Etiquetas
Como balouça, como adeja, como
é galanteio o gesto com que, obsceno,
o amante se deleita olhando apenas!
…
Com estes três versos capta Jorge de Sena (1918-1978) o sentimento que primeiro invade quem olha esta pintura de Jean-Honoré Fragonard (1732-1806). Exemplo de excelência sobre a capacidade de a pintura no estático da sua natureza transmitir o movimento, ela dá-nos mais: dá a a ver a vida sem preocupação, levada no vai-vem da sedução, envolvida por uma atmosfera de harmonia. É um exemplo raro de uma pintura feliz, e com ela vos desejo bom fim-de-semana.
Como balouça pelos ares no espaço
entre arvoredo que tremula e saias
que lânguidas esvoaçam indiscretas!
Que pernas se entrevêem, e que mais
não vê o que indiscreto se reclina
no gozo de escondido se mostrar!
Que olhar e que sapato pelos ares,
na luz difusa como névoa ardente
do palpitar de entranhas na folhagem!
Como um jardim se emprenha de volúpia,
torcendo-se nos ramos e nos gestos,
nos dedos que se afilam, e nas sombras!
Que roupas se demoram e constrangem
o sexo e os seios que avolumam presos,
e adivinhados na malícia tensa!
Que estátuas e que muros se balouçam
nessa vertigem de que as cordas são
tão córnea a graça de um feliz marido!
Como balouça, como adeja, como
é galanteio o gesto com que, obsceno,
o amante se deleita olhando apenas!
Como ele a despe e como ela resiste
no olhar que pousa enviesado e arguto
sabendo quantas rendas a rasgar!
Como do mundo nada importa mais!
Assis, 8 Abril 61
Publicado pela primeira vez em Metamorfoses, seguidas de Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena, 1963, e transcrito de Poesia II, Moraes Editores, Lisboa, Maio de 1978.
A pintura que abre o artigo é conhecida como O Balouço II. Para quem não conheça O Balouço I, com ela fecho o artigo.
(…)
Como balouça, como adeja, como
é galanteio o gesto com que, obsceno,
o amante se deleita olhando apenas!
(…)
Perfeito! Grata por mais este momento.
GostarGostar