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A VENTURA
Olha, meu anjo, esta vida,
Que passa despercebida,
É de gozos tão despida,
Que nos não custa morrer;
Mas já que a sorte persiste,
E que a existência resiste
Aos baldões da triste sorte,
Não nos lembremos da morte,
Vamos buscar o prazer.
Mas este, bela inocente,
Não consiste no luzente
Doirado metal que a gente
Anda tanto a procurar;
Não consiste na grandeza,
Que p’ra muitos é riqueza;
Não consiste nas vaidosas
Honrarias mentirosas,
Que te possam tributar.
Muito embora a fantasia,
Cada noite, e cada dia,
Em mil sonhos se sorria
De mentiroso prazer;
Embora tenhas alfaias,
Escudeiros, muitas aias,
Ricos trens, muitos enfeites,
São tudo falsos deleites
D’um fantástico viver.
A ventura, virgem bela,
É formosa, viva estrela,
Que cá na terra à donzela
Lhe conquista o sumo bem;
A ventura é ser amada
Ser no mundo idolatrada,
Mais que lá no oriente,
Sendo amadas loucamente,
O são as belas no harém.
A ventura é ter um seio,
A que o nosso sem receio,
A pender por doce enleio,
Revele as mágoas e a dor;
A ventura é ter desejos
E matá-los com mil beijos,
A ventura é ter a vida
Ao doce afecto rendida;
A ventura é ter amor.
Corre pois, dá-me os teus braços,
Apertemos nossos laços,
Porque os dias são escassos
Para quem sabe viver,
E se a dita é ser amada,
Se sem amor não há nada
Que te faça venturosa,
Ninguém neste mundo goza,
Mais ventura ou mais prazer.
Coimbra, Abril de 1848
Lia este poema e pensava que tive a ventura de viver a adolescência e juventude num tempo em que a poesia como meio de sedução e convite ao amor estava fora de moda. O poema foi composto por A. X. R. Cordeiro (1819 – 1896) tinha o poeta 19 anos e estudava na Universidade de Coimbra. Foi publicado em O Trovador. e é o convite possível ao sexo naquele meado do século XIX, onde as convenções de sociedade eram espartilho para o amor.
Na verdade nos meus vinte anos e mesmo antes, era tudo muito mais fácil. Pensar em compor loas aos olhos da menina ou às sedutoras formas escondidas sob as sete saias da moda extinguiria, no burilar do verso, qualquer fogo em que o corpo ardesse. O recurso à prostituição como iniciação sexual era história passada e remota, de, pelo menos, o tempo dos pais. As formas e profundidade dos relacionamentos davam conta da liberdade de costumes que se insinuava nas nossas vidas, apesar de numa forma mais lenta que nas vizinhas sociedades ocidentais.
A música anglo-americana de final nos anos sessenta e década de setenta reflectiu isso mesmo. Os temas e as abordagens cobrem virtualmente as situações vividas por cada um de nós. Não é hoje que vos conto detalhes pessoais destes tempos mas recordo dos Rolling Stones, Let’s spend the night together, cuja letra é paradigmática do tempo que refiro.
Let’s spend the night together
My, My, My, My
Don’t you worry ‘bout what’s on your mind (Oh my)
I’m in no hurry I can take my time (Oh my)
I’m going red and my tongue’s getting tied (tongues’s getting tied)
I’m off my head and my mouth’s getting dry.
I’m high, But I try, try, try (Oh my)
Let’s spend the night together
Now I need you more than ever
Let’s spend the night together now
I feel so strong that I can’t disguise (oh my)
Let’s spend the night together
But I just can’t apologize (oh no)
Let’s spend the night together
Don’t hang me up and don’t let me down (don’t let me down)
We could have fun just groovin’ around around and around
Oh my, my
Let’s spend the night together
Now I need you more than ever
Let’s spend the night together
Let’s spend the night together
Now I need you more than ever
You know I’m smiling baby
You need some guiding baby
I’m just deciding baby; now-
I need you more than ever
Let’s spend the night together
Let’s spend the night together now
This doesn’t happen to me ev’ryday (oh my)
Let’s spend the night together
No excuses offered anyway (oh my)
Let’s spend the night together
I’ll satisfy your every need (every need)
And I now know you will satisfy me
Oh my, my, my, my, my
Let’s spend the night together
Now I need you more than ever
Let’s spend the night together now