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Entre os livros de arte que mais aprecio encontram-se os álbum sobre pintura a fresco. Estas pinturas, implantadas nos lugares para que foram concebidas, integrando a arquitectura, transmitem in loco uma impressão de conjunto que as torna a maior parte das vezes inesquecíveis. Concomitante com este prazer do visto, surge a vontade de apreciar o detalhe, o que se revela impossível no lugar. É então que estes álbuns mostram todo o seu valor, dando a ver o pormenor, permitindo fruir o detalhe, e no conforto de casa viajar de novo até uma experiência gratificante.
Entre a extensa lista destas obras primas a fresco vistas sobretudo em Itália, guardo uma memória de afecto por um conjunto em especial, os frescos das celas do convento de San Marco em Florença.
Pintados por volta de 1440 por Fra Angelico (1400-1455) e discípulos, vi-os pouco depois de concluído o restauro, e a impressão foi tão funda e duradoura, que ainda hoje sinto, ao lembrar-me da visita, invadir-me uma funda emoção.
O segredo da paz de espirito que aqueles frescos transmitem está provavelmente na atmosfera do lugar que as pinturas criam na austera nudez das celas, com a serenidade dos personagens, de onde está ausente qualquer tortura facial, ou histriónica representação do desgosto. Apenas a serena contemplação das cenas do nascimento, vida e paixão de Cristo. O auge talvez seja a serenidade com que a própria representação de Cristo crucificado nos olha.
Escolho apenas algumas dessas pinturas para dar corpo ao que escrevi, e talvez algum leitor, que as não conheça, movido pela curiosidade, se decida a procurar as que faltam.
O livro que a isto me trás, FRA ANGELICO The San Marco Frescoes, da autoria de Paolo Morachiello, dá conta, depois de uma introdução à história do edifício e de uma breve nota sobre Fra Angelico, do conjunto dos fresco e de cada um em particular, com o interesse adicional, que o faz único, de mostrar detalhes dos frescos em tamanho real.