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Ainda que a colagem de abertura nos remeta para o nosso vigiado tempo, o convite poético é para uma reflexão intemporal sobre o enigma do tempo que a cada um cabe viver.
O poema de Paul Fleming (1609-1640) que vos trago, Pensamentos sobre o tempo, pode parecer a uma leitura superficial, apenas trocadilho em torno ao tempo, mas em segunda leitura, a reflexão desenvolve-se a seu pretexto:
E que será esse outro que de vós fará nada?
É à interrogação sobre a eternidade:
Ah, viesse aquele tempo em que tempo não há,
P’ra nos levar do nosso para os tempos de lá
e ao nosso efémero, que o poema nos conduz:
O tempo é o que vós sois, vós sois o que o tempo é,
Mas bem menos sois vós que aquilo que o tempo é.
Leia-se a totalidade do poema.
Pensamentos sobre o tempo
Vós viveis no tempo e o tempo não conheceis;
Do que sois e onde estais, vós, homens, não sabeis.
O que sabeis é só que num tempo nascestes
E que haveis de partir num tempo, tal viestes.
Mas o que foi o tempo que em si vos deu guarida?
E que será esse outro que de vós fará nada?
O tempo é tudo e nada, o homem a ele igual;
Mas sobre o tudo e o nada a duvida é geral.
O tempo morre em si, e de si renasceu.
Um vem de mim e de ti, outro és tu e sou eu.
O homem é no tempo, este nele também.
E no entanto o homem, quando ele fica, vai.
O tempo é o que vós sois, vós sois o que o tempo é,
Mas bem menos sois vós que aquilo que o tempo é.
Ah, viesse aquele tempo em que tempo não há,
P’ra nos levar do nosso para os tempos de lá
E a nós de nós mesmos, para podermos ser
Iguais àquele tempo que já deixou de ser!
Tradução de João Barrento