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Foram numerosos os auto-retratos pintados por Vincent van Gogh (1853-1890) nos últimos anos de vida. Atenho-me aos retratos realizados nos anos 1887-1889.
Para o período destes auto-retratos, as circunstâncias de biografia de van Gogh são conhecidas: a instalação em Arles com o propósito de criar uma comunidade de artistas, as dificuldades em vender obras suas, o conflito com Paul Gauguin, o corte da orelha e os episódios de insânia; e têm ocupado biógrafos e leitores, colocando a fruição das obras na perspectiva da vida do artista.
Ao vê-las, interessa-me sobretudo o confronto da técnica com o poder expressivo das imagens, dando conta de uma complexidade de sentimentos através de uma paleta irrealista e de uma pincelada visivelmente ostensiva, que acrescenta drama ao olhar o retratado.
Sendo sempre o mesmo homem, retrato a retrato seguimos entre a placidez e a determinação, até mesmo à obstinação, e à tragédia da loucura, tomando consciência da fragilidade dos fios que nos prendem a um quotidiano tranquilo.
São no seu conjunto uma intensa experiência para o olhar.
Vê-las cria no espectador uma complexa emoção entre a absoluta genialidade pictórica das obras, a reflexão sobre as contingências da vida que dali transparece, e o sentido das escolhas que fazemos pela vida fora.