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Category Archives: Crónicas

Pessoa e o mistério dos inéditos

07 Quarta-feira Jan 2015

Posted by viciodapoesia in Crónicas

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Almada negreiros, Fernando Pessoa

Fernando Pessoa 1964

Embora possa parecer redundante apresentar Fernando Pessoa, o universo alargado da web pode trazer ao blog leitores não familiarizados com a sua biografia, daí a pequena resenha em jeito de introdução.

Pessoa às vezes era uma pessoa muito deprimida e por vezes pensava:

Não sou nada/nunca serei nada

…

mas depois mudava, e mais alegre dizia:

Áparte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Isto acontecia quando julgava ser Álvaro de Campos, um engenheiro nascido em Tavira como eu, que escreveu coisas amargas. Outras vezes mais bem disposto o Sr. Pessoa vestia a pele de Alberto Caeiro e imaginava as coisas mais mirabolantes como Tive um sonho como uma fotografia / …, certamente conhecem o resto.

Andava sempre muito distraído com as poesias que tinha na cabeça. Ia a andar, parava, tirava um papelinho do bolso e escrevia o que lhe surgia na cabeça. Gostava de ser muitas pessoas já desde rapaz.

Um dia foi a casa do amigo Almada, pintor e poeta também. Depois de comer pouco porque era magrinho, e beber um bocado, desapareceu e nunca mais se viu.

Foi no outro dia, quando visitava o Museu, que olhando com atenção para a pintura de Almada representando Fernando Pessoa à secretária, o extraordinário aconteceu,

Ouço: Pst, pst, e nem percebo de onde vem. Olho em redor perplexo, pois a sala estava vazia a menos do segurança ao fundo, e então, virando-me para o quadro de novo, a figura de Fernando Pessoa piscou-me o olho, e quando o segurança pareceu ausentar-se, fez-me sinal para me aproximar, e diz-me ele à queima-roupa:

–        Já o tenho visto várias vezes a olhar-me atentamente e tenho tido vontade de lhe falar, mas os seguranças andam sempre por aí de nariz no ar e não me atrevi, mas hoje vi que o dali da porta foi à casa de banho e aproveitei para conversar um pouco.

Entabulámos conversa, e a primeira coisa que lhe perguntei foi porque tinha desaparecido sem dizer nada a ninguém.

–        Naquela festa em casa do Almada tinha bebido um bocado a mais e tive uma ideia fascinante que não queria perder. O meu bloco de bolso estava cheio e toda a gente estava mais ou menos alegre ou a dançar. Para não incomodar  ninguém fui à procura de papel. Abri uma porta e era o estúdio do Almada. Tinha uma tela grande no cavalete onde já estava pintada uma mesa. Devia ser uma natureza morta pois a mesa estava ali em posição com cadeira papel e tinta a servir de modelo. Sentei-me e comecei a escrever, mas devo ter adormecido pois quando acordei estava dentro desta tela onde tenho passado a vida. Não desgosto. As cores são alegres e há sempre muita gente aqui à volta a vê-la.

Continuámos a conversar e a certa altura disse-lhe quanto apreciava a poesia dele e de passagem referi:

– Sabe que andei a ler a sua correspondência?

– O senhor é um bisbilhoteiro, disse com um risinho.

– E encontrei uma carta enviada de Portalegre quando o senhor estava bem bebido, é o Sr. que o diz.

Venerável porção de existência terrena, escreve o senhor ao destinatário, para mais à frente referir: ”Portalegre é um lugar onde tudo quanto um forasteiro pode fazer é cansar-se de não fazer nada. As suas qualidades componentes parecem-me conter (depois de uma profunda e cuidada análise), em quantidades relativas e incertas, calor, frio, semi-espanholismo e nada. …” e acrescenta-lhe um poema para terminar. Bem injusto diga-se de passagem, no que ao Alentejo respeita:

O Alentejo (visto do comboio)

Nada, tendo nada em seu redor

E, de permeio, algumas árvores somente

Nenhuma delas verde claramente

onde nada aparece, rio ou flor.

Se acaso há um inferno, ele aqui está.

Pois, se não aqui, onde o Diabo estará?

O que me fartei de rir ao lê-lo. Gostei sobretudo da “Venerável porção de existência terrena”

– Devo tê-la escrito há muito tempo pois nem me lembro de ter ido ao Alentejo.

A conversa continuou e perguntei-lhe se nunca saía dali.

– Durante o dia, enquanto o museu está aberto, não saio senão as pessoas vinham ver-me e encontravam o quadro com um vazio no meu lugar. Depois de fechar, sobretudo no verão, gosto de ir até ao Chiado e fico dentro da estátua que me fizeram junto à Brasileira vendo quem passa. Sobretudo gosto quando as turistas fazem fotografias agarradas a mim. Estou sempre calado, nunca digo nada. Uma vez uma rapariga sentou-se-me no colo e segredou-me ao ouvido:

–        Gosto tanto de ti! Se fosses de carne e osso casava-me contigo. Quase me derreti com aquela declaração de amor. Era tal qual a a voz da Ofelinha naquela idade, e como eu gostava de ter casado com ela, sabe?

Também li as suas cartas de amor, disse-lhe. As que lhe escreveu e as que recebeu. E não concordo nada consigo nessa de que “Todas as cartas de amor são ridículas. / Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.”

– Não pode ser. Quem teve o atrevimento de as publicar? Isso não se faz. São coisas intimas, não são coisas para toda a gente saber. Mas já que são públicas, o que é que achou? Ela gostava de mim? Ainda não sei de deveria ter casado com ela. A certa altura pensei que podia casar com a filha da minha lavadeira, talvez fosse feliz …

Mas voltando aos passeios. No inverno não vou para o Chiado porque está frio e chove, o que não é nada bom para o reumático que já me vai aparecendo, não sei se da idade, se de estar tanto tempo aqui sentado a esta secretária. Vou então às vezes à estação do metro de Alto de Moinhos ver as pessoas. Mas à hora a que fico livre aqui do museu já há pouca gente a não ser nas noites de futebol e aí sim, é uma alegria. Por acaso não sabe quando é que são os jogos? Como eu aqui não leio jornais nem vejo televisão não sei as datas e só por acaso é que acerto nos dias dos jogos. Mas é um espectáculo que vale a pena. Ainda ontem aconteceu e foi uma festa. Comi e bebi com quem lá estava, o que não me acontecia há anos. E devo ter comido qualquer coisa que me fez mal. Parece-me até que estou a precisar de ir à casa de banho urgentemente. Importa-se de me substituir aqui um bocadinho no quadro?

Devo ter olhado para ele espantado e aterrorizado, pois gargalhou e disse-me:

– Não se assuste, estava só a brincar consigo. Continuando, na estação do metro aquele rapaz, o Julio Pomar, já não me conheceu, mas fez uns desenhos por fotografia, talvez, e saiu-se bem. Gosto de lá estar.

– Já que estamos nesta conversa tão franca posso fazer-lhe uma pergunta pessoal?

– Claro que pode, se não me apetecer não respondo.

– Qual é o mistério da arca dos seus escritos em que os inéditos nunca mais acabam?

Riu-se com uma risadinha casquinada e respondeu:

– O que pensa que faço sentado a esta secretária? Que escrevo cartas comerciais em inglês? Isso já acabou. Agora quem as escreve é o Bernardo Soares, não sei se conhece.

– Conheço sim, é o do livro que o fez a si famoso no mundo, não é?

– Esse mesmo. Pois as cartas escreve-as ele, eu aqui escrevo, prosa, poesia, o que me passa pela cabeça. Quando tenho oportunidade pego no que escrevi que me agrada e vou até à arca. Ponho os papeis no fundo, remexo-os e no dia seguinte o pessoal que está a decifrar os papeis leva as mãos à cabeça por não saber o que fazer. Aparecem papeis sobre a mesma coisa ligeiramente diferentes pois eu ás vezes esqueço-me do que escrevi e volto a escrever a mesma coisa de forma parecida e eles não decidem qual escolher, o que é natural. O que eu me rio só de pensar na cara deles. Bem gostava de estar lá para ver. Sobretudo quando encontrarem o papel que lá deixei ontem, inspiração de fim de festa.

Olhe, o segurança já vem de volta, vou ter que me calar para não o confundir. Se me ouve a falar ainda toca o alarme assustado, pensando que enlouqueceu, coitado. Volte mais vezes para conversar um pouco.

E voltou à posição em que estava no quadro.

O segurança aproximou-se de mim e com bons modos perguntou:

– O senhor está a sentir-se bem?

– Estou óptimo, porquê?

– Ao longe vi-o fazer gestos e pareceu-me que estava até a falar com o quadro, pelo que pensei que talvez alguma coisa não estivesse bem.

– Está tudo bem, obrigado. Virei costas e continuei a visita.

Depois destes extraordinários acontecimentos fui surpreendido com a noticia de jornal sobre mais um inédito, e não resisti a uma enorme gargalhada. Rezava assim:

Entre os papeis do poeta foi descoberto um inédito.

Numa folha branca aparece, a um terço da altura, o poema descoberto.

Modelo de simplicidade, consiste tão só numa vírgula cortada pela metade. Alvoroçou especialistas com o seu significado.

Foi convocado um congresso. Podem até dia vinte entregar-se comunicações.

Nota iconográfica

A pintura de José de Almada Negreiros (1893-1970),  Retrato de Fernando Pessoa, 1964, pretexto desta conversa pertence à colecção do Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

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A longevidade e o peso da idade, um poema de João Xavier de Matos

17 Segunda-feira Nov 2014

Posted by viciodapoesia in Crónicas, Poesia Antiga

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Bulhão Pato, João Xavier de Matos

Bloemaert_Abraham-Landscape_with_Vegetables_and_Fruits_in_the_Foreground AHá pouco mais de 100 anos Bulhão Pato escrevia no prefácio ao seu “Livro do Monte” esta coisa espantosa para o homem de hoje –  A árvore, passados para nós os cinquenta, substitui a mulher. O que vale é que antes tinha escrito: Quando a alma não envelhece, a sensibilidade é porventura mais viva em anos provectos, com o que provavelmente virei a concordar.

Este prefácio em apresentação daquele conjunto de poemas à natureza continua, ilustrando o que a companhia de uma árvore permite a um solitário a quem os desejos do corpo abandonaram aos cinquenta anos.

Nos nossos dias, nem bem passados os sessenta o homem se sente assim. A juventude ainda não é eterna mas prolongou-se muito.

Graças aos nossos políticos são jovens os agricultores até aos 40 anos como quer que se sintam, mesmo que mais cedo que o nosso poeta prefiram a árvore à mulher. E são jovens também, mas já só até aos 35 anos, os membros dos partidos, e por aí fora.

Efectivamente, além da graça destas classificações politicas, somos todos mais novos quando chegamos à idade em que os nossos pais, para não falar dos avós, já se consideravam na curva descendente da vida.

Na vertigem do dia-a-dia poucos percebemos a profundidade dessas alterações e não sei bem se todos desfrutam desta aumentada juventude que a sociedade moderna nos trouxe.

É lendo os autores antigos em cartas ou memórias de algum tipo, que esta maravilhosa realidade se me faz presente, quando constato em gente muito mais nova que eu, achaques, preocupações e atitudes mentais mais adequadas ao final da vida que à idade física que possuem.

Trago como exemplo um soneto de João Xavier de Matos (???? – 1789) escrito provavelmente em meados do sec. XVIII onde o poeta, com trinta e cinco – Já lá vão sete lustros, que este monte / Berço me foi: – se sente com a vida perto do fim – Vai-se apagando a luz, secando a fonte – e despede-se com uma súplica – Paixões, desejos, ide-vos embora; / Favor, que me fareis por poucos dias.

Pensar eu que alguém se sentiu a caminho do fim da vida aos trinta e cinco anos, e era esse o padrão comum, ainda que a longevidade existisse, leva-me a gostar cada vez mais do tempo que me foi dado viver.

É aproveitar e desfrutar quanto possível. Há apenas que ter a cabeça a rodar na linha certa.

E agora o soneto:

 

Já lá vão sete lustros, que este monte

Berço me foi: Já da vital jornada

Mais de meia carreira está passada;

E cedo iremos ver outro horizonte:


A mão já treme, já se enruga a fronte,

Já branqueja a cabeça, e com a pesada

Considração da vida mal gastada,

Vai-se apagando a luz, secando a fonte.


Pouco nos resta, que passar já agora;

E para as derradeiras agonias

De tantos anos, aproveite hum’hora.


Esperanças, temores, vãs porfias,

Paixões, desejos, ide-vos embora;

Favor, que me fareis por poucos dias.

 



O propósito era falar da poesia de Bulhão Pato, e afinal saiu este razoado. Bulhão Pato e a sua obra têm que ficar para outro dia.

E Xavier de Matos também vai ter que esperar.

Por agora boa noite.


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CONVERSA DE CINEMA E A INVENÇÃO DE EROS NO FINAL

01 Sábado Nov 2014

Posted by viciodapoesia in Crónicas, Poetas e Poemas

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Vitor matos e Sá

Do mundo servido na televisão temos tido noticia, suponho. Falam sempre de qualquer coisa e a criativa prática de fazer seguir as noticias de debates com especialistas de lugares comuns deixa-me irremediavelmente um pouco melancólico.

Medito a sublimidade

enquanto um ar abstracto

absorve a informação

sobre insectos e verduras

vendidos na televisão.

Seguem-se então os champôs com sabor de lucia-lima

e chás de sabão azul

cuecas para a cintura

viagens ao universo

e corridas para o lixo

separado em varias cores conforme a sua função.

Ministros em digressão cacarejam comentários

com grande satisfação.

Ficam de fora os perfumes com o cheiro a pintassilgo

e as frutas enlatadas em caixas de telemóvel

com garantia de um ano sem fazer a digestão.

 

E ontem, depois de uma destas experiências resolvi ver um filme.

Felizmente o dvd trouxe de volta as ásperas belezas do cinema italiano que incendiavam a minha imaginação adolescente naquele barracão onde vi cinema três vezes por semana.

O efeito destas experiências consegue medir-se pela visão da alegoria de Fellini em Amarcord, quando o protagonista adolescente é literalmente afogado nas imensas, descomunais, mamas da vendedoura de cigarros, a ponto de ficar febril. Mas não foram essas que afinal fui visitar.

Lembrei-me que mesmo as suaves belezas de Holywood ganham uma rugosidade especial ao chegar a Itália. É talvez do clima, ou do ar que se respira, mais provavelmente.

Veja-se Julia Roberts num filme há anos exibido em Lisboa. Como chega anémica a Itália e parte para o Oriente outra, muito mais mulher. Já lhe tinha acontecido semelhante no fabuloso musical de Woody Allen, Toda a gente diz que te amo, de tal maneira que ao olharmos os Tintoretto da Scuola di San Rocco depois do filme, os vemos de outra maneira (gosto mais de pensar isto que aceitar simplesmente tal transformação como o resultado da limpeza e restauro a que foram submetidos os frescos entre a primeira e a segunda vez que os vi).

Mas a outras aconteceu semelhante. Por exemplo Ingrid Bergman quando foi transportada para Itália por Rossellini, sobretudo naquele inesquecível Viagem em Itália, ganha uma densidade madura de mulher, ausente, por exemplo, da maneira como Hitchcock a filmou em Notorious, Difamação em português.

É este mesmo Hitchcock que permite ver a transformação italiana em Shirley MacLaine, aquela beleza sempre um pouco espantada de si, Sweet Charity de todos os desamparados, e que aqui me traz.

(Nota erudita: Este Sweet Charity foi a versão americana de Bob Fosse de As noites de Cabíria, de Fellini).

Filmou-a Hitchcock em The Trouble with Harry, em português chamado O terceiro tiro, uma desconcertante comédia onde o macabro do enterra /desenterra nos faz rir a bom rir, e onde a beleza impávida, serena, e de desarmante ingenuidade camufalda da MacLaine não tem menor responsabilidade. Esta Shirley MacLaine filmada em Itália por Vittorio De Sicca é toda ela outra criatura.

Tinha há algum tempo para ver um filme de sketch de Vittorio De Sicca, Sete Vezes Mulher, por ela protagonizado e por uma vasta lista de actores célebres. Gosto dos filmes de Vittorio De Sicca. Falta-lhes sempre um quantum para serem geniais, variando o tamanho do quantum de filme para filme.

O filme, vi-o com o desenfado que me estava a apetecer, e nos altos e baixos inevitáveis da fórmula do sketch surgem algumas pérolas, como o intelectual strepe-tease de MacLaine, lendo poesia nua e filosofando em redor do quarto, muito à anos sessenta, perante um quase incontrolado Vitorio Gassman. De antologia. Ver surgir numa curta intervenção a maliciosa Anita Ekberg, de que só recordo o banho na Fontana Trevi em Dolce Vita, foi um inesperado prazer.

Acabado o filme interroguei-me que poema escolheria eu para fazer ler a uma qualquer Shirley naquele preparo, e escolhi uma INVENÇÃO DE EROS que aqui transcrevo.

INVENÇÃO DE EROS

Fui procurar-te para ser contigo

quando colhi das horas que invadias.

Colhi da própria dor um nome antigo

que fosse o nome exacto em que virias.


Da límpida substância dos teus risos

fui-te inventando dentro dos meus braços

e os sóis mais densos puros e precisos

vieram dar-me a sombra dos teus passos.


E já não eram meus senão de erguê-los,

a tua face e os lábios e os cabelos

e o teu olhar para ninguém voltado.


Mas quem, o pleno amor de que nascias

se o deus que a ti igual encontrarias

ficou, pelo teu olhar, desabitado?

 


Noticia bibliográfica: O soneto é de Vitor Matos e Sá (1926–1975) e foi publicado no seu segundo livro O Silêncio e o Tempo em 1956.

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Merda! Sou lúcido. – Coitado do Álvaro de Campos!

22 Quarta-feira Out 2014

Posted by viciodapoesia in Crónicas

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viciodapoesia's avatarvicio da poesia

Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa

Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,

Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;

E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha

(Excepto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:

Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,

E romantismo, sim, mas devagar…)


Sinto uma simpatia por essa gente toda,

Sobretudo quando não merece simpatia.

Sim, eu sou também vadio e pedinte,

E sou-o também por minha culpa.

Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:

É estar ao lado da escala social,

É não ser adaptável ás normas da vida,

Às normas reais ou sentimentais da vida –

Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,

Não ser pobre a valer, operário explorado,

Não ser doente de uma doença incurável,

Não ser sedento de justiça ou…

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Um pouco de memória cinéfila

20 Segunda-feira Out 2014

Posted by viciodapoesia in Convite à fotografia, Crónicas

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Greta Garbo, Lubitsh

É possível que para as novas gerações a memória cinéfila se construa com os filmes vistos na juventude. Comigo não foi assim. Foi perto dos 30 anos, quando livre do mobiliário da função social da arte que me atravancava a cabeça, que despertei para grande parte dos filmes que agora fazem a minha delicia.

Viver o inicio da adolescência naquele remoto lugar que era o Algarve no inicio dos anos sessenta, onde nem televisão chegava em condições decentes, significou de tal forma uma estreiteza de oportunidades, que a minha memória cinéfila se faz da variedade entre os filmes de legiões romanas e as tragicomédias hispano-mexicanas com Cantiflas ou Marisol, passando por Sarita Montiel e Joselito. Um curto universo de que retenho difusas imagens de um rapazinho, qual pássaro cantor, apanhado pelas goelas de um leão no coliseu de Roma enquanto uma bela morena atira à arena um ramo de violetas.

Mantenho da adolescência o gosto pelos filmes de aventuras. Adorei a tetralogia Indiana Jones e “Em busca da Esmeralda Perdida” transforma-me qualquer melancolia na vontade de partir à volta do mundo esteja ou não o barco estacionado à porta de casa. E depois temos Os três Mosqueteiros naqueles magníficos chapéus adornados de penas de pavão que os transformavam em aves do paraíso dançando em lutas de esgrima.

Esta fantasia de Hollywood em torno de chapéus é em Ninotshka um absoluto do cinema na forma como um chapéu derrota o comunismo. Entre o primeiro olhar de desdém que a Garbo no papel de comissária soviética lança ao chapéu na vitrine do hotel e o segundo momento quando na solidão do quarto do hotel depois de se certificar que está tudo bem fechado, desembrulha o mesmo chapéu e o coloca na cabeça frente ao espelho, é uma história de civilização que decorre e com ela um conceito de mulher traduzido nestes pequenos gestos. Lubitsh era um mestre incomparável da ironia e tudo isto decorre numa suavidade de encantar.

Apetece dizer vivam os chapéus que nos dão de volta as mulheres no feminino e não seres assexuados pela ideologia.

As duas fotografias são de Greta Garbo, sem chapéu, feitas para a promoção do filme Mata-Hari, como de costume fotografada por Clarence Sinclair Bull

 

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As Fadas – Poema de Antero de Quental (1842-1891)

03 Quarta-feira Set 2014

Posted by viciodapoesia in Crónicas

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Para os novos leitores do blog recordo este post antigo.

viciodapoesia's avatarvicio da poesia

Nestes tempos de Verão,  quando as férias apelam à fantasia, aqui  fica  um convite para viajar ao mundo encantado das fadas com a inspiração de Antero de Quental.

Revela-nos o poema segredos só conhecidos de poucos adultos, apenas daqueles que ainda sabem que a Cinderela casa mesmo com o Principe e acreditam que:  a fortuna da gente / Está às vezes somente / Numa palavra que diz; / Por uma palavra, engraça / Uma fada com quem passa, / E torna-o logo feliz.

Mas cuidado, pois as fadas quando se zangam:  têm vinganças terriveis! /Semeiam coisas horriveis, / Que nascem logo no chão… / Linguas de fogo que estalam! / Sapos com asas que falam! / Um anão preto! Um dragão!

 Ou deitam sortes na gente… / O nariz faz-se serpente, / A dar pulos, a crescer… / É-se morcego ou veado… / E anda-se assim encantado…

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Esta obscuridade salubre — poema de Ana Hatherly com pintura de Monet

09 Segunda-feira Jun 2014

Posted by viciodapoesia in Crónicas

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Monet jardins 04 600px

Namorar por jardins é ocupação de bom tempo. Num passeio em que a memória se cruza com o novo, lia eu poesia de Ana Hatherly (1929) quando subitamente um poema se colou à imagem da pintura de Claude Monet (1840-1926) que abre o artigo:

 

 

Esta obscuridade salubre

 

Olha peço-te não venhas assim quando eu estava tão quieta

sentada no jardim e até com óculos

não venhas peço-te

não venhas melindroso e sorrindo

com a cabeça inclinada como um particípio

não venhas

Eu estava já me aproximando

quase tocava a recorrência das coisas

nesse momento eu olhava para o chão e via mesmo cada

pequena pedra saudável

eu estava tão quieta sentada no jardim

Respirava

sentia as veias ligeiramente activas

mas tão ligeiramente

tudo corria fundo em sua sumidade

meus braços tinham apenas o seu peso

sem outras asas

Quando tu vieste sorrindo melindroso e tão salubre

de repente o jardim é a dificuldade essencial da minha

botânica

a minha indústria difícil

o fim que a alma lograda obtém dos corpos

Corro agora por minha alucinação dirigível

minhas tarefas são histriónicas

Eu estava ali tão quieta

estava até com óculos

e tu inclinavas-te como um simulacro

Intui, peço-te

esta obscuridade salubre

esta consternação despenhada

tropeçando pela alma recorrente silva

 

in Eros Frenético, 1968.

Transcrito de Poesia 1958-1978, Moraes Editores, Lisboa 1980.

 

A pintura é um prodígio de sentimento. Um casal, presumivelmente namorados, está de amuo, ou pelo menos ela está amuada, e faz beicinho: vejam-lhe além da boca, o olhar entre triste e desolado. Ele, olhar sardónico, aguarda que as flores oferecidas, abandonadas no banco, façam a reconciliação. Longe, a provável dama de companhia, para manter a decência do encontro, aguarda. Toda a envolvente resplandece, apenas à espera que o arrufo se esfume, o que certamente acontecerá, e para nós que observamos, será coisa de pouca demora, pois esse é o milagre de namorar pelos jardins.

Deixo-vos e volto ao passeio.

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Elogio de Innocencio

28 Sexta-feira Mar 2014

Posted by viciodapoesia in Crónicas, Prosa

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A. A. Teixeira de Vasconcellos, Innocencio Francisco da Silva, Inocêncio Francisco da Silva, Júlio César Machado, Revista Contemporânea de Portugal e Brasil

Carl Spitzweg BookwormA1cropedSabem todos quantos por uma vez procuraram uma informação ou minudência sobre a edição portuguesa em livro anterior a 1850, quanto o Dicionário Bibliografico organizado por Innocencio Francisco da Silva (1810-1876) se revelou precioso. Obra ímpar pelo rigor da informação coligida, acrescenta-se dos frequentes e saborosos comentários do seu autor a propósito de pequenos nadas que ele trata com a importância de relevantes factos. Mas são precisamente estas irrelevâncias que muitas vezes fazem dele auxiliar precioso e insubstituível.
Aconteceu-me comprar certo livro antigo, descapado, sem folha de rosto e sem qualquer possibilidade de identificação imediata do seu autor. Era um livro de poesia, talvez do virar do século XVIII para o XIX, isto tanto pelo estilo e assunto dos poemas como pela qualidade do papel e tipo da impressão.. As notas levaram-me a avançar um pouco no tempo e situar o seu autor entre os emigrados em Inglaterra durante o miguelismo, onde se incluiu o jovem Alexandre Herculano. Neste grupo, além de Herculano e Garrett não sabia de outros poetas.
Enquadrado o livro no tempo, percorri o Innocencio, como é carinhosamente conhecido entre bibliófilos e livreiros, e graças à descrição do conteúdo do índice, número de páginas e seu formato, consegui identificar o livro, o seu autor, e o ano de publicação. Tratava-se de Obras Poéticas de Francisco Evaristo Leoni (1804-1874), obra e autor que um destes dias virá ao blog.
Sem as preciosas minudências que Inocêncio acumulou e me fizeram saltar de autor para autor, excluindo-os, nunca tal livro seria identificado. Outras têm sido as ocasiões, embora de forma menos espectacular, em que a consulta do dicionário tem sido preciosa.
Mesmo entre os utilizadores do Dicionário Bibliográfico poucos saberão quem foi o homem. Lembra-lo é um gosto e um acto de justiça mínimo, tanto mais quanto parece ter sido um homem integro com a vida entregue à paixão dos livros.
Esta paixão, como ainda hoje acontece, gera bizarrias de comportamento quais o que certa tarde em Lisboa aconteceu, e Júlio César Machado (1835-1890) narra com alguma graça.
Ora leiam:

De uma ocasião, cavaqueando o Innocencio e o Meréllo, na loja do livreiro Rodrigues, da rua do Crucifixo, farejaram um livro de valia cuidando, qualquer dos dois, que o outro não houvesse dado por ele.
Principiaram então, como que ao desafio, em espertezas, procurando mutuamente afastar o competidor do lugar da maravilha.
Já um chamava o outro para a porta, e lhe narrava não sei que historia em grandes ares de confidência; já o outro consultava o relógio e lhe dizia a hora, adiantando-a, ao passo que lhe perguntava qual fosse a sua hora de jantar. . .
Nem o Meréllo nem o Innocencio arredavam um passo da baiúca do livreiro, recinto encantado da ambicionada jóia. Nisto, não se atrevendo um nem o outro a desampararem a caça, nem, tão pouco, a separarem-se, saíram juntos.
Innocencio, morava nesse tempo, ao Rato, na rua de S. Filippe Nery; o Meréllo, como que deleitando-se com a sua conversação, foi indo até lá.
Uma vez chegados, disse-lhe o autor do Diccionario Bibliographico:
—Você onde vai?
O Meréllo, titubeando, denunciou, porventura, na sua hesitação, o designio que guardava em seu ânimo, chi lo sá?! Respondeu conforme pôde:
—Eu agora . . . estou capaz de ir . . . tenho por força de ir agora. . .
—Para cima?
—Não; ali, para aquele lado. . .
Innocencio fixava-o no branco dos olhos.
—A Santa Isabel!!! accrescentou Meréllo, que, com o ganhar tempo, cobrara ânimo, e revigorara o seu espírito. Vou a Santa Isabel, e adeus, que não me posso demorar!!!
—Então, adeus! disse-lhe o Innocencio. E obrigado pela companhia.
Meréllo, em passinho de pulga, cortou para a direita, pelo largo do Rato fora, e sumiu-se detrás da esquina.
Dois olhos, porém, o acompanhavam, vigiando-o, sem falarmos nos da providência, que, talvez, naquela hora o não seguissem com tanto desvelo. . .
Eram os olhos do Innocencio, que, logo depois de fechar a porta da rua, de novo a abrira, de mansinho, encostando-a habilmente por maneira que pudesse ver sem ser visto.
Espreitado o Meréllo no rápido ápice de dobrar a esquina, aí foi logo, de corrida, de voada, o Innocencio, encostar-se meio escondido, na diligência de observar, se, efectivamente, o Meréllo seguia pela rua do Sol, a fim de cortar depois á esquerda para Santa Isabel.
Mas,—oh! confirmação da suspeita!—o Meréllo virou pela rua de S. Bento, e, deste modo, revelou a engenhosa estratégia com que estivera a ponto de levar de vencida o seu competidor.
Innocencio Francisco da Silva não pensou uma, não pensou duas, nem três vezes, e, voltando a meter-se na rua da Escola Politécnica, desceu pressuroso, aos encontrões a quem ia e vinha; ele, para o passeio; ele, para o meio da rua; zás, pás; de salto, pulo, e gangão; respirando apenas; apertando o fígado, abalado pela fúria da correria; até que, catrapuz, caía de chofre na loja do livreiro, onde, em caso imediato, se embrulhava com um vulto, que, também de repelão e de tombo súbito, penetrava ali. . . Era o Meréllo!
O Meréllo, que, suspeitoso e inquieto pelas perguntas do Innocencio, correra ao livreiro, e alcançara, pela rua de S. Bento, Calhariz e Chiado, chegar ao Pote das Almas ao mesmo tempo que o seu rival ilustre, por S. Pedro de Alcântara e S. Roque: em passo vertiginoso, de bibliófilos, ambos eles; o incomparável passo, que fez sempre a inveja do Bargossi! o andarilho Bargossi!
Com razão se diz serem mudas as dores supremas. No meio do reboliço que houve naquela loja, quando os dois alfarrabistas se atropelaram ao entrar ali, qual deles com maior ânsia, foi o Meréllo o primeiro a conseguir deitar a mão ao livro.
O Innocencio, que tinha uma tremenda língua de palmo e meio, terror do próximo, meteu-a no bucho, e, engolindo em seco, viu o outro arrecadar o livro no bolso do peito, abotoar-se à mesm’alma, pagar o livro ao Rodrigues, e sair, ficando quedo e mudo, como se, aquele caso formidando, estivesse a ponto de entupir-lhe por uma vez a fala.

Os leitores conhecedores da topografia de Lisboa, e uma vez que as ruas conservam o mesmo nome, podem, ao ler o texto, reconstruir o percurso dos dois ávidos bibliófilos.

Termino com um fragmento do perfil biográfico de Inoccencio Francisco da Silva traçado por A. A. Teixeira de Vasconcellos (1816-1878) na Revista Contemporânea de Portugal e Brasil.

O sr. Innocencio Francisco da Silva, nasceu em Lisboa a 28 de Setembro de 1810. Seu pai, comerciante pouco abastado e oficial de ordenanças, foi o mestre que lhe deu as primeiras noções do saber humano…
Desde 1825 até 1830 estudou desenho, humanidades, lingua francesa, e frequentou durante dois anos o curso da aula do comércio, intercalando estes trabalhos com leituras dos principais filósofos do século passado.
De 1830 a 1833 seguiu o curso matemático da Academia Real de Marinha. No primeiro e no segundo ano obteve prémios. No terceiro em que não os havia mereceu distinção honrosa.
Nessa época entrara em Lisboa o duque da Terceira, vitorioso das tropas realistas, e principiara a organizar a guarnição que devia defender dos inimigos ainda numerosos, tão preciosa conquista. O sr. Innocencio assentou praça no 4.° Batalhão Movel, no qual serviu de oficial inferior com satisfação e louvor dos seus chefes.
Seu pai, cuja fortuna diminuira ainda antes de 1830, estava então velho, cego e paralítico. Os encargos da familia pesavam todos sobre o jovem voluntário liberal, cuja inteligência, instrucção e ânimo determinado, o habilitavam a cumpri-los todos. Aproveitando os estudos anteriores dedicou-se a leccionar estudantes da Academia de Marinha e da Aula de Comercio, c neste exercicio obteve excelentes créditos desde 1834 até 1837. De certo não eram menores os que tinha como cidadão, pois que os seus camaradas da Guarda Nacional, por esse tempo o elegeram capitão.
Obteve então um amigo que o administrador geral de Lisboa convidasse o sr. Innocencio para ser amanuense extraordinário ou temporário da sua secretaria, com vencimento de dez tostões nos dias úteis. Nesta colocação se conservou até 1842, em que o despacharam amanuense de segunda classe, vindo só a alcançar em 1851 acesso à primeira. Nos vinte e cinco anos que tem passado no governo civil a escrever mais de vinte e seis mil cartas e ofícios, soube o sr. Innocencio adquirir e conservar o conceito dos chefes, e merecer-lhes louvores, assim pelo serviço feito na repartição de fazenda, onde esteve até 1848, como pelo que prestou na repartição da policia, segurança e salubridade publica, a que hoje pertence. Há pouco foi-lhe conferida a graduação de oficial, porém sem accesso.
Durante muitos anos foi o sr. Innocencio preparando os materiais para a sua obra, manuseando larga cópia de livros, adquirindo grande porção deles, estudando os modelos bibliográficos, investigando as questões e dúvidas que a cada passo lhe surgiam, e lutando com difficuldades que teriam desanimado qualquer espirito menos vigoroso e persistente.
Em Outubro de 1858, saiu á luz da Imprensa Nacional, a expensas do governo português, o primeiro volume do Diccionario Bibliographico, e já a esse tempo a Academia Real das Sciencias, escolhera o autor para seu sócio correspondente.
O instituto de Coimbra, o Instituto Historico e Geographico do Brasil, e não sei quantas outras sociedades literárias abriram espontaneamente as suas portas ao ilustre bibliógrafo
português, e há poucos dias a Academia Real das Sciencias resolveu chamá-lo ao grêmio dos seus sócios efectivos, onde o conceito público o julgava desde muito tempo colocado.

Lisboa, 17 de Maio de 1862
A. A. Teixeira de Vasconcellos.

A imagem de abertura mostra uma pintura famosa de Carl Spitzweg (1808-1885).

Encerro o artigo com o retrato do homem em gravura a ponta de aço.

Innocencio Francisco da Silva - Perfil

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Retratos extraordinários — Mulher pintada por António Puga

12 Quarta-feira Mar 2014

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Crónicas

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António Puga

Puga_Antonio-Old_Woman_SeatedÉ este retrato de uma mulher quase velha, pintado por António Puga (1602-1648), pintor galego natural de Orense, uma eloquente imagem da dignidade na parcimónia material da vida.

Sentada frente a nós, num interior despido de supérfluo, a mulher medita, e não teremos dificuldade em o imaginar, na dureza da vida e no que é preciso para a levar pela frente.

Pintado no século XVII, num tempo que em Portugal se exercia o domínio espanhol, a mulher  pintada, ainda que sendo eventualmente galega,  bem podia ser portuguesa, e pensaríamos que eram apenas história as dificuldades entrevistas na pintura. Será assim?

A profissão leva-me todos os dias ao encontro dos efeitos sociais da crise económica, e a evidência de como cada um, no silêncio da sua intimidade aceita as dificuldades do dia a dia, é uma lição de quanto os governantes não merecem o povo que governam.

Ser velho hoje, em Portugal, parece ser uma maldição, gritada a cada hora que passa. Interrogo-me, quando o ouço, que país encontrou esta gente ao nascer, quem os alimentou, quem os levou à escola, quem lhes deu o que não tinham e só por nascer ganharam?

 

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Miró, sabe o que é?

22 Quarta-feira Jan 2014

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Crónicas

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Miró

Homem com cachimbo - 1925. Óleo sobre tela. 146 x 114 cm. Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia. Madrid. España.Quando questões de cultura se põem publicamente, invariavelmente os asnos falam:

— Miró!… Quem vive de Miró? Quero lá mirar o Miró!

— Mas afinal que é isso de Miró? Come-se, bebe-se? Deve alguma coisa às finanças? Dá votos?

— Nada disso! AUMENTA AS EXPORTAÇÕES!

— Ena Pá, isso é bom! E há mais? Piró, Liró, por aí adiante? Vendido até às eleições, às tantas punha o défice a zero e a coisa corria-nos bem. Não?

— Isso não sei, mas podiam aproveitar a embalagem e vender também a Torre de Belém. Está para ali sem préstimo, e só a dar despesa…

O pássaro olhando tranquilamente as asas em chamas

Vem esta conversa a propósito das obras de Joan Miró (1893-1983) que o Estado Português pretende vender. Não as conheço, são segredo de alguns.

O gentlemanO Secretário de Estado da Cultura em funções já informou que conservar as obras na posse do Estado não é uma prioridade sua. Será dos portugueses?

Sesta - 1925. Museo Nacional de Arte Moderna. Centre Georges Pompidou. París. FrançaPara amenizar a prosa, termino com mais algumas imagens de obras de Miró, pertença de colecções pelo mundo, onde  valem para além do dinheiro que rendem, e por isso as conservam.

Interior holandês  1928, oleo sobre tela

Personagens na noite guiados pelos rastos fosforescentes dos caracóis

Paisagem catalã com caçador - 1923-1924. Óleo sobre tela 65 x 100 cm - Museo de Arte Moderna  New York

Retrato IV - 1938. Óleo sobre tela. 130 x 97 cm. Colecção privada

Da série A infancia de Ubu 1975

O sorriso das asas flamejantesDepois do Sorriso das asas flamejantes, acabemos com A esperança do condenado à morte III.

A esperança de condenado à morte III

P.S. para os leitores de outras paragens

O Estado Português comprou por via da nacionalização do BPN, em vez da falência do banco, uma colecção de obras de arte até hoje de conteúdo desconhecido dos portugueses, onde se incluem 85 obras do artista catalão Joan Miró. Propõe-se agora o Estado Português vendê-las em leilão em Londres, agendado já para Fevereiro de 2014. Espera, segundo a imprensa, obter 35 milhões de euros com essa venda.

O irrisório do dinheiro face à importância artística de semelhante património para o país, levou-me ao desabafo do artigo de hoje.

Acrescento ainda em post scriptum A mão apresentando um pássaro, óleo de 1926.

Mão apresentando um pássaro - 1926. Óleo sobre tela Colecção privada.

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