Vou hoje ao encontro daqueles pesquisadores da net sobre o Advento, que os motores de busca enviam para o blog, e onde sobre o assunto pouco há.
As religiões cristãs celebraram no primeiro domingo de Dezembro, o inicio do Advento, ou a esperada vinda de Jesus à terra, que ocorrerá com o Natal, nascimento de seu significado.
A expectativa desta chegada, fixada no calendário litúrgico para as quatro semanas que antecedem o Natal, liga-se indissociavelmente ao anúncio feito a Maria pelo Anjo Gabriel, de que iria ser mãe do Filho de Deus, acontecimento conhecido como Anunciação.
Desde que consumada a divisão de cristãos entre católicos e as diferentes confissões reformadas, se para os católicos romanos a Anunciação se celebra a 25 de Março (com pequenas variações em função do período de Quaresma), nove meses antes do nascimento do Filho de Deus, para os seguidores da religião cristã reformada a omnipotência de Deus não exige esta duração, e as celebrações acabam por se confundir, associando-se Anunciação e Advento.
Na verdade, com a fixação dogmática pela Igreja Católica do dia 8 de Dezembro como celebração da Imaculada Concepção, as datas deste calendário acabam por criar alguma confusão ao leigo.
Nada nos Evangelhos permite uma calendarização, o que é natural, e em S. Lucas,I, 26:38, onde a Anunciação se relata na forma mais detalhada, estas questões de calendário não se colocam. Terão sido, talvez, necessidades de organização da pratica do culto a ditá-lo.
Aproveito e transcrevo a tradução da passagem de Lucas, I, 26:38, por João Ferreira Annes d’Almeida (primeiro tradutor da Bíblia para português no século XVI), na fixação do texto levada a cabo por José Tolentino Mendonça.
Lucas,I, 26:38
26 E no sexto mês foi o Anjo Gabriel enviado de Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré:
27. A uma virgem desposada com um varão, cujo nome era José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria.
28. E entrando o Anjo a ela, disse: Gozo hajas em graça aceita, o Senhor [é] contigo, bendita tu entre as mulheres.
29. E vendo[-o] ela, turbou-se muito de suas palavras, e considerava que saudação seria esta.
30. E disse-lhe o Anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus.
31. E vês aqui conceberás em o ventre, e parirás um filho, e chamarás seu nome Jesus.
32. Este será grande, e Filho do Altíssimo será chamado; E dar-lhe-á o Senhor Deus o trono de David seu pai.
33. E reinará em a casa de Jacob eternamente, e de seu Reino não haverá fim.
34. E disse Maria ao Anjo: Como se fará isto? Porquanto varão não conheço.
35. E respondendo o Anjo, disse-lhe: O Espirito Santo sobre ti virá, e a virtude do Altíssimo com sua sombra te cobrirá. Pelo que também o Santo que de ti há-de nascer, Filho de Deus chamado será.
36. E vês aqui Elisabeth tua prima também tem concebido um filho em sua velhice; e este é o sexto mês daquela, que a estéril chamada era.
37. Porque nenhuma coisa será a Deus impossível.
38. Entonces disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo tua palavra. E o Anjo se partiu dela.
Este passo dos Evangelhos foi largamente glosado na pintura ocidental. Seguem as imagens de uma escolha pessoal entre algumas das mais tocantes dessas obras e, porventura, menos conhecidas.
É hoje conhecimento apenas de especialistas a clara significação de cada um dos motivos que preenchendo o cenário, quadra os protagonistas desta história sacra. Entre outros, permanece para mim inexplicado o motivo porque em todas estas pinturas Maria se encontra a ler, ou com um livro aberto por perto, no momento da aparição do Anjo. Haverá algum leitor que o elucide?