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A memória de um homem está nos seus beijos – despedida de Vicente Aleixandre

23 Terça-feira Abr 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Edvard Munch, Vicente Aleixandre

Munch_Edvard-Self-portrait_with_Bottle_of_WineCom o verso A memória de um homem está nos seus beijos, abre Vicente Aleixandre (1898-1984) o seu poema Aquele que faz vive, do livro Poemas da consumação (1968).

Verso síntese de muitos dos seus poemas ao longo de décadas, é a seu pretexto que escolho o poema com que me despeço desta visita prolongada, no blog, à sua poesia.

Chove, o poema escolhido, encontra-se no mesmo livro, e afortunadamente possuímos em português uma sua tradução completa da autoria de Armando Silva Carvalho, poeta maior da nossa língua.

É dele que transcrevo a primeira tradução.

Chove

Nesta tarde chove, e chove pura
a tua imagem. E o dia abre-se na minha memória.
Entraste.
Não oiço. A memória dá-me apenas a tua imagem.
Só o teu beijo ou chuva cai na memória.
A tua voz chove, e chove o beijo triste,
o beijo fundo,
beijo molhado em chuva. O lábio é húmido.
Húmido de memória o beijo chora
de uns céus cinzentos
delicados.
Chove o teu amor molhando a minha memória
e cai e cai. O beijo
ao fundo cai. E cinzenta também
vai caindo a chuva.

Anterior é a tradução do também poeta José Bento que a seguir se lerá.

Chove

Nesta tarde chove, e chove pura
tua imagem. Na minha recordação abre-se o dia. Entraste.
Não oiço. A memória dá-me só a tua imagem.
Só o teu beijo ou chuva cai em recordação.
Chove a tua voz, e chove o beijo triste,
o fundo beijo,
beijo molhado em chuva. O lábio é húmido.
Húmido de recordação o beijo chora
nuns céus cinzentos
delicados.
Chove o teu amor, molha a minha memória
e cai e cai. O beijo
cai ao fundo. E cinzenta ainda cai
a chuva.

Mais uma vez, a superior capacidade poética de José Bento para traduzir do castelhano salta à vista. Em mínimos arranjos do verso e cirúrgicas opções de construção frásica, temos um poema mais fluente em português, onde a musicalidade é uma constante. Apenas no penúltimo verso teria preferido também, opção de Armando Silva Carvalho, ao ainda, escolhido por José Bento.

Termino com o original em castelhano.

LLUEVE

En esta tarde llueve, y llueve pura
tu imagen. En mi recuerdo el día se abre. Entraste.
No oigo. La memoria me da tu imagen solo.
Solo tu beso o lluvia cae en recuerdo.
Llueve tu voz, y llueve el beso triste,
el beso hondo,
beso mojado en lluvia. El labio es húmedo.
Húmedo de recuerdo el beso llora
desde unos cielos grises
delicados.
Llueve tu amor mojando mi memoria,
y cae y cae. El beso
al hondo cae. Y gris aún cae
la lluvia.

Notícia bibliográfica

A tradução do livro Poemas da consumação, em edição conjunta com o livro Diálogos do conhecimento, ambas de Armando Silva Carvalho, foram editadas por Líber, Publicidade Portugal e Brasil, Lda, Lisboa, 1979.

A versão de José Bento consta da sua Antologia de Vicente Aleixandre, já noutro artigo mencionada, tal como a edição de Poesías Completas de Vicente Aleixandre, e pode ser seguido aqui.

Plenitude do amor – poema de Vicente Aleixandre

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Después del amor – poema erótico de Vicente Aleixandre

22 Segunda-feira Abr 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Modigliani, Vicente Aleixandre

259

Continuo em viagem pela obra de Vicente Aleixandre (1898-1984) e desta vez com um poema erótico para o qual não encontrei tradução portuguesa, pelo que apenas vos deixo o poema no original.

O poema pertence ao livro História del Corazón publicado em 1954 com poemas escritos entre 1945 e 1953.

Después del amor

Tendida tú aquí, en la penumbra del cuarto,
como el silencio que queda después del amor,
yo asciendo levemente desde el fondo de mi reposo
hasta tus bordes, tenues, apagados, que dulces existen.
Y con mi mano repaso las lindes delicadas de tu vivir retraído.
Y siento la musical, callada verdad de tu cuerpo, que hace un instante, en desorden, como lumbre cantaba.
El reposo consiente a la masa que perdió por el amor su forma continua,
para despegar hacia arriba con la voraz irregularidad de la llama,
convertirse otra vez en el cuerpo veraz que en sus límites se rehace.

Tocando esos bordes, sedosos, indemnes, tibios, delicadamente desnudos,
se sabe que la amada persiste en su vida.
Momentánea destrucción el amor, combustión que amenaza
al puro ser que amamos, al que nuestro fuego vulnera,
solo cuando desprendidos de sus lumbres deshechas
la miramos, reconocemos perfecta, cuajada, reciente la vida,
la silenciosa y cálida vida que desde su dulce exterioridad nos llamaba.
He aquí el perfecto vaso del amor que, colmado,
opulento de su sangre serena, dorado reluce.
He aquí los senos, el vientre, su redondo muslo, su acabado pie,
y arriba los hombros, el cuello de suave pluma reciente,
la mejilla no quemada, no ardida, cándida en su rosa nacido,
y la frente donde habita el pensamiento diario de nuestro amor, que allí lúcido vela.
En medio, sellando el rostro nítido que la tarde amarilla caldea sin celo,
está la boca fina, rasgada, pura en las luces.
Oh temerosa llave del recinto del fuego.
Rozo tu delicada piel con estos dedos que temen y saben,
mientras pongo mi boca sobre tu cabellera apagada.

Para outras considerações e notícia bibliográfica sobre a obra de Vicente Aleixandre, convido os leitores a consultar o artigo anterior:

Plenitude do amor – poema de Vicente Aleixandre

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Plenitude do amor – poema de Vicente Aleixandre

21 Domingo Abr 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Parmigianino, Vicente Aleixandre

Os poetas Nobel de língua castelhana (homens) têm uma obra onde o amor é assunto maior.

De todos me apetecia falar longa e desenvolvidamente, cometimento despropositado neste formato de blog. Assim, atenho-me a esporádicos poemas.

No caso de Vicente Aleixandre (1898-1984), Nobel de 1977, é procedimento particularmente ingrato, pois cada livro do poeta contém uma unidade intrínseca em que a disposição sequencial dos poemas conduz o leitor a uma mais densa e aprofundada leitura.

O poema de hoje, Plenitude do amor, integra o livro Sombra del Paraíso com poemas escritos no imediato pós-guerra civil, (1939-1943), e por isso mesmo, de alguma forma consequência dessa experiência.

Sobre o livro escreveu o poeta:

… canto de aurora do mundo, vista a partir do homem presente, cântico de luz a partir da consciência de escuridão (tal contraponto permanente creio que dá a esta obra o seu fundo patético). (…) O tema paradisíaco principal é completado, por um lado, pela visão do cosmos, na sua glória, antes do aparecimento do homem e, com ele, da dor e da limitação.

Deixo-vos com o poema, esperando pelo acontecer com que o poema termina:

Depois do amor, da felicidade activa do amor, repousado,
deitado, imitando descuidadamente um regato,
reflicto em mim as nuvens, os pássaros, as futuras estrelas,
a teu lado, oh recente, oh viva, oh entregada;
e olho-me em teu corpo, em tua forma branda, dulcíssima, apagada,
como se contempla a tarde que transbordante termina.

ParmigianinoPlenitude do amor

Que fresco e novo encanto,
que doce perfil louro emerge
da tarde sem neblina?
Quando julguei que a esperança, a ilusão, a vida,
desviava o seu rumo para Oriente
em triste e vã procura do prazer.
Quando eu vira vogar pelos céus
imagens sorridentes, doces corações cansados,
espinhos que atravessavam belos lábios,
e um fumo quase dolorido
onde palavras enamoradas se desfaziam como o hálito do amor sem destino…

Apareceste leve como a árvore,
como a brisa cálida que uma vaga envia do meio-dia, envolta
nos sais febrís, como nas frescas águas do azul.

Uma árvore jovem, sobre um curvo horizonte,
horizonte palpável para beijos apaixonados;
uma árvore nova e verde que melodiosamente move sual folhas altivas
louvando a ventura do seu vento nos braços.

Um peito alegre, um coração simples como a preia-mar distante
que herda sangue, espuma, de outras regiões vivas.
Uma enorme vaga lúcida sob o vasto sol aberto,
desdobrando a plumagem de um mar inspirado;
plumas, aves, espumas, mares verdes ou cálidos:
toda a mensagem viva de um peito rumoroso.

Eu sei que o teu perfil sobre o azul recente do crepúsculo intacto,
não finge vaga nuvem criada por um sonho.
Que forte fronte doce, que bela pedra viva,
acesa de beijos sob o sol melodioso,
é tua fronte beijada por uns lábios livres,
jovem ramo belíssimo que um ocaso arrebata!

Ah, a verdade tangível de um corpo que estremece
entre os braços vivos de teu amante arrebatado,
que beija vivos lábios, brancos dentes, ardores
e um colo como uma água calidamente alerta!

Por um torso nu giram tépidos fios.
Que risada de chuva sobre o teu peito ardente!
Que fresco ventre puro, onde sua curva oculta
leve musgo de sombra rumoroso de peixes!

Coxas de terra, barcas onde vogar um dia
pelo harmonioso mar do amor enturvado,
onde fugir libérrimos, rumo aos altos céus
em que a espuma nasce de dois corpos que voam.

Ah, a maravilha lúcida do Teu corpo a cantar,
faiscante de beijos sobre tua pele desperta:
resplandecente abóbada, nocturnamente bela,
que humedece o meu peito de estrelas ou de espumas!

Já distante a agonia, a solidão gemente,
as torpes aves baixas que gravemente roçaram minha fronte nos sombrios dias dolorosos.
Já longe os mares ocultos que enviavam suas águas
pesadas, densas, lentas, sob a extinta zona da luz.

Regressado à tua claridade não é difícil, agora,
reconhecer os pássaros matinais que gorgeiam,
nem descobrir nas faces os impalpáveis véus da Aurora,
como é possível sobre as suaves rugas da terra
divisar o forte, vivo, generoso corpo nu do dia,
que mergulha os pés velozes em águas transparentes.

Deixai-me então, vagas preocupações de ontem,
abandonar meu lento vestuário sem música,
qual uma árvore que depõe o seu luto rumoroso,
seu pálido adeus à tristeza,
para exalar feliz suas folhas verdes, suas campânulas azuis
e essa espuma feliz que se encapela em sua copa
quando pela primeira vez a invade a ridente Primavera.

Depois do amor, da felicidade activa do amor, repousado,
deitado, imitando descuidadamente um regato,
reflicto em mim as nuvens, os pássaros, as futuras estrelas,
a teu lado, oh recente, oh viva, oh entregada;
e olho-me em teu corpo, em tua forma branda, dulcíssima, apagada,
como se contempla a tarde que transbordante termina.

Tradução do poema de José Bento

Segue-se o original em castelhano.

Plenitud del amor

Qué fresco y nuevo encanto,
qué dulce perfil rubio emerge
de la tarde sin nieblas?
Cuando creí que la esperanza, la ilusión, la vida,
derivaba hacia oriente
en triste y vana busca del placer.
Cuando yo había visto bogar por los cielos
imágenes sonrientes, dulces corazones cansados,
espinas que atravesaban bellos labios,
y un humo casi doliente
donde palabras amantes se deshacían como el aliento
del amor sin destino…
Apareciste tú, ligera como el árbol,
como la brisa cálida que un oleaje envía del mediodía, envuelta
en las sales febriles, como en las frescas aguas del azul.

Un árbol joven, sobre un limitado horizonte,
horizonte tangible para besos amantes;
un árbol nuevo y verde que melodiosamente mueve sus hojas altaneras
alabando la dicha de su viento en los brazos.

Un pecho alegre, un corazón sencillo como la pleamar remota
que hereda sangre, espuma, de otras regiones vivas.
Un oleaje lúcido bajo el gran sol abierto,
desplegando las plumas de una mar inspirada;
plumas, aves, espumas, mares verdes o cálidas:
todo el mensaje vivo de un pecho rumoroso.

Yo sé que tu perfil sobre el azul tierno del crepúsculo entero
no finge vaga nube que un ensueño ha creado.
¡Qué dura frente dulce, qué piedra hermosa y viva,
encendida de besos bajo el sol melodioso,
es tu frente besada por unos labios libres,
rama joven bellísima que un ocaso arrebata!

¡Ah, la verdad tangible de un cuerpo estremecido
entre los brazos vivos de tu amante furioso,
que besa vivos labios, blancos dientes, ardores
y un cuello como un agua cálidamente alerta!

Por un torso desnudo tibios hilillos ruedan.
¡Qué gran risa de lluvia sobre tu pecho ardiente!
¡Qué fresco vientre terso, donde su curva oculta
leve musgo de sombra rumoroso de peces!

Muslos de tierra, barcas donde bogar un día
por el músico mar del amor enturbiado,
donde escapar libérrimos rumbo a los cielos altos
en que la espuma nace de dos cuerpos volantes.

¡Ah, maravilla lúcida de tu cuerpo cantando,
destellando de besos sobre tu piel despierta:
bóveda centelleante, nocturnamente hermosa,
que humedece mi pecho de estrellas o de espumas!

Lejos ya la agonía, la soledad gimiente,
las torpes aves bajas que gravemente rozaron mi frente
en los oscuros días del dolor.
Lejos los mares ocultos que enviaban sus aguas,
pesadas, gruesas, lentas, bajo la extinguida zona de la luz.

Ahora vuelto a tu claridad no es difícil
reconocer a los pájaros matinales que pían,
ni percibir en las mejillas los impalpables velos de la aurora,
como es posible sobre los suaves pliegues de la tierra
divisar el duro, vivo, generoso desnudo del día,
que hunde sus pies ligeros en unas aguas transparentes.

Dejadme entonces, vagas preocupaciones de ayer.
abandonar mis lentos trajes sin música,
como un árbol que depone su luto rumoroso.
su mate adiós a la tristeza,
para exhalar feliz sus hojas verdes, sus azules campánulas
y esa gozosa espuma que cabrillea en su copa
cuando por primera vez le invade la riente primavera.

Después del amor, de la felicidad activa del amor, reposado,
tendido, imitando descuidadamente un arroyo,
yo reflejo las nubes, los pájaros, las futuras, estrellas,
a tu lado, oh reciente, oh viva, oh entregada;
y me miro en tu cuerpo, en tu forma blanda, dulcísima, apagada,
como se contempla la tarde que colmadamente termina.

Noticia bibliográfica

A tradução do poema, de José Bento, integra a Antologia de Vicente Aleixandre, Porto, Editorial Inova s/d (1977/78)

Para a obra poética de Vicente Aleixandre, a edição da editora Visor Libros de Madrid, Poesías Completas, preparada por Alexandre Duque Amusgo, é sem preço e companhia para a vida. A 2ªedição publicada em 2005, inclui um novo livro póstumo e poemas dispersos até aí inéditos.

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