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Um dos Poemas Inconjuntos de Alberto Caeiro

21 Segunda-feira Jul 2014

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Alberto Caeiro, Fernando Pessoa, Juan Gris

Juan Gris o livro

É uma especial leitura do Estoicismo vindo dos gregos, a filosofia de vida expendida por Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa (1888-1935)) no poema que mais à frente transcrevo integralmente.

 

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,

Como aceito o frio exccessivo no alto do inverno —

Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,

E encontra uma alegria no facto de aceitar —

No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.

 

Nas voltas da vida, umas vezes a aprendizagem pelo sofrimento faz-se de sopetão, outras espalha-se ao longo da existência, entremeando a alegria de estar vivo com a experiência da dor em redor; mas cedo ou tarde, incorporamos a evidência de que a nossa capacidade de determinar o destino é restrita às opções de vida que escolhemos fazer. E o resto, o mundo e o seu voltear, seguem na sua indiferença. E da aceitação desta evidência decorre uma alegria tranquila que ecoa neste poema de Fernando Pessoa assinado Alberto Caeiro.

 

Mas tem mais, o poema. Tem o corolário da reflexão desenvolvida, e difícil de aceitar para mentes formadas no racionalismo, que o mundo não é compreensível apenas pela inteligência (e que caminho é preciso percorrer até aceitar esta outra evidência…):

 

Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,

Mas nunca ao erro de querer compreender demais,

Mas nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência,

Nunca ao defeito de exigir do mundo

Que fosse qualquer coisa que não fosse o mundo.

 

Feito o intróito, vamos ao poema completo.

 

Quando está frio no tempo frio, para mim é como se estivesse agradável,

Porque para o meu ser adequado à existência das coisas

O natural é o agradável só por ser natural.

 

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,

Como aceito o frio excessivo no alto do inverno —

Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,

E encontra uma alegria no facto de aceitar —

No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.

 

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece

Senão o inverno da minha pessoa e da minha vida?

O inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,

Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,

Da mesma inevitável exterioridade a mim,

Que o calor da terra no alto do verão

E o frio da terra no cimo do inverno.

 

Aceito por personalidade

Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,

Mas nunca ao erro de querer compreender demais,

Mas nunca ao erro de querer compreender só com a inteligência,

Nunca ao defeito de exigir do mundo

Que fosse qualquer coisa que não fosse o mundo.

[24-10-1917]

 

Transcrito de Poemas Completos de Alberto Caeiro, recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha, Editorial Presença, Lisboa 1994.

Nesta edição o poema tem o nº49 dos Poemas Inconjuntos.

 

Iconografia

No livro da vida, e nas suas múltiplas perspectivas, quadra, como alegoria, a imagem desta obra cubista de Juan Gris (1887-1927), O livro.

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Juan Gris — o outro cubista, com OS OBJECTOS de Zbigniew Herbert

06 Segunda-feira Ago 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Juan Gris, Zbigniew Herbert

Apesar de ser um nome menos divulgado e a sua pintura menos conhecida, a obra de Juan Gris (1887-1927) permanece como a mais lírica de entre a pintura cubista. Integrando o grupo de Braque e Picasso em 1907, quando as primeiras manifestações cubistas surgiram, a curta vida do pintor fez com que a sua obra de maturidade se centre nesta visão da pintura, de onde a perspectiva a partir de um único ponto observador desapareceu.
Para o que me ocupa no blog, é irrelevante o efectivo papel do pintor na génese desta revolução na arte ocidental e qual a sua posição hierárquica no seio dela.
Gosto da sua pintura, do calor que a paleta transmite aos objectos das suas natureza mortas, e sobretudo da harmonia na composição/decomposição que as suas pinturas respiram.
Autor de alguns retratos abordados do ponto de vista do cubismo, neles observamos o essencial da figura humana, servindo a côr para nos transportar ao calor da personalidade retratada, qual seja o caso desta mulher com cesto que vem a seguir, ou o retrato da mulher do pintor com que o artigo abre.

Deixo-vos agora com um grupo de pinturas de objectos, a que no final OS OBJECTOS de Zbigniew Herbert (1924 – 1998) dará o complemento poético.

OS OBJECTOS

Os objectos inanimados estão sempre em ordem e nós infelizmente não temos nada a censurar-lhes. Nunca vi uma poltrona trocar de pé ou uma cama erguer-se nas pernas traseiras. E as mesas, mesmo quando estão fatigadas, não se põem de joelhos. Suspeito que os objectos se comportam assim por razões pedagógicas: para nos censurarem constantemente pela nossa instabilidade.

Tradução de Jorge Sousa Braga a partir da versão inglesa de Czeslaw Milosz. Publicado por Assírio & Alvim, Lisboa 2009

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