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vicio da poesia

Tag Archives: Lucas Cranach o Velho

O silêncio, o desejo, e o prazer, com poemas de Paulo Silenciário

29 Quarta-feira Ago 2018

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga, Poesia Grega

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Lucas Cranach o Velho, Paulo Silenciário

Os prazeres da intimidade revestem para cada um as formas mais variadas, e nem sequer são sempre desejados nas mesmas condições. Na verdade, se no acto de amor há quem aprecie como adicional de excitação a manifestação audível dos caminhos do prazer, ocasiões haverá em que o silêncio é bem-vindo, se não mesmo indispensável. Aos leitores entrego o decifrar quando um ou outro apetece.

Em dois poemas que a seguir transcrevo, Paulo Silenciário (séc.VI) dá conta, primeiro do silêncio como escolha para sublimação do prazer na intimidade, e no segundo refere a necessidade do silêncio como resguardo de amores que não se querem públicos. Uma e outra situações em que se aceita com naturalidade que o silêncio intensifica o prazer.

 

O abraço silencioso

Tiremos, ó graciosa, as nossas vestes e, aproximando-nos, nus,
que os nossos corpos se enlacem.
Que nada exista entre nós, pois as tuas finas roupas
me parecem as muralhas de Semíramis.
Unamos os nossos peitos e os nossos lábios. Que tudo o mais
seja coberto pelo silêncio. Odeio a tagarelice.

 

O segredo

Ocultemos, Ródope, os nossos beijos
e os agradáveis e difíceis trabalhos de Cípris*.
É bom estar oculto e evitar o olhar
dos observadores que tudo perscrutam.
Os amores furtivos são mais saborosos
que os do conhecimento público.

* trabalhos de Cípris: trabalhos do amor

Traduções de Albano Martins
in Antologia da Poesia Grega Clássica, Edições Afrontamento, Porto, 2011.

 

Abre o artigo a imagem de um pormenor da pintura de Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), Fonte da Juventude.

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Soneto de Francisco de Medrano

14 Sábado Out 2017

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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Francisco de Medrano, Lucas Cranach o Velho

O ciclópico acto (1), como uma vez lhe chamou  Luiza Neto Jorge, tem num poema de Francisco de Medrano (1570-1607) uma expressão lírica bem ao gosto da poesia do século XVI, a que a tradução de Jorge de Sena faz plena justiça: Seguiu-se um grande gozo ao pasmo louco / … / que todo o meu sensível pôs em calma.

A pressão do sexo nos humanos é uma constante, e é de sempre, pelo que em todas as épocas surge na palavra poética. Apenas variam os termos da sua formulação, adequando-os ao gosto da época que os viu surgir. Neste nosso tempo afortunado, com o acesso à criação universal ao alcance da curiosidade mais exigente, podemos permitir-nos o luxo da sua fruição independentemente de épocas e geografias. E hoje vem um exemplo feliz de um jovem poeta espanhol pouco mais novo que Camões escrevendo sobre os enigmas do êxtase da paixão.

 

 

 

Soneto

 

Não sei como, nem quando, nem que cousa
senti que me inundava de doçura:
sei que a meus braços veio a formosura,
de gozar-se comigo cobiçosa.

 

Sei que chegou, se bem, com temerosa
vista, mal pude olhar sua figura:
logo pasmei, como o que em noite escura,
perdido o tino, o pé mover não ousa.

 

Seguiu-se um grande gozo ao pasmo louco
— não sei quando, nem como, nem que há sido
que todo o meu sensível pôs em calma.

 

Ignorá-lo é saber: pois que é bem pouco
o que pode abarcar o só sentido,
enquanto isto me coube na só alma.

 

Tradução de Jorge de Sena.

Transcrito de Poesia de 26 Séculos, antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena, edição Fora do Texto, Coimbra, 1993.

 

 

 

Nota à margem

 

(1) Não resisto a um pequeno desvio ao assunto que me traz.
Na dúvida ao escrever acto ou ato, pelo acordo ortográfico de 1990, ocorreu-me quanto o novo acordo ortográfico pode atar as possibilidades de agir. Afinal, de acto a ato, passamos da acção à prisão nas malhas da ortographia.
Feito o desvio, volto com o leitor ao relato em que acção se pede, e atado, só por pontual diversão.

 

 

 

Iconografia

 

Abre o artigo a imagem de um detalhe da pintura de Lucas Cranach o Velho (1472-1553), adequadamente chamada A Idade de Ouro, onde homens e mulheres nus fruem os prazeres da vida em mútua companhia.
A pintura feita por volta de 1530, terá talvez mais setenta anos que o poema, mas são ambos certamente água da mesma fonte de alegrias.

 

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Um soneto de António Dinis da Cruz e Silva a pretexto do Julgamento de Páris

11 Quarta-feira Set 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poesia Antiga

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António Dinis da Cruz e Silva, Julgamento de Páris, Lucas Cranach o Velho

Cranach_the_Elder_Lucas-Saxon_Princesses_Sibylla_Emilia_and_Sidonia 1530-35Em jeito de paródia ao artigo sobre o Julgamento de Páris, associo esta pintura de Lucas Cranach o Velho (1472-1553) a um soneto de António Dinis da Cruz e Silva (1731-1799) por este enviado a três irmãs, e onde evoca o julgamento de Páris.

Absorto entre as três deusas duvidava

Páris a qual o pomo entregaria:

Sem véu as perfeições de todas via,

E quanto via mais, mais vacilava:

 

Se qualquer de per si atento olhava,

Em seu favor a lide decidia,

Mas logo resolver-se não sabia

Quando juntas depois as contemplava.

 

Enfim um não sei quê, que a Natureza

Mais liberal com Vénus repartira,

O move a dar-lhe o prémio da beleza.

 

Ah! Se igual entre vós lide se vira,

O mesmo Páris cheio de incerteza

Nunca a grande contenda decidira.

Soneto LIII do vol. I das Obras de António Dinis da Cruz e Silva.

O retrato, pintado por Lucas Cranach o Velho respeita às princesas da Saxónia: Sibyla, Emília e Sidónia, feito entre 1530-35.

Termino com três dos Julgamentos de Páris por Lucas Cranach o Velho, mestre cuja pintura me encanta.

Nelas o nosso Páris é um guerreiro armado até aos dentes e aparentemente exausto pela ciclópica tarefa deste julgamento, enquanto as deusas exibem de forma insinuante os seus argumentos.

 Lucas Cranach o Velho -O Julgamento de Páris - 1512-14

Lucas Cranach o Velho -O Julgamento de Páris - 1530

Lucas Cranach o Velho -O Julgamento de Páris - 1528-II

 

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