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Tag Archives: Egon Schiele

Domingo à tarde, o poema de Alfred Lichtenstein com paisagens urbanas de Egon Schiele

10 Domingo Mar 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Alfred Lichtenstein, Egon Schiele

Egon Schiele - suburbios

Deixemos entrar no meio das harmonias de que aqui falo um pouco da crueza do mundo que aos nossos olhos se expõe, apenas consintamos à vista circular em redor.

Egon Schiele - casas com roupas penduradas 2

Não obstante o poema de Alfred Lichtenstein (1889-1914) ser do inicio do século XX (1912), há uma realidade de miséria material e humana que perdura nas nossas sociedades e grita para que dêmos por ela.

Egon Schiele - casas amarelas

No poema, alguns detalhes são-nos hoje estranhos, mas a atmosfera em domingo de província ou de periferia urbana permanece reconhecível.

Egon Schiele - Cidade de Krumau 1915-16

Em ruas podres acampa o casario,
Sobre cuja bossa baço sol clareia.
Um cão de luxo perfumado e com cio
Atira ao mundo olhares de quem esgazeia

De fraldas cheias gritam bebés zangados.
Numa janela, a apanhar moscas, está um moço.
Um comboio no céu, sobre ventosos prados,
Vai pintando lento e longo traço grosso.

Como máquinas matraqueiam ferraduras.
Cheios de pó chegam ginastas ruidosos.
Lançam-se gritos brutais de tascas escuras.
Mas são cortados por inóspita maviosos.

Nos lupanares, onde s atletas lutam,
Difuso entardecer já tudo engole.
Um realejo uiva e criadas cantam.
Um homem esmaga mulher podre e mole.

La ciudad vieja

A pintura de paisagens urbanas de Egon Schiele (1890-1918) que acompanha o poema é grosso modo sua contemporânea. Género menos frequente na obra do pintor, no pesado do seu colorido, ela dá conta da atmosfera de pobreza e necessidade que também hoje se vive nos centros históricos semi-abandonados e em vastas zonas de arrabalde das grandes cidades.

Egon Schiele - casas com roupas penduradas

Termino com um pungente retrato de mãe e filha, também de Egon Schiele, dando conta de uma realidade que, afinal, permanece.

Egon Schiele - Mae e filha 500

A tradução portuguesa do poema é de João Barrento.

Para os eventuais conhecedores do alemão, segue o original do poema:

Sonntagnachmittag

Auf faulen Straßen lagern Häuserrudel,
Um deren Buckel graue Sonne hellt.
Ein parfümierter, halbverrückter kleiner Pudel
Wirft wüste Augen in die große Welt.

In einem Fenster fängt ein Junge Fliegen.
Ein arg beschmiertes Baby ärgert sich.
Am Himmel fährt ein Zug, wo windge Wiesen liegen;
Malt langsam einen langen dicken Strich.

Wie Schreibmaschinen klappen Droschkenhufe.
Und lärmend kommt ein staubger Turnverein.
Aus Kutscherkneipen stürzen sich brutale Rufe.
Doch feine Glocken dringen auf sie ein.

In Rummelplätzen, wo Athleten ringen,
Wird alles dunkler schon und ungenau.
Ein Leierkasten heult und Küchenmädchen singen.
Ein Mann zertrümmert eine morsche Frau.

 

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A Prostituição na poesia (6) – As putas da Avenida de Fernando Assis Pacheco

12 Sábado Jan 2013

Posted by viciodapoesia in A mulher imaginada, Convite à arte, Poetas e Poemas

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Egon Schiele, Fernando Assis Pacheco

Dos muchachas en una manta de flecosA cidade transformou-se e a avenida da Liberdade já não é o que era quando Fernando Assis Pacheco (1937-1995) escreveu o soneto As putas da Avenida.

Hoje percorre a avenida o luxo da alta costura e das marcas com que o dinheiro se perfuma, escondendo os cheiros da sua origem. Mas as artérias não se libertam tão facilmente da vida que durante anos a elas se agarrou e, avançada a noite, regressam os ecos deste passado contado com mão de mestre na concisão do soneto.

AS PUTAS DA AVENIDA

Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso da Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena

vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo a voz de mando
do director fatal que lhes ordena

essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena

mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena

Este soneto de Fernando Assis Pacheco encontra-se no livro Variações em Sousa de 1987, republicado em A Musa Irregular, 3ªedição com as correcções do autor, por Assírio & Alvim, Lisboa, 2006.

 

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Regresso à pintura com os nus femininos de Egon Schiele

12 Sábado Jan 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte

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Egon Schiele

Desnudo femenino de pieO encontro em Viena com um alargado número de obras de Egon Schiele (1890-1918) foi de uma profunda perturbação. Na fragilidade do papel, no inacabado da pintura, é a precariedade da vida que se sente.

Reclining Woman with Green Stockings

Falo sobretudo dos nus femininos.

Desnudo con turbante verde

Mulheres torturadas, agressivas, ou despojadas de um mínimo de dignidade,

Mujer sentada

Recliening Female Nude

interrogam-nos umas vezes sobre a existência de uma dimensão sórdida do feminino,

Mujer sentada con la mano izquierda en el cabello

outras dão a ver a inocência atrevida da adolescência.

Egon Schiele 01

Temos quase sempre uma imagem da mulher em que a dimensão do sexo se sobrepõe a outros aspectos do humano existir, surgindo como razão de vida naqueles seres, o apetite dos corpos onde a beleza está ausente.

Desnudo femenino con medias verdes

Há um desvanecer-se de si na coloração fragmentada ou parcial que transmite a fragilidade de todos aqueles seres humanos, a quem a arte, no capricho do desenho do pintor, acrescenta a tortura de existir.

Muchacha desnuda

Deixo-vos com mais algumas escolhas entre as dezenas possíveis.

Desnudo femenino acostado con las piernas separadas

Muchacha desnuda sentada

Semidesnudo femenino de rodillas

Mujer con medias negras 3

Schiele_Egon-Nude 1910

Desnudo femenino agazapado

Joven vienesa desnuda

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