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Tag Archives: Sophia de Mello Breyner Andresen

LISBOA por Sophia de Mello Breyner Andresen

14 Domingo Out 2012

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Sophia de Mello Breyner Andresen

Regressa a poesia ao blog com Lisboa no olhar e poemas de Sophia.

Nestes dias em que a raiva ameaça explodir, se

Ao virar da esquina de súbito avistamos
Irisado o Tejo:
Então se tornam
Leve o nosso corpo e a alma alada

e talvez por isso, as manifestações percorrem as ruas no sossego de uma indignação comedida, deixando o pasmo no olhar de quem as segue na televisão.

TEJO

Aqui e além em Lisboa – quando vamos
Com pressa ou distraídos pelas ruas
Ao virar da esquina de súbito avistamos
Irisado o Tejo:
Então se tornam
Leve o nosso corpo e a alma alada

Julho de 1994

O sortilégio da cidade a que não resiste quem, vindo do sul,  a vê surgir do cimo das pontes, ou do barco que cruza o rio, conta-o Sophia em LISBOA.

LISBOA

Digo:
“Lisboa”
Quando atravesso – vinda do sul – o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão noturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas –
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construida ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
– Digo para ver

1977

Os poemas foram transcritos de OBRA POÉTICA, Edição de Carlos Mendes de Sousa, Editorial Caminho, Lisboa, 2011.

Coligem-se pela primeira vez nesta edição poemas dispersos por antologias e revistas. Entre eles surge esta obra-prima, onde a magia da palavra faz a musica do “poema” quase absoluto “Pura paixão que não conhece olvido”:

Oblíquo Setembro de equinócio tarde
Que se alonga e depara e vê e mira
Tarde que habita o estar do seu parado
Sol de Sul pelo sal detido

Assim o estar aqui e o haver sido
Quasi a mesma que sou no tão perdido
Morar aberto de um Setembro antigo
Com o mar desse morar em meu ouvido

Pura paixão que não conhece olvido

 

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Poemas para o Verão: de novo Sophia com Liberdade e Eugénio de Andrade com As amoras

08 Quarta-feira Ago 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à fotografia, Poetas e Poemas

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Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen

Aqui nesta praia onde
A minha não é a praia de Sophia onde Não há nenhum vestígio de impureza,
É uma praia popular, onde as multidões se acotovelam quando a maré está alta, ou se espraiam quando chega a baixa-mar.
É uma praia de famílias onde um curioso hiato etário acontece. Encontram-se ausentes os jovens. Apenas nos cruzamos com crianças e adolescentes em idade de ainda acompanharem os pais, ou então casais de meia idade a quem a acessibilidade da praia conforta.
Circulando entre a multidão nos passeios à beira-mar, dou por mim muitas vezes a tentar imaginar as pessoas com que me cruzo, vestidas e ocupadas nos seus afazeres profissionais. Não consigo! Os corpos semi-nus, obesos ou deselegantes, longe dos padrões publicitários como é característico da humanidade, ganham uma identidade que apaga as diferenças existentes entre o banhista do guarda-sol da coca-cola, e o outro que se protege na sombra da dispendiosa palhota da primeira fila, onde repousa na espreguiçadeira.
Mas também nesta minha praia, hoje as Ondas tombando ininterruptamente, / Puro espaço e lúcida unidade, me permitiram sentir, nadando, que Aqui o tempo apaixonadamente / Encontra a própria liberdade.

Liberdade
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

As pessoas de quem falei acima são quem faz este meu país, e de quem Eugénio de Andrade (1923-2005) também fala no seu poema As amoras.

As amoras

O meu país sabe as amoras bravas
no Verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Notícia bibliográfica

O poema de Sophia, publicado inicialmente em Mar Novo (1ª edição 1958), foi transcrito de Obra Poética, Editorial Caminho, 2ªedição, 2011.

O poema de Eugénio de Andrade, publicado inicialmente em O Outro Nome da Terra (1ªedição 1988) foi transcrito de Poesia, Rosto Editora, Vila Nova de Gaia, Abril de 2011.

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POESIA segundo Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)

05 Domingo Ago 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Nicolas de Staël, Sophia de Mello Breyner Andresen

É na poesia de Sophia que encontramos, quase em permanência, o eco da grande poesia clássica grega.
Decantado o verso, sobra apenas o essencial que faz a palavra — Ποίηση — POESIA —, qual esta poética definição dela:

Poesia

Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma possuirá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.

Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.
No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos
Aqui sou eu em tudo quanto amei.

Não pelo meu ser que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos actos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.

São as cores mediterrânicas da pintura tardia de Nicolas de Staël (1914-1955) que escolho para acompanhar a Poesia de Sophia.

 

 

 

 

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Floriram os jacarandás – Viagem na poesia de Sophia

01 Terça-feira Jun 2010

Posted by viciodapoesia in Crónicas

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Poesia, Sophia de Mello Breyner Andresen

No suave caminhar deste ano de crise chega Junho e de repente o uniforme da paisagem da cidade enche-se de azul.

Numa surpresa encantada exclamamos:

– Floriram os jacarandás!


É a Sophia que vou buscar a emoção mais próxima deste encantamento primaveril:

Como um fruto que se mostra

Aberto pelo meio

A frescura do centro


Assim é a manhã

Dentro da qual eu entro


e daqui outra manhã recordo:


Na manhã recta e branca do terraço

Em vão busquei meu pranto e minha sombra

*

O perfume do oregão habita rente ao muro

Conivente da seda e da serpente

*

No meio da praia o sol dá-me

Pupilas de água mãos de areia pura

*

A luz me liga ao mar como a meu rosto

Nem a linha das águas me divide

*

Mergulho até meu coração de gruta

Rouco de silencio e roxa treva

*

O promontório sagra a claridade

A luz deserta e limpa me reune


levando-me à infância, quando no Algarve havia amendoeiras.

Por final de Janeiro o inverno fazia uma pausa e subitamente as amendoeiras floriam. Eram extensões a perder de vista de encostas floridas em branco e rosa desafiando o azul do céu. Organizavam-se passeios de domingo para ir ver as amendoeiras em flor.

Esta comunhão com a beleza da natureza acompanha-me e


Mergulho no dia como em mar ou seda

Dia passado comigo e com a casa

Perpassa pelo ar um gesto de asa

Apesar de tanta dor e tanta perda


Pois é! A realidade não dá tréguas, A cidade dos outros  / Bate à nossa porta ainda que um desejo de Oasis permaneça:

Penetramos no palmar

A água será clara o leite doce

O calor será leve o linho branco e fresco

O silencio estará nu – o canto

Da flauta será nítido no liso

Da penumbra


Lavaremos nossas mãos de desencontro e poeira

………………………………………………………………….


Escuto mas não sei

Se o que ouço é silêncio

Ou deus



E por quinze dias a cidade ganha uma atmosfera de azul num efémero que faz os dias belos.

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