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Partida e ausência, poeticamente sentidas por Fernão Rodrigues Lobo Soropita

23 Terça-feira Jul 2013

Posted by viciodapoesia in Crónicas

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Fernão Rodrigues Lobo Soropita, Sofonisba ANGUISSOLA

Anguissola_Sofonisba-Portrait_of_Minerva_AnguissolaFernão Rodrigues Lobo, de alcunha o Soropita, é sobretudo conhecido como o compilador e prefaciador da primeira edição das Rhythmas de Camões, editadas após a morte do poeta, em 1595.

Foi Camilo Castelo Branco o primeiro editor da obra do Soropita a partir de um manuscrito encontrado no mosteiro de Tibães. Apenas em 2007 Maria Luísa Linhares de Deus fez uma nova edição da Obra Poética e em Prosa do poeta. É dessa edição que me sirvo para a transcrição dos poemas.

É incerta a informação sobre a vida do poeta e do que é conhecido poderá concluir-se que nasceu no inicio da segunda metade do séc. XVI e terá vivido até aos primeiros anos do séc.XVII (conhece-se uma carta sua datada de 1601).

Ganhou fama como poeta satírico, o que, como quase sempre acontece, torna a obra datada, porque associada às circunstancias do tempo. Mas foi também sonetista de expressivo sentimento à maneira petrarquista, como os melhores poetas do maneirismo português, e é a esse espolio que vou buscar os sonetos que envolvem uma despedida da mulher amada, num deles, a tristeza depois da partida da amada em outro. Termino com a reflexão usual à época sobre os desenganos do amor.

A umas lágrimas de uma despedida

Quando de ambos os céus caindo estava
O rico orvalho, em pérolas formado,
E sobre as frescas rosas derramado,
Igual beleza recebia e dava.

Amor que sempre ali presente estava,
Como competidor de meu cuidado,
Num vaso de cristal de ouro lavrado
As gotas uma a uma entesourava.

Eu, c’os olhos na luz, que aquele dia,
Entre as nuvens do novo sentimento,
Escassamente os raios descobria,

Se me matar (dizia) apartamento,
Ao menos não fará que esta alegria
Não seja paga igual de meu tormento.

Descodifico a primeira quadra para facilitar a leitura

Quando de ambos os céus caindo estava (os céus são os dois olhos da amada que chora)
O rico orvalho, em pérolas formado, (as lágrimas )
E sobre as frescas rosas derramado, ( as frescas rosas referem as faces)
Igual beleza recebia e dava, (liga ao verso da quadra seguinte)

A partir daqui o restante será claramente perceptível, suponho.

Na beleza das imagens deste soneto está todo o seu encanto. Destaco a forma como o desgosto do poeta pela partida da amada é descrito sobretudo no primeiro terceto, ao usar a luz para explicitar a felicidade que a partida do ser amado vem escurecer — Entre as nuvens do novo sentimento / Escassamente os raios descobria.

Passemos então aos outros sonetos prometidos.

A uma partida

Partistes-vos, e [a] alma juntamente
Em partes desiguais se me partiu;
A melhor, que era vossa, vos seguiu;
Ficou-me a outra, fraca e descontente.

Bem sei que a natureza o não consente,
Mas Amor, que mais pode, o consentiu,
Por que a fé que em presença vos serviu,
Também vos sirva agora, estando ausente.

Eu, sem mim e sem vós, não sei que espero,
Nem com que maravilhas me sustento
Nas sombras tristes do meu bem passado.

Só sei que cada dia mais vos quero,
E que por mais que possa o esquecimento,
Nunca poderá mais que meu cuidado.

**

Quanto mais pode amor num peito humano,
Tanto se mostra mais não ter firmeza,
Pois quando dá mor gosto e mor alteza,
Então é mais cruel e desumano;

Põe debaixo do bem um falso engano,
Promete-vos prazer, dá-vos tristeza,
Seus afagos e gostos são crueza,
O mor gosto que tem é ser tirano.

Alto me pôs a fé e o pensamento,
Por que mor queda assim fizesse dar-me
Amor, que em ser cruel é tão isento;

Foi-me desenganar por segurar-me;
Assim, quanto me deu, foi tudo vento,
Desenganou-me enfim, para enganar-me!

Noticia bibliográfica

Fernão Rodrigues Lobo Soropita, OBRA POÉTICA E EM PROSA, edição Maria Luísa Linhares de Deus, Campo das Letras, 2007.

O livro foi publicado no âmbito do projecto da DGLB, Obras Clássicas da Literatura Portuguesa, Século XVI, entretanto lamentavelmente extinto.

Iconografia

Assumamos, para melhor enquadrar os poemas, que a menina objecto destas proezas poéticas, surgiria aos olhos do amador qual Minerva Anguissola, aqui pintada por sua irmã Sofonisba, na segunda metade do século XVI, contemporânea, portanto, do poeta.

 

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Três pintoras em auto-retrato

16 Sexta-feira Dez 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à arte

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Mary Cassatt, Sofonisba ANGUISSOLA, VIGÉE-LEBRUN

Sabe quem pinta que o auto-retrato é a forma mais acessivel de pintar. O modelo está sempre ali. Divulgados ou não, os auto-retratos dos pintores existem sempre, e são fascinantes para quem lhes admira a obra: dão a ver a forma como os próprios se viam.

Porque são em menor número as mulheres que no passado pintaram, e a história da arte reteve a obra, mostro três auto-retratos de mulheres-pintoras dos séculos XVI, XVIII e XIX. À obra de cada uma delas virei outro dia.

Auto-retrato de Sofonisba ANGUISSOLA (1530-1625)

Trata-se de um óleo sobre madeira, com 20x13cm e pertence à colecção do Kunsthistorisches Museum de Vienna

Sofonisba ANGUISSOLA é a mais velha de seis irmãs pintoras e foi a primeira mulher na história da pintura ocidental a obter renome internacional.

Segue-se o Auto-retrato de Élisabeth VIGÉE-LEBRUN (1755-1842)

A pintura é um óleo sobre tela com 98x70cm e pertence à colecção da National Gallery de Londres.

Nascida em Paris, Élisabeth VIGÉE-LEBRUN, pintou em 1779 um retrato de Maria Antonieta, a que se seguiram mais de duas dezenas. A imagem que hoje temos da rainha decorre fundamentalmente destas pinturas. Retratista de génio, as suas pinturas mostram uma frescura que torna presentes os retratados. A revolução francesa levou-a a viajar pela Europa. Nas suas memórias traça um quadro da sociedade da época que ainda hoje vale a pena ler.

Termino com um auto-retrato de Mary Cassatt (1844-1926 ) em 1878.

Norte-americana de nascimento, nasceu em Pittsburgh, Mary Cassatt instalou-se em França onde integrou o grupo dos impressionistas. Trabalhando sobretudo o pastel, a forma como capta o humano no fugidio dos gestos do quotidiano, transmite o mistério que cada ser humano encerra, convidando-nos a olhar uma e outra vez cada retratado.

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