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Numa reflexão poética sobre a morte fala Emily Dickinson (1830-1886) das razões por que morrer: pela beleza e pela verdade.
Enquanto absolutos, tanto beleza como verdade são ambos conceitos de objectivação duvidosa e, como tal, de vasta latitude de entendimento, a que apenas o íntimo de cada um responde. Servirão, como quaisquer outros, para morrer por. Escolha-os quem quiser. Não servirão em nenhuma circunstância de pretexto para matar. E se matar em nome da beleza não há notícia, em nome da verdade quantos assassinos se têm sentido legitimados!… Cabe a cada um dizer, sempre, e todos os dias, Não!
Talvez tenha havido um tempo em que beleza e verdade Ambas O Mesmo são como o poema refere, e é seu pretexto. Hoje são entidades que correm caminhos paralelos, e, tal como linhas paralelas em geometria, nunca se encontram.
Se cada um de nós se interrogar sobre o que para si beleza e verdade significam, e como na sua vida se cruzam, verá a surpresa nas respostas que encontra. E, no entanto, beleza e verdade identificadas entre si nas nossas vidas, seriam uma ajuda preciosa para ganhar a tranquilidade dos dias, e não o sossego da morte que o poema refere.
O poema, na sua concisa expressão e conteúdo reflexivo, remete irresistivelmente para os epigramas funerários da Antologia Grega.
Poema
Morri pela Beleza — mas mal estava
Ajustada no Túmulo
Um Outro que morreu pela verdade,
E jazia no Quarto adjacente —
Me disse docemente “Porque morrera eu”?
“Pela Beleza”, respondi —
“Pela Verdade — eu — que Ambas O Mesmo são —”,
Disse Ele “Então somos Irmãos” —
E tal como Parentes se encontram numa Noite —
Assim falámos de Quarto para Quarto —
Até que o Musgo nos chegou aos lábios —
Cobrindo os nossos nomes —
in Emily Dickinson, Duzentos Poemas, tradução, belíssima, posfácio organização e de Ana Luísa Amaral, Relógio D’Água Editores, Lisboa 2014.
Abre o artigo a imagem de um sarcófago egípcio, instrumento artístico da comunicação pós-morten entre os mais belos que a humanidade inventou.
Magnífico, como sempre…
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Obrigado!
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