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Apesar de ser um nome menos divulgado e a sua pintura menos conhecida, a obra de Juan Gris (1887-1927) permanece como a mais lírica de entre a pintura cubista. Integrando o grupo de Braque e Picasso em 1907, quando as primeiras manifestações cubistas surgiram, a curta vida do pintor fez com que a sua obra de maturidade se centre nesta visão da pintura, de onde a perspectiva a partir de um único ponto observador desapareceu.
Para o que me ocupa no blog, é irrelevante o efectivo papel do pintor na génese desta revolução na arte ocidental e qual a sua posição hierárquica no seio dela.
Gosto da sua pintura, do calor que a paleta transmite aos objectos das suas natureza mortas, e sobretudo da harmonia na composição/decomposição que as suas pinturas respiram.
Autor de alguns retratos abordados do ponto de vista do cubismo, neles observamos o essencial da figura humana, servindo a côr para nos transportar ao calor da personalidade retratada, qual seja o caso desta mulher com cesto que vem a seguir, ou o retrato da mulher do pintor com que o artigo abre.

Deixo-vos agora com um grupo de pinturas de objectos, a que no final OS OBJECTOS de Zbigniew Herbert (1924 – 1998) dará o complemento poético.

OS OBJECTOS

Os objectos inanimados estão sempre em ordem e nós infelizmente não temos nada a censurar-lhes. Nunca vi uma poltrona trocar de pé ou uma cama erguer-se nas pernas traseiras. E as mesas, mesmo quando estão fatigadas, não se põem de joelhos. Suspeito que os objectos se comportam assim por razões pedagógicas: para nos censurarem constantemente pela nossa instabilidade.

Tradução de Jorge Sousa Braga a partir da versão inglesa de Czeslaw Milosz. Publicado por Assírio & Alvim, Lisboa 2009