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Tag Archives: Jaime Cortesão

Ânsia de amar! Oh ânsia de viver! – Soneto de Manuel Laranjeira

06 Sábado Fev 2010

Posted by viciodapoesia in Erótica, Poetas e Poemas

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Jaime Cortesão, Manuel Laranjeira

A exclamação do verso  Ânsia de amar! Oh ânsia de viver! não é apenas retórica mas antes um grito de desejo, pois o poema começa assim:

Ânsia de amar! Oh ânsia de viver! /  um’hora só que seja, mas vivida / e satisfeita…

 

E para enfatizar a intensidade do desejo o poeta remata:

 

… e pode-se morrer, / – porque se morre abençoando a vida!

 

É pois um poema do desejo insatisfeito, dum tempo em que os prazeres do sexo eram, talvez, apenas sonhados como o poema refere,  e quantos como eu nunca a tiveram /  uma hora de amor como a sonharam!

quando decorriam da paixão por menina casadoira.

O poema  A TRISTEZA DE VIVER, é de Manuel Laranjeira (1877-1912) e foi dedicado à Exma. Snrª D. Dalila dos Reis Ferreira.

 

 

Ânsia de amar! Oh ânsia de viver!

um’hora só que seja, mas vivida

e satisfeita… e pode-se morrer,

– porque se morre abençoando a vida!

 

Mas ess’hora suprema em que se vive

quanto possa sonhar-se de ventura,

oh vida mentirosa, oh vida impura,

esperei-a, esperei-a, e nunca a tive!

 

E quantos como eu a desejaram!

e quantos como eu nunca a tiveram

uma hora de amor como a sonharam!

 

Em quantos olhos tristes tenho eu lido

o desespero dos que não viveram

esse sonho de amor incompreendido!

 

 

 

Noticia Bibliográfica

Personagem singular na sociedade portuguesa do dealbar do séc. XX, dele escreveu Unamuno “ Fué Laranjeira quien me enseñó a ver el alma trágica de Portugal”.

O seu Diário Íntimo, publicado postumamente em 1957, lendo-se como um romance, faz desfilar os íntimos, Miguel de Unamuno, companheiro de intermináveis colóquios, e o autor, “... devorado pelo pessimismo e o tédio, um certo freudismo avant la lettre amarfanha e exaspera a dolorosa galeria das mulheres que arrastam o seu destino nas desoladas páginas do Diário. A par disto, a revolta constante dum carácter insubmisso a todas as sujeições. Sente-se até ao lê-lo, em certas páginas de um realismo doentio e cru, ou quando lhe move a pena o imperativo idealista da consciência, uma antecipação e um antegosto, ora a Joyce, ora a Sartre, ora a Camus, ou aos três conjuntamente.”, para usar a penetrante descrição de Jaime Cortesão.

A poesia de Manuel Laranjeira encontra-se reunida no livro COMIGO publicado pela primeira vez em 1912.

 

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A mulher grávida — poema de Jaime Cortesão

13 Quarta-feira Jan 2010

Posted by viciodapoesia in A mulher imaginada, Convite à fotografia

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carlos mendonça lopes, Jaime Cortesão

“Pesa um silencio d’alto sobre o mundo” e o poeta submisso ao milagre da vida, ergue-nos esta mulher símbolo, sem forma, sem beleza outra que ser a maravilha da origem do mundo

A mulher grávida

Eu sou a mulher pejada.

Minha boca apetecida,

Com outra boca colada,

Deu beijos para dar Vida.

 

Em mim é santo o Desejo,

É santo por ser fecundo:

Puz toda a alma num beijo,

E fui a origem do mundo.

 

Olhai: caminho por entre

Todo o povo sem receio,

Pois trago um filho no ventre

E uma fonte em cada seio.

 

Quem sentir vida tam alta

Não se furte, não a esconda;

Vêde-a … em meu ventre se exalta,

Sobe toda numa onda.

 

Um filho todas as vezes,

Que é de mãe enternecida,

Trá-lo o ventre nove meses

E o coração toda a vida.

 

Que imenso poder eu tenho

– Dar vida por ser o amor;

Não há poeta tamanho,

Nem génio mais criador!

 

E por meu ventre sagrado

Vou falar: escutai bem.

Fala o verbo revelado

No meu instinto de mãe.

 

Eu vejo para além da vista,

Ouço pra além dos ouvidos:

Oh! Que terra nunca vista,

Que heróis jamais concebidos!

 

Ouço em mim vozes estranhas,

A minha Alma deita luz …

Trago nas minhas entranhas

Outro menino Jesus.

 

Meu Filho amostra-me a face,

Faze-te Aurora nascida,

Embora a luz me queimasse,

Inda que eu perdesse a Vida.

 

Sou o Céu da Madrugada,

A minha carne anda em brilho;

Sinto-me ébria de Alvorada

Rompe o Sol: nasce o meu filho!

O poema é de Jaime Cortesão (1884 – 1960) e foi publicado em 1914 no livro Glória Humilde.

A poesia de Jaime Cortesão ressuma uma sensualidade embrulhada por vezes numa aura mística ligando o sexo ao transcendente da condição humana.

Em Glória Humilde há um esforço de aproximação e ligação à natureza, onde se procura dar a ver o carácter sagrado dos gestos essenciais da vida. Mas é sobretudo no livro Divina Voluptuosidade fazendo supor ao leitor a eternidade no paraíso como uma espécie de orgasmo perpétuo, que chegamos ao carácter sagrado do sexo, de alguma forma aflorado neste canto à gravidez enquanto origem do mundo.

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