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Tag Archives: E.M. de MELO e Castro

Dois dedos de conversa e mais alguma poesia visual

23 Sábado Mar 2019

Posted by viciodapoesia in Poesia visual

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António Aragão, Décio Pignatari, E.M. de MELO e Castro, Fernando Aguiar, Georg Philipp Harsdörffer, Theodor Kornfeld

Convida-nos Fernando Aguiar (1956) para Dois Dedos de Conversa (1981) com o poema visual de abertura, e aceite o convite, sentemo-nos primeiro no bancu (1975) concebido por António Aragão (1921-2008):

e comecemos com E. M. de Melo e Castro(1932) e três dos seus poemas visuais. Primeiro: Pêndulo, (1962):

Olhá-lo produz inevitavelmente Tontura, (1962):

Uma das consequências eventuais desta experiência pode ser o Hipnotismo, (1962):

E é assim, leitor(a), que tonto ou hipnotizado, seguimos até à Alemanha Barroca, onde a imaginação poética e gráfica de alguns senhores nos é trazida de forma brilhante pela tradução de João Barrento.

Temos para começar uma filosófica Ampulheta dando conta do passar do tempo e consequência, pensada por Theodor Kornfeld (1636-1698):

Sabendo que a vida é efémera e o tempo, inescapável, corre, perguntemos com Georg Philipp Harsdörffer (1607-1658), enquanto a vida o permitir: Dizei lá: O que é o Amor?

Informados que estamos de que o Amor é Estrada de muitos cansaços. Fogo que arde eternamente., não resisto a introduzir aqui o Bibelô saído da pena de Décio Pignatari (1927-2012), instrumento simultaneamente portador do fogo e vítima do cansaço de o procurar extinguir quando se fala de amor:

Termino com mais um poema de Fernando Aguiar, (c)entro (1978), onde se entra com o instrumento, procurando extinguir o fogo, o que o poema claramente elucida:

E assim concluo esta curta viagem pela poesia visual, num percurso temporal,  geográfico, e poético, alargado: do séc.XVII ao séc. XX, passeando entra Portugal, Alemanha, e Brasil.

A subversão pelo olhar é um dos trunfos da poesia visual, dando a ver por outro prisma, ideias e conceitos, e despertando pelo inesperado o gozo da surpresa. Trazê-la ao blog é tarefa quase impossível decorrente das limitações de formatação. Daí apenas esta pequeníssima escolha a juntar a outras pontuais e anteriores de Salette Tavares e José Lino Grünwald.

 

 

Nota bibliográfica

O Cardo e a Rosa, Poesia do Barroco Alemão, seleção, tradução e prefácio de João Barrento, Assírio & Alvim, Lisboa, 2002.
Antologia da Poesia Experimental Portuguesa, Anos 60 – Anos 80, organizadores Carlos Mendes de Sousa e Eunice Ribeiro, Angelus Novus Editora, Coimbra, 2004.
Décio Pignatari, Poesia pois é poesia, 1950-2000, Ateliê Editorial e Editora Unicamp, Campinas, 2004.

 

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Ode ao Cidadão Anónimo por E. M. de Melo e Castro

15 Segunda-feira Maio 2017

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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E.M. de MELO e Castro, Magritte

A próxima e esperada robotização generalizada da produção em todos os sectores da actividade económica gerará o desaparecimento em massa de empregos, mesmo qualificados, sem que a reorientação da ocupação de vastas camadas da população se perspective.
Há nesta alteração dos sistemas de produção, com a diminuição drástica do emprego humano, uma contradição insanável nos termos actuais: Se a grande maioria passar a não ter trabalho porque passou a produzir-se em massa mais barato com robots, de onde virá às largas massas sem trabalho o dinheiro para comprar o que se produz? Não existindo quem compre, para que servirá a produção?
A antevisão de que começa a falar-se é a de uma polarizarão social entre alguns muito ricos, donos de negócios robotizados potencialmente rentáveis, e uma imensa massa sem recursos a quem o estado providenciaria um rendimento mínimo por via da cobrança de impostos aos muito ricos. Todos pobrezinhos e sem trabalho.
Serão muito complexas as relações sociais numa sociedade que se desenhe assim. O modelo em que temos vivido desde a eclosão da primeira revolução industrial chegará ao fim com as suas oportunidades de mobilidade social e “subir na vida”.
Os ajustamentos ocorrerão inevitáveis, lentos e dolorosos.

É do hoje e não desta revolução anunciada que fala o poema que a seguir entrego à meditação dos leitores,  a Ode ao Cidadão Anónimo, uma das ODES OCAS de E. M. de Melo e Castro (1932).
Medindo-se com o prosaico do nosso quotidiano, esta e as restantes catorze Odes do livro 15 Odes Ocas escritas entre 2009 e 2013, entre Portugal e Brasil, dão-no conta de uma reflexão necessária sobre cada um de nós enquanto ser social e sobre a forma como integramos/participamos neste universo onde a nossa vida ainda decorre.
Surgem no poema Ode ao Cidadão Anónimo muitas das perplexidade e contradições com que hoje nos confrontamos e para as quais as respostas certas não existem. Simplesmente se o try and error da ciência é sempre uma tragédia para muitos quando ensaiado nas sociedades humanas, a adopção política de medidas do passado para os novos problemas também não é solução que se aplauda ou apoie. Haja dúvidas para que as respostas possam surgir.

Ode ao Cidadão Anónimo

Tu, cidadão anónimo, igual a ti próprio e a mim/outro
Que compras tudo o que és capaz de comprar
E deitas para o lixo tudo o que compraste

Que ganhas a tua vida perdendo a tua vida
Vida que é pequena e que só tens uma
Mas finges ignorar

Que pagas as contas que fazes sem saber porquê
Mas esperas descontos nos contos do vigário
que os teus credores te contam

Tu que ainda há pouco alimentavas a ilusão
de que o que fazes é produtivo para o teu país,
vais verificando dia a dia
que o teu trabalho é inútil principalmente para ti
porque um dia te despedem
até ficares despido

porque quem não precisa de ti não quer senão o teu voto
e tu que te lixes no lixo
porque o trabalho que fizeste toda a vida
é muito mais bem feito por qualquer robot
e ninguém dá por isso se não for feito
por isso és despedido
Assim desfruta a tua liberdade de desempregado
o melhor que puderes
porque és livre e por isso descartável

Está é a mais extraordinária descoberta da sociologia neoliberal
cibernetizada e deves ficar feliz com isso!

Mas não digas a ninguém.
Chora essa tua felicidade sozinho.

Se és velho, nunca vás para uma casa de repouso.
Finge que trabalhas.
Finge que te pagam, mesmo sabendo que nada recebes
Porque dá mais gozo não receber um salário venenoso
Que é teu
Mas irá fortalecer o sistema capitalista
E o igualmente selvagem neoliberalismo…
De que tanto gostas
E em que votaste à toa!

Transcrito de 15 Odes Ocas, editor Pé de Mosca, 2013.

 

Os leitores que não conheçam o poeta e a sua obra podem encontrá-lo em vídeos YouTube.

 

Abre o artigo uma pintura de Magritte (1898-1967).

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Os erros de Eros com E.M. de Melo e Castro

08 Sábado Nov 2014

Posted by viciodapoesia in Erótica, Poetas e Poemas

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E.M. de MELO e Castro, Picasso

Picasso desenho de colecção particularOs erros de Eros no percurso amoroso de cada um nunca foram pretexto para parar a pesquisa, e das técnicas de engate ao longo dos tempos se fez eco a poesia.

Exprimir o sexo tem sido invenção de alguns poemas aqui deixados. Desde a longínqua Idade Média com as Cantigas d’Amigo, às vezes ganhando uma forma híbrida a resvalar para o Escárnio e Mal-dizer, aos transportes suicidários da poesia romântica, passámos por um vasto corpus poético onde avulta o soneto de inspiração petrarquista com expoentes em português entre o chamado soneto maneirista. Despedindo-se a poesia, no século XX, do romantismo, as vanguardas ganharam o gosto do corpo na sua enunciação explicita.

Numa visita a um expoente das vanguardas poéticas desde os anos 50, é à poesia de E.M. de Melo e Castro (n. 1932) que hoje convido.

A escolha poética entre a sua poesia decorre de uma ideia de síntese acrescentando nova perspectiva às questões de língua antes afloradas, qual seja:


e de repente a língua se liberta

do peso que teve.

água corre na água.

o corpo livre

e abrem-se os sentidos

no orgasmo da luz

ver e não ver

ouvir e não ouvir

tocar e não tocar

cheirar e não cheirar

sabor e não sabor

tudo é saber

da mesma forma o peso

do não peso

o dar do receber

a posse do poder

como se de repente

as mãos o peito

os pés as pernas

fossem sexos unidos

ou os sextos sentidos

somados divididos

no momento de vir.

Abertos os sentidos no orgasmo da luz,  percorreremos questões de língua e outras num arco temporal até à Idade Média e geográfico até ao Japão.

Comecemos por esta síntese da fala do sexo:

FALA

falar do falo

é uma fácil falácia


do príapo é mais própria

a prosápia


quanto ao caralho

não é pau de carvalho


mas engrossa a piça

o chouriço enchoiriça

e a piça incha e estica


mas o tesão

não se compra nem se vende


a cona destes versos

é que o fode!

Refere o poeta, cheio de razão que … o tesão / não se compra nem se vende, sabe quem sente e o poeta num gesto secular ecoa nesta  CANTIGA DE COR-TESÃO


CANTIGA DE COR-TESÃO

Quanto mais amo

minha amo

mais mama

mamo


– é assim é que é


Quanto mais como

tua cama

mais cono

como


– é assim é que é


Quanto mais cavo

no teu cu

mais cravo

sou


– é assim é que é


Quanto mais é assim

mais me venho

a mim


-é assim é que é


e o pé?


Os argumentos indutores de tesão condensa E.M. de Melo e Castro num rasgo de inspiração japonesa neste Haiku Erótico:

Haiku Erótico – 1994

mamilos ilhas

do mar elástico

flores

na pele do peito

.

negro loiro

o perfume volume

clitóris

da face do êxtase

.

vento oscilando

cúpula no mastro

glande

rubra de neve

.

na pele do deserto

areia movediça

cetim

de dedos cactus

.

fundo e claro

o obscuro fluxo

canto

do olho aberto

.

figura esguia

peixe na água

lava

por fenda fina

.

a saliva sabe

do sol o toque

beijo

eixo na boca

.

voo no ritmo

das asas duplas

cópula

única é a ave

.

volume ocupando

o espaço da mão

flecha

redonda logo

.

olhos abertos

na cor da noite

voláteis

cristais de luz

.

na onda anda

um outro lugar

vulva

volume vago

.

o ambiguo dizer

pedra de toque

pénis

no calor dos olhos

.

caricia outra

leve fluir

língua

o toque ácido

.

total orgasmo

nulo de nada

luz

sobre a iluminação

Aberto que está o caminho para o  total orgasmo / nulo de nada / luz / sobre a iluminação, eventualmente conduzido pelo  vento oscilando / cúpula no mastro até a glande / rubra de neve convidar ao repouso, aqui fica, quando tal acontecer, a sugestão de leitura com um soneto maneirista do autor, imitação de um género tão ao gosto do blog.


LEITURA

é lendo que eu aprendo o que já sei

é vendo que eu entendo o que me rói

é tendo que eu vendo o que me dei

é na merda do nada que o cu dói


como não quer a coisa quero a coisa

o coiso quer a coisa quer a casa

em que penetre o coiso como poisa

no peixe a água e a ave bate a asa


e como como o cono como a cona

e quando como a cona como a cama

de pé de costas ou no bico da mama


mas é vindo que eu vou até ficar

ouvindo e vendo e lendo o mar:

como é belo o que me dás de cu pró ar!


Notícia bibliográfica:

Os poemas transcritos foram retirados do livro Sim… Sim! Poemas Eróticos, de E.M. de Melo e Castro publicado por VEGA EDITORA em 2000.

O título do artigo foi também emprestado pelo autor, pois OS ERROS DE EROS, foi além de título de poema no mesmo livro, o título pensado pelo autor para o livro de poesia erótica que veio a chamar-se CARA LH AMAS e foi publicado em 1975.

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