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Em repouso do sublime, trago hoje dois curtos poemas de E. E. Cummings (1894-1962).
São poemas que celebram a mulher amada, nos antípodas da proverbial ironia, ou mesmo sarcasmo, do poeta, cristalizada nos conhecidos versos:
as senhoras de Cambridge que vivem em almas mobiladas
são desgraciosas e têm pensamentos confortáveis
…
Para a mulher amada encontra não uma alma mobilada, mas
a lua esconde-se no /cabelo dela.,
belos versos a que outros se acrescentam:
quando o meu amor vem ter comigo é
um pouco como música,…
Espero ter-lhe aberto o apetite e deixo-o, leitor, com os poemas na totalidade.
*
quando o meu amor vem ter comigo é
um pouco como música,um
pouco mais como uma cor curvando-se(por exemplo
laranja)
contra o silêncio,ou a escuridão….
a vinda do meu amor emite
um maravilhoso odor no meu pensamento,
devias ver quando a encontro
como a minha menor pulsação se torna menos.
E então toda a beleza dela é um torno
cujos quietos lábios me assassinam subitamente,
mas do meu cadáver a ferramenta o sorriso dela faz algo
subitamente luminoso e preciso
—e então somos Eu e Ela….
o que é isso que o realejo toca
**
a lua esconde-se no
cabelo dela.
O
lírio
do céu
cheio de todos os sonhos,
desce
encobre a sua brevidade em canto
cerca-a de intricados débeis pássaros
com margaridas e crepúsculos
Aprofunda-a,
Recita
sobre a sua
carne
as pérolas
da chuva uma a uma murmurando.
Tradução de Cecília Rego Pinheiro, in livrodepemas, ed Assírio & Alvim, 1999.