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vicio da poesia

Category Archives: Erótica

A mão e o prazer – 2 poemas de José Régio

27 Sábado Fev 2010

Posted by viciodapoesia in Erótica, Poetas e Poemas

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José Régio

Homem, mulher, e mão, são a substância para a inspiração poética de José Régio (1901-1969) na escolha poética de hoje.

Temos para inicio da história, a aventura da mão “Sábia talvez inconsciente” que se passeia “Ali onde o desejo mais me dói”, “doseando com volúpia, uma ancestral sofreguidão” levando-o até “àquele auge em que todo, em alma e corpo vou morrer…”.


Monólogo a dois

Sábia talvez inconsciente,

Doseando com volúpia, uma ancestral sofreguidão,

Ali onde o desejo mais me dói, mais exigente,

Me acaricia a tua mão.

De olhos fechados me abandono, ouvindo

Meu coração pulsar, meu sangue discorrer,

E sob a tua mão, na asa do sonho, eis-me subindo

Àquele auge em que todo, em alma e corpo, vou morrer…


Isto que a mão faz pelo prazer masculino tem a contrapartida no prazer feminino. E é acariciar com um dedo médio e um polegar, sabiamente manipulados, aquelas regiões onde o potencial erótico se esconde, para fazer uma mulher percorrer todo o alfabeto do prazer e não apenas de C a G, levando-nos com ela, à decifração daquele mistério feminino que cada mulher guarda em si para oferecer apenas a quem o souber merecer.

O conhecimento deste mistério  o poeta não desdenha quando nos conta: “crispou-se a minha mão sobre o teu sexo / …e a minha mão sondava/ … o teu mistério de mulher.”.

 

Poema

Crispou-se a minha mão sobre o teu sexo,

Fecharam-se-me os olhos sem querer…

De que abismos voava até ao fundo?

E a minha mão sondava

E Triturava

Aquele mundo

Tão pequenino e tão complexo:

O teu mistério de mulher.

 


De comum aos dois poemas temos os olhos fechados não em sentido figurado de alheamento ou não querer ver, nem numa qualquer deslocada reacção de pudor, mas no sentido físico de potenciação do prazer.

No primeiro poema, para na asa do sonho melhor ir subindo, e assim gozar o prazer até à última gota, enquanto no segundo poema se lhe fecham os olhos no gesto involuntária ditado pela volupia da mão sobre o teu sexo. Em ambos temos a verdade da vida dita na forma superior da poesia.


Publicados estes poemas ao virar os 60 anos, tempo bastante para fruir da vida os seus segredos e deles nos dar conta na sintese adequada à poesia, pertencem ambos ao ciclo “O Amor e a Morte” incluído no livro FILHO DO HOMEM publicado em 1961.


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Corpo de ânsia, eu sonhei … poema de José Régio

19 Sexta-feira Fev 2010

Posted by viciodapoesia in Erótica, Poetas e Poemas

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José Régio

A poesia de José Régio (1901-1969), ainda que pretenda exprimir o universal da condição humana, e com isso ser profundamente apelativa ao leitor, a matriz cristã em que esse universal radica cria alguma desconfiança nestes tempos incréus.

Acontece que em José Régio, entre as angustias e dúvidas próprias ao humano, e que a sua poesia aborda, surgem poemas de uma carnalidade avassaladora em que a forma poética nos deixa sem fôlego. São algumas dessas poesias as escolhas próximas.


Canção cruel

Corpo de ânsia,

Eu sonhei que te prostrava,

E te enleava

Aos meus musculos!


Olhos de êxtase,

Eu sonhei que em vós bebia

Melancolia

De há séculos!


Boca sôfrega,

Rosa brava,

Eu sonhei que te esfolhava

Pétala a pétala!


Seios rígidos,

Eu sonhei que os mordia

Até que sentia

Vómitos!


Ventre de mármore,

Eu sonhei que te sugava,

E esgotava

Como a um cálice!


Noticia bibliográfica:

O poema pertence a um ciclo “O Amor e a Morte” publicado por José Régio no livro FILHO DO HOMEM editado pela primeira vez em Maio de 1961. É dos livros menos populares do poeta.


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Ânsia de amar! Oh ânsia de viver! – Soneto de Manuel Laranjeira

06 Sábado Fev 2010

Posted by viciodapoesia in Erótica, Poetas e Poemas

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Jaime Cortesão, Manuel Laranjeira

A exclamação do verso  Ânsia de amar! Oh ânsia de viver! não é apenas retórica mas antes um grito de desejo, pois o poema começa assim:

Ânsia de amar! Oh ânsia de viver! /  um’hora só que seja, mas vivida / e satisfeita…

 

E para enfatizar a intensidade do desejo o poeta remata:

 

… e pode-se morrer, / – porque se morre abençoando a vida!

 

É pois um poema do desejo insatisfeito, dum tempo em que os prazeres do sexo eram, talvez, apenas sonhados como o poema refere,  e quantos como eu nunca a tiveram /  uma hora de amor como a sonharam!

quando decorriam da paixão por menina casadoira.

O poema  A TRISTEZA DE VIVER, é de Manuel Laranjeira (1877-1912) e foi dedicado à Exma. Snrª D. Dalila dos Reis Ferreira.

 

 

Ânsia de amar! Oh ânsia de viver!

um’hora só que seja, mas vivida

e satisfeita… e pode-se morrer,

– porque se morre abençoando a vida!

 

Mas ess’hora suprema em que se vive

quanto possa sonhar-se de ventura,

oh vida mentirosa, oh vida impura,

esperei-a, esperei-a, e nunca a tive!

 

E quantos como eu a desejaram!

e quantos como eu nunca a tiveram

uma hora de amor como a sonharam!

 

Em quantos olhos tristes tenho eu lido

o desespero dos que não viveram

esse sonho de amor incompreendido!

 

 

 

Noticia Bibliográfica

Personagem singular na sociedade portuguesa do dealbar do séc. XX, dele escreveu Unamuno “ Fué Laranjeira quien me enseñó a ver el alma trágica de Portugal”.

O seu Diário Íntimo, publicado postumamente em 1957, lendo-se como um romance, faz desfilar os íntimos, Miguel de Unamuno, companheiro de intermináveis colóquios, e o autor, “... devorado pelo pessimismo e o tédio, um certo freudismo avant la lettre amarfanha e exaspera a dolorosa galeria das mulheres que arrastam o seu destino nas desoladas páginas do Diário. A par disto, a revolta constante dum carácter insubmisso a todas as sujeições. Sente-se até ao lê-lo, em certas páginas de um realismo doentio e cru, ou quando lhe move a pena o imperativo idealista da consciência, uma antecipação e um antegosto, ora a Joyce, ora a Sartre, ora a Camus, ou aos três conjuntamente.”, para usar a penetrante descrição de Jaime Cortesão.

A poesia de Manuel Laranjeira encontra-se reunida no livro COMIGO publicado pela primeira vez em 1912.

 

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Carícias sábias minhas mãos buscaram – Francisco Bugalho

04 Quinta-feira Fev 2010

Posted by viciodapoesia in Erótica, Poetas e Poemas

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Francisco Bugalho

Hoje faço uma pequena digressão pela poesia de Francisco Bugalho (1905-1949), poeta presencista talvez um pouco esquecido.

À parte as angustias e alegrias que a vida nos trás e o poeta reflecte, há na poesia de Francisco Bugalho uma simbiose poética entre o sentir e a natureza que, ao lê-la, somos  amiúde tocados por momentos de verdadeira magia. São a cada passo os exemplos como este:

Beija-me o sol os vidros da janela / e a copa mansa daquela / sobreira quieta que me viu menino. /  Mergulho o meu olhar no cristalino / olhar desta manhã / como se fora / um vivo olhar  amado e fino / …

e os exemplos podem continuar:

Luar soturno caindo / dentre ramagens sombrias, / cria fantasmas, surgindo / de pálidas brumas frias. / Das chapas de água que as chuvas / deixaram, no chão, paradas, / a luz faz brancas ossadas; / …

Ou de novo a chuva nestoutro poema:

 

CHUVA, caindo tão mansa,

Na paisagem do momento,

Trazes mais esta lembrança

De profundo isolamento.

 

Chuva caindo em silencio

Na tarde, sem claridade…

A meu sonhar d’hoje, vence-o

Uma infinita saudade.

 

Chuva caindo tão mansa,

Em branda serenidade.

Hoje minh’alma descansa.

– Que perfeita intimidade!..

 

A intimidade  na poesia de Francisco Bugalho não é apenas com a natureza, e aqui temos em circunstancias menos bucólicas este SEDE para o mostrar:

 

SEDE

MAGOAVA os olhos, o sol.

E a fresta entreaberta da janela

Deixava entrar um bafo morno e mole.

 

Tua blusa amarela,

Naquele ambiente cálido e pesado,

Era uma flor de estufa que se abria

Donde surgia,

Como seu estame airoso e delicado,

O teu branco pescoço

E a tua cabeça meiga e fria.

 

Toda a frescura da manhã passada

E a doçura da tarde que viria

Fresca e perfumada,

Estava ali concentrada

Nessa loira cabeça sossegada,

Nessa flor amarela que se abria…

 

Assim, no ambiente do meu quarto,

Quando abro as asas do meu sonho e parto,

Como flor que guarda

Nas horas de canícula, na corola,

A gota de água heroica e resignada,

Da flor que és, consolador, se evola

Todo o frescor que a minha sede aguarda,

Silenciosa, cálida, pesada.

Mesmo quando o calor aumenta e o desejo desperta com CARÍCIAS sábias minhas mãos buscaram / Por teu corpo em botão … a associação à natureza permanece mas no auge do prazer o que importa é que

[Os] Corpos vergados como dois acantos, / Gritaram alto que era doce a vida.

Se o moço é poeta e o desejo desperta temos poesia,   erótica certamente.

E aqui fica nesta discreta evocação, o canto do acto amoroso.

CARÍCIAS sábias minhas mãos buscaram

Por teu corpo em botão, alvorescente;

E meus lábios sonâmbulos pisaram

Branduras de veludo alvo e dormente.

 

Triunfos nos meus olhos despontaram,

E gritos de clarim e de trombeta

Em meus ouvidos sôfregos soaram,

Como cantos de amor dalgum poeta.

 

Ritmos de doçuras e quebrantos,

Corpos vergados como dois acantos,

Gritaram alto que era doce a vida.

 

Apertei-te na ânsia de perder-te

E quando regressei, voltei a ver-te:

Vi-te ainda mais longe e mais perdida.

 

em C. Vide, 4 Janº 929

Noticia bibliográfica

O poema data do início da colaboração com a revista Presença e permaneceu inédito até à edição de Poesia de Francisco Bugalho pela Editora LG em 1998.

Dos poemas que referi apenas este CARÍCIAS sábias minhas mãos buscaram permaneceu inédito. Todos os outros foram publicados pelo autor.

Tendo publicado em vida 3 livros de poesia, Margens em 1931, Canções Entre Céu e Terra em 1940 e Paisagem em 1947, a edição da Editora LG que reuniu a poesia do poeta acompanhada de um estudo/prefácio de Joana Morais Varela, acrescentou um grupo de Dispersos e Inéditos. Em Apêndice nesta edição, surge este CARÍCIAS sábias minhas mãos buscaram e outro poema inédito, além de 2 textos em prosa publicados anteriormente na Revista Presença. Esta edição, modelar do ponto de vista bibliográfico, contém um importante conjunto documental e iconográfico sobre o poeta.

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Canção do Nu de Afonso Duarte

15 Sexta-feira Jan 2010

Posted by viciodapoesia in Erótica

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Afonso Duarte, Carlos Oliveira, Manuel Alegre

Dificilmente ao nome de Afonso Duarte associaremos uma poesia erótica. Não conhecendo, ou conhecendo superficialmente a sua poesia, o erotismo será algo que não pensaremos lá encontrar.

Não será bem assim, ainda que poucos sejam os poemas em que as alegrias do corpo se manifestam.

É sobretudo nos poemas agrupados em Ritual do Amor que uma aproximação ao erotismo na sua poesia se poderá fazer. São poemas escritos por volta de 1912, quando o poeta tinha 28 anos, e da vida talvez já conhecesse os prazeres. No entanto, o gozo do corpo aparece nesta recolha consideravelmente matizado.

Canção do Nu, o poema que aqui trago, foi incluído nesta recolha na sua edição de 1929, quando o poeta reuniu em Os 7 Poemas Líricos o conjunto da sua poesia publicada em livro e a que entretanto tinha surgido em revistas ou se encontrava inédita. Este poema foi publicado no nº 9 da revista Contemporânea em 1923

O poeta esteve sem publicar poesia quase vinte anos, entre 1929 e 1947. Nesse ano publicou Ossadas. E com este livro inicia-se uma espécie de 2ªparte da sua produção poética. É sobre esta poesia que as apreciações críticas abundam, afinando todas pelo elogio justíssimo.

Deixo aqui, porque sintética e clara, uma apreciação de Manuel Alegre, retomando em grande parte o que escreveram Carlos de Oliveira e João José Cochofel na primeira edição da Obra Poética de Afonso Duarte em 1956.

Na primeira parte da obra poética de Afonso Duarte, reunida em Os 7 Poemas Líricos, é a natureza que se faz presente, e o canto das coisas simples, e de alguma maneira essenciais, na vida dos homens.

De Romanceiro das águas, recolha cheia de uma poesia cristalina regando a natureza e o viver, destaco Águas Passadas

“Interroguei as águas caudalosas / Sobre o que seja esta ânsia de viver;  – Viver? É a vida sempre em despedida”.

Ou então de O Cântaro de Barro de onde nos sai:

“ Da terra mãe fiz o vaso / que bastasse à minha sede … E como sabia amar, / A gosto de rapariga, … foi cheio do gosto dela / Que eu me dei a modelar”

e mais à frente temos o cântaro:

“ Ora vede/ … / Se não é o corpo dela / Da cintura para cima?/ E em ar de dança do Povo / Os braços ergue à cabeça;”

Continuava as citações pelo Rimance que se segue, todo ele a merecer destaque, mas o espaço do artigo e paciência do eventual leitor têm limites, por isso termino com este Vitral, soneto/imagem de adolescente desejada – Seu corpo esguio, uma anfora com fala:

 

Vitral

Franzina, é como um choupo à luz da Lua;

É a noite escura o seu olhar de mágoa.

Uma ogiva os seus braços quando amua,

Modelo foi dos cantarinhos de água.

 

Dizem os seios que a farão mãezinha;

Oh! Que linda menina casadoira!

São os seios da virgem donzelinha,

Dois novelos saltando à dobadoira.

 

Seus lábios, duas pétalas de rosa;

Abrem as rosas como a boca enlaça…

Em beijo a boca é uma flor ciosa.

 

Num lago a Lua: o seu andar embala;

São suas mãos às que eu imploro a graça,

Seu corpo esguio, uma ânfora com fala.


 

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