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Tag Archives: E. E. Cummings

Um poema de e. e. cummings pela Semana Santa

27 Terça-feira Mar 2018

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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E. E. Cummings

Neste tempo em que o mundo católico publicamente medita nos últimos dias da vida de Jesus em manifestações colectivas, muitas vezes de pasmar, arquivo no blog um singelo poema de  e. e. cummings (1894-1962) tentando captar o mistério da crença na sua relação individual.
Se a fé religiosa é sempre matéria íntima e de encontro pessoal, a sua exteriorização colectiva mantém através dos tempos um apelo continuado, e no mundo católico as celebrações da Semana Santa são um pico anual. Questioná-las no seu significado por um exercício da razão, apenas adensa os mistérios da crença e dos caminhos por onde cada um a encontra.

 

Poema 92

não há muito tempo
ou antes uma vida
andando no escuro
encontrei Cristo

Jesus) meu coração
saltou-me do peito
e ficou quieto
enquanto ele passou (tão

perto como estou de ti
sim mais perto
feito de nada
excepto solidão

Tradução de Carlos Mendonça Lopes

 

Poema original

 

poem 92

no time ago
or else a life
walking in the dark
i met christ

jesus)my heart
flopped over
and lay still
while he passed(as

close as i’m to you
yes closer
made of nothing
except loneliness

 

Abre o artigo a imagem de uma pintura atribuída a um seguidor de Hieronymus Bosch (1450-1516), Cristo carregando a Cruz, e pintada presumivelmente no início do século XVI. Guarda-se no Museu de Belas Artes de Ghent na Bélgica.
É no contraste acentuado da linguagem facial que reside todo o fascínio desta pintura, ilustrando com eloquência a serena aceitação por Jesus do seu destino, mensagem central do Cristianismo, e a bestialidade das paixões humanas que anima todo o cortejo de gente afastada da fé, e leva Jesus para a morte.

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Com poesia de E. E. Cummings depois do Natal

27 Sexta-feira Dez 2013

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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E. E. Cummings, Manuel Bandeira

Iluminura 13x500Passada que está a atmosfera entre euforia de compras, coração aberto aos outros para encontrar a prenda que mostra a nossa gratidão, e a intensidade do sentimento religioso vivido por crentes, venho com poemas que falam de sonhos, de amor e do seu fim, e não da pungente realidade que afinal nos cerca. Mas pelas voltas caprichosas da poesia talvez não seja em vão pois:

na rua do firmamento a luz caminha espalhando poemas

Comecemos pelo amor

é em momentos depois de ter sonhado

com o raro entretenimento dos teus olhos,

quando(ficando aquém da ilusão)tenho pensado

 

na tua singular boca que o meu coração tornou sábio;

em momentos quando a cristalina escuridão sustenta

 

a verdadeira aparição do teu sorrir

(foi por entre lágrimas sempre)e o silêncio molda

essa estranheza que ainda há pouco como minha pude sentir;

 

momentos quando os meus outrora mais ilustres braços

estão cheios de encantamento,quando o meu peito

usa a intolerante luminosidade do teu regaço:

 

um agudo momento mais branco do que os outros

 

—voltando da terrível mentira do sono

vejo as rosas do dia crescerem recônditas.

continuando com o poeta:

e é dia,

 

no espelho

vejo um frágil

homem

sonhando

sonhos

sonhos no espelho

neste viver onde tudo cabe, do banal ao excepcional o dia corre,

e é

o anoitecer           sobre a terra

 

uma vela é acesa

e está escuro as pessoas estão em casa

o frágil homem está na cama

e pensa no amor fanado que é o seu:

pode não ser sempre assim;eu digo

que se os teus lábios,que amei,tocarem

os de outro,e os ternos fortes dedos aprisionarem

o seu coração,como o meu não há muito tempo;

se no rosto de outrem o teu doce cabelo repousar

naquele silêncio que conheço,ou naquelas

grandiosas contorcidas palavras que,dizendo demasiado,

permanecem desamparadamente diante do espírito ausente;

 

se assim for,eu digo se assim for—

tu do meu coração,manda-me um recado;

para que possa ir até ele,e tomar as suas mãos,

dizendo,Aceita toda a felicidade de mim.

E então voltarei o rosto,e ouvirei um pássaro

cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.

mas a vida exige-nos, e regresso ao poema que pelo meio da conversa esquartejei:

as horas levantam-se despindo-se de estrelas e é

o amanhecer

na rua do firmamento a luz caminha espalhando poemas

 

sobre a terra uma vela é

apagada          a cidade

desperta

com uma canção sobre a

boca tendo a morte nos olhos

 

e é o amanhecer

o mundo

sai para assassinar sonhos….

 

vejo a rua onde vigorosos

homens se alimentam de pão

e vejo os brutais rostos de

pessoas contentes hediondas desalentadas cruéis felizes

 

e é dia,

 

no espelho

vejo um frágil

homem

sonhando

sonhos

sonhos no espelho

 

e é

o anoitecer           sobre a terra

 

uma vela é acesa

e está escuro as pessoas estão em casa

o frágil homem está na cama

a cidade

 

dorme com a morte sobre a boca tendo uma canção nos olhos

as horas descem,

vestindo-se de estrelas….

 

na rua do firmamento a noite caminha espalhando poemas

Os poemas, de E.E. Cummings (1894-1962), foram transcritos de livrodepoemas, em tradução de Cecília Rego Pinheiro, edição Assírio & Alvim, Lisboa 1999.

Do segundo poema, soneto atípico, fez Manuel Bandeira (1886-1968) um deslumbrante soneto de amor e do seu esperado fim, com que remato esta viagem.

Soneto

Não será sempre assim… Quando não for,

Quando teus lábios forem de outro; quando

No rosto de outro o teu suspiro brando

Soprar; quando em silêncio, ou no maior

 

Delírio de palavras desvairando,

Ao teu peito o estreitares com fervor;

Quando, um dia, em frieza e desamor

Tua afeição por mim se for trocando:

 

Se tal acontecer, fala-me. Irei

Procurá-lo, dizer-lhe num sorriso

“Goza a ventura de que já gozei.”

 

Depois, desviando os olhos, de improviso,

Longe, ah tão longe, um pássaro ouvirei

Cantar no meu perdido paraíso.

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E. E. Cummings — dois poemas

27 Quarta-feira Fev 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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E. E. Cummings, Marc Chagall

Chagall_Marc-Russian_Village_under_the_Moon

Em repouso do sublime, trago hoje dois curtos poemas de E. E. Cummings (1894-1962).

São poemas que celebram a mulher amada, nos antípodas da proverbial ironia, ou mesmo sarcasmo, do poeta, cristalizada nos conhecidos versos:

as senhoras de Cambridge que vivem em almas mobiladas
são desgraciosas e têm pensamentos confortáveis
…

Para a mulher amada encontra não uma alma mobilada, mas

a lua esconde-se no /cabelo dela.,

belos versos a que outros se acrescentam:

quando o meu amor vem ter comigo é
um pouco como música,…

Espero ter-lhe aberto o apetite e deixo-o, leitor, com os poemas na totalidade.

*
quando o meu amor vem ter comigo é
um pouco como música,um
pouco mais como uma cor curvando-se(por exemplo
laranja)

contra o silêncio,ou a escuridão….

a vinda do meu amor emite
um maravilhoso odor no meu pensamento,

devias ver quando a encontro
como a minha menor pulsação se torna menos.
E então toda a beleza dela é um torno

cujos quietos lábios me assassinam subitamente,

mas do meu cadáver a ferramenta o sorriso dela faz algo
subitamente luminoso e preciso

—e então somos Eu e Ela….

o que é isso que o realejo toca

**
a lua esconde-se no
cabelo dela.
O
lírio
do céu
cheio de todos os sonhos,
desce

encobre a sua brevidade em canto
cerca-a de intricados débeis pássaros
com margaridas e crepúsculos
Aprofunda-a,

Recita
sobre a sua
carne
as pérolas

da chuva uma a uma murmurando.

Tradução de Cecília Rego Pinheiro, in livrodepemas, ed Assírio & Alvim, 1999.

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