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vicio da poesia

Category Archives: Convite à música

Casta Diva e Montserrat Caballé

27 Sábado Abr 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Crónicas

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Casta Diva, Giuditta Pasta, Montserrat Caballé, Norma

Matéria dos sentidos, a ópera é das manifestações artísticas aquela onde a razão sossobra como exigência de um gostar. É no absoluto triunfo do irracional que o sublime se manifesta. E aí, o prazer é quase infinito.

Quem me conhece sabe desta minha paixão. Como seria de esperar tenho as minhas preferências e algumas de ilha deserta. Hoje partilho convosco a que é, provavelmente a ária que mais vezes ouvi, em dezenas de interpretações: Casta Diva. A todas as interpretes sobrepõe-se Montserrat Caballé, e a ela regresso frequentemente.

Norma - Caballé Orange 1974

De um espectáculo memorável no Théatre Antique d’Orange em 20 de Julho de 1974 em que a Caballé cantou a Norma, saiu-me esta homenagem com a audição de Casta Diva:

Do silêncio,
da noite de breu
ergue-se um som de flautas.
Quente, o vento varre o palco nu.
Um foco apenas.
De negro, alta, imóvel, o cabelo esvoaçante,
canta.
Do sussurro, a voz ergue-se
cresce
soluça
estrondeia
e extingue-se.

Silêncio!

Colados à cadeira,
ouvimos…

Da paixão o canto…

Por momentos
a beleza passou sobre nós.

Deixo-vos a gravação da ária no disco de estreia da Diva publicado em 1966.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/01+Norma%2C+Act+I%2C+Casta+Diva.mp3

Casta Diva – o poema original em italiano

Casta Diva, che inargenti
queste sacre antiche piante,
a noi volgi il bel sembiante,
senza nube e senza vel.

…

Tempra, o Diva,
tempra tu de’ cori ardenti,
tempra ancora lo zelo audace,
spargi, in terra, ah, quella pace
che regnar tu fai nel ciel, etc.

… 


Fine al rito ; e il sacro bosco
sia disgombro dai profani.
Quando il Nume irato e fosco
chiegga il sangue dei Romani,
dal druidico delubro
la mia voce tuonerà.

…

Cadrà! punirlo io posso…
(Ma, punirlo, il cor non sa.)

(Ah! bello a me ritorna
del fido amor primiero:
e contro il mondo intiero
difesa a te sarò.
Ah! bello a me ritorna
del raggio tuo sereno;
e vita nel tuo seno
e patria e cielo avrò, etc)

…

( Ah!
Ah! , bello a me ritorna, etc.)

…

(Ah! riedi ancora qual eri allora,
quando il cor ti diedi allora, etc.
ah, riedi a me.)
Norma parte, seguida por todos em ordem

Giuditta Pasta (1797-1865) foi a cantora que estreou Norma em Milão a 26 de Dezembro de 1831, e cujo retrato vos deixo.

Giuditta Pasta - Norma da estreia

Nota erudita

Casta Diva é uma ária da ópera Norma de Vincenzo Bellini(1801-1835), expoente do romantismo musical italiano.

A acção da ópera decorre na Gália (França) ocupada pelos Romanos, por volta de 100 anos da nossa era. Norma, sacerdotisa dos Druidas, vive uma paixão secreta pelo general romano ocupante, do qual tem 2 filhos.

A ária Casta Diva é uma invocação cerimonial à deusa da floresta solicitando um sinal para romper a paz com os romanos e expulsá-los do país.

Na ária jogam-se a complexidade de sentimentos do dever perante o povo, da vontade de liberdade, e do amor pelo inimigo (Ma, punirlo, il cor non sa.) (Mas puni-lo não sabe o coração). Norma por um lado faz as invocações rituais coadjuvada pelo coro, e por outro em inflexão da linha melódica dá-nos conta da complexidade dos seus sentimentos perante a quebra dos votos de castidade e desejo de viver com o inimigo.

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Um poema de amor de Manuel de Freitas

05 Quarta-feira Dez 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à fotografia, Convite à música, Poetas e Poemas

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carlos mendonça lopes, Henry Purcell, Manuel de Freitas

go 118a2Z1 530Já aqui escrevi da surpresa e admiração pela poesia de Manuel de Freitas (1972), excepção na poesia mimética que hoje por Portugal se escreve. Quando lancei um olhar abrangente sobre a sua poesia, ficou de fora o livro GAME OVER. A ele vou hoje buscar um poema de amor, que no meu desconhecimento supus, o poeta não escreveria.

IN VAIN THE AM’ROUS FLUTE

Estas escadas tinham degraus
onde por acaso nos sentámos
à espera de não ver gaivotas,
com livros abertos
quando as mãos chegavam.

De novo e despercebida e só,
acendia-se para morrer na tarde
a inútil figuração do desejo.

E éramos outra vez nós
os seus irrepetíveis figurantes,
escondidos num poema
que o tempo pisou, deixa lá
– o recomeçado amor descendo.

Nota talvez desnecessária

O título do poema remete para a Ode para o dia de Santa Cecília de 1692, Hail, bright Cecilia! Z 328, de Henry Purcell (1659-1695), onde se encontra a parte para dois tenores “In vain the am´rous flute and soft guitar”.

Vale a pena sentir o poema ganhar uma especial emoção e harmonia ao ouvi-la. A ardência do desejo no pudor da linguagem sobressai se se souber o que na ária se canta:

In vain the am´rous flute and soft guitar
Jointly labour to inspire
Wanton heat and loose desire
Whilst thy chaste airs do gently move
Seraphic flames and heav’nly love.

A fotografia que abre o artigo não evoca nada. Apenas o calor da luz sobre a desolação me fez escolhê-la.

Noticia bibliográfica

GAME OVER foi publicado por &etc em 2002, com capa de Luis Manuel Gaspar, paginação e composição de Olímpio Ferreira.

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Aniversário — o poema e a canção de Patxi Andión

10 Segunda-feira Set 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à música

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Patxi Andión

Quando a poesia fala do amor que se extinguiu, poucas vezes lemos a desolação do que resta como nestes versos:

que al igual que tu y que yo

ni se importan … ni se estorban

se soportan amistosas,

mas… mas no son… no son una cancion.

É um desencanto quase patético o que nos transmite este Aniversario, poema de Patxi Andión (1947), por ele cantado de forma pungente e tornado famoso nos anos setenta.

Para a sua leitura e audição vos convido. Na sua concisão está lá tudo. Mais palavras são supérfluas.

Aniversario

Veinte años de estar juntos

esta tarde se han cumplido.

Para ti… flores… perfumes,

para mi… algunos libros.

No te he dicho grandes cosas

porque… porque no me habrian salido,

ya sabes… cosas de viejos…

requemor de no haber sido.

Hace tiempo que intentamos

abonar nuestro destino.

Tu… tu bajabas la persiana

Yo… yo apuraba mi ultimo vino.

Hoy, en esta noche fria,

casi… como ignorando el sabor

del la soledad compartida,

quise hacerte una cancion

para cantar… despacito,

como se duerme a los niños.

Y… y ya ves, solo… palabras

sobre notas me han salido

que al igual que tu y que yo

ni se importan … ni se estorban

se soportan amistosas,

mas… mas no son… no son una cancion.

Que helada que está esta casa…

Sera… sera que esta cerca el rio…

o… o es que estamos en invierno

y estan llegando… estan llegando

los frios.

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A bela teta segundo Clément Marot e Le blason de Georges Brassens

17 Sábado Mar 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Convite à música, Poesia Antiga

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Clément Marot, Georges Brassens, Pierre de Ronsard

Nada como a experiencia para nos revelar quanto estamos errados com as nossas ideias feitas.

Tinha para mim que acariciar seios cuja beleza acrescida decorria de cirurgia plástica, arrefeceria o prazer desde que o facto fosse conhecido. A experiência mostrou-me que perante uma intervenção bem feita o prazer explode intacto ao tacto destas maravilhas.

Nasce dentro das mãos este desejo / De toda te palpar e possuir:

O elogio poético explicito dos seios não é muito frequente. Recuo ao século XVI, a um francês pouco mais velho que Camões, para encontrar uma explicita elegia às tetas, agora chamadas seios.

A bela teta

Teta perfeita, branca como um ovo,

Teta de cetim feita, cetim novo,

Teta da qual a rosa tem vergonha,

Teta melhor que tudo o que se sonha,

Teta dura, nem teta, mas enfim

Comparável a bola de marfim,

E no centro da qual somente esteja

Um rubi de morango ou de cereja

Que ninguém vê nem toca por enquanto,

Mas que aposto ser tal como eu o canto:

Teta de bico pois tão encarnado

Que parece por agora sossegado,

Quer ela vá correndo ou vá andando,

Quer ela vá partindo ou vá saltando:

Teta do lado esquerdo, tão matreira,

Sempre longe da sua companheira,

Teta que és testemunha e viva imagem

De compostura tal da personagem

Que só de ver-te assim como te vejo

Nasce dentro das mãos este desejo

De toda te palpar e possuir:

Mas é preciso eu próprio me impedir

De mais me aproximar, pois não duvido

Depois desse desejo outro surgido…

Ó teta nem modesta nem vistosa,

Teta madura, teta apetitosa,

Teta que noite e dia ouço gritar:

“Depressa me casai, quero casar!”

…

…

Com justiça, feliz se vai dizer

Aquele que de leite te há-de encher,

Fazendo de uma teta de donzela

Teta de dona inteiramente bela.

Não será difícil imaginar que a bela de quem o poema fala poderia semelhar-se a alguma das belas do século XV cujos retratos há dias aqui deixei, qual seja por exemplo a bela Simonetta Vespucci pintada por Pietro di Cosimo cerca de 1520, ou a Fornarina, causa inventada da morte precoce de Rafael e que pela mesma época este pintou:

A tradução do poema é de David Mourão-Ferreira e foi publicada em Vozes da Poesia Europeia – II (Colóquio  Letras nº 164). Os conhecedores da língua francesa encontram no final do post o poema em francês moderno com os dois versos (29 e 30) que David Mourão-Ferreira não traduziu:

 [29]Tétin qui t’enfles, et repousses  / [30] Ton gorgias de deux bons pouces

O poema chama-se em francês Le blason du beau tétin. O “blason”, género poético sem equivalente preciso em português, que eu saiba, é um curto poema celebrando uma parte do corpo feminino, constituindo-se essa parte como brasão ou emblema (blason) digno de ser cantado. Conhecido na poesia francesa em meados do século XV, ressurgiu e fez moda pela pena do nosso poeta de hoje Clément Marot (1497 – 1544). Este “blason” da bela teta foi estendido por outros poetas em imitação e emulação de Marot, nos anos que se seguiram ao seu aparecimento (1535), ao elogio de outras partes do corpo feminino das belas amadas dos poetas que as cantaram.

Depois de largo silêncio, vamos encontrá-lo de novo no século XX em poemas de Paul Eluard e André Breton, nomeadamente. Mas é um poema de Georges Brassens (1921-1981) , Le blason, que me atrai. Sendo uma elegia  à “merveillette fente” como lhe chamou Pierre de Ronsard (1524-1585), de caminho vitupera a língua francesa pela homonimía de possuir para tal amiga do homem o mesmo termo que para idiota [con]. Infelizmente não conheço tradução portuguesa desta poema de Brassens, cantado pelo poeta no disco Mourir pour des idées (1962). Deixo-vos, pois, o poema e a interpretação do grande Brassens a cuja poesia e música espero regressar.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Georges+Brassens+-+Le+Blason.mp3

LE BLASON

Ayant avec lui toujours fait bon ménage,
J’eusse aimé célébrer, sans être inconvenant,
Tendre corps féminin, ton plus bel apanage,
Que tous ceux qui l’ont vu disent hallucinant.

Ç’eût été mon ultime chant, mon chant du cygne
Mon dernier billet doux, mon message d’adieu.
Or, malheureusement, les mots qui le désignent
Le disputent à l’exécrable, à l’odieux.

C’est la grande pitié de la langue française,
C’est son talon d’Achille et c’est son déshonneur,
De n’offrir que des mots entachés de bassesse
À cet incomparable instrument de bonheur.

Alors que tant de fleurs ont des noms poétiques,
Tendre corps féminin, c’est fort malencontreux
Que ta fleur la plus douce et la plus érotique
Et la plus enivrante en ait un si scabreux.

Mais le pire de tous est un petit vocable
De trois lettres, pas plus, familier, coutumier,
Il est inexplicable, il est irrévocable,
Honte à celui-là qui l’employa le premier.

Honte à celui-là qui, par dépit, par gageure,
Dota du même terme, en son fiel venimeux,
Ce grand ami de l’homme et la cinglante injure,
Celui-là, c’est probable, en était un fameux.

Misogyne à coup sûr, asexué sans doute,
Au charme de Vénus absolument rétif,
Était ce bougre qui, toute honte bu’, toute,
Fit ce rapprochement, d’ailleurs intempestif.

La malepeste soit de cette homonymie!
C’est injuste, madame, et c’est désobligeant
Que ce morceau de roi de votre anatomie
Porte le même nom qu’une foule de gens.

Fasse le ciel qu’un jour, dans un trait de génie,
Un poète inspiré, que Pégase soutient,
Donne, effaçant d’un coup des siècles d’avanie,
À cette vrai’ merveille un joli nom chrétien.

En attendant, madame, il semblerait dommage,
Et vos adorateurs en seraient tous peinés,
D’aller perdre de vu’ que, pour lui rendre hommage,
Il est d’autres moyens et que je les connais,

Et que je les connais.

Terminemos com o original deste elogio dos seios

Le blason du beau tétin

Tétin refait, plus blanc qu’un œuf, (1)

Tétin de satin blanc tout neuf,

Toi qui fait honte à la rose

Tétin plus beau que nulle chose,

Tétin dur, non pas tétin voire (2)

Mais petite boule d’ivoire

Au milieu duquel est assise

Une fraise ou une cerise

Que nul ne voit, ne touche aussi,

Mais je gage qu’il en est ainsi.

Tétin donc au petit bout rouge,

Tétin qui jamais ne se bouge,

Soit pour venir, soit pour aller,

Soit pour courir, soit pour baller (3)

Tétin gauche, tétin mignon,

Toujours loin de son compagnon,

Tétin qui portes témoignage

Du demeurant du personnage, (4)

Quand on te voit, il vient à maints

Une envie dedans les mains (5)

De te tâter, de te tenir :

Mais il se faut bien contenir

D’en approcher, bon gré ma vie,

Car il viendrait une autre envie.

Ô tétin, ni grand ni petit,

Tétin mûr, tétin d’appétit,

Tétin qui nuit et jour criez

«Mariez moi tôt, mariez !»

Tétin qui t’enfles, et repousses

Ton gorgias de deux bons pouces : (6)

A bon droit heureux on dira

Celui qui de lait t’emplira,

Faisant d’un tétin de pucelle,

Tétin de femme entière et belle.

(1) refait : nouvellement formé

(2) voire : qui n’est pas, à vrai dire, un tétin

(3) baller : danser

(4) demeurant : de tout le reste de la personne

(5) trois syllabes

(6) décolleté, haut de la robe, corsage

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Cantiga, partindo-se de Jorge Roiz de Castelo-Branco

05 Domingo Fev 2012

Posted by viciodapoesia in Cânone XXI, Convite à música

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Amália, Cancioneiro Geral, Garcia de Resende, Jorge Roiz de Castelo-Branco

O afastamento, a distância de quem nos é querido, têm nas imagens poéticas em torno dos olhos alguns dos mais belos poemas de sempre da poesia portuguesa. Um deles é este Cantiga, partindo-se, publicado por Garcia de Resende no seu Cancioneiro Geral, e atribuído a Jorge Roiz de  Castelo-Branco (14??-1515), que agora acrescento ao meu cânone pessoal.

Cantiga, partindo-se

Senhora, partem tão tristes

meus olhos por vós, meu bem,

que nunca tão tristes vistes

outros nenhuns por ninguém.

 

Tão tristes, tão saüdosos,

tão doentes da partida,

tão cansados, tão chorosos,

da morte mais desejosos

cem mil vezes que da vida,

partem tão tristes os tristes,

tão fora de esperar bem,

que nunca tão tristes vistes

outros nenhuns por ninguém.

Jorge Roiz de  Castelo-Branco (14??-1515)

Transcrevi a versão de José Régio em português moderno publicada em  as mais belas poesias do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, 1962, publicada por Realizações Artis.

E agora, com música de Alain Oulman, o poema na voz sublime de Amália

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Am%C3%A1lia+-+Cantiga+partindo-se.mp3

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A horas mortas ouço Chopin

07 Sábado Jan 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Convite à música, Poetas e Poemas

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A horas mortas ouço Chopin

Desprende-se uma suave melancolia e as notas correm no teclado da alma

Entra no ar o sabor cálido e doce da ternura

Acaricia-se o silencio no sorriso emocionado do prazer

 

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/CHOPIN++Ballade+N+1+in+G+minor+op+23.mp3

 

Alto

Deixado a pensar

Permanece inebriado o canto silencioso

Do amor

 

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/CHOPIN+-+Nocturne+in+C+sharp+minor+op+posthume.mp3

Nota

Despido o pudor, acompanho estas minhas criações com musica de Chopin nos dedos mágicos de Alexadre Tharaud.

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Nous dormirons ensemble – poemas de Louis Aragon e a voz de Jean Ferrat

14 Segunda-feira Nov 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Poetas e Poemas

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Jean Ferrat, Louis Aragon

Alguma poesia de Louis Aragon (1897-1982) foi musicada e cantada por Jean Ferrat (1930-2010) tendo com isso chegado ao coração de muitos de nós. São canções onde a mulher e o amor irrompem, eivadas da nostalgia dos tempos felizes a maior parte das vezes.

O poeta, resultado de um percurso politico polémico e de uma personalidade incapaz de gerar consensos, continua ainda hoje fora da atenção dos amantes da poesia, pelo menos entre nós.

Servem-nos as canções para um aproximar de uma poesia com uma verdade no sentimento que julgaríamos inacessível à personalidade pública e politica cuja imagem nos chegou.

lamentavelmente não conheço traduções portuguesas dos poemas pelo que segui-los fica ao alcance dos conhecedores de francês. Aos outros restam as belíssimas interpretações de Jean Ferrat, de onde o conteúdo poético pode ser inferido usando a sensibilidade.

Nous dormirons  ensemble

Que ce soit dimanche ou lundi

Soir ou matin, minuit, midi

Dans l’enfer ou le paradis

Les amours aux amours ressemblent

C’était hier que je t’ai dit

Nous dormirons ensemble

C’était hier et c’est demain

Je n’ai plus que toi de chemin

J’ai mis mon coeur entre tes mains

Avec le tien comme il va l’amble

Tout ce qu’il a de temps humain

Nous dormirons ensemble

Mon amour, ce qui fut sera

Le ciel est sur nous comme un drap

J’ai refermé sur toi mes bras

Et tant je t’aime que j’en tremble

Aussi longtemps que tu voudras

Nous dormirons ensemble

Segue-se o poema feito canção por Jean Ferrat e cantado por este.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Jean+Ferrat+-+Nous+dormirons+ensemble.mp3

Acrescento HEUREUX CELUI QUI MEURT D’AIMER 

O mon jardin d’eau fraîche et d’ombre

Ma danse d’être mon coeur sombre

Mon ciel des étoiles sans nombre

Ma barque au loin douce à ramer

Heureux celui qui devient sourd

Au chant s’il n’est de son amour

Aveugle au jour d’après son jour

Ses yeux sur toi seule fermés

Heureux celui qui meurt d’aimer

Heureux celui qui meurt d’aimer

D’aimer si fort ses lèvres closes

Qu’il n’ait besoin de nulle chose

Hormis le souvenir des roses

A jamais de toi parfumées

Celui qui meurt même à douleur

A qui sans toi le monde est leurre

Et n’en retient que tes couleurs

Il lui suffit qu’il t’ait nommée

Heureux celui qui meurt d’aimer

Heureux celui qui meurt d’aimer

Mon enfant dit-il ma chère âme

Le temps de te connaître ô femme

L’éternité n’est qu’une pâme

Au feu dont je suis consumé

Il a dit ô femme et qu’il taise

Le nom qui ressemble à la braise

A la bouche rouge à la fraise

A jamais dans ses dents formée

Heureux celui qui meurt d’aimer

Heureux celui qui meurt d’aimer

Il a dit ô femme et s’achève

Ainsi la vie, ainsi le rêve

Et soit sur la place de grève

Ou dans le lit accoutumé

Jeunes amants vous dont c’est l’âge

Entre la ronde et le voyage

Fou s’épargnant qui se croit sage

Criez à qui vous veut blâmer

Heureux celui qui meurt d’aimer

Heureux celui qui meurt d’aimer

Eis a interpretação de Jean Ferrat, com musica de sua autoria.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Jean+Ferrat+-+Heureux+celui+qui+meurt+d%27aimer.mp3

Termino com C’EST SI PEU DIRE QUE JE T’AIME

Comme une étoffe déchirée

On vit ensemble séparés

Dans mes bras je te tiens absente

Et la blessure de durer

Faut-il si profond qu’on la sente

Quand le ciel nous est mesure

C’est si peu dire que je t’aime

Cette existence est un adieu

Et tous les deux nous n’avons d’yeux

Que pour la lumière qui baisse

Chausser des bottes de sept lieues

En se disant que rien ne presse

Voilà ce que c’est qu’être vieux

C’est si peu dire que je t’aime

C’est comme si jamais jamais

Je n’avais dit que je t’aimais

Si je craignais que me surprenne

La nuit sur ma gorge qui met

Ses doigts gantés de souveraine

Quand plus jamais ce n’est le mai

C’est si peu dire que je t’aime

Lorsque les choses plus ne sont

Qu’un souvenir de leur frisson

Un écho des musiques mortes

Demeure la douleur du son

Qui plus s’éteint plus devient forte

C’est peu des mots pour la chanson

C’est si peu dire que je t’aime

Et je n’aurai dit que je t’aime

e de novo a musica e interpretação de Jean Ferrat.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Jean+Ferrat+-+Nous+dormirons+ensemble.mp3

Nota

A pintura que ilustra o artigo é de Picasso e chama-se A alegria de viver, tendo sido pintada em 1946.

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A Ventura e uma canção dos Rolling Stones

23 Domingo Out 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Poesia Antiga

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A. X. R. Cordeiro

A  VENTURA

 Olha, meu anjo, esta vida,

Que passa despercebida,

É de gozos tão despida,

Que nos não custa morrer;

Mas já que a sorte persiste,

E que a existência resiste

Aos baldões da triste sorte,

Não nos lembremos da morte,

Vamos buscar o prazer.

 

Mas este, bela inocente,

Não consiste no luzente

Doirado metal que a gente

Anda tanto a procurar;

Não consiste na grandeza,

Que p’ra muitos é riqueza;

Não consiste nas vaidosas

Honrarias mentirosas,

Que te possam tributar.

 

Muito embora a fantasia,

Cada noite, e cada dia,

Em mil sonhos se sorria

De mentiroso prazer;

Embora tenhas alfaias,

Escudeiros, muitas aias,

Ricos trens, muitos enfeites,

São tudo falsos deleites

D’um fantástico viver.

 

A ventura, virgem bela,

É formosa, viva estrela,

Que cá na terra à donzela

Lhe conquista o sumo bem;

A ventura é ser amada

Ser no mundo idolatrada,

Mais que lá no oriente,

Sendo amadas loucamente,

O são as belas no harém.

 

A ventura é ter um seio,

A que o nosso sem receio,

A pender por doce enleio,

Revele as mágoas e a dor;

A ventura é ter desejos

E matá-los com mil beijos,

A ventura é ter a vida

Ao doce afecto rendida;

A ventura é ter amor.

 

Corre pois, dá-me os teus braços,

Apertemos nossos laços,

Porque os dias são escassos

Para quem sabe viver,

E se a dita é ser amada,

Se sem amor não há nada

Que te faça venturosa,

Ninguém neste mundo goza,

Mais ventura ou mais prazer.

 Coimbra, Abril de 1848

Lia este poema e pensava que tive a ventura de viver a adolescência e juventude num tempo em que a poesia como meio de sedução e convite ao amor estava fora de moda. O poema foi composto por A. X.  R.  Cordeiro (1819 – 1896) tinha o poeta 19 anos e estudava na Universidade de Coimbra. Foi publicado em O Trovador. e é o convite possível ao sexo naquele meado do século XIX, onde as convenções de sociedade eram espartilho para o amor.

Na verdade nos meus vinte anos e mesmo antes, era tudo muito mais fácil. Pensar em compor loas aos olhos da menina ou às sedutoras formas escondidas sob as sete saias da moda extinguiria, no burilar do verso, qualquer fogo em que o corpo ardesse. O recurso à prostituição como iniciação sexual era história passada e remota, de, pelo menos, o tempo dos pais. As formas e profundidade dos relacionamentos davam conta da liberdade de costumes que se insinuava nas nossas vidas, apesar de numa forma mais lenta que nas vizinhas sociedades ocidentais.

A música anglo-americana de final nos anos sessenta e década de setenta reflectiu isso mesmo. Os temas e as abordagens cobrem virtualmente as situações vividas por cada um de nós. Não é hoje que vos conto detalhes pessoais destes tempos mas recordo dos Rolling Stones, Let’s spend the night together, cuja letra é paradigmática do tempo que refiro.

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Rolling+Stones+–+Let+spend+the+night+together.mp3

Let’s spend the night together

My, My, My, My
Don’t you worry ‘bout what’s on your mind (Oh my)
I’m in no hurry I can take my time (Oh my)
I’m going red and my tongue’s getting tied (tongues’s getting tied)
I’m off my head and my mouth’s getting dry.
I’m high, But I try, try, try (Oh my)
Let’s spend the night together
Now I need you more than ever
Let’s spend the night together now

I feel so strong that I can’t disguise (oh my)
Let’s spend the night together
But I just can’t apologize (oh no)
Let’s spend the night together
Don’t hang me up and don’t let me down (don’t let me down)
We could have fun just groovin’ around around and around
Oh my, my
Let’s spend the night together
Now I need you more than ever
Let’s spend the night together

Let’s spend the night together
Now I need you more than ever

You know I’m smiling baby
You need some guiding baby
I’m just deciding baby; now-
I need you more than ever
Let’s spend the night together
Let’s spend the night together now

This doesn’t happen to me ev’ryday (oh my)
Let’s spend the night together
No excuses offered anyway (oh my)
Let’s spend the night together
I’ll satisfy your every need (every need)
And I now know you will satisfy me
Oh my, my, my, my, my
Let’s spend the night together
Now I need you more than ever
Let’s spend the night together now

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Um pouco da pintura de Van Gogh e Vincent, a canção

05 Quarta-feira Out 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Convite à música

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Don McLean, Van Gogh

Toda a gente parece saber tudo sobre Van Gogh(1853-1890) pelo que me escuso à redundância.

A pintura de Van Gogh foi a primeira pintura que conheci, dentre os incontornáveis génios que povoaram a humanidade, aí por meados dos anos sessenta, e gostei dela desde o primeiro olhar.  Encontrei-a através de uns folhetos publicados no Brasil e distribuídos em Portugal, e que fizeram uma colecção, Génios da Pintura chamada. O fascículo sobre Van Gogh abria a colecção, se bem recordo.

Não têm sido muitas as oportunidades de  ver a pintura de Van Gogh, e tantas pinturas há que apenas conheço de fotografia. Não é o mesmo. O impacto da escala, sobretudo, mas também o da textura, são cruciais para a emoção de ver. Com as fotos fica apenas a impressão primeira e o apetite para o real. Possam estas fotos abrir esse apetite a alguém.

Estas são apenas alguma imagens de pinturas, porventura menos conhecidas, aqui deixadas para alegrar alguém querido e está longe. Permito-me apenas referir quanto a constância da paleta cromática faz prodígios de um quadro para outro em que é usada, variando da tristeza à alegria e da turbulencia à quietação, apenas graças à força do desenho conjugado com a aplicação do colorido e à variação da textura na aplicação da tinta.

 Acrescento uma canção da minha juventude, Vincent, de Don McLean, escrita em memória de Van Gogh e façamos assim uma visita ao baú. À data da publicação, era moda entre as raparigas, o uso de calções curtos e justos, chamados Hot Pants. Nas festas de sábado à tarde, dançar esta Vincent, agarrado como era de norma, fazendo descer as mãos ao longo das costas até às redondas saliências modeladas pelos calções era uma antevisão adolescente de paraiso.

Vamos então à canção escrita e interpretada por Don McLean

https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/Don+McLean+-+Vincent+-+1972.mp3

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In Taberna quando sumus – poema de Carmina Burana

26 Segunda-feira Set 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à música, Poesia Antiga

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Carmina Burana, Omar Jayyam, Robaiyyat

Há dias, numa prenda de anos antecipada, bebemos um vinho tinto reserva de 2007 da Quinta do Noval,  uma daquelas pérolas que fazem alguns vinhos do Douro sem paralelo.

Embora goste de beber, não gosto de me embriagar, o que na minha vida poderá ter acontecido duas ou três vezes. Ao começar da cabeça à roda, paro.

O vinho, presença e invenção das culturas mediterrânicas, que se estendem até à Pérsia, na definição de região mediterrânica de Orlando Ribeiro, mestre geógrafo nunca demais lembrado, o vinho, dizia eu, de invenção dos países onde as manifestações de cultura mais antigas se mostram, foi aqui, sempre, artigo de luxo e bebê-lo sinal de privilégio. É Orlando Ribeiro quem no-lo ensina:

O vinho é, tradicionalmente, um produto de qualidade, fino, variado e diverso como tudo o que é bom. Precisamente por não ser indispensável entre os artigos de consumo é que o vinho constitui produto requintado de uma grande civilização. (in Mediterrâneo, Ambiente e Tradição, pág. 97, ed.FCG, 1987).

A poesia, refinado eco cultural e social do homem, tem alguns tesouros em torno do vinho, sendo entre os mais divulgados, talvez, os que surgem nos Robaiyyat(*) de Omar Jayyam, poeta persa que terá vivido nos séc XI-XII:

Agora que a juventude vivo

beberei vinho, pois bebê-lo me compraz;

não mo deiteis em cara; apesar de amargo, é bom

amargo ele deve ser, pois amarga  me é a vida.

ou este:


Um antigo mestre encontrei na taberna

pedi-lhe notícias dos que já se foram;

disse-me: bebe vinho; muitos como nós

se foram e nenhum jamais regressou.


Outros há, e um cancioneiro exaustivo do vinho está por fazer.

É a propósito de beber vinho que trago um poema medieval, arqui-conhecido na forma cantada, evidenciando outra poesia medieval que não a de Francisco de Assis aqui deixada antes.

Dá ele conta de variados sem-pretexto necessários para beber. De caminho fala-nos da variegada paisagem humana que povoa aquele universo.

O poema, In Taberna quando sumus, escrito em latim medieval, integra uma colecção de canções descobertas na abadia beneditina de Beuren, no coração dos Alpes bávaros, no inicio do século XIX, das quais Carl Orff (1895-1982) retirou algumas e re-musicou de forma original, em 1953, criando uma das peças do repertório clássico mais conhecidas e populares: Carmina Burana.

A colecção terá sido redigida no final do século XIII, dando forma escrita a um património que circulava de boca em boca desde o século XII. Os estudos recentes do manuscrito terão permitido a atribuição de autoria em alguns poemas.

Trata-se da mais importante fonte da poesia em latim do século XII. Colecção heterogénea onde coexistem dramas litúrgicos, poemas morais, poemas de amor, canções de beber e convites ao jogo, enfim toda a panóplia da vida da época.

Esta In Taberna quando sumus pertencerá ao grupo das canções de goliardos e de clérigos vagantes, gente que deambulava de terra em terra fazendo pela vida e por gozar dela. É um pouco a vida de que Francisco de Assis desistiu para se entregar aos votos de pobreza e propagação da fé.

Deixo-vos com uma interpretação da peça e o texto da versão latina cantada. Acrescento a preciosa versão que do poema fez Jorge de Sena e publicou em Poesia de 26 Séculos.

 CARMINA BURANA – In Taberna quando sumus
https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/In+taberna+quando+sumus.mp3

In taberna quando sumus

In taberna quando sumus,
Non curamus quid sit humus,
Sed ad ludum properamus,
Cui semper insudamus.
Quid agatur in taberna,
Ubi nummus est pincerna,
Hoc est opus ut queratur,
Sic quid loquar, audiatur.

Quidam ludunt, quidam bibunt,
Quidam indiscrete vivunt,
Sed in ludo qui morantur,
Ex his quidam denudantur,
Quidam ibi vestiuntur,
Quidam saccis induuntur.
Ibi nullus timet mortem,
Sed pro Baccho mittunt sortem:


Primo pro nummata vini,
Ex hac bibunt libertini;
Semel bibunt pro captivis,
Post hec bibunt ter pro vivis,
Quater pro Christianis cunctis,
Quinquies pro fidelibus defunctis,
Sexies pro sororibus vanis,
Septies pro militibus silvanis.


Octies pro fratribus perversis,
Nonies pro monachis dispersis,
Decis pro navigantibus,
Undecies pro discordantibus,
Duodecies pro penitentibus,
Tredecies pro iter agentibus.
Tam pro papa quam pro rege
Bibunt omnes sine lege.


Bibit hera, bibit herus,
Bibit miles, bibit clerus,

bibit ille, bibit illa,
Bibit servus cum ancilla,
Bibit velox, bibit piger,
Bibit albus, bibit niger,
Bibit constans, bibit vagus,
Bibit rudis, bibit magus.


Bibit pauper et egrotus,
Bibit exul et ignotus,
Bibit puer, bibit canus,
Bibit presul et decanus,
Bibit soror, bibit frater,
Bibit anus, bibit mater,
Bibit ista, bibit ille,
Bibunt centum, bibunt mille.


Parum sexcente nummate
Durant, cum immoderate
Bidunt omnes sine meta,
Quamvis bibant mente leta;
Sic nos rodunt omnes gentes,
Et sic erimus egentes.
Qui nos rodunt confundantur
Et cum iustis non scribantur, Io!

E agora a versão de Jorge de Sena em português

Dos Carmina Burana,  In Taberna…

Na taberna quando estamos,
De mais nada nós curamos,
Que do jogo que jogamos,
Mais do vinho que bebemos,
Quando juntos na taberna,
Numa confusão superna
Que fazemos nós por lá?
Não sabeis? Pois ouvi cá.


Nós jogamos, nós bebemos,
A tudo nos atrevemos.
O que ao jogo mais se esbalda
Perde as bragas, perde a fralda,
E num saco esconde o couro,
Pois que um outro conta o ouro.
E a morte não val’um caco
Pra quem só joga por Baco.


Nossa primeira jogada
É por quem paga a rodada.
Depois se bebe aos cativos,
E a seguir aos que estão vivos,
Quarta roda, aos cristãos juntos.
Quinta roda, aos fieis defuntos.
Sexta, às putas nossas manas,
E sete às bruxas silvanas.


Oito, aos manos invertidos.
Nove, aos frades foragidos,
Dez, se bebe aos navegantes,
Onze, é para os litigantes,
E doze, dos suplicantes,
E treze, pelos viandantes.
Pelo Papa e pelo Rei
Bebemos então sem lei.


Bebem patroa e patrão,
Bebem padre e capitão,
Bebe o amado e bebe a amada,
Bebem criado e criada,
Bebe o quente e o piça fria,
Bebe o da noite e o do dia,
Bebe o firme, bebe o vago,
Bebe o burro e bebe o mago.


Bebe o pobre e bebei rico,
Bebe o pico-serenico,
Bebe o infante, bebe o cão,
Bebem cónego e deão,
Bebe a freira e bebe o frade,
Bebe a besta, bebe a madre,
Bebem todos do barril,
Bebem cento, bebem mil.


Nenhuma pipa se aguenta
Com esta gente sedenta,
Quando bebe sem medida
Quem de beber faz a vida.
E quem de nós se fiou,
Sem cheta s’arrebentou.
E quem de nós prejulgava,
Se quiser, que vá à fava.

Bebamos, pois, bebamos, à felicidade dos dias por vir.

Por esta época, e ainda era mesquita a igreja de Santa Maria em Tavira, nasceu na  cidade ABÛ ‘UTHMÂN sobre cuja poesia já escrevi, e para onde vos remeto, dando de novo conta deste círculo infindável que a poesia é:

ABÛ ‘UTHMÂN – meu conterrâneo

Notas e referências

(*) Robaiyyat é o plural de Robai, estrofe de quatro versos dodecassilabos em que rimam o primeiro e o segundo e o quarto, ficando livre o terceiro. Significa canto ou copla.

As traduções de Robaiyyat incluídas foram feitas a partir de versões castelhanas traduzidas directamente do farsi. Em Poesia de 26 Séculos tem Jorge de Sena algumas belas versões de Robaiyyat de Omar Jayyam.

As gravações de Carmina Burana de Carl Orff são às dezenas. Embora conheça algumas, a minha preferência vai para a que aqui deixei em fragmento, provavelmente por razões sentimentais. Foi a primeira que conheci e trouxe-a da Polónia nos idos de 70, daquela viagem que já aqui contei em Uma Aventura Polaca. A gravação Supraphon com solistas, coro e a orquetra de Praga, tem direcção do maestro Václav Smetácek, e contem as três cantatas cénicas de Carl Orff, TRIONFI,  onde se inclui CARMINA BURANA juntamente com CATULLI CARMINA e TRIONFO DI AFRODITE.

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