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Da Morte em dois poemas de Emily Dickinson

02 Terça-feira Ago 2016

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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Emily Dickinson, Henri Rousseau

Rousseau, Henri (1844-1910) - Guerra 600pxFelizmente, o meu ânimo prazenteiro sobrepõe-se rápido aos desastres da vida, e quando me sento a escrever para o blog são as coisas agradáveis que me apetecem, ainda que uma ou outra mais negra por vezes se introduza.
A política não nos larga, e a pretexto dela, ou seja, de um ou alguns pretenderem escolher por nós o que nos fará felizes, esses mesmos vão semeando a morte nas calçadas. Acreditam no que este poema Emily Dickinson (1830-1886) refere:

 


Morrer — sem ser Morrendo
E sem a Vida — viver
O mais árduo Milagre
Que se propõe a Fé.

 


Pensar na morte, reflectir sobre o efémero dos dias, sobre a fragilidade do que até há pouco tomámos por seguro, é hoje uma inevitabilidade. E no entanto, a força da vida rapidamente nos tenta a levantar cabeça, e num encolher de ombros seguir em frente. Felizes os que o conseguem.

Num outro doloroso poema Emily Dickinson regista lapidarmente a sucessão entre a morte e o esquecimento dela, e que viveremos passadas as primeiras emoções:

…
Um Laço mais escuro — por um dia —
Um crepe no Chapéu —
E vem então a bela luz do sol —
E ajuda-nos a esquecer —
…

 

Neste poema, em três curtas quadras percorremos o quadro, no que à morte respeita, da dor pessoal, da vida em sociedade, e do mistério da fé cristã:

 


Morrer — é muito breve —
Dizem que não dói —
É só desfalecer — a pouco e pouco —
Depois — nada se ver —

Um Laço mais escuro — por um dia —
Um crepe no Chapéu —
E vem então a bela luz do sol —
E ajuda-nos a esquecer —

A criatura — mística — e distante —
Que só por nosso amor —
Fora dormir — nesse perfeito tempo —
E de cansaço ausente —

 

in Emily Dickinson, Duzentos Poemas, tradução, belíssima, posfácio organização e de Ana Luísa Amaral, Relógio D’Água Editores, Lisboa 2014.

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Henri Rousseau (1844-1910), Guerra.

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Matisse e a alegria de viver

28 Sábado Maio 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à arte

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Henri Rousseau, Matisse

Le bonheur de vivre, quadro a que Matisse chamou “a minha Arcádia”, foi pintado em 1905 e representou uma viragem na pintura do mestre.

Nesse verão de 1905, em Collioure, estancia de veraneio nos Pirinéus orientais, Matisse então com 36 anos, teve a oportunidade de se interrogar sobre o sentido e propósito do que pintava, e com este Bonheur de vivre respondeu à sua própria interrogação e desejo, consubstanciado na experssão “como fazer as minhas cores cantar”.

Em Le bonheur de vivre, aqui reproduzido, onde pares nus se espraiam numa paisagem de uma alacridade estonteante, a dança de roda pintada na zona central ecoa uma antiga dança dos pescadores de Collioure, e foi retomada como assunto único no famoso quadro do Hermitage, Dance (II), de 1909/10.

O colorido de Le bonheur de vivre, de alguma forma reminiscência do mercado local de frutas e legumes, traduz o que mais tarde na pintura do século XX veio a chamar-se a luz e cor do sul.

Le bonher de vivre, incompreendido pelos seus amigos mais próximos, incluindo Signac, com quem chegou à rotura, foi a única pintura submetida por Matisse ao Salon des Independents em Março de 1906. E o escândalo não podia ter sido maior: “Matisse teve o maior sucesso da sua carreira em termos de hilariedade esse ano, penso” escreveu mais tarde Berthe Weill no seu Pan! Dans l’oeil! de 1933.

Para terdes uma ideia do que era o Salon, acrescento a pintura de Henri Rousseau que o documenta.

A memória do escândalo não desapareceu, e cinquenta anos depois, em 1957,  Janet Flanner no livro Man and Monuments, descrevia como os parisienses que ainda recordavam o acontecimento referiam que desde a porta de entrada do Salon se ouvia uma barulheira e quem chegava era guiado por ela até encontrar uma multidão galhofeira apertada frente à apaixonada visão de felicidade do pintor. Parece que entre a multidão havia de tudo menos apoio, desde gargalhadas à algazarra de escárnio e conversas zangadas.

Foi tal o escândalo que engraçados afixaram cartazes no café Lapin Agile em Montmartre, vizinho do novo atelier do pintor, com os dizeres ”Pintores mantenham-se afastados de Matisse”, e também, “Matisse causa mais dano num ano que uma epidemia”, ou ainda “Matisse põe-vos loucos”.

A imprensa popular saboreou o acontecimento, e entre os experts da época os comentários eram variações sobre a opinião de que Matisse tinha sobreposto teorias ao seu indubitável talento, e isto porque, com esta pintura dissera adeus ao que por algum tempo se chamou neo-impressionismo. Os detalhes desta violenta guerra estética são saborosos de seguir, incluindo o papel de André Gide na arruaça.

Uma das consequências do escandalo foi que a segunda exposição individual de Matisse, inaugurada em Paris na véspera da abertura do Salon, se saldou por um fiasco.

Por outro lado tanto o entusiasmo de Leo Stein (irmão de Gertrude Stein) com este Le bonheur de vivre e com a pintura de Matisse a partir daí, bem como a história do encontro que este Le bonher de vivre desencadeou entre Matisse e o magnate russo Shchukin, terá que ficar para outra visita ao pintor, sendo que, para quem não saiba, Shchukin foi o coleccionador que reuniu os Monet, Renoir, Van Gogh, Cezanne, Gaugin, Matisse,…, que hoje pertencem à colecção do Hermitage.

Os pormenores sobre o escândalo na sequência da apresentação de Le bonheur de vivre no Salon des Independents, recolhi-os no livro de Hilary Spurling – The unknown Matisse publicado pela Penguin Books em 1998.

Excepcionalmente, fazendo click sobre Le bonheur de vivre, obtém-se uma imagem substancialmente ampliada

Ficha técnica das pinturas

Matisse – Le bonheur de vivre: Óleo sobre tela com 175 x 241 cm

Matisse – Dance (II): Óleo sobre tela com 260 x 391 cm

Henri Rousseau – A liberdade convida os artistas a tomar parte no 22º Salon des Independents: Óleo sobre tela com 175 x 118cm

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