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vicio da poesia

Category Archives: Crónicas

E vão 200.000 visitas

08 Quarta-feira Jan 2014

Posted by viciodapoesia in Crónicas

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Ultrapassaram-se hoje 200.000 visitas a páginas do blog. À vasta comunidade de leitores que fez o número possível, obrigado!

Registo o número com satisfação, e apenas prometo mais do mesmo: dar conta, numa leitura pessoal, de como a poesia nos cruza a vida, fazendo-nos seguir com ela na alegria e no desanimo, na reflexão e na brincadeira, no prazer, sobretudo, de viver uma condição de humanidade plena.

À poesia regresso em breve.

Iluminura 03x500

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Os números do blog em 2013

01 Quarta-feira Jan 2014

Posted by viciodapoesia in Crónicas

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Al andar se hace el camino

 

Al andar se hace el camino

(António Machado)

 fELIZ 2014

Divulgo a seguir o relatório estatístico anual do WordPress para o blog. Aproveito para dar notícia de alguns outros números que lá não estão.

 

As cerca de 120.000 visitas de 2013 no relatório referidas, são parte das quase 200.000 visitas que o blog conta desde o início. Estas são apenas visitas directas ao blog.  Acrescentam-se-lhes os leitores que recebem cada post no e-mail e eventualmente dispensam a visita ao blog: são actualmente 1082.

Na média diária de visitas ao blog o ano começou com 225 e termina com 500.

Sei de 203 ligações directas ao blog a partir de outros sites. As partilhas de artigos com ou sem identificação de origem serão milhares, e como exemplo dou o recente poema de Marc Chagall, o qual  leva já 190 partilhas + 28 através do Facebook.

São números que não deixam de me impressionar num blog pessoal, sobretudo dedicado a poesia, antiga na sua maior parte, quando a queixa usual de editores, livreiros e autores é a de que a poesia não tem público. Estes números são um eloquente desmentido.

A todos os leitores que fazem estes números possíveis um comovido OBRIGADO.Blog 2014

Deixo-vos com o relatório do wordpress e renovo a todos o desejo de FELIZ 2014.

Relatório WordPress

The WordPress.com stats helper prepared a 2013 annual report for this blog.

Here’s an excerpt:

The Louvre Museum has 8.5 million visitors per year. This blog was viewed about 120,000 times in 2013. If it were an exhibit at the Louvre Museum, it would take about 5 days for that many people to see it.

Click here to see the complete report.

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Feliz Natal

24 Terça-feira Dez 2013

Posted by viciodapoesia in Crónicas

≈ 1 Comentário

Feliz Natal a todos o leitores do blog com um obrigado pelo entusiasmo com que o seguem, acarinham e divulgam junto de quem gostam.

Picasso pomba Feliz Natal

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A passagem do tempo — High Society como pretexto

06 Sexta-feira Dez 2013

Posted by viciodapoesia in Crónicas

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Bing Crosby, carlos mendonça lopes, Cary Grant, Cinema, Frank Sinatra, Grace Kelly, High Society, John Ford, Katharine Hepbrun, Louis Armstrong, Mogambo, Philadelphia Story, T.S. Elliot, True Love

Grace KellyAcontece às belas o mesmo que às outras — gasta-as a vida.

 

Parece já um lugar comum, mas vale sempre a pena voltar a ele: as mulheres hoje envelhecem muito mais tarde que há duas ou três décadas. Não obstante, se para as mulheres do nosso convívio esse é um dado que fruímos com o maior prazer: degustar os sinais mínimos de envelhecimento que se acrescentam subrepticiamente dia a dia, e com eles a maturidade que as faz mais suculentas; para as mulheres míticas, com uma beleza cristalizada numa certa imagem, o confronto com o seu envelhecimento, que constitui o cair de um mito, mostra-se por vezes um choque.

Para mim, como para muitos homens e mulheres no mundo, Grace Kelly incarnou um dos tipos de beleza humana oferecido como ideal. Faz parte do conceito de ideal a sua imutabilidade, mas humanos somos, e o tempo ao passar deixa marcas. Foram as marcas do tempo nesta beleza ideal o motivo desta conversa.

High Society é um remake da fabulosa comedia com Katharine Hepbrun e Cary Grant, Philadelphia Story, desta vez contada como musical. Nele, cruzam-se Bing Crosby, Frank Sinatra e Louis Armstrong com Grace Kelly, a bela, que até canta True Love (Verdadeiro amor), êxito de mais de um milhão de cópias vendidas.

Deste verdadeiro amor fala a história e encanta, apesar da pesada realização que se arrasta um pouco pasmada, talvez, pela beleza da protagonista. Para quem não viu o filme, a foto de abertura do artigo, feita para a sua promoção, pode dar uma ideia.

O que segue é que, muitos anos mais tarde, e já princesa do Mónaco, a Kelly assistiu e subiu ao palco, para apresentar Frank Sinatra num concerto no Royal Festival Hall, em Londres, em 1971. Recordou Mogambo, a avassaladora obra-prima de John Ford, e o encontro  com Frank neste High Society. Foi ao vê-la ali e recordar o filme, que o mito se desfez. A mulher que ali estava era uma sombra da beleza divina que pelo filme passeava.

À época, escrevi o que hoje vos mostro.

Curei-me.

Da deusa que à beira da piscina, túnica grega, se metamorfoseia de gelo em fogo

ficou aquela bela mulher cansada.

Não mais ilusões!

 

Vê-la,

a pele baça, a voz áspera,

percebi a diferença:

Acontece às belas o mesmo que às outras—gasta-as a vida.

 

E citando T.S. Elliot me despeço:

Burnt Norton

…

Vai, vai, vai, disse a ave: o género humano

Não pode suportar muita realidade.

O tempo passado e o tempo futuro

O que podia ter sido e o que foi

Tendem para um só fim, que é sempre presente.

Original

Burnt Norton

…

Go, go, go, saíd the bird: human kind

Cannot bear very much reality.

Time past and time future

What might have and what as been

Point to one end, which is always present.

Do primeiro dos Quatro Quartetos.

Para recordar deixo-vos True Love cantado por Bing Crosby e acompanhado por Grace Kelly. É um rip a partir do disco de vinil.
https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/viciodapoesiamedia/True+Love+-+Bing+Crosby+%26+Grace+Kelly+(Mono).mp3

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Pensar no Futuro / Pensar o Futuro — O destino não é um lugar (Francisco Brines )

02 Segunda-feira Dez 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Crónicas, Poetas e Poemas

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Albrecht Dürer, Francisco Brines, Ludwig Wittgenstein

Dürer - Retrato de homem com 95 anos 1521

Gosto de pensar que este velho de 95 anos desenhado por Albrecht Dürer (1471-1528) em 1521 pensa no futuro, mais que na vida vivida. Do que viveu terá aprendido o que mais tarde lapidarmente Wittgenstein escreveu:

6.373.       O mundo é independente da minha vontade.

6.374.        Ainda que tudo o que desejamos acontecesse, isto seria apenas, por assim dizer uma graça dada pelo destino, uma vez que não existe uma conexão lógica entre a vontade e o mundo que a garantisse, e a suposta conexão física também não a poderíamos por sua vez desejar.

5.1361.     Não podemos inferir os acontecimentos futuros dos acontecimentos presentes.

A crença no nexo causal é a superstição.

5.1362.     O livre arbítrio consiste no facto de as acções futuras não poderem ser conhecidas no presente. Só poderíamos conhecê-las se a causalidade fosse uma necessidade interior, como a da inferência lógica. — A conexão entre o saber e o que se sabe é a conexão da necessidade lógica.

Ludwig Wittgenstein (1889-1951) in Tratado Lógico-Filosófico com tradução de M. S. Lourenço

Aceitando que as acções futuras não podem ser conhecidas, ainda assim sobra lugar para o sonho ou desejo. E por isso, do futuro, acreditando na existência de um além vida, pensará o nosso homem, quero crer, no que deseja: e aí talvez siga a ideia de Francisco Brines  (1932) no poema Projecto de Vida Eterna.

Projecto de Vida Eterna

E depois de acabar, voltar ao mundo

após uma curta eternidade, já sereno

voltar de novo ao mundo, a este que sei,

com uma repetida juventude, e junto a mim

seu corpo como fora em sua idade de ouro

perdida, e assim admitir que a vida é infindável

como não pôde ser (agora já eterna),

porque houve um adeus, e o tempo envelhecia

não o tempo, que em si é sempre eterno,

mas o que ele tocava: o mundo,

e aquele que, por sabê-lo, mais sofria.

 

E para o que lhe falta viver tentará certamente pensar o futuro tendo em conta quanto o destino não é um lugar, verdadeiro e belo título do poema com que hoje me despeço da poesia de Francisco Brines.

 

O Destino nao é um Lugar

 

O caminho foi longo e houve névoa.

Porém, houve o espaço. Mas agora

adensou-se a névoa até ao ponto

de ser o espaço o muro que já roço.

Nele me deterei e, ao voltar

os olhos para trás, a mesma névoa

far-me-á tentar de novo o mesmo muro,

e, se eu dirigir o olhar ao céu

para ali me salvar, a negra névoa

irá cegar-me os olhos, e assim será

isso a que chamaste sono eterno.

 

Traduções dos poemas por José Bento in A Ultima Ceia, edição Assírio & Alvim, Lisboa 1997.

 

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De vez em quando, PESSOA. Hoje, DÁ A SURPRESA DE SER.

29 Sexta-feira Nov 2013

Posted by viciodapoesia in Crónicas, Poetas e Poemas

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Fernando Pessoa

A pretexto do poema Glosa de Sophia de Mello Breyner Andressen que vem no artigo seguinte, republico este artigo onde no final se encontra o poema de Fernando Pessoa glosado por Sophia nesse seu poema.

HOJE QUE A TARDE É CALMA e o céu tranquilo,

E a noite chega sem que eu saiba bem,

Quero considerar-me e ver aquilo

Que sou, e o que sou o que é que tem.

Leio o poeta em mim:

Como alguém distraído na viagem, / Segui por dois caminhos par a par. / Fui com o mundo parte da paisagem; / Comigo fui sem ver nem recordar.

Retomo o poema:

Olho por todo o meu passado e vejo / Que fui quem foi aquilo em torno meu, / Salvo o que o vago e incógnito desejo / De ser eu mesmo de meu ser me deu.

Chegados aqui, onde hoje estou, conheço / Que sou diverso no que informe estou. / No meu próprio caminho me atravesso. / Não conheço quem fui no que hoje sou.

De novo constato: não gosto da poesia de Fernando Pessoa. Não gosto no sentido em que me deleito com a lírica de Camões. No entanto, a poesia de Pessoa tem-me revelado mais sobre mim que provavelmente qualquer outra escrita.

AQUI, NESTE SOSSEGO e apartamento, / Nesta quieta solidão sem fim, / Sem cuidado ou tormento / Que ocupe este momento, / Da vida e mundo volto-me p’ra mim.

 

Tão breve sombra do que pude ser / Me encontro, tão perdida semelhança / Com minha vida por acontecer, …

Interrompo o poema aqui. Esta leitura incomoda-me. Mas volto sempre lá, privilégio tão só da arte, continuar irresistível. Mas não transforma a leitura num prazer. Daí definitivamente afirmar “não gosto da poesia de Fernando Pessoa” sabendo que sem ela, eu, provavelmente, seria outra pessoa.

Nos meus vinte anos, ortónimo e heterónimos foram, durante quase um ano, minha leitura de cabeceira. Pegava-lhes, lia um pouco e largava incomodado. No dia seguinte não resistia e voltava a eles. Hoje:


CONVERSO ÀS VEZES comigo / E esse diálogo a sós / Com o impossivel amigo / Que sonha cada um de nós,

 

Vai de clareira em abrigo / Ouvido, visto, veloz / Das expressões que consigo / Das sombras a que dá voz.

 

E a perfeita consonância / De quem fala com quem ouve / Aquece a lume de infância /

A casa em que ainda chove, / E eu durmo a alada distância / Da conversa que não houve.

Mas engana-se quem suponha que tanto o poeta como eu apenas olhamos para o umbigo. De mim calo por pudor, mas ao poeta, faminto do relevo tapado,  Ó fome, quando é que eu como?, veja-se como o deixou aquela loura nos idos de Setembro de 1930:


 

DÁ A SURPRESA DE SER

É alta, de um louro escuro.

Faz bem só pensar em ver

Seu corpo meio maduro.


Seus seios altos parecem

(Se ela estivesse deitada)

Dois montinhos que amanhecem

Sem ter que haver madrugada.


E a mão do seu braço branco

Assenta em palmo espalhado

Sobre a Saliência do flanco

Do seu relevo tapado.


Apetece como um barco.

Tem qualquer coisa de gomo.

Meu Deus, quando é que eu embarco?

Ó fome, quando é que eu como?

Não sei se o poeta comeu, mas aquele pobre moço, de quem a seguir conto a história, não comeu, apenas sonhou, e vejam o que aconteceu:

Fodê-la era o seu sonho recorrente.

Extasiado,

pensava na maravilha

de poder ainda um dia

gozar tamanha ventura.

E assim, mal acordava

voltava a dormir sorrindo

envolto na fantasia

de sonhar a alegria

que em vida nunca teria.

Em vão a fome e a sede

o chamaram à razão.

Morreu abraçado ao sonho

num sossego de ilusão.

Despeço-me com a convicção que sonhos destes valem a morte que trazem.

Noticia bibliográfica:

Os poemas transcritos foram publicados pela 1ªvez nas edições seguintes:

AQUI, NESTE SOSSEGO e apartamento (15-5-1923) – Poemas de Fernando Pessoa, tomo III 1921-1930, edição crítica, vol I, IN-CM, 2001 (transcrição parcial)

CONVERSO ÀS VEZES COMIGO(25.11-1924)  – Poemas de Fernando Pessoa, tomo III 1921-1930, edição crítica, vol I, IN-CM, 2001

DÁ A SURPRESA DE SER (10-9-1930) – Poesias, 1942

HOJE QUE A TARDE É CALMA(1-8-1931)  – Revista de Portugal nº4, 1938 (transcrição parcial)

As transcrições foram efectuadas da edição em 3 volumes da Poesia de Fernando Pessoa publicada pela Assírio & Alvim e preparada por Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas e Madalena Dine.

O resto do texto, o crime, é de minha responsabilidade.

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Ambrósio, tenho um desejo de poesia! com poema de Camilo Pessanha

25 Segunda-feira Nov 2013

Posted by viciodapoesia in Crónicas, Poetas e Poemas

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Camilo Pessanha

A publicidade contamina-nos a imaginação e anúncios há que à força de os ouvir repetidamente acabam por nos soar na cabeça sem pretexto. Foi o caso de um popular e quase eterno anúncio de televisão a chocolates e que deu o mote a este post. Era um anúncio aos bombons Ferrero Rocher e durante anos passou na televisão por alturas do Natal.

Para os leitores do Brasil onde não sei se o anúncio é ou foi visto, descrevo sucinta e aproximadamente o que dele retive.

Num grande plano, um Rolls-Royce ou semelhante, e um motorista vestido a rigor. No banco de trás uma bela balzaquiana sentada diz languidamente para o motorista: Ambrósio, tenho um desejo de requinte, ou algo parecido. O motorista virando-se ligeiramente no banco da frente onde conduz estende-lhe uma caixa de chocolates.

É esta a fonte para a prosa que anos vai escrevi aqui e a seguir recordo aos novos leitores do blog.

– Ambrósio, tenho um desejo de poesia! clamava a condessa, lânguida, reclinada no banco de trás do carro em que seguiam.

Ambrósio, mordomo/chauffeur para todo o serviço, começa a declamar “A porra do Soriano”

– Essa não, essa não!

– Mas senhora, vós costumais apreciar bastante o assunto.

– Sim, mas apetece-me algo mais requintado. Que tens para me oferecer?

Ambrósio, fazendo-se desentendido:

– Talvez Tabacaria?

(Come chocolates pequena;

Come chocolates!

Olha que não há mais metafisica no mundo senão chocolates

…

– Que horror Ambrósio, logo Álvaro de Campos! Não, não, já me bastam os Ferrero Rocher. Procura qualquer coisa de gosto mais delicado, talvez oriental…

– Será que madame aprecia Camilo Pessanha?

– Não sei, não conheço. Diz lá:

DESEJOS

Se medito no gozo que promette

A sua boca fresca e pequenina

E o seio mergulhado em renda fina,

Sob a curva ligeira do corpete,


Desejo nun’s transportes de gigante,

Estreitál-a de rijo entre meus braços,

Até quasi esmagar n’estes abraços

A sua carne branca e palpitante;


Como, d’Asia nos bosques tropicaes,

Apertam em spiral auri-luzente,

Os musculos herculeos da serpente

Aos troncos das palmeiras collossaes…


E como ao depois, quando o cançaço

A sepulta na morna lethargia,

Dormitando repousa todo o dia

Á sombra da palmeira o corpo lasso;


Eu quizera também, adormecido,

Dos phantasmas da febre ver o mar,

Mas sempre sob o azul do seu olhar,

Envolto no calor do seu vestido;


Como os ebrios chineses delirantes

Aspiram, já dormindo, o fumo quieto

Que o seu longo cachimbo predilecto

No ambiente espalhava pouco antes…

Entre o desejo e o ópio, ficaremos sem saber o que aconteceu à condessa e ao mordomo, mas podemos meditar no gozo que promete…

Noticia bibliográfica: O poema de Camilo Pessanha foi retirado da modelar Edição Crítica de CLEPSYDRA preparada por Paulo Franchetti e editada por Relógio D’Água Editores em 1995.


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MÁQUINAS QUE SENTEM, OS LEITORES DO BLOG, etc…

19 Terça-feira Nov 2013

Posted by viciodapoesia in Crónicas

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Gonçalo M. Tavares

Quando o blog se aproximava do primeiro ano de existência os leitores eram poucos quando comparados com a média recente de mais de 500 visitas diárias, mas ainda assim me surpreendia que existissem, o que me levou a escrever esta brincadeira que agora recordo para os novos leitores que todos os dias chegam.

Continuo surpreendido por o blog ter leitores. Não sei quem são. Chegam, partem, às vezes voltam (talvez) e apenas deixam o rasto estatístico da sua passagem.

Gosto assim, desta cumplicidade silenciosa que me deixa livre para escrever no eter, sem rostos destinatários, neste solilóquio aberto ao mundo.

Escrevo rostos mas não só, pois ganhei o convencimento de que pelo menos um dos computadores do Google é não só leitor do blog, como seu entusiasta, e com preferências poéticas.

Parece-me estar a ver-lhe um ar de dúvida, leitor. Não acredita? Eu conto.

Todos os dias o Google envia leitores novos ao blog. Até aí nada de especial. Como o blog regista as palavras-chave e frases usadas para o encontrar, a partir de certa altura surpreendi-me por alguém que pesquisava algo sobre “peixe espada prenha” ser encaminhado para o blog, mas a coisa passou.

Raramente presto atenção aos motivos das pesquisas que trouxeram leitores ao blog. Provavelmente abrem a página, vêm que é poesia e partem, é a minha convicção. No entanto, comecei a ver que os artigos consultados em consequência de pesquisas eram apenas 3 ou 4.

Fui dando uma atenção divertida a este jogo de computador em prol da poesia e vendo como os pesquisadores eram empurrados para ler poesia. Comecei a suspeitar que algo se passaria. Maquinas que sentem? Era a minha suspeita

A suspeita esclareceu-se em torno do poema de Francisco Bugalho que em tempos aqui coloquei e cujo primeiro verso é “Caricias sábias minhas mãos buscaram”.

Até certa altura, nas estatísticas, os artigos mais procurados eram os poemas eróticos de José Régio que aqui deixei. Aí por volta de Agosto, o poema de Francisco Bugalho saltou para o primeiro lugar e lá se mantém.

De alguma forma surpreendido, pois não é poeta de fama, acabei por constatar que a procura do artigo era todos os dias sugerida por, pelo menos, um computador do Google, independentemente do que a pessoa procurava.

Interrogo-me se o acariciar das teclas ao escrever transmitirá algum frisson àquelas memórias electrónicas. Quem saberá? O que sei é que pelas pesquisas mais surpreendentes o motor de busca do Google lá oferece este post ao leitor.

Não fui fazendo qualquer registo de palavras-chave ou frases de procura. No entanto, uma houve que me surpreendeu, tão completamente, que a guardei.

Alguém procurava “como arrumar panelas de cobre” e o computador, zás, “Carícias sábias minhas mãos buscaram”. Não imagino a surpresa do procurador. Quero crer que eventualmente gostou, pois hoje alguém chegou ao blog procurando “panelas de cobre”. Se foi o mesmo(a), daqui o cumprimento. Procurar panelas e encontrar poesia, não é para todos.

Agora voltando aos computadores do Google, começo a suspeitar que também interpretam metáforas, mas talvez nem todos, pois aquele artigo com os trabalhos de mão do poema de Barbosa Bacelar, embora menos vezes,  é frequentemente atirado para a frente dos pesquisadores e estes, às vezes, lá vão.

O que segue é que nesta comunicação homem-máquina me pareceu ouvi-los reclamar sobre a antiguidade da poesia que aqui deixo, cheia de teias de aranha, tudo do século passado, etc. Pretendiam algo mais consentâneo com esta era tecnológica. Resolvi fazer-lhes a vontade e vamos ver se esta Erótica do Salto pedida de empréstimo a GONÇALO M. TAVARES os satisfaz.

A Erótica do Salto.

Todo o salto é ERÓTICA.

SOU EU-CARNE EM direcção alta ao OUTRO-CARNE.

SALTO. Sou alto. SALTO.

A Erótica do Alto.

A Morte?

Deus vem buscar-nos.

O Salto do Alto.

À Manifestação do Eros em Deus chamamos Morte.

O Salto sobre nós do ALTO.

Assalto.

Leu? Palavras para quê? É um artista português. Tem talvez um pouco de impaciência juvenil a mais, o que não sei se, de todo, agrada às mulheres, a acreditar no que nos canta Juliette Greco na sua eterna canção “Deshabillez-moi”: “pas trop vite”, “souplesse” e por aí fora. Mas talvez o OUTRO-CARNE não seja mulher, pois como o autor em outro lugar referiu, O Homem ou é tonto, ou é mulher, e aí , esta conversa não faz sentido.

Espero, pelo menos, que para as máquinas a quem dirijo o poema o sentido seja claro. Na verdade a erogenia das máquinas é-me desconhecida.

Darei noticia da recepção do poema neste universo tecnológico, se as houver.

Noticia Bibliográfica:

O poema transcrito é o nº30 do livro INVESTIGAÇÕES NOVALIS de GONÇALO M. TAVARES publicado pela Difel em Maio de 2002. O livro recebeu o PRÉMIO DE REVELAÇÃO APE/IPBL – POESIA/1999. O júri era constituído por Armando Silva Carvalho / João Rui de Sousa / José Antunes Ribeiro.

Respeitei escrupulosamente as maiúsculas e minúsculas da impressão do poema no livro referido.

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Fica V. Exa. notificado… com poemas de David Mourão-Ferreira

15 Sexta-feira Nov 2013

Posted by viciodapoesia in Crónicas, Poetas e Poemas

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David Mourão-Ferreira

Propunha-me publicar no blog o soneto de David Mourão-Ferreira, Ternura quando verifiquei que já aqui se encontrava num esquecido artigo do inicio do blog. Recordo-o agora às escassas dezenas dos primeiros leitores, e talvez aos novos leitores agrade.

Às vezes sou tentado a levar o blog para a realidade dos dias mas depressa me arrependo. No entanto, ao acontecimento de hoje não resisto.

Tinha na semana passada na caixa do correio um aviso para levantar uma carta registada das Finanças. É entidade a quem não devo nada, de quem dispenso o contacto e que me faria imensamente feliz se esquecesse a minha existência. Infelizmente não é assim e vivamos com o que temos.

O carteiro procurara-me em casa a hora em que obviamente estaria a trabalhar e em vez da carta deixou aviso: vá buscá-la a partir das 10H00 do dia tantos ao posto de Correios tal.

Passaram os dias e eu sem vontade de tomar conhecimento dos desejos das Finanças até que hoje, terminando o prazo para levantar a carta, lá fui ao tal posto de Correios.

Havia gente, muita gente. Tirei senha, o nº 117. Olhei o contador dos atendidos e iam no nº 73. Eram dois postos de atendimento e esperei. Preparara-me para alguma demora, não para isto. No Bolso levava a Lira para eventualmente entreter a espera. Afinal não. O burburinho da conversa de quem esperava e os diálogos dos guichets levaram a melhor, e embalado segui doenças, remédios, instruções de preenchimento de impressos, o custo de vida, e soube que nestes tempos de telemóvel há ainda quem vá aos Correios telefonar.

Chegou a minha vez de ser atendido e munido da intimação do carteiro e do bilhete de identidade, apresentei-me à funcionária. Olhou-me, olhou a foto do BI, achou que era a mesma pessoa e estendendo-me o aviso que lhe entregara, imperou:

– Assine aqui! Igual ao bilhete de identidade.

Obedeci.

Levantou-se, desapareceu, e passados minutos regressou. Na mão um papel branco com letras, era a notificação das Finanças. Entregou-mo, e na posse de tão indesejado documento, com mil cuidados para não rasgar, o coração acelerado, abri a coisa,

e leio:

– Fica V. Exa. Notificado(a) nos termos do art. … da liquidação do Imposto de … no total de zero euros (o destaque é meu).

Em nota final o impresso informava que o valor liquidado (zero euros) não será objecto de cobrança.

Com os melhores cumprimentos assinou o Director-Geral, e eu, enquanto Excelência fiquei notificado de que nada aconteceu.

Tanto tempo perdido por tanta gente para isto!

Concluido o episódio regresso à intemporalidade da poesia e do amor lendo aqui alguns dos poemas que levei no bolso.

MINUTO

O amor? Seria o fruto

trincado até mais não ser?

(Mas para lá do prazer

a Vida estava de luto …)


Fui plantar o coração

no infinito: uma flor…

(Mas para lá do fervor

a Vida gritou que não!)


O amor? Nem flor nem fruto.

(Tudo quanto em nós vibrara

parecia pronto a ceder …)


Foi apenas um minuto:

a fome intensa tão rara!,

de ser criança, ou morrer…


Jovem de 22 anos, David Mourão-Ferreira exprime assim a pressa de quem do amor ainda não aprendeu o prazer da demora, numa confusão adolescente de não saber o que importa.

É ainda o adolescente dos anos 40 que ecoa neste SONETO DO CATIVO onde ressoam os contrastes entre amor de ouvir dizer, preconceitos e culpas de pecado numa sociedade vigiada:


 

Se é sem dúvida Amor esta explosão

de tantas sensações contraditórias;

a sórdida mistura das memórias,

tão longe da verdade e da invenção;


o espelho deformante; a profusão

de frases insensatas, incensórias;

a cúmplice partilha nas histórias

do que os outros dirão ou não dirão;


se é sem dúvida Amor a cobardia

de buscar nos lençóis a mais sombria

razão de encantamento e de desprezo;


não há dúvida, Amor, que te não fujo

e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,

tenho vivido eternamente preso!


A idade avança, a experiência também, e é outra a realidade neste

TERNURA

Desvio dos teus ombros o lençol,

que é feito de ternura amarrotada,

da frescura que vem depois do Sol,

quando depois do Sol não vem mais nada…


Olho a roupa no chão: que tempestade!

Há restos de ternura pelo meio,

como vultos perdidos na cidade

onde uma tempestade sobreveio…


Começas a vestir-te, lentamente,

e é ternura também que vou vestindo,

para enfrentar lá fora aquela gente

que da nossa ternura anda sorrindo…


Mas ninguém sonha a pressa com que nós

a despedimos assim que estamos sós!


E no prazer do corpo o amor ganha a essencialidade dos elementos  – Não, meu amor … Nem todo o corpo é carne: / é também água, terra, vento, fogo …

Seguindo esta poesia saberemos o seu segredo mais à frente – no teu corpo existe o mundo todo!


PRESIDIO

Nem todo o corpo é carne… Não, nem todo.

Que dizer do pescoço, às vezes mármore,

às vezes linho, lago, tronco de árvore,

nuvem ou ave, ao tacto sempre pouco?…


E o ventre, inconsistente como o lodo?…

E o morno gradeamento dos teus braços?

Não. Meu amor… Nem todo o corpo é carne:

é também água, terra, vento, fogo…


É sobretudo sombra à despedida;

onda de pedra em cada reencontro;

no parque da memória o fugidio


vulto da primavera em pleno Outono…

Nem só de carne é feito este presídio,

pois no teu corpo existe o mundo todo!


Mas o perigo de olhar o mundo da cintura para baixo espreita:

CASA

Tentei fugir da mancha mais escura

que existe no teu corpo, e desisti.

Era pior que a morte o que antevi:

era a dor de ficar sem sepultura.


Bebi entre os teus flancos a loucura

de não poder viver longe de ti:

és a sombra da casa onde nasci,

és a noite que à noite me procura.


Só por dentro de ti há corredores

e em quartos interiores o cheiro a fruta

que veste de frescura a escuridão…


Só por dentro de ti rebentam flores.

Só por dentro de ti a noite escuta

o que sem voz me sai do coração.


Visitados que foram os tormentos do sexo ao concentrar aí o mundo – Só por dentro … – , voltemos à despreocupada alegria do poeta jovem:

ALBA

Com grinaldas de lodo sobre a testa,

presos os pés em turbilhões de limos,

– assim a madrugada nos desperta

e após a preia-mar nós emergimos.


Lambe-me o rosto a fimbria do lençol,

amarrotada, poluida espuma…

Sobre a salsugem, uma angustia mole,

que o pensamento arruma e desarruma.


por fim derruba o muro dos enganos,

e ante nós dois derrama esta pergunta:

– De que infernos vibrantes nos soltamos,

sem que o céu compareça ou nos acuda?


Findo este pequeno tour pela criação poética de David Mourão-Ferreira antes dos 35 anos e da Matura Idade, tenho uma provável surpresa para a maior parte dos leitores: os primeiros poemas publicados aos 19 anos e que o autor, já adulto e consciente, repudiou, nunca os incluindo na sua obra poética.

Estas primícias poéticas foram publicadas numa edição de autor, colectiva, feita em 1946 e de seu nome RUMOS  ANTOLOGIA DE CONTOS E POEMAS.

A edição contém obras de Ana Maria Caeiro, Carlos Garcia, David Mourão Ferreira (sem hifén) João Belchior Viegas, José-Aurélio, José Rabaça, Mário António, Orlando Pinto Baptista e Vitor Parracho.

De David Mourão-Ferreira constam do livro 5 poemas,  quais sejam:

QUINTO POEMA DE HESITAÇÃO

VOZ

CÂNTICO

IMAGEM

PEDIDO

Este último diz-se que pertence ao livro no prelo “BARCO ENCALHADO” que a contra-capa de RUMOS anuncia “A sair brevemente”

O “BARCO ENCALHADO”, que eu saiba nunca viu a luz do dia e o primeiro livro a publicar pelo autor foi antes A SECRETA VIAGEM em 1950.

Temos pois que nos 4 anos que medearam, o poeta desencalhou o barco e seguiu na viagem que nos contou e da qual extraí MINUTO.

Eis então os poemas de RUMOS

QUINTO POEMA DE HESITAÇÃO

Não me digam que não,

Que pr’além desta vida

Não existe outra vida,

Onde os sonhos deixarão de ser sonhos,

Permanecendo neles, porém,

Aquele encanto e aquela graça

Que só os sonhos têm…


Não me digam que não,

Que por trás destes muros,

Serenos e caiados –

Destinos conhecidos – ,

Não existem regatos

E não existem prados

E rosas e lirios…


Não me digam que não,

Que não hei-de encontrar

Em busca de quem vou…

Não me digam que não!,

Deixem-me ir iludido,

Já que iludido estou!…


E depois, se eu voltar,

Inutil e cansado,

Digam-me então, que não,

Que errei o meu caminho…

Deixem-me então, morrer,

Vazio de sonhos e podre de cansaços…

Digam-me então que não!,

Ainda que eu vos peça de joelhos

E vos estenda os braços!…

VOZ

Apenas respondo às vozes

Que chamam dentro de mim.

Meus passos só são velozes

Pra essas vozes assim…


Não me chamem pois de fora,

Que nunca vou nem irei.

Se acaso me for embora

É respeito à minha lei.


Apenas respondo às vozes

Que chamam dentro de mim:

Só irei quando chamarem!

Só então direi que sim!


CÂNTICO

Ah! São as árvores erguidas

E os caminhos desertos,

Desertos e abertos,

Promessas de vida…,

Ah! São os lamentos de cores

E os ambientes tristes,

Lembranças de dores…;

Ah! É tudo isto,

Tudo, tudo,

Que me envolve, me inunda,

Me estende seu manto

De pureza e de encanto…

– Pureza que eu canto,

Encanto de tudo!…


IMAGEM

Rio manso como um charco,

Largo ninho de gaivotas,

Sulcado por tanto barco,

Desiludido das rotas!


Rio manso como um charco!

Tu és bem a minha imagem:

Em mim também há um barco

Já cansado de viagem…


Mas sou inferior a ti,

Que deslizas para o mar,

Enquanto que eu, ai de mim!,

Não sei onde irei parar…


PEDIDO

Antes de tu apareceres,

Eu era um barco encalhado,

Perdido num mar qualquer…

Era um relógio parado,

Que ninguém queria arranjar,

Não obstante ainda ter

Muita corda para andar…


Antes de tu apareceres,

Ai tanta cois aque eu era,

Sem nada ser, afinal…!

Era um romance imperfeito,

Que tinha o grande defeito

De ser bastante banal…


Mas agora… agora que tu vieste,

Que tu vieste e encheste

Da sombra dos teus cabelos

E dos teus gestos singelos

O marasmo dos meus dias…


Agora… agora, o que peço

É que fiques!,

Não me deixes!,

Pra que eu não tenha outra vez

As passadas horas frias

Daquelas vãs agonias

Que tu viste – e já não vês!


Lidas estas primícias dificilmente se suspeita a floração de que mais tarde o poeta seria capaz. E certamente não tinha ainda travado conhecimento com a balzaquiana do andar de cima, iniciadora nas lides do amor e fonte de inspiração segura dos primeiros poemas aceites na obra poética.


Noticia Bibliográfica:

Tal como referi no início, os poemas foram transcritos de LIRA DE BOLSO, antologia de escolha do poeta e publicada em 1969 por publicações dom quixote na colecção cadernos de poesia.

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Fragmento de memória com soneto de Michelangelo

15 Terça-feira Out 2013

Posted by viciodapoesia in Crónicas, Poesia Antiga

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Jorge de Sena, Michelangelo

Vaticano Agosto de 1978 530Viajar é hoje um desejo e um prazer ao alcance de grande número. O mundo está mais pequeno. E embora possamos à distância do dedo num computador ter noticia do mais ínfimo recanto da terra, a vontade de ver e sentir os lugares continua a fazer parte do impulso humano por conhecer.

Testemunho maior dessa avalanche de gente a viajar que os últimos anos trouxeram, é provavelmente, em Roma, a Praça da Basílica de S.Pedro na Cidade do Vaticano, permanentemente ocupada por peregrinos e turistas, gostando de simplesmente ali estar, ou em filas que parecem eternas para visitar a igreja.

E se a uma parte da humanidade viajar não é possível, alguns há que continuam tão só a fugir à guerra ou à fome, como os homens, mulheres e crianças que todos os dias aportam ao largo da costa italiana, e aí por vezes encontram a morte. É ainda desta igreja de S. Pedro que se levanta a voz para lembrar ao mundo a tragédia dessa humanidade que na fuga para um futuro melhor morre às portas do paraíso sonhado.

Os paraíso onde o viver feliz se sonha são isso mesmo, matéria de sonho. E são inesperadas as formas como nos apercebemos quanto o mundo mudou ao longo das nossas vidas levando os paraísos sonhados de um lugar para outro.

Ao viajar por Itália confronto-me com a memória da primeira vez que longamente viajei pelo pais no já distante ano de 1978. Era uma vida diferente, e uma sociedade diferente. O mundo encontrava-se divido em dois blocos e na Europa havia fronteiras entre cada país. O muro de Berlim, de pé, desenhava a fronteira física e psicológica da liberdade.

No ano anterior (1977) tinha vivido por quase dois meses a experiência directa do comunismo na Polónia, paraíso sonhado por muitos e experiência devastadora da crença na possibilidade de um mundo melhor por simples decreto além de preciosa aprendizagem do valor da liberdade.

Quando este ano aterrei no aeroporto da antiga Berlim Leste, foi estranho recordar como 36 anos antes ali estive parado dentro de um avião que seguia para Moscovo com escala em Varsóvia, onde eu desceria, e da janela observava como os passageiros com destino a Moscovo, obrigados a descer do avião, seguiam por uma passadeira entre militares ou policias de espingarda em riste, sabe-se lá para onde. A angústia perante o sem sentido da situação e o absurdo do abuso assombraram-me durante muito tempo.

Foi outra, feliz, e formadora de um gosto, a viagem do ano seguinte a Itália. Ainda há pouco, quando alguém comentava comigo quanto o convívio com as coisas belas acaba por instalar em nós o gosto e o desejo do belo, lembrei dessa viagem um detalhe ocorrido em Verona, que agora recordo.

Representava-se nessa noite na Arena de Verona, majestoso e gigantesco teatro romano ao ar livre, a ópera O Trovador de Verdi. Estando em Veneza, decidi não perder a oportunidade do espectáculo e cedo cheguei a Verona.

Era princípio da tarde e passeando em torno da arena aproximei-me de uma excursão de farnel e garrafão. Eram italianos do sul em viagem de autocarro pelo norte de Itália, na modalidade que ao tempo era habitual entre pessoas de poucas posses: transportar lancheira, fazer piquenique junto ao autocarro, e muitas vezes dormir nele.

Aproximei-me, e a certa altura surpreendi a exclamação de um excursionista para outro: Guarda que bello! (Olha que belo!). Olhava para a arena, extasiado com a beleza do monumento.

Dificilmente entre outros povos, gente da mesma condição económica revelaria em voz alta esta comoção perante o espectáculo da beleza, mesmo que a ela fosse sensível.

O que me comove e surpreende sempre em Itália, é o gosto e carinho com que os italianos vivem o seu património construído e herdado.

Sacrificando o conforto do quotidiano que as construções modernas podem trazer à habitação e ao viver urbano, adoptam os centros históricos e mantêm-nos vivos, criando em quem chega o desejo de ali viver também. Aí vive o comércio tradicional, e a mais sofisticada moda internacional convive quase paredes meias com os géneros alimentares e a venda de arte. E depois as pessoas. Seja Roma, seja uma qualquer cidade média como Pádua, por exemplo, onde num sábado à tarde demoradamente passeei, as pessoas enchem as ruas com comércio, deambulam, param para conversar, vivem o espaço urbano como em Portugal só recordo na longínqua infância, e hoje apenas na zona do Chiado, em Lisboa, acontece.

A foto que hoje arquivo no blog, tirada nessa longínqua visita de 1978, dá conta de uma Praça de S. Pedro vazia durante a tarde, e é uma imagem hoje impossível de conseguir.

Nessa visita, não havia Papa. Tinha morrido Paulo VI e o consistório ainda não escolhera substituto. Os frescos da Capela Sistina ainda não tinham sido devolvidos às cores supostamente originais que hoje podemos admirar. Eram uma acinzentada mancha mal iluminada, onde a custo se divisavam as pinturas que pouco mais de dezena de visitantes observava. Hoje lá estão: esplendorosos, e dificilmente contempláveis entre a compacta multidão que se acotovela e os gritos dos seguranças: é proibido fotografar ou filmar!

Foi Michelangelo (1475-1564) o autor dessas maravilhas artísticas: o projecto da praça, o projecto da igreja e as pinturas do tecto e altar da Capela Sistina.

Artista e espírito da renascença, foi também poeta de génio, e com um seu soneto onde reflecte sobre a pequenez da sua condição humana perante Deus termino este circunlóquio entre o hoje e o mundo de há mais de 30 anos.

“Forse perché d’altrui…”

 

Forçoso é que a piedade enfim me venha,

pra que d’alheias culpas mais não ria,

seguro em meu valor, sem outro guia,

alma perdida que de si desdenha.

 

Nem sei que outra bandeira me mantenha

não vencedor, mas salvo da porfia

com que o tumulto adverso me seguia,

se não é Teu poder que me sustenha.

 

Ó carne, ó sangue, ó lenho, ó dor extrema!

Justo por vós se tome o meu pecado,

do qual nasci e os pais que foram meus.

 

Só Tu és bom: socorra tão suprema

piedade o meu predito iníquo estado:

tão perto a morte, e ainda tão longe Deus.

 

Original italiano

Forse perché d’altrui pietà mi vegna,

perché dell’altrui colpe più non rida,

nel mie propio valor, senz’altra guida,

caduta è l’alma che fu già sì degna.

 

Né so qual militar sott’altra insegna

non che da vincer, da campar più fida,

sie che ’l tumulto dell’avverse strida

non pèra, ove ’l poter tuo non sostegna.

 

O carne, o sangue, o legno, o doglia strema,

giusto per vo’ si facci el mie peccato,

di ch’i’ pur nacqui, e tal fu ’l padre mio.

 

Tu sol se’ buon; la tuo pietà suprema

soccorra al mie preditto iniquo stato,

sì presso a morte e sì lontan da Dio.

Soneto 66 das Rime de Michelangelo

Tradução de Jorge de Sena, in Poesia de 26 Séculos, Fora do Texto, Coimbra, 1993.

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