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Os prazeres da intimidade revestem para cada um as formas mais variadas, e nem sequer são sempre desejados nas mesmas condições. Na verdade, se no acto de amor há quem aprecie como adicional de excitação a manifestação audível dos caminhos do prazer, ocasiões haverá em que o silêncio é bem-vindo, se não mesmo indispensável. Aos leitores entrego o decifrar quando um ou outro apetece.

Em dois poemas que a seguir transcrevo, Paulo Silenciário (séc.VI) dá conta, primeiro do silêncio como escolha para sublimação do prazer na intimidade, e no segundo refere a necessidade do silêncio como resguardo de amores que não se querem públicos. Uma e outra situações em que se aceita com naturalidade que o silêncio intensifica o prazer.

 

O abraço silencioso

Tiremos, ó graciosa, as nossas vestes e, aproximando-nos, nus,
que os nossos corpos se enlacem.
Que nada exista entre nós, pois as tuas finas roupas
me parecem as muralhas de Semíramis.
Unamos os nossos peitos e os nossos lábios. Que tudo o mais
seja coberto pelo silêncio. Odeio a tagarelice.

 

O segredo

Ocultemos, Ródope, os nossos beijos
e os agradáveis e difíceis trabalhos de Cípris*.
É bom estar oculto e evitar o olhar
dos observadores que tudo perscrutam.
Os amores furtivos são mais saborosos
que os do conhecimento público.

* trabalhos de Cípris: trabalhos do amor

Traduções de Albano Martins
in Antologia da Poesia Grega Clássica, Edições Afrontamento, Porto, 2011.

 

Abre o artigo a imagem de um pormenor da pintura de Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), Fonte da Juventude.