• Autor
  • O Blog

vicio da poesia

Tag Archives: Emily Dickinson

Emily Dickinson — a verdade a beleza e a morte

16 Segunda-feira Out 2017

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

≈ 2 comentários

Etiquetas

Emily Dickinson

Numa reflexão poética sobre a morte fala Emily Dickinson (1830-1886) das razões por que morrer: pela beleza e pela verdade.

 

Enquanto absolutos, tanto beleza como verdade são ambos conceitos de objectivação duvidosa e, como tal, de vasta latitude de entendimento, a que apenas o íntimo de cada um responde. Servirão, como quaisquer outros, para morrer por. Escolha-os quem quiser. Não servirão em nenhuma circunstância de pretexto para matar. E se matar em nome da beleza não há notícia, em nome da verdade quantos assassinos se têm sentido legitimados!… Cabe a cada um dizer, sempre, e todos os dias, Não!

 

Talvez tenha havido um tempo em que beleza e verdade Ambas O Mesmo são como o poema refere, e é seu pretexto. Hoje são entidades que correm caminhos paralelos, e, tal como linhas paralelas em geometria, nunca se encontram.
Se cada um de nós se interrogar sobre o que para si beleza e verdade significam, e como na sua vida se cruzam, verá a surpresa nas respostas que encontra. E, no entanto, beleza e verdade identificadas entre si nas nossas vidas, seriam uma ajuda preciosa para ganhar a tranquilidade dos dias, e não o sossego da morte que o poema refere.

 

O poema, na sua concisa expressão e conteúdo reflexivo, remete irresistivelmente para os epigramas funerários da Antologia Grega.

 

 

Poema

 

Morri pela Beleza — mas mal estava
Ajustada no Túmulo
Um Outro que morreu pela verdade,
E jazia no Quarto adjacente —

 

Me disse docemente “Porque morrera eu”?
“Pela Beleza”, respondi —
“Pela Verdade — eu — que Ambas O Mesmo são —”,
Disse Ele “Então somos Irmãos” —

 

E tal como Parentes se encontram numa Noite —
Assim falámos de Quarto para Quarto —
Até que o Musgo nos chegou aos lábios —
Cobrindo os nossos nomes —

 

 

in Emily Dickinson, Duzentos Poemas, tradução, belíssima, posfácio organização e de Ana Luísa Amaral, Relógio D’Água Editores, Lisboa 2014.

Abre o artigo a imagem de um sarcófago egípcio, instrumento artístico da comunicação pós-morten entre os mais belos que a humanidade inventou.

 

 

 

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Share on Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Da Morte em dois poemas de Emily Dickinson

02 Terça-feira Ago 2016

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

≈ 2 comentários

Etiquetas

Emily Dickinson, Henri Rousseau

Rousseau, Henri (1844-1910) - Guerra 600pxFelizmente, o meu ânimo prazenteiro sobrepõe-se rápido aos desastres da vida, e quando me sento a escrever para o blog são as coisas agradáveis que me apetecem, ainda que uma ou outra mais negra por vezes se introduza.
A política não nos larga, e a pretexto dela, ou seja, de um ou alguns pretenderem escolher por nós o que nos fará felizes, esses mesmos vão semeando a morte nas calçadas. Acreditam no que este poema Emily Dickinson (1830-1886) refere:

 


Morrer — sem ser Morrendo
E sem a Vida — viver
O mais árduo Milagre
Que se propõe a Fé.

 


Pensar na morte, reflectir sobre o efémero dos dias, sobre a fragilidade do que até há pouco tomámos por seguro, é hoje uma inevitabilidade. E no entanto, a força da vida rapidamente nos tenta a levantar cabeça, e num encolher de ombros seguir em frente. Felizes os que o conseguem.

Num outro doloroso poema Emily Dickinson regista lapidarmente a sucessão entre a morte e o esquecimento dela, e que viveremos passadas as primeiras emoções:

…
Um Laço mais escuro — por um dia —
Um crepe no Chapéu —
E vem então a bela luz do sol —
E ajuda-nos a esquecer —
…

 

Neste poema, em três curtas quadras percorremos o quadro, no que à morte respeita, da dor pessoal, da vida em sociedade, e do mistério da fé cristã:

 


Morrer — é muito breve —
Dizem que não dói —
É só desfalecer — a pouco e pouco —
Depois — nada se ver —

Um Laço mais escuro — por um dia —
Um crepe no Chapéu —
E vem então a bela luz do sol —
E ajuda-nos a esquecer —

A criatura — mística — e distante —
Que só por nosso amor —
Fora dormir — nesse perfeito tempo —
E de cansaço ausente —

 

in Emily Dickinson, Duzentos Poemas, tradução, belíssima, posfácio organização e de Ana Luísa Amaral, Relógio D’Água Editores, Lisboa 2014.

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Henri Rousseau (1844-1910), Guerra.

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Share on Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Do Amor em três poemas de Emily Dickinson

19 Domingo Jun 2016

Posted by viciodapoesia in Crónicas

≈ 1 Comentário

Etiquetas

Emily Dickinson, Matisse

Henri Matisse 1869-1954 La liseuse distraite 1919Nascemos para ser felizes? A resposta impulsiva é sim. Mas é a felicidade permanente possível? É difícil sequer imaginar semelhante anseio. Fica-nos, no entanto, a possibilidade da busca para o conseguir, pois felizes, e sempre, queremos todos ser.

E é o amor o caminho para essa felicidade? Aí a resposta tem tantas possibilidades quantos os humanos que já viveram e vivem, ou viverão.

A experiência do amor, pessoal e intransmissível, é aflorada pela poesia uma e outra vez, recorrentemente, e nas suas variadas facetas: do amor-paixão ao amor-renúncia, do amor ao outro ao amor aos outros, de filhos a pais e pais a filhos, e por aí fora; encontrando cada um nessas manifestações os momentos de felicidade que fazem a vida compensadora. Mas aquele que, adultos, nos faz vibrar no mais fundo de todas as fibras é o amor consumado no sexo, e desse falam os poemas de Emily Dickinson (1830-1886), que hoje escolhi, num crescendo, do desejo à consumação.

 

I

Noites Bravias — Noites Bravias!

Estivesse eu contigo

Tais Noites o nosso

Deleite seriam!

 

Fúteis — os Ventos —

A Coração em Porto —

Inútil a Bússola —

Como o Mapa inútil!

 

Remando em Éden —

Ah, o Mar!

E eu ancorar — Esta Noite —

Em Ti!

 

II

E se eu disser que não vou esperar!

Se eu rebentar Portões carnais —

E conseguir chegar — a ti!

 

Se eu me livrar de ser Mortal —

Onde doer — Dizer não mais —

E em Liberdade mergulhar!

 

Já não me podem mais — prender!

Masmorras — Armas implorar

Nada me dizem — já — a mim —

 

Tal como o riso — há — uma hora —

Os Laços — Festas — o que fora —

Ou mesmo quem ontem — morreu!

 

III

Aprendemos o Todo do Amor —

O Alfabeto — as Palavras —

Um Capítulo — depois o Livro imenso —

E — a Revelação — então fechou-se —

 

Mas uma Ignorância se fitou

No Olhar de Cada um de Nós —

Mais divina do que é a da Infância —

E cada um para o outro, uma Criança —

 

Tentando definir e explicar

O que Nenhum de nós — compreendia —

Ah, que é tão larga a Sabedoria —

E a Verdade — têm formas tão diversas!

 

in Emily Dickinson, Duzentos Poemas, tradução, belíssima, posfácio e organização de Ana Luísa Amaral, Relógio D’Água Editores, Lisboa 2014.

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Matisse (1869-1954), A leitora distraída, de 1919, como que embalada nas suas memórias de amor após a leitura de tão empolgante poesia.

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Share on Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Visitas ao Blog

  • 1.770.117 hits

Introduza o seu endereço de email para seguir este blog. Receberá notificação de novos artigos por email.

Junte-se a 858 outros seguidores

Página inicial

  • Ir para a Página Inicial

Posts + populares

  • Vasos Gregos
  • Eugénio de Andrade — Green god
  • Camões - reflexões poéticas sobre o desconcerto do mundo

Artigos Recentes

  • Sonetos atribuíveis ao Infante D. Luís
  • Oh doce noite! Oh cama venturosa!— Anónimo espanhol do siglo de oro
  • Um poema de Salvador Espriu

Arquivos

Categorias

Create a free website or blog at WordPress.com.

Cancelar

 
A carregar comentários...
Comentário
    ×
    loading Cancelar
    O artigo não foi enviado - por favor verifique os seus endereços de email!
    A verificação do email falhou, tente de novamente
    Lamentamos, mas o seu site não pode partilhar artigos por email.
    <span>%d</span> bloggers like this: