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Retratos femininos por Modigliani com poema de Amalia Bautista no final

23 Sexta-feira Ago 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Amalia Bautista, Modigliani

82Na minha paixão pela pintura de retrato ocupam um lugar especial as obras de Modigliani (1884-1920).

45Com um vocabulário mínimo no desenho, e que se repete de retrato para retrato (o alongado de cabeças e pescoço, o desenho do contorno de olhos, nariz e boca) vemos pessoas com quem poderíamos conversar, e até olhando com algum detalhe, como a vida lhes correu e que esperam dela. Isto se a imaginação para aí caminhar.

61Não sendo o caso, fica a suavidade da paleta cromática na predominância das cores de terra, a infinita tristeza e o magoado olhar que quase todas estas mulheres transportam.

29

84

221

118

124Nesta pintura da essência do rosto que dá uma vida, encontro contraponto num poema de Amalia Bautista (1962), Al Cabo, que vos deixo em tradução de Joaquim Manuel Magalhães.

Ao Fim

Ao fim são muito poucas as palavras

que nos doem a sério e muito poucas

as que conseguem alegrar a alma.

São também muito poucas as pessoas

que tocam nosso coração e menos

ainda as que o tocam muito tempo.

E ao fim são pouquíssimas as coisas

que em nossa vida a sério nos importam:

poder amar alguém, sermos amados

e não morrer depois dos nossos filhos.

O poema foi publicado pela primeira vez em 1999 no livro Cuentamelo Otra Vez, do qual há dias aqui deixei um outro com o mesmo nome do livro.

Termino com o original em castelhano.

Al Cabo

Al cabo, son muy pocas las palabras

que de verdad nos duelen, y muy pocas

las que consiguen alegrar el alma.

Y son también muy pocas las personas

que mueven nuestro corazon, y menos

aún las que lo mueven mucho tiempo.

Al cabo, son poquíssimas las cosas

que de verdad importan en la vida:

poder querer a alguien, que nos quieran

y no morri después que nuestros hijos.

224Nota bibliográfica

A tradução de Joaquim Manuel Magalhães foi publicada na antologia de poetas espanhóis contemporâneos, em edição bilingue, Trípticos Espanhóis, 3º, Relógio d’Água Editores, Lisboa, 2004.

O original foi transcrito da obra poética reunida de Amalia Bautista, Tres Deseos, Renacimiento, Sevilha, 2006.

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Después del amor – poema erótico de Vicente Aleixandre

22 Segunda-feira Abr 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Modigliani, Vicente Aleixandre

259

Continuo em viagem pela obra de Vicente Aleixandre (1898-1984) e desta vez com um poema erótico para o qual não encontrei tradução portuguesa, pelo que apenas vos deixo o poema no original.

O poema pertence ao livro História del Corazón publicado em 1954 com poemas escritos entre 1945 e 1953.

Después del amor

Tendida tú aquí, en la penumbra del cuarto,
como el silencio que queda después del amor,
yo asciendo levemente desde el fondo de mi reposo
hasta tus bordes, tenues, apagados, que dulces existen.
Y con mi mano repaso las lindes delicadas de tu vivir retraído.
Y siento la musical, callada verdad de tu cuerpo, que hace un instante, en desorden, como lumbre cantaba.
El reposo consiente a la masa que perdió por el amor su forma continua,
para despegar hacia arriba con la voraz irregularidad de la llama,
convertirse otra vez en el cuerpo veraz que en sus límites se rehace.

Tocando esos bordes, sedosos, indemnes, tibios, delicadamente desnudos,
se sabe que la amada persiste en su vida.
Momentánea destrucción el amor, combustión que amenaza
al puro ser que amamos, al que nuestro fuego vulnera,
solo cuando desprendidos de sus lumbres deshechas
la miramos, reconocemos perfecta, cuajada, reciente la vida,
la silenciosa y cálida vida que desde su dulce exterioridad nos llamaba.
He aquí el perfecto vaso del amor que, colmado,
opulento de su sangre serena, dorado reluce.
He aquí los senos, el vientre, su redondo muslo, su acabado pie,
y arriba los hombros, el cuello de suave pluma reciente,
la mejilla no quemada, no ardida, cándida en su rosa nacido,
y la frente donde habita el pensamiento diario de nuestro amor, que allí lúcido vela.
En medio, sellando el rostro nítido que la tarde amarilla caldea sin celo,
está la boca fina, rasgada, pura en las luces.
Oh temerosa llave del recinto del fuego.
Rozo tu delicada piel con estos dedos que temen y saben,
mientras pongo mi boca sobre tu cabellera apagada.

Para outras considerações e notícia bibliográfica sobre a obra de Vicente Aleixandre, convido os leitores a consultar o artigo anterior:

Plenitude do amor – poema de Vicente Aleixandre

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Apostilla por Alvaro de Campos ou a reflexão de Fernando Pessoa sobre carpe diem

05 Terça-feira Mar 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Álvaro de Campos, Fernando Pessoa, Modigliani

Modigliani_Amedeo-The_Young_Apprentice

Deixei há pouco tempo no blog um artigo em torno da Ode a Leucónoe de Horácio. Nele, a defesa do aproveitar a vida que passa sem preocupação pelo amanhã é o assunto. Carpe diem, é a ideia expressa em latim, e desde Horácio surge a espaços na poesia. Encontrámo-la no poema A vida, de Páladas, que aqui também deixei, e hoje retomo-a com o eco que a expressão encontrou em Álvaro de Campos, no poema Apostilla. Aqui, é a peculiar forma da reflexão Pessoana que se desenvolve através do seu heterónimo, interrogando-se sobre o que aproveitar o tempo significa.

Apostilla

Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, para que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha…
O trabalho honesto e superior…
O trabalho á Virgilio, á Milton…
Mas é tam diffícil ser honesto ou ser superior!
É tam pouco provavel ser Milton ou ser Virgilio!

Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos – nem mais nem menos –
Para com elles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)…
Pôr as sensações em castello de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, egual contra egual,
E a vontade em carambola diffícil…
Imagens de jogos ou de paciencias ou de passatempos –
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida…

Verbalismo…
Sim, verbalismo…
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciencia desconheça…
Não ter um acto indefinido nem facticio…
Não ter um movimento desconforme com propositos…
Boas maneiras da alma…
Elegancia de persistir…

Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cerebro está prompto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!

(Passageira que viajavas tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti
Qual foi o rhythmo do nosso socego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto á vida?)

Aproveitar o tempo!…
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!
Deixem-me ser uma folha de arvore, titillada por brisas,
A poeira de uma estrada, involuntaria e sòsinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O peão do garoto, que vae a parar,
E oscilla, no mesmo movimento que o da terra,
E estremece, no mesmo movimento que o da alma,
E cahe, como cahem os deuses, no chão do Destino.

11/4/1928 – data do testemunho dactilografado.
Poema publicado em O Noticias Ilustrado, 27/2/1928.

Transcrição ortográfica conforme a edição crítica de Teresa Rita Lopes do Livro de Versos de Álvaro de Campos, Editorial Estampa, Lisboa, 1993.

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As mulheres sentadas de Modigliani

15 Terça-feira Nov 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à arte

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Modigliani

A pintura de Modigliani (1884-1920) decorre num muito reduzido grupo de assuntos e a parte de leão é ocupada pelo retrato onde a inconfundível forma expressiva do pintor atinge por vezes fulgurações não mais igualadas na pintura ocidental.

Um assunto aparentemente tão simples como pintar uma mulher sentada, sem adereços a compor o quadro, tem na arte do mestre uma variedade  surpreendente utilizando os mesmos parâmetros pictóricos.

É a  um exercício do olhar que convido os visitantes do blog, percorrendo alguns dos inúmeros retratos de mulheres sentadas, saídos do pincel de génio do pintor.

A uma escolha inicial de 40 pinturas, retirei este reduzido grupo onde pequenas alterações na pose criam o dinamismo e movimento de cada retrato.

É a linha do desenho, na sua sofisticada curvatura, aliada à invariável melancolia das mulheres retratadas que faz nascer em nós uma ternura por estes personagens aparentemente desamparados naquele universo nu. Sentadas, estas mulheres aguardam o destino.

Os retratos surgem-nos despersonalizados. Não são a senhora A ou B, mas mulheres, onde nem sequer a beleza formal que tenham possuído em vida é posta em valor. É uma espécie de essência do feminino que nestes retratos leio.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Nota

Ao passar o cursor sobre a foto surgem as setas que permitem gerir o movimento do slideshow.

Termino com esta maternidade, assunto praticamente ausente do conjunto da obra pictórica de Modigliani.

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