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Tag Archives: Fragonard

Uma ode de António G. da Silveira Malhão

15 Domingo Mar 2015

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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António Gomes da Silveira Malhão, Fragonard

Fragonard- A Leitora 600pxA desprezada poesia neo-clássica que pelo século XVIII em Portugal se escreveu, contém exemplos de graça poética, harmonia singela e por vezes inventiva, no cantar os recorrentes assuntos que a ocupam.

Um destes assuntos é a descrição das incomparáveis belezas da amada.

Pouco importa nesta poesia se a mulher objecto da paixão era na verdade assim. Em poesia nunca é a verdade que importa. Reino do subjectivo e não de notícias, a leitura da poesia é do soberano domínio da emoção.

Os olhos do apaixonado assim a vêm e dão-nos conta do tumulto que em si provoca tal visão (real, sonhada ou imaginada).

No leitor, o transporte para o seu universo fará o caminho da procurada empatia.

 

Na curta obra de António Gomes da Silveira Malhão (1758-1785) escolho a Ode VI.

Nesta ode estamos perante algo mais subtil que o louvor da amada. Estamos perante a reunião na mulher de tudo o que mais belo tem a natureza, e ao homem, porque ela existe, apenas a inevitabilidade da paixão e o sofrimento de amor lhe resta.

ODE VI

 

Todos os dotes

De mais beleza

Que tinha ocultos

A natureza,

 

Dos áureos cofres

Amor furtou

E unindo-os todos

Marcia formou.

 

Saiu-lhe a obra

Tão rara, e bela,

Que Amor, formando-a,

Pasmou de vê-la!

 

Depois contente

Por lhe ter feito

Tão lindo o rosto,

Tão alvo o peito,

 

Deu neste dia

Geral perdão

Aos que gemiam

No seu grilhão.

 

Mas se Amor, terno,

Todos soltou,

De novo Márcia

Os cativou!

 

A curta obra de António Gomes da Silveira Malhão foi apenas publicada postumamente por seu irmão, Francisco Manuel Gomes da Silveira Malhão (1757-1816).

Transcrevi a Ode VI, com modernização da ortografia, de Vida e Feitos de Francisco Manuel Gomes da Silveira Malhão, Tomo III, Lisboa, 1797.

Notícias biográficas dos dois irmãos podem ser encontradas na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Tomo 16.  

A data da morte do poeta António G. S. Malhão decorre do relatado na obra Vida e Feitos… Tomo III.

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O Balouço de Fragonard lido por Jorge de Sena

22 Sexta-feira Nov 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Fragonard, Jorge de Sena

Fragonard - O Balouço II 1767

Como balouça, como adeja, como

é galanteio o gesto com que, obsceno,

o amante se deleita olhando apenas!

…
Com estes três versos capta Jorge de Sena (1918-1978) o sentimento que primeiro invade quem olha esta pintura de Jean-Honoré Fragonard (1732-1806). Exemplo de excelência sobre a capacidade de a pintura no estático da sua natureza transmitir o movimento, ela dá-nos mais: dá a a ver a vida sem preocupação, levada no vai-vem da sedução, envolvida por uma atmosfera de harmonia. É um exemplo raro de uma pintura feliz, e com ela vos desejo bom fim-de-semana.

Como balouça pelos ares no espaço

entre arvoredo que tremula e saias

que lânguidas esvoaçam indiscretas!

Que pernas se entrevêem, e que mais

não vê o que indiscreto se reclina

no gozo de escondido se mostrar!

Que olhar e que sapato pelos ares,

na luz difusa como névoa ardente

do palpitar de entranhas na folhagem!

Como um jardim se emprenha de volúpia,

torcendo-se nos ramos e nos gestos,

nos dedos que se afilam, e nas sombras!

Que roupas se demoram e constrangem

o sexo e os seios que avolumam presos,

e adivinhados na malícia tensa!

Que estátuas e que muros se balouçam

nessa vertigem de que as cordas são

tão córnea a graça de um feliz marido!

Como balouça, como adeja, como

é galanteio o gesto com que, obsceno,

o amante se deleita olhando apenas!

Como ele a despe e como ela resiste

no olhar que pousa enviesado e arguto

sabendo quantas rendas a rasgar!

Como do mundo nada importa mais!

Assis, 8 Abril 61

Publicado pela primeira vez em Metamorfoses, seguidas de Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena, 1963, e transcrito de Poesia II, Moraes Editores, Lisboa, Maio de 1978.

A pintura que abre o artigo é conhecida como O Balouço II. Para quem não conheça O Balouço I, com ela fecho o artigo.

Fragonard - O Balouço I

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Filosofia do amor (Love’s Philosophy) segundo P. B. Shelley

18 Quarta-feira Jul 2012

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poesia Antiga

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Fragonard, P. B. Shelley

Ontem deixei um soneto de John Keats, hoje convido-vos a procurar o poema Adonais com que P. B. Shelley (1792-1822) homenageou Keats depois da morte. Amigo e contemporâneo de John Keats, Percy Bisshe Shelley, que também morreu jovem, considerava Adonais o seu melhor poema.
A extensão de Adonais e sua tradução são incompatíveis com o formato do blog pelo que vos sugiro o procureis na net, pelo menos o original. De Shelley, e em alternativa, deixo esta leitura da filosofia do amor, sorrindo com o que naqueles tempos era preciso fazer para conseguir um beijo, ainda que seja evidente ser outra coisa o que o poeta pretendia.

Filosofia do amor (Love’s Philosophy)

Todas as fontes com o rio se fundem
E os rios com o oceano;
Os ventos, pelos ares, uns aos outros se unem
Com fragrante emoção;
Nada fica sozinho neste mundo;
Tudo, por fado antigo,
Entre si se mistura e se confunde:—
Porque não eu consigo?

Olha! As montanhas beijam o firmamento,
A onda, a onda enlaça;
Nenhuma flor-irmã tem valimento
Se o irmão não abraça;
A luz do Sol envolve a terra à roda,
Raios do luar beijam os mares: —
Mas toda esta ternura que me importa
Se tu não me beijares?

Tradução de Herculano de Carvalho

Acrescento o original inglês para os leitores fluentes na língua de Shakespeare.

Love’s Philosophy

The fountains mingle with the river
And the rivers with the ocean,
The winds of heaven mix for ever
With a sweet emotion;
Nothing in the world is single;
All things by a law divine
In one spirit meet and mingle.
Why not I with thine?—

See the mountains kiss high heaven
And the waves clasp one another;
No sister-flower would be forgiven
If it disdained its brother;
And the sunlight clasps the earth
And the moonbeams kiss the sea:
What is all this sweet work worth
If thou kiss not me?

Abre o artigo com A Confissão de Amor de Jean-Honoré Fragonard (1732-1806). A pintura pertence a um pequeno ciclo actualmente conhecido por Os Progressos do Amor. Aproveito e reúno-os sob esta bandeira poética de Shelley.

Temos primeiro A Perseguição ou A Insistência, como se preferir.

Segue-se-lhe O Encontro.

Temos depois A Confissão de Amor, mostrada a abrir o artigo, e finalmente surge-nos O Amor Coroado.

Esta pintura, reflexo e retrato de um mundo em extinção, goza hoje de pouca reputação, mais por razões ideológicas que estéticas. Olhada sem preconceito vê-se como a atmosfera de um mundo feliz reina nela para a eternidade, e sobre quem olha derrama um banho de prazer.

Há evidentemente a abordagem escolástica: pintura característica do período rococó bla, bla. Os interessados encontram as considerações em qualquer manual de iniciação à história da pintura e poupo os leitores à redundância. Apenas chamo a atenção para o equilíbrio na composição das massas pictóricas de onde provém o dinamismo e movimento que dá às pinturas uma vivacidade perene.

Amanhã haverá outro assunto.

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