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A vida e duas poetisas: Cristina Campo e Wislawa Szymborska

25 Domingo Mar 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Cristina Campo, Paul Klee, Wislawa Szymborska

Em dois curtos poemas, Cristina Campo (1923-1977)  e  Wislawa Szymborska (1923-2012), nascidas no mesmo ano, cada uma à sua maneira conduz-nos pelo  que de essencial a vida tem e nos faz.

 Em tempos de existência diferentes, enquanto Wislawa Szymborska  refere: Tu és bela – digo à vida –  / mais esplêndida não podias, com Cristina Campo percorremos o depois: Ficou para trás, quente, a vida, / …

Na ironia mansa que perpassa em tanta da sua poesia Wislawa Szymborska guia-nos pelos nadas eternos da existência:

Só para não te ofender, / te irritar, descontrolar. / Eu saltito sorridente  / há uns bons cem mil anos.

Allegro ma non troppo de Wislawa Szymborska

Tu és bela – digo à vida –

mais esplêndida não podias,

de rouxinóis e de rãs,

de formigas e sementes.

 

E tento ser-lhe agradável,

bajulá-la, olhá-la nos olhos.

Sou sempre a primeira a saudá-la,

de humilde expressão na fronte.

 

Vou-lhe saltando ao caminho,

da esquerda, da direita,

e fascinada me elevo,

e de enlevo me estatelo.

 

Que marinho este cavalo!

que silvestre é esta amora! –

nunca em tal houvera crido

se não tivesse nascido.

 

– Não encontro – digo à vida –

nada a que possa igualar-te.

Ninguém fará outra pinha,

nem melhor nem menos bem.

 

Louvo-te a generosidade, a criatividade,

a decisão e o rigor –

e mais ainda – e mais além –

a magia – a negra e a branca.

 

Só para não te ofender,

te irritar, descontrolar.

Eu saltito sorridente

há uns bons cem mil anos.

 

Arranho a vida pela bainha de uma folhita:

Terá parado? Ouviria?

Só uma vez, por um momento,

esqueceu-se de para onde ia?

 

Tradução de Júlio Sousa Gomes

Na desolada inquietação que acompanha a poesia de Cristina Campo  lemos os restos, o que ficou:

Ficou a caricia que não encontro

…

Vamos ao poema

Ficou para trás, quente, a vida,

a marca colorida dos meus olhos, o tempo

em que ardiam no fundo de cada vento

mãos vivas cercando-me…

 

Ficou a caricia que não encontro

senão entre dois sonos, a infinita

minha sabedoria em pedaços. E tu, palavra

que transfiguravas o sangue em lágrimas.

 

Nem sequer um rosto trago

comigo, já trespassado em outro rosto

como esperança no vinho e consumado

em acesos silencios…

 

                                    Volto sozinha

entre dois sonos lá’trás, vejo a oliveira

rósea nas talhas cheias de água e lua

do longo inverno. Torno a ti que gelas

 

na minha leve túnica de fogo.

 

Tradução de José Tolentino Mendonça

 

 

As imagens reproduzem pinturas de Paul Klee

 

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