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Tag Archives: Mary Cassatt

Mãe — poema de Vladimir Holan

17 Terça-feira Mar 2020

Posted by viciodapoesia in Poesia Checa

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Mary Cassatt, Vladimir Holan

Não são de medo mas de precaução os tempos que hoje vivemos. E no confinamento a que a realidade nos obriga, lembrar os pequenos gestos, a ternura daqueles que nos amam e nos são queridos, são conforto sem limites. Vladimir Holan (1905-1980) no poema Mãe lembra um desses gestos primordiais onde o amor de mãe se consubstancia e impregna o ambiente que nos rodeia, ainda que pela sua banalidade, raramente dele nos apercebamos.

Existe algures uma tradução deste poema por Eugénio de Andrade. Afastado da biblioteca, na impossibilidade de o encontrar, socorro-me de uma minha tradução a partir de uma versão inglesa, para o trazer ao blog.

 

Mãe

Alguma vez observaste a tua velha mãe 

ao fazer a cama para ti,

como ela puxa, estica, cobre e aconchega o lençol

para que não sintas uma única ruga?

O seu respirar, o movimento das mãos 

são tão lindos

que no passado apagaram aquele fogo em Persepolis

e agora acalmam alguma futura tempestade 

ao largo da costa da China ou em mares desconhecidos.

Tradução de Carlos Mendonça Lopes a partir de uma versão em inglês do poema.

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Mary Cassat (1844-1926), Jovem mãe a costurar de 1870. A pintura pertence à colecção do Metropolitan Museum de New York.

 

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A mulher imaginada em sonetos de Gomes Leal

21 Sexta-feira Fev 2014

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poesia Antiga

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Gomes Leal, Mary Cassatt, Paul Gauguin

Mary Cassatt

Bon-vivant que foi, e ao que consta bem sucedido com as mulheres até à maturidade, Gomes Leal (1848-1921) nunca casou, e teve um final de vida trágico que faz do homem um personagem de romance soberbo. Enquanto poeta, a sua poesia, quando não ligada a assuntos de actualidade, mantém a atracção do inesperado numa oficina sem falhas: era um versificador inspirado tanto no soneto como em longos poemas narrativos.

Abundam na poesia de Gomes Leal as imagens de mulher sonhada ou desejada. Escolho hoje três sonetos onde na variedade de cenários o sonho da mulher surge. Une-os o desejo do poeta de fruir uma virgindade casta e sonhando o prazer do pecado, como à época era entendido. Enquadra esta poesia a mentalidade burguesa de final do século XIX, quando foi sucesso sem limites, e dela nos dá uma leitura esclarecedora.

 

Abro com A Jovem Miss:

 

A Jovem Miss

 

Ela é tão loura, lírica, franzina,

Tão mimosa, quieta, virginal,

Como uma bela virgem dum missal,

Toda dourada, e preciosa, e fina.

 

Não há graça mais casta e feminina

Do que a dela! — Seu riso angelical

Cria em nós todo um mundo de moral,

Melhor que tudo o que Platão ensina!

 

Por isso, e, pela sua castidade,

Deve ser gozo intenso, na verdade,

Sentir fundir-se em nós seus olhos régios…

 

E o gozo de a beijar, trémula, amante,

Deve ser quasi estranho! — e semelhante

Ao de fazer terríveis sacrilégios.

 

Sonhada a virgem angelical a quem apetece beijar, trémula, amante, passemos ao gosto do exótico em dois devaneios em forma de soneto. Em ambos, a seriedade e convicção com que o assunto se desenvolve é rematada de forma inesperada com o banal da realidade e das suas necessidades.

Mulher com flores nas mãos 1899

Phantasias

 

Tenho, às vezes, desejos delirantes

De a todos te roubar, meu lírio amado!…

E levar-te, em voo arrebatado,

Aos países fantásticos, distantes.

 

À Índia, China, ou ao Iran, e os meus instantes

Passá-los a teus pés, grave e encruzado,

Num tapete chinês aveludado,

Com flores ideais e extravagantes.

 

Nossa vida seria, — ó pomba minha! —

Mais leve do que a asa da andorinha,

E, nas horas calmosas, eu e tu…

 

Olhando o mar sereno, o mar unido,

Comeríamos os dois arroz cozido…

— Embalados num junco de bambu!

 

Se neste soneto passamos da fantasia etérea ao arroz cozido, vejamos onde nos leva A Selvagem:

Te Nave Nave Fenua 1892

A Selvagem

 

Às vezes, como os grandes fantasistas,

Sinto o desejo intenso das viagens…

E ir sozinho habitar entre os selvagens,

Como num ermo os ásperos trapistas.

 

As grandes, vastas, límpidas paisagens,

Que sabem ver os imortais artistas…

Teriam novos tons, novas imagens,

Longe do mundo avaro e as suas vistas!

 

Com uma virgem — flor dessas montanhas —

Entre os mil sons das árvores estranhas,

Dos coqueiros, bambús … fôra feliz!…

 

Dormiria em seus braços nus, lustrosos,

E ouviria, entre uns beijos voluptuosos,

— Tilintar-lhe as argolas do nariz.

Quando te casarás 1892

Os sonetos foram transcritos do livro Claridades do Sul, 2ª edição (revista e aumentada), Lisboa, 1901.

Modernizei a ortografia sempre que a eufonia do verso não saiu prejudicada. Conservei a pontuação da edição.

 

Iconografia

À bela jovem, e talvez virgem, pintada por Mary Cassatt no início do artigo, acrescentei as taitianas pintadas por Paul Gauguin, razão da troca de um futuro de banqueiro em França pela vida de paraíso nos confins do Pacífico, materializando talvez fantasias equivalentes aos devaneios poéticos que acabámos de ler.

Contos primitivos 1902

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Amamentar – Pintura de Mary Cassatt

17 Quarta-feira Abr 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Crónicas

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Bernardino LUINI, Mary Cassatt

Mary Cassatt 03

No gesto de amamentar consubstancia-se, provavelmente, o que de mais íntimo conhece a ligação mãe-filho. Estranho que sou a esta ligação física, é apenas com uma visão exterior que dela falo. O indizível desta relação salta-me ao olhar vendo algumas pinturas de Mary Cassatt (1844-1926), onde o aleitamento se retrata.

Há nestas mães um misto de perplexidade e prazer ao olhar aquele “para lá de si” que de alguma forma ilumina o mistério da ligação mãe-filho, e da abnegação que tantos e tantos relatos nos dão conta.

Mary Cassatt 04

Mary Cassatt maternidade 1890

A liturgia católica conserva e transmite esta perene ligação da mãe ao filho através do Stabat Mater, relato-poema da dor de perder um filho, ainda que Deus feito homem, e que aqui deixei na passada Sexta-Feira da Paixão.

Artigo com o texto do poema Stabat Mater

Para Maria, como para qualquer mãe, o seu filho é, até ao fim, o seu menino.

Termino com esta representação imaginada na renascença italiana, de Maria a amamentar, da autoria de Bernardino LUINI (1480-1522), seguidor de Leonardo da Vinci.

Bernardino LUINI - Maria a amamentar c 1520

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Três pintoras em auto-retrato

16 Sexta-feira Dez 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à arte

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Mary Cassatt, Sofonisba ANGUISSOLA, VIGÉE-LEBRUN

Sabe quem pinta que o auto-retrato é a forma mais acessivel de pintar. O modelo está sempre ali. Divulgados ou não, os auto-retratos dos pintores existem sempre, e são fascinantes para quem lhes admira a obra: dão a ver a forma como os próprios se viam.

Porque são em menor número as mulheres que no passado pintaram, e a história da arte reteve a obra, mostro três auto-retratos de mulheres-pintoras dos séculos XVI, XVIII e XIX. À obra de cada uma delas virei outro dia.

Auto-retrato de Sofonisba ANGUISSOLA (1530-1625)

Trata-se de um óleo sobre madeira, com 20x13cm e pertence à colecção do Kunsthistorisches Museum de Vienna

Sofonisba ANGUISSOLA é a mais velha de seis irmãs pintoras e foi a primeira mulher na história da pintura ocidental a obter renome internacional.

Segue-se o Auto-retrato de Élisabeth VIGÉE-LEBRUN (1755-1842)

A pintura é um óleo sobre tela com 98x70cm e pertence à colecção da National Gallery de Londres.

Nascida em Paris, Élisabeth VIGÉE-LEBRUN, pintou em 1779 um retrato de Maria Antonieta, a que se seguiram mais de duas dezenas. A imagem que hoje temos da rainha decorre fundamentalmente destas pinturas. Retratista de génio, as suas pinturas mostram uma frescura que torna presentes os retratados. A revolução francesa levou-a a viajar pela Europa. Nas suas memórias traça um quadro da sociedade da época que ainda hoje vale a pena ler.

Termino com um auto-retrato de Mary Cassatt (1844-1926 ) em 1878.

Norte-americana de nascimento, nasceu em Pittsburgh, Mary Cassatt instalou-se em França onde integrou o grupo dos impressionistas. Trabalhando sobretudo o pastel, a forma como capta o humano no fugidio dos gestos do quotidiano, transmite o mistério que cada ser humano encerra, convidando-nos a olhar uma e outra vez cada retratado.

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