Em jeito de paródia ao artigo sobre o Julgamento de Páris, associo esta pintura de Lucas Cranach o Velho (1472-1553) a um soneto de António Dinis da Cruz e Silva (1731-1799) por este enviado a três irmãs, e onde evoca o julgamento de Páris.
Absorto entre as três deusas duvidava
Páris a qual o pomo entregaria:
Sem véu as perfeições de todas via,
E quanto via mais, mais vacilava:
Se qualquer de per si atento olhava,
Em seu favor a lide decidia,
Mas logo resolver-se não sabia
Quando juntas depois as contemplava.
Enfim um não sei quê, que a Natureza
Mais liberal com Vénus repartira,
O move a dar-lhe o prémio da beleza.
Ah! Se igual entre vós lide se vira,
O mesmo Páris cheio de incerteza
Nunca a grande contenda decidira.
Soneto LIII do vol. I das Obras de António Dinis da Cruz e Silva.
O retrato, pintado por Lucas Cranach o Velho respeita às princesas da Saxónia: Sibyla, Emília e Sidónia, feito entre 1530-35.
Termino com três dos Julgamentos de Páris por Lucas Cranach o Velho, mestre cuja pintura me encanta.
Nelas o nosso Páris é um guerreiro armado até aos dentes e aparentemente exausto pela ciclópica tarefa deste julgamento, enquanto as deusas exibem de forma insinuante os seus argumentos.