada convencida.
Porque o seu denominador
É o amor.
Eu cá por mim não tenho nenhum preconceito racial:
Mas sou ariano!
TOURO
O que é que brilha sem
Ser ouro? — A mulher de Touro!
É a companheira perfeita
Quando levanta ou quando deita.
Mas é mulher exclusivista
Se não tem tudo, faz a pista.
Depois, que dona-de-casa …
E à noite ainda manda brasa.
Sua virtude: a paciência
Seu dia bom: a sexta-feira
Sua cor propícia: o verde
As flores dos seus pendores:
Rosa, flor de macieira.
GÉMEOS
A mulher de Gêmeos
Não sabe o que quer
Mas tirante isso
É boa mulher.
A mulher de Gêmeos
Não sabe o que diz
Mas tirante isso
Faz o homem feliz.
A mulher de Gêmeos
Não sabe o que faz
Mas por isso mesmo
É boa demais …
CÂNCER
Você nunca avance
Em mulher de Câncer.
Seu planeta ê a Lua
E a Lua, é sabido
Só vive na sua.
É muito apegada
E quando pegada
Pega da pesada.
É mulher que ama
Com muito saber
No tocante à cama
Não sei lhe dizer …
LEÃO
A mulher de Leão
Brilha na escuridão.
A mulher de Leão, mesmo sem fome
Pega, mata e come.
A mulher de Leão não tem perdão.
As mulheres de Leão
Leoas são.
Poeta, operário, capitão
Cuidado com a mulher de Leão!
São ciumentas e antagônicas
Solares e dominicais
Igneas, áureas e sardônicas
E muito, muito liberais.
VIRGEM
Se Florence Nightingale era Virgem
Não sei. .. mas o mal é de origem.
A mulher de Virgem aceita a amante
Isto é: desde que não a suplante.
Sexo de consumo, pães-de-minuto
Nada disso lhe há de faltar
O condomínio é absoluto
A Virgem é mulher do lar.
Opala, safira, turquesa
São suas pedras astrais
Na cuca, muita esperteza
Na existência, muita paz.
LIBRA
A mulher de Libra
Não tem muita fibra
Mas vibra.
Quer ver uma libriana contente?
Dê-lhe um presente.
Quando o marido a trai
A mulher de Libra
Balança mas não cai.
Se você a paparica
Ela fica.
Com librium ou sem librium
Salve, venusina
Que guarda o equilíbrio
Na corda mais fina.
ESCORPIÃO
Mulher de Escorpião
Comigo não!
É a Abelha Mestra
É a Viúva Negra
Só vai de vedete
Nunca de extra.
Cria o chamado conflito
de personalidades.
É mãe tirana
Mulher tirana
Irmã tirana
Filha tirana
Neta tirana
tirana tirana.
Agora, de cama diz –
que é boa paca.
SAGITÁRIO
As mulheres sagitarianas
São abnegadas e bacanas
Mas não lhe venham com grossuras
Nem injustiças ou censuras
Porque ela custa mas se esquenta
E pode ser muito violenta.
Aí, o homem que se cuide …
—Também, quem gosta de censura!
CAPRICÓRNIO
A capricorniana ê capricomial
Como a cabra de João Cabral.
Eu amo a mulher de Capricórnio
Porque ela nunca lhe põe os próprios.
A caprina é tão ciumenta
Que até os ciúmes ela inventa.
Mulher fiel está aí: é cabra
Só que com muito abracadabra.
Suas flores: a papoula e o cânhamo
De onde vêm o ópio e a maconha
Ela é uma curtição medonha
Por isto nos capricorniamos.
AQUÁRIO
Se o que se quer é a boa esposa
A aquariana pousa.
Se o que se quer é uma outra coisa
A aquariana ousa.
Se o que se quer é muito amor
A aquariana
É mulher macho sim senhor.
Porém não são possessivas
Nem procuram dominar
Ou são meigas e passivas
Ou botam para quebrar.
PEIXES
Mulher de Peixe . .. peixe é
Em águas paradas não dá pé
Porque desliza como a enguia
Sempre que entra numa fria.
Na superfície é sinhazinha
E festiva como a sardinha
Mas quando fisga um namorado
Ele está frito, escabechado.
É uma mulher tão envolvente
Que na questão do Paraíso
Há quem suspeite seriamente
Que ela era a mulher e a serpente.
Seu Id: aparentar juízo
Seu Ego: a omissão, o orgulho
Sua pedra astral: a ametista
Seu bem: nunca ser bagulho
Sua cor: o amarelo brilhante
Seu fim: dar sempre na vista.