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Tag Archives: Arpad Szenes

Possa o vento soprar doçura — poema de Rig Veda

21 Sábado Dez 2019

Posted by viciodapoesia in Poesia da Índia

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Arpad Szenes, Rig Ved

O poema que hoje dou em versão portuguesa tem como ponto de partida a versão em inglês de um hino de Rig Veda, colecção de hinos em sânscrito com datação aproximada entre (1500-1200 a. C.), e  base de religiões hindu.

Isolado da crença específica, nele podemos encontrar um desejo de harmonia no mundo envolvente, que a repetição do conceito de doçura acentua:

…

Doce seja a noite,

doce o amanhecer,

doce seja a fragrância da terra,

doce Pai do Céu!

…

 

Na incapacidade dos homens por si só construírem um universo harmonioso, a invocação do além é a saída para a manifestação desse desejo de que o mundo em redor seja repleto de bênçãos.

 

 

Poema 

 

Possa o vento soprar doçura,

os rios fluírem doçura,

das ervas crescer doçura,

para o Homem da Verdade!

 

Doce seja a noite,

doce o amanhecer,

doce seja a fragrância da terra,

doce Pai do Céu!

 

 Possa a árvore dar-nos doçura,

 o sol brilhar com doçura,

 nossas vacas produzirem doçura —

 leite em abundância!

 

Versão de Carlos Mendonça Lopes a partir do inglês.

Abre o artigo a imagem de uma pintura de Arpad Szenes (1897-1985), Aldeia do Algarve, de 1975.

Tudo o que de bom as memórias da infância me trazem está associado a estas terras do Algarve, para onde os olhos se viram sempre, na busca desse desejado mundo harmonioso.

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Ainda o envelhecimento e o amor perene num poema de Ada Negri

15 Quarta-feira Ago 2018

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Arpad Szenes, Asa Negri, Maria Helena Vieira da Silva

Quanto permanece em nós de um intenso amor que se quebrou? No poema de Ada Negri (1870-1945), Aquele que passa, é uma resposta a esta interrogação que encontramos. Não é evidentemente a única. Depende apenas de como terminou, e de como em nós ele viveu.

 

Amores há em que a partilha é tal que à medida do passar do tempo fica progressivamente indistinta a parte que em cada um é original e de raiz, e qual parte é a absorção do outro que se ama no desejo de simbiose que esse amor traz. É de um amor algo assim que o poema de Ada Negri nos fala:

…
E em ti não há membro nem ponta de carne ou átomo de alma que não tenha uma marca de amor.
Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava,
…

 

E este amor na sua força, contraria o envelhecimento, no sentido de gastar a vida que passou. Diz-nos o poema quanto um amor intenso é fonte de juventude perene:

O desconhecido que passa e te acha ainda digna de uma fugidia palavra de desejo,…

E nem que quisesses podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu.
Ele, ignaro, em ti já não bela, em ti já não jovem, saúda a graça do deus:
Respira, passando, em ti já não bela, em ti já não jovem, o aroma precioso do deus:
…

 

 

Aquele que passa

O desconhecido que passa e te acha ainda digna de uma fugidia palavra de desejo,
Talvez porque na sombra da noite tão doce de Maio
Ainda resplendem teus olhos, ainda tem vinte anos a ligeira figura deslizante,
Não sabe que foste amada, por aquele que amaste amada, em plena e soberba delícia de amor,
E em ti não há membro nem ponta de carne ou átomo de alma que não tenha uma marca de amor.
Que tu viveste apenas para amar aquele que te amava,
E nem que quisesses podias arrancar de ti essa veste que o amor teceu.
Ele, ignaro, em ti já não bela, em ti já não jovem, saúda a graça do deus:
Respira, passando, em ti já não bela, em ti já não jovem, o aroma precioso do deus:
Só porque o levas contigo, doce relíquia à sombra de um sacrário.

 

Tradução de Jorge de Sena
Transcrito de Poesia do Século XX, Antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena, Fora do Texto, Coimbra, 1994.

 

 

Abre o artigo a imagem de um desenho de Arpad Szenes (1897-1985) com um retrato de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992). Para os leitores familiarizado com a biografia do casal de pintores, talvez seja menos despropositada a razão da escolha desta imagem para acompanhar este poema.

 

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Canção de Amor — Anónimo séc X-XI

25 Domingo Maio 2014

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga, Raros/Curiosos

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Arpad Szenes, Carmina Cantabrigiencia, Poesia Goliárdica

Arpad Sczenes - A alcova 1935

Transcrevo a seguir uma canção de amor do cancioneiro goliárdico Carmina Cantabrigiencia.

Estes cancioneiros, escritos em latim medieval, e acompanhados da forma de os cantar, gozam de uma aura de licença decorrente da suposta vida dos seus autores, ainda que em muitos poemas não fujam à sátira sobre vícios e desmandos da época. São na sua maioria canções anónimas, e seriam cantadas por estudantes universitários da Europa medieval, que, não exactamente diminuídos de posses, circulariam de universidade em universidade, levando uma vida de estúrdia, repartida entre comes e bebes, mulheres, e jogo, a atender ao teor de algumas das canções conhecidas.

Talvez o mais conhecido destes cancioneiros seja Carmina Burana, do qual noutro artigo falei. O cancioneiro onde se encontra o poema de hoje é mais antigo e conhecido como Carmina Cantabrigiencia — Canções Cantabrigenses ou de Cambridge, assim chamado por pertencer à universidade de Cambridge.

 

 

Iam, Dulcíssima Amica, Venito

 

Vem agora, doce amiga,

a meu coração tão cara!

Vem agora a minha casa,

para ti toda enfeitada…

 

Há véus que pendem do tecto;

e há cadeiras, e almofadas;

e também não faltam flores,

por entre ervas perfumadas…

 

A mesa já está servida,

de iguarias carregada;

e haverá límpido vinho,

e tudo o que mais te agrada…

 

Ouvirás, ao som da flauta,

doces músicas tocadas;

por um moço e uma donzela

belas canções entoadas…

 

Ele canta ao som da cítara,

ela na lira embalada…

E os servos trazem taças

com bebidas aromáticas…

 

—”Agrada-me mais que a mesa,

A agradável sobremesa;

Mais que a rica pitança,

A amorosa confiança.”

 

Vem agora, minha irmã,

acima de tudo amada,

ó clara luz dos meus olhos,

parte maior da minh’alma!

 

—”Sempre vivi na floresta,

Não amei lugares de festa;

Evitei sempre o gentio,

E das gentes me desvio.”

 

Meu amor não queiras tardar

Empenhemos-nos em amar.

Sem ti viver é bem duro,

O nosso amor está maduro.

 

Porquê, amiga, entreter,

Se por fim se irá fazer?

O teu que fazer acelera,

Pois eu já não tenho espera.

 

Carmina Cantabrigiencia, tradução de David Mourão-Ferreira versos 1-20, 25-28 in Vozes da Poesia Europeia – I.

 

Os restantes versos do poema são tradução minha a partir de versão castelhana, e apresentam-se em itálico no poema.

 

Para os leitores curiosos, tanto do original latino do poema, como de outra poesia goliardica, desde que leiam castelhano,  encontram um manancial na edição Poesia Goliardica, tradução de Miguel Requena, edição Alcantilado, Barcelona, 2003 .

 

A abrir, a imagem de A alcova, pintura de Arpad Szenes (1897-1985).

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