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Não são de medo mas de precaução os tempos que hoje vivemos. E no confinamento a que a realidade nos obriga, lembrar os pequenos gestos, a ternura daqueles que nos amam e nos são queridos, são conforto sem limites. Vladimir Holan (1905-1980) no poema Mãe lembra um desses gestos primordiais onde o amor de mãe se consubstancia e impregna o ambiente que nos rodeia, ainda que pela sua banalidade, raramente dele nos apercebamos.
Existe algures uma tradução deste poema por Eugénio de Andrade. Afastado da biblioteca, na impossibilidade de o encontrar, socorro-me de uma minha tradução a partir de uma versão inglesa, para o trazer ao blog.
Mãe
Alguma vez observaste a tua velha mãe
ao fazer a cama para ti,
como ela puxa, estica, cobre e aconchega o lençol
para que não sintas uma única ruga?
O seu respirar, o movimento das mãos
são tão lindos
que no passado apagaram aquele fogo em Persepolis
e agora acalmam alguma futura tempestade
ao largo da costa da China ou em mares desconhecidos.
Tradução de Carlos Mendonça Lopes a partir de uma versão em inglês do poema.
Abre o artigo a imagem de uma pintura de Mary Cassat (1844-1926), Jovem mãe a costurar de 1870. A pintura pertence à colecção do Metropolitan Museum de New York.