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Empatia e o poema de Wislawa Szymborska O ódio

07 Terça-feira Maio 2019

Posted by viciodapoesia in Poesia Polaca

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Wislawa Szymborska

O tempo da leitura do blog não é o da urgência dos dias, embora por vezes o seu conteúdo faça presente o efémero da actualidade.

Recentemente, num artigo norte-americano, argumentava-se como a empatia selectiva pode destruir as sociedades democráticas. O pretexto era a radicalização social nos EUA em torno da emigração. Por empatia selectiva entendia-se no artigo este crescente sentimento de pertença a um dos lados com quem havia identificação, sendo que “os outros” tinham certamente o que mereciam.

Recordava o autor como nos seus tempos de escola nos anos 70, os alunos eram convidados a imaginar a vida passada desses emigrantes que, fugindo ao sofrimento e à guerra, procuravam nos EUA o futuro que no berço natal não tinham, e assim desenvolver a empatia com esses recém-chegados e facilitar a sua integração.

Talvez na sociedade norte-americana tenha existido uma deliberado atitude de ensaiar imaginar a vida do outro, as suas dificuldades e razões, que levou ao acolhimento da emigração com abertura. Nas velhas sociedades europeias, o que sempre houve foi outra coisa: a caridade pelos necessitados, e a solidariedade com os aflitos, quando o inesperado sobre eles cai. A empatia no sentido da abertura descrita acima nunca foi um traço social visível. E por isso, Wislawa Szymborska (1923-2013) pode escrever com propriedade no seu poema O ódio:

Reparem como é eficiente,
e como se conserva bem
o ódio no nosso século.
…

Estamos hoje desarmados para lidar com o ódio.

Numa série policial italiana, Carlo & Malik, agora disponível no Netflix, as questões da emigração, albanesa e ex-iugoslava primeiro, migrantes africanos pelo Mediterrâneo depois, e o seu cruzamento com a sociedade italiana actual, presentes nos argumentos, são pistas para melhor compreender as divisões políticas e seus fenómenos populistas que hoje atravessam Itália. A série cumpre os mínimos do género. Aos personagens e situações humanas falta a espessura que as histórias de Andrea Camilleri com o Comissário Montalbano (visto recentemente na RTP2) possuem, mas o racismo latente e instalado na sociedade italiana, a par da extrema generosidade de tantos, que quotidianamente podemos observar, estão lá. Surgem delinquentes, tanto emigrantes quanto nativos italianos, como gente que aportou a Itália em busca da esperança de viver a vida no quadro de um trabalho honrado Tão só! Mas o ódio que encontram nestas sociedades está nelas e bem fundo,

…
E se adormece, nunca é num sono eterno.
A insónia não lhe rouba as forças, antes lhas acrescenta.
…
como escalpeliza com precisão cirúrgica Wislawa Szymborska no mesmo poema, que tenho vindo a citar e a seguir transcrevo integralmente.

Evidentemente ódio gera ódio e por aí entrados, parar é cada vez mais difícil:
…
Religião ou não —
contanto ajoelhe para o arranque.
Pátria ou não pátria —
contanto se atire correndo para a frente.
De início é bom e é justiça.
Depois seu próprio impulso lhe basta.
Ódio. O ódio.
De face arrepanhada num esgar de êxtase amoroso.
…

O que refiro para Itália é, no essencial, o que noutras sociedades europeias também existe. Há quem argumente que os fenómenos de xenofobia observados em sociedades do leste europeu devem ser enquadrados na necessidade de afirmação de uma identidade nacional que tardou em ganhar autonomia. Para sociedades como a francesa ou a britânica, a explicação a procurar terá que ser necessariamente outra.
Não está o mundo para generalizações, e um separar de águas em bons de um lado e maus do outro nunca foi de bom conselho:
…
Quantos voluntários leva atrás de si a dúvida?
Leva-se só a si mesma, ela que sabe das suas.

A realidade tem nuances, e com elas precisamos contar para escolher o nosso lugar no mundo.

 

O ódio

Reparem como é eficiente,
e como se conserva bem
o ódio no nosso século.
Na leveza com que encara as maiores dificuldades.
No fácil que lhe é saltar, precipitar-se.

Não é como os outros sentimentos.
Mais velho e mais novo do que eles, ao mesmo tempo.
A dar ele próprio à luz as razões
que o acordam para a vida.
E se adormece, nunca é num sono eterno.
A insónia não lhe rouba as forças, antes lhas acrescenta.

Religião ou não —
contanto ajoelhe para o arranque.
Pátria ou não pátria —
contanto se atire correndo para a frente.
De início é bom e é justiça.
Depois seu próprio impulso lhe basta.
Ódio. O ódio.
De face arrepanhada num esgar de êxtase amoroso.

Pobres dos outros sentimentos —
frouxos e enfermiços.
Desde quando pode uma confraria destas contar com multidões?
Já alguma vez a piedade cortou a meta em primeiro?
Quantos voluntários leva atrás de si a dúvida?
Leva-se só a si mesma, ela que sabe das suas.

Tradução de Júlio Sousa Gomes
in Paisagem com grão de areia, Relógio d’Água Editores, Lisboa, 1998.

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Aurelio Bulzatti (1954), Os Emigrantes, de 2005. Óleo s/tela, colecção do artista.

Os personagens que figuram a imagem de abertura são as vítimas do ódio de que fala o poema de Wislawa Szymborska: civilização ocidental no conforto do seu bem-estar, figurada nos arranha-céus, e a gente perseguida que tem de seu o que traz vestido no corpo (aqui um judeu e uma mulher muçulmana, símbolos de guerra de religiões. Outros poderiam ser). A imagem traz ainda a manifestação da esperança de concórdia entre os desavindos das quase eternas guerras do médio-oriente.

Reconhecer o essencial do confronto de hoje (eu odeio-os porque têm o que não tenho, de um lado; do outro: eu odeio-os porque vêm tirar o que é meu) é provavelmente um dos caminhos para ultrapassar esta dicotomia e vencer o ódio.

 

 

 

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Poemas sobre gatos — Appolinaire e Szymborska

02 Terça-feira Abr 2019

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Guillaume Apollinaire, Wislawa Szymborska

Não tenho animais de estimação e espanta-me sempre um pouco verificar as transferências afectivas que as pessoas fazem para os seus bichos. É um universo emocional que me é estranho e aceito sem julgar. De entre estes animais domésticos são gatos o que mais surge na poesia, sobretudo dando conta do seu comportamento voluntarioso e independente. As relações de afecto com os seus donos, se para os cães são comuns, com os gatos manifestam-se de forma talvez mais desprendida.

São disso testemunho indirecto dois poemas que a seguir transcrevo. De Guillaume Apollinaire (1880-1918), O Gato, do qual se lerão duas versões; depois, de Wislawa Szymborska (1923-2013), Gato em apartamento vazio. Dão conta os poemas de atmosferas de domesticidade onde o gato se integra. Revelam o convívio com o animal de estimação que traduz um sereno entendimento da sua presença no quotidiano humano.

Em Apollinaire lemos um quadro de desejo doméstico com mulher, gato, livros, e amigos:

 

O Gato

Na minha casa desejo ter
Uma mulher que imponha a sua razão
Um gato passeando por entre os livros
E porque sem eles não posso viver
Amigos seja qual for a estação

in Assinar a Pele — antologia de poesia contemporânea sobre gatos
(organização de João Luís Barreto Guimarães)

 

Poema original

Le chat

Je souhaite dans ma maison :
Une femme ayant sa raison,
Un chat passant parmi les livres,
Des amis en toute saison
Sans lesquels je ne peux pas vivre

in Le Bestiaire ou Cortège d’Orphée

 

e agora uma versão mais perto da letra do original:

O Gato

Desejo ter em minha casa:
Uma mulher no seu juízo,
Um gato passeando-se entre livros,
Amigos para o que der e vier
Porque sem eles não sei viver.

Tradução de Maria Gabriela Llansol,
in Mais Novembro que Setembro, Relógio d’Água Editores, Lisboa, 2001.

 

No poema de Wislawa Szymborska, Gato em apartamento vazio, conta-se a perplexidade da perda, no universo do gato, quando a morte altera as rotinas que dão o sentido dos dias:

 

Gato em apartamento vazio

Morrer — isso não se faz ao gato.
Pois que há-de um gato fazer
num apartamento vazio.
Ir arranhando as paredes.
Roçar-se por entre os móveis.
Por aqui nada mudou
mas está mais que mudado.
As coisas estão nos sítios,
mas os sítios outro são.
E nem se acende a luz pela noitinha.

Ouvem-se passos na escada,
todavia, não os tais.
A mão que põe no pratinho o peixe
também não é a que antes punha.

Algo aqui não acontece
às horas que acontecia.
Há algo aqui que não corre
como devia correr.
Alguém aqui esteve, esteve,
e agora teima em não estar.

Vasculhados todos os armários.
Percorridas todas as prateleiras.
Uma vez verificado o chão sob a alcatifa.
Contra todas as proibições até,
espalhados os papéis.
Que é que fica ainda por fazer.
Dormir e esperar.

Tradução de Júlio Sousa Gomes
in Paisagem com grão de areia, Relógio d’Água Editores, Lisboa, 1998.

Exemplar ilustração de como tudo muda com a morte quando parece nada ter mudado olhando a imobilidade das coisas.

O gato da fotografia surpreendi-o certa tarde, junto ao mar, a olhar para mim enquanto fotografava. Aos especialistas deixo a interpretação desse olhar.

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Oração à Alma ou A alma vai-se tendo — Do Google a Gregório de Naziano com passagem por Szymborska

25 Segunda-feira Mar 2019

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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Gregório de Naziano, Wislawa Szymborska

Ao que leio, em Silicon Valley, os protagonistas e seus continuadores que pensaram, pensam, e realizam a revolução tecnológica em que o mundo está mergulhado, interrogam-se. Ao fim-de-semana parece ser a ocasião para meditar sobre os próprios, o sentido das suas vidas mergulhadas na tecnologia, e os valores. Servem-se de técnicas ancestrais de isolamento e concentração experimentadas nas velhas civilizações orientais, yoga e outras, e assim buscam encontrar o sentido para viver cada dia. Seguem, pois, o concelho de Gregório de Naziano (329-389), em Oração à Alma:

 

É tempo, ó minha alma, é mais que tempo, se quiseres conhecer-te a ti própria,   o  teu ser e o teu destino.
Donde vens, e onde precisas repousar.
…

 

 

Pensar no Google, já o escrevi aqui antes, na sua presença em toda a parte, na sua resposta a tudo o que perguntamos, ainda que a resposta possa não ser o que procuramos, é um bom exercício para quem tenha dificuldade em apreender a omnipresença e omnisciência de Deus.

 

Estamos pois perante uma trilogia: Indivíduo, alma e Deus, que esmiuçarei um pouco mais, com ajuda pelo meio de Wislawa Szymborska (1923-2012).

 

Pensar-se o indivíduo, pensar a existência, pensar o mundo, é exercício sempre recomendável em qualquer tempo e lugar. Escolha, acaso, ou necessidade, saber sempre ao acordar porque se desperta naquela cama, é o caminho para poder decidir que fazer da vida. As escolhas fazêmo-las todos os dias. Mesmo quando deixamos andar o que nos incomoda ou perturba, estamos a escolher nada fazer. O livre-arbítrio de que somos dotados permite isso mesmo. E tem sempre consequências. Meditá-las é de bom conselho:

…
Se a vida é o que nós vivemos, ou se esperamos melhor.
…
Qual a minha ligação à vida, e qual é o seu final?
…

 

E eventualmente:

…
O que houve antes do mundo, o que representa para ti o mundo
Donde vem e qual é o seu destino.

 

 

Mas a questão da alma às vezes intromete-se, e é uma interrogação velha para a qual Wislawa Szymborska tem uma resposta iluminante:

 

A alma vai-se tendo.
Ninguém a tem constantemente
nem para sempre.

Dia após dia,
ano após ano,
pode passar-se sem ela.
…
Raramente nos assiste
nas tarefas maçadoras,
como deslocar móveis,
carregar umas malas
ou calcorrear uma estrada com as botas apertadas.
…
Podemos contar com ela,
quando de nada estamos certos,
porém curiosos de tudo.
…
Não diz de onde vem,
nem quando tornará a deixar-nos,
mas espera evidentemente por tais perguntas.
…
(*)

 

É este Podemos contar com ela, / quando de nada estamos certos, / porém curiosos de tudo. que nos desarma a confiança. Pois ela não vem para nos dar certezas. E perante a permanência das dúvidas, responde: Deus é a resposta.

 

 

O mundo da poesia é um mundo dos homens. Se ela se ocupa das suas alegrias e tragédias, sejam sociais ou pessoais, do mal-estar aos prazeres, também do seu transcendente cuida. E as interrogações expostas  antes estão plasmada no poema Oração à Alma, qualquer que seja o significado que a Deus cada um dê. É sempre do eu imaterial que falamos.

 

 

Oração à Alma

É tempo, ó minha alma, é mais que tempo, se quiseres conhecer-te
     a ti própria, o teu ser e o teu destino.
Donde vens, e onde precisas repousar.
Se a vida é o que nós vivemos, ou se esperamos melhor.
Põe-te ao trabalho, ó minha alma, é preciso purificar a tua vida.
Busca a Deus e os seus mistérios:
O que houve antes do mundo, o que representa para ti o mundo
Donde vem e qual é o seu destino.
Põe-te ao trabalho, ó minha alma, é preciso purificar a tua vida.
Porque aqui é o movimento e no além o repouso.
Porque nós somos levados pela corrente da vida.
Põe-te ao trabalho, ó minha alma, olha apenas a Deus.
O que foi o meu orgulho, hoje é a minha vergonha.
Qual a minha ligação à vida, e qual é o seu final?
Ilumina o meu espírito, dissipa todos os erros,
Põe-te ao trabalho, ó minha alma, e não sucumbas à dor.

 

Tradução de Armando Silva Carvalho
in A Oração dos Homens, uma antologia das tradições espirituais, Assírio & Alvim, Lisboa, 2006.

 

(*) Excertos do poema Um Pouco da Alma, tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio Neves.
in Instante, Relógio d’Água Editores, Lisboa, 2006.

 

 

Abre o artigo a imagem de uma obra de Max Ernst (1891-1976), Sem título – dada.

 

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O terrorista… olha — poema de Wislawa Szymborska

13 Domingo Dez 2015

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Robert Rauschenberg, Wislawa Szymborska

Robert Rauschenberg - sem título 1963Através da aparente banalidade formal dos seus versos, servidos com uma ironia de incomparável elegância, Wislawa Szymborska (1923-2012) leva-nos à profundidade moral por detrás do nosso quotidiano, reflectindo, e nós com ela, sobre comportamentos e valores nas sociedades modernas. E isto desde os poemas iniciais aos últimos publicados, como por exemplo “Confissões de uma máquina de leitura” publicado em 2011, de que apenas conheço a versão inglesa: “Confessions of a Reading Machine“. Aqui, a máquina de traduzir expende a sua perplexidade sobre o significado de palavras como sentimentos, alma, e ser, propondo por exemplo, como significado para alma, uma espécie de nevoeiro supostamente mais duradouro que o corpo humano.

Todos nós, utilizadores da internet, já nos surpreendemos com a criatividade das traduções automáticas, daí a especial acuidade desta reflexão. Mas também é verdade que este esforço tecnológico, ainda nos primeiros passos, será, na sua evolução, uma prodigiosa ferramenta no entendimento humano.

 

Confessions of a Reading Machine

 

I, Number Three Plus Four Divided By Seven,

am renowned for my vast linguistic knowledge.

I now recognize thousands of languages

employed by extinct people

in their histories.

 

Everything that they recorded with their signs,

even when crushed beneath layers of disasters,

I extract, reconstruct

in its original form.

 

Not to boast,

but I even read lava

and scan ashes.

 

I explain on a screen

each object mentioned,

when it was produced,

and what from, and what for.

 

And solely on my own initiative,

I peruse the occasional letter

and correct its

spelling errors.

 

I admit—certain words

do cause me difficulty.

For example I still cannot explain precisely

the states called “feelings.”

 

Likewise “soul,” a peculiar expression.

I’ve determined for now that it is a kind of fog

purportedly more lasting than mortal organisms.

 

But the word “am” gives me the most trouble.

It appears to be an ordinary function,

conducted daily, but not collectively,

in the present prehistoric tense,

specifically, in the continuous,

although as we know discontinued long ago.

 

But will this do for a definition?

I feel rumbling in my linkages and grinding of my screws.

My button to Head Office smokes but won’t light up.

 

Perhaps my pal Two Fifths Of Zero Fractured By Half

might provide some brotherly assistance.

True, he’s a known lunatic,

but he’s got ideas.

 

Tradução de Clare Cavanagh.

in Wislawa Szymborska, MAP, Collected and Last Poems, ed. Houghton Mifflin Harcourt, New York, 2015.

 

Se no poema anterior a tecnologia revela uma preocupação de entender os homens e de os aproximar, vencendo a maldição de Babel que a humanidade carrega, no poema seguinte, O terrorista… olha, a tecnologia está ao serviço da morte, qualquer que seja a roupagem com que se disfarce. E bem avisada anda a poeta, ao retirar do relato qualquer sentimentalidade, dando apenas conta da frieza inerente ao acto de matar com prazo. Acrescenta-se a eloquência com que a arbitrariedade do acaso pode ditar o que por segundos separará viver de morrer.

Ao ler o poema, como saltam vivas, as imagens do que pode ter sucedido nos cafés de Paris em Novembro de 2015!

Robert Rauschenberg - Falcão 1963

O terrorista… olha

 

A bomba vai explodir no bar às treze e vinte.

São neste momento treze e dezasseis.

Alguns conseguem ainda entrar,

alguns sair.

 

O terrorista passou já para o outro lado da rua.

A que distância ficará livre de perigo

e, quanto à vista, é como no cinema:

 

Uma mulher de casaco amarelo… entra.

Um homem de óculos… sai.

Rapazes de jeans… conversam.

Treze horas, dezassete minutos e quatro segundos.

Aquele baixinho tem sorte e senta-se na vespa,

mais um tipo alto que entra.

 

Treze horas, dezassete minutos e quarenta segundos.

Passa uma moça de fita verde nos cabelos.

Só que o autocarro oculta-a.

 

Treze e dezoito.

A rapariga desapareceu.

Se foi bastante estúpida para entrar ou não,

isso se saberá pelas notícias.

 

Treze e dezanove.

Parece que ninguém entra.

Há porém um careca gordo que sai.

Mas olha, parece que procura algo nos bolsos,

faltam treze segundos para as as treze e vinte,

e ele volta a entrar em busca das luvas que perdeu.

 

São treze e vinte.

Como o tempo voa.

Deve ser agora.

Ainda não.

Sim, é agora.

A bomba… explode

 

Tradução de Júlio Sousa Gomes

 

in Wislawa Szymborska, Paisagem com Grão de Areia, Relógio d’Agua Editores, Lisboa 1998.

Robert Rauschenberg - Propriedade 1963

Acompanham o artigo imagens de pinturas de Robert Rauschenberg (1925-2008).

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Szymborska e os nus de Rubens

15 Quarta-feira Jan 2014

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Rubens, Wislawa Szymborska

Rubens_Rapto das filhas de LeucipoAAssistimos na arte barroca à representação do excesso. Surgem as pinturas em natureza-morta sobrecarregadas de géneros alimentares; pintam-se cenas de comezainas até ao entorpecimento, como as pintadas por Jan Steen (1626-1679) que há dias trouxe ao blog; o preciosismo e a sobrecarga de adereços no trajar de figurões socialmente importantes são mostrados em retratos hieráticos; e no nu temos as abundâncias carnais, de que as pinturas de Rubens (1577-1640) são o paradigma. Rubens earth-waterA1Para uma mulher  como Wisława Szymborska (1923-2012) em quem a parcimónia parece ser a marca de água, esta pintura não poderia deixar de impressionar, tanto mais quanto viveu o período central da sua vida na Polónia comunista onde a vida material correu entre dificuldades inenarráveis. E assim, num notável poema, Mulheres de Rubens, fala-nos ela de todo este excesso, exactamente a propósito das pinturas de nus femininos de Rubens. Não de uma representação em particular, mas de uma espécie de sobreposição carnal, de onde emerge o essencial da representação. Parte do poema desenvolve-se como comentário ao destino reservado a mulheres onde esta exuberância de carnes está ausente, e que a propria talvez tenha sentido com a sua figura fransina, ainda que as fotos mostrem um belo rosto de mulher.

rubens-1620ADeixo-vos com o poema em tradução de Julio Sousa Gomes e ao longo do artigo podem ver-se algumas dessas pinturas de excesso saídas do pincel de Rubens e seus ajudantes.

 rubens-1614-Venus_and_Adonis-ErmitazA

Mulheres de Rubens

Fauna mulheril de Arrasa-Montanhas,

nuas como um estrondo de barris.

Aninham-se em leitos amachucados,

dormem de bocas abertas como galos para cantar.

Fugiram-lhe as pupilas para as entranhas

e penetram no interior das glândulas,

cujos fermentos se espalham pelo sangue.

 

Filhas gradas do barroco. Cresce o bolo na masseira,

fumegam banhos, ruborescem vinhos,

leitões de neblina galopam no céu,

trompas estrondeiam num físico alarme.

 

Ó aboboradas, ó excessivas

e duplicadas pelo rejeitar das vestes,

e triplicadas pela pose truculenta,

ó gordas iguarias do amor!

 

As suas manas magras ergueram-se mais cedo

antes que no quadro a manhã clareasse.

E ninguém se deu conta da fila em que seguiram

pelo lado da tela por pintar.

 

Banidas do estilo. Costelas contadas,

natureza de ave nas nãos e nos pés.

Tentam erguer voo nas espáduas em quilha.

 

O século XIII dar-lhes-ia um fundo de ouro.

O século XX dar-lhes-ia ecrã de prata.

Em seiscentos não há nada para as chatas.

 

Eu diria até nédio o próprio céu,

nédios os anjos e nédia a divindade,

um bigodudo Febo que num suado

corcel vai penetrando na alcova ardente.

 Rubens_Peter_Paul-The_Three_GracesA1

Nota final

Para os leitores que os não conheçam, deixo os links para os artigos com pintura barroca de retrato, natureza-morta, e comezainas de Jan Steen.

Retrato barroco

Natureza-morta

Jan Steen

Rubens - Alegoria às bençãos da paz

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Wisława Szymborska sobre o amor

03 Sexta-feira Jan 2014

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Wislawa Szymborska

Carl_Spitzweg - Passeio ao campoAProfunda, deslumbrante na simplicidade da sua linguagem, com uma ironia onde a inteligência brilha, assim leio a poesia de Wisława Szymborska (1923-2012), de quem hoje transcrevo, para iniciar poeticamente 2014, esta reflexão sobre o amor feliz que não faz assunto de poesia.

 

Amor feliz

 

Amor feliz. Será normal,

será sério, será útil? —

que tem o mundo a ver com duas pessoas

que não vêem o mundo?

 

Erguidos ao céu sem mérito nenhum,

os melhores entre milhões e convencidos

que assim tinha que ser — a premiar o quê? Nada;

de algum ponto cai a luz —

e porquê logo sobre estes e não outros?

Ofenderá isto a justiça? Sim.

Perturbará os princípios estabelecidos com cuidado?

Derrubará do seu púlpito a moral? Perturba e derruba.

 

Olhem-me bem estes felizardos:

se ao menos se mascarassem um pouquinho,

fingissem melancolia dando assim algum ânimo aos amigos!

Ouçam bem como se riem — é um insulto.

A linguagem que usam — entendivel, pelos vistos.

E aquelas cerimónias, etiquetas,

obrigações rebuscadas um para o outro —

parece mesmo um acordo nas costas da humanidade.

 

É difícil até de prever no que daria

se um tal exemplo pudesse ser seguido.

Com que é que poderiam contar as religiões, a poesia,

de que nos recordaríamos, de que desistiríamos,

quem quereria pertencer ao círculo?

 

Amor feliz. Assim terá que ser?

Tacto e bom senso mandam omiti-lo

como a um escândalo nas altas esferas da Existência.

 

Tradução de Júlio Sousa Gomes. Transcrito de Paisagem com Grão de Areia, edição Relógio d’Água, Lisboa, Junho de 1998.

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Uma obra de Hiroshige, pretexto para a ironia poética de Wislawa Szymborska

13 Terça-feira Ago 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Hiroshige, Wislawa Szymborska

Hiroshige (1797-1858) - 100 vistas de Edo - 52 - Chuvada súbita em Atake originalAs pessoas na ponte

Estranho planeta e estranhas as pessoas que aí vivem.
Sucumbem ao tempo, mas não querem reconhecê-lo.
Têm maneiras de exprimir o seu protesto,
fazendo pinturas como, por exemplo, esta.

Nada de singular à primeira vista.
Vê-se a água.
Vê-se uma das suas margens.
Vê-se uma piroga navegando penosa contra a corrente.
Vê-se a ponte sobre a água e vêem-se as pessoas na ponte.
As pessoas visivelmente apressam o passo,
porque de uma nuvem negra
desatou a chover torrencialmente.

A questão é que nada mais se passa.
A nuvem não muda de cor nem de forma.
A chuva não aumenta nem cessa.
A piroga navega sem se mexer.
As pessoas na ponte correm
no mesmíssimo lugar de ainda há pouco.

É difícil não fazer aqui um comentário:
Isto não é uma pintura inocente.
O tempo aqui foi suspenso.
Deixaram de contar com as suas leis.
Negaram-lhe a influencia que tem
no desenrolar dos acontecimentos.
Menosprezaram-no e ultrajaram-no.

Por obra de um rebelde.
Um tal Hiroshige Utagawa,
(uma criatura que, aliás, há muito
e como deve ser, morreu),
o tempo tropeçou e caiu.

Talvez seja só uma travessura sem significado,
uma brincadeira à escala de umas galáxias,
em todo o caso, porém,
acrescentemos o seguinte:

Há gerações que é de bom tom
ter esta pintura em grande apreço,
deleitar-se com ela, emocionar-se.

Mas há aqueles, a quem isto não basta.
Ouvem até o murmúrio da chuva,
sentem frio das gotas na nuca e nas costas,
olham para a ponte e para as pessoas,
como se ali se vissem retratados
naquela corrida que nunca mais chega ao fim,
naquele caminho que fim não tem,
eternamente por palmilhar,
e acreditam na sua desfaçatez
que assim é na realidade.

Tradução de Teresa Fernandes Swiatkewicz, in Wislawa Szymborska, Um Passo da Arte Eterna, Esfera do Caos Editores, Lisboa 2013.

O fluir do tempo em nós e a representação visual que o cristaliza são, numa primeira leitura, a matéria da reflexão poética de Wislawa Szymborska (1923-2013) neste poema, a propósito de uma gravura famosa de Hiroshige (1797-1858).

Se na segunda estrofe a gravura de Hiroshige é descrita, e trata-se da gravura 52 — Chuvada súbita em Atake — do ciclo Cem vistas de Edo, e com isso poder-se considerar estarmos perante um poema ecfrástico, na medida em que descreve uma obra de arte, todo o resto do poema vai noutras direcções.

Como sempre na poesia desta mulher genial, na simplicidade da linguagem moram as mais profundas reflexões sobre o existir: leia-se de novo toda a última estrofe do poema.

Nele temos o pretexto para nos questionarmos como olhamos as obras de artes visuais no seu significado intrínseco e na sua relação connosco. Depois, o tempo, o que nos acontece, e o que do seu fluir aproveitamos. Há na vida o tempo de a viver e o seu percurso, o caminho por onde a vivemos, seguindo.

A ponte, ligação entre dois pontos, origem e destino, é um não lugar para parar ou cristalizar, e os passos de quem vive aprisionado nesta ponte simbólica, onde o tempo parou, levam-no a caminhar sem sair do mesmo sitio. A ironia nesta poesia revela-se no afirmar o contrário do que escreve.

Embora se possa fazer uma leitura política dos versos

O tempo aqui foi suspenso.
Deixaram de contar com as suas leis.
Negaram-lhe a influencia que tem
no desenrolar dos acontecimentos.
Menosprezaram-no e ultrajaram-no.

na circunstancia da sua criação ( o poema foi publicado em 1986 no livro As Pessoas na Ponte, antes, portanto da queda do Muro de Berlim), o poema no seu todo transcende-a. Ele convida-nos a reflectir em como há um eu e o cosmos que, se estiver sempre presente em nós, nos permite saber com segurança onde pertencemos e para onde vamos, sabendo sempre também, que as coisas não continuarão a ser como são (Brecht) diferentes nós, portanto, dos que

naquele caminho que fim não tem,
eternamente por palmilhar,
e acreditam na sua desfaçatez
que assim é na realidade.

Hiroshige pertence àquela pouco mais de meia-dúzia de artistas geniais que em Edo, hoje Tóquio, entre o meados do século XVIII e meados do século XIX, praticaram a gravura.

Género popular de grande consumo, a gravura sobre papel é no seu conjunto um vasto acervo de obras-primas de arte visual, desenvolvidas num quadro de codificação estrita e numa estética de profunda originalidade.

Tecnicamente cada gravura é obra de três artistas: o criador do desenho, a quem posteriormente a obra é atribuída, o gravador do desenho na madeira e o impressor encarregado de aplicar a cor sobre o papel. A sofisticação técnica do produto final no período áureo do inicio do século XIX, sobretudo no retrato, com a aplicação de mica em pó em algumas zonas da gravura e as nuances de brilho nas vestes dos personagens, acrescenta um requinte esquis a muitas destas gravuras.

Nesta gravura japonesa do período Edo, Ukiyo-e chamada, se o impacto estético é inescapável, a sua leitura emocional é bastante problemática para um ocidental. Repartindo-se por uma enorme variedade de assuntos, encontramos no entanto cinco grandes grupos de representação: retrato, cenas de quotidiano, paisagem, seres vivos (animais e plantas) e erótica, conhecida no ocidente por Shunga.

Na pintura de paisagem ou cenas de quotidiano, a que esta gravura de Hiroshige pertence, a ausência de perspectiva na composição e de escala entre os motivos, garante, para o nosso olhar, a novidade da representação. Depois chega-nos a incompreensão do representado, se forem para nós desconhecidos com algum detalhe tanto a história como a cultura japonesas.

Nota
Encontra o visitante curioso algumas gravuras japonesas da minha colecção no blog-arquivo Gravura Japonesa, cuja ligação pode ser encontrada na coluna da esquerda. Na página do bolg no Facebook pode ver-se um álbum com o conjunto das gravuras de Hokusai, outro mestre do mesmo período, 36 vistas do Monte Fuji.

Outros conjuntos temáticos destes mestres podem ser facilmente encontrados na net.

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A vida e duas poetisas: Cristina Campo e Wislawa Szymborska

25 Domingo Mar 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Cristina Campo, Paul Klee, Wislawa Szymborska

Em dois curtos poemas, Cristina Campo (1923-1977)  e  Wislawa Szymborska (1923-2012), nascidas no mesmo ano, cada uma à sua maneira conduz-nos pelo  que de essencial a vida tem e nos faz.

 Em tempos de existência diferentes, enquanto Wislawa Szymborska  refere: Tu és bela – digo à vida –  / mais esplêndida não podias, com Cristina Campo percorremos o depois: Ficou para trás, quente, a vida, / …

Na ironia mansa que perpassa em tanta da sua poesia Wislawa Szymborska guia-nos pelos nadas eternos da existência:

Só para não te ofender, / te irritar, descontrolar. / Eu saltito sorridente  / há uns bons cem mil anos.

Allegro ma non troppo de Wislawa Szymborska

Tu és bela – digo à vida –

mais esplêndida não podias,

de rouxinóis e de rãs,

de formigas e sementes.

 

E tento ser-lhe agradável,

bajulá-la, olhá-la nos olhos.

Sou sempre a primeira a saudá-la,

de humilde expressão na fronte.

 

Vou-lhe saltando ao caminho,

da esquerda, da direita,

e fascinada me elevo,

e de enlevo me estatelo.

 

Que marinho este cavalo!

que silvestre é esta amora! –

nunca em tal houvera crido

se não tivesse nascido.

 

– Não encontro – digo à vida –

nada a que possa igualar-te.

Ninguém fará outra pinha,

nem melhor nem menos bem.

 

Louvo-te a generosidade, a criatividade,

a decisão e o rigor –

e mais ainda – e mais além –

a magia – a negra e a branca.

 

Só para não te ofender,

te irritar, descontrolar.

Eu saltito sorridente

há uns bons cem mil anos.

 

Arranho a vida pela bainha de uma folhita:

Terá parado? Ouviria?

Só uma vez, por um momento,

esqueceu-se de para onde ia?

 

Tradução de Júlio Sousa Gomes

Na desolada inquietação que acompanha a poesia de Cristina Campo  lemos os restos, o que ficou:

Ficou a caricia que não encontro

…

Vamos ao poema

Ficou para trás, quente, a vida,

a marca colorida dos meus olhos, o tempo

em que ardiam no fundo de cada vento

mãos vivas cercando-me…

 

Ficou a caricia que não encontro

senão entre dois sonos, a infinita

minha sabedoria em pedaços. E tu, palavra

que transfiguravas o sangue em lágrimas.

 

Nem sequer um rosto trago

comigo, já trespassado em outro rosto

como esperança no vinho e consumado

em acesos silencios…

 

                                    Volto sozinha

entre dois sonos lá’trás, vejo a oliveira

rósea nas talhas cheias de água e lua

do longo inverno. Torno a ti que gelas

 

na minha leve túnica de fogo.

 

Tradução de José Tolentino Mendonça

 

 

As imagens reproduzem pinturas de Paul Klee

 

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Alguns gostam de poesia – um poema de Wislawa Szymborska

28 Domingo Ago 2011

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Wislawa Szymborska

A aventura polaca que há dias aqui contei fez-me ir à poesia de Wislawa Szymborska (1923) poetisa de Cracóvia e Prémio Nobel da Literatura em 1996, para com ela referir o que permanece uma surpresa de todos os dias:

 Alguns gostam de poesia

Alguns –

quer dizer nem todos.

Nem a maioria de todos, mas a minoria.

Excluindo escolas, onde se deve

e os próprios poetas,

serão talvez dois em mil.


Gostam –

mas também se gosta de canja de massa,

gosta-se da lisonja e da cor azul,

gosta-se de um velho cachecol,

gosta-se de levar a sua avante,

gosta-se de fazer festas a um cão.


De poesia –

mas o que é a poesia?

Algumas respostas vagas

já foram dadas,

mas eu não sei e não sei, e a isto me agarro

como a um corrimão providencial.


A tradução é assinada por Elizbieta Milewska e Sérgio das Neves e foi publicada na Antologia Alguns gostam de poesia em edição da Cavalo de Ferro, 2004.

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