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A poesia de José Régio (1901-1969), ainda que pretenda exprimir o universal da condição humana, e com isso ser profundamente apelativa ao leitor, a matriz cristã em que esse universal radica cria alguma desconfiança nestes tempos incréus.
Acontece que em José Régio, entre as angustias e dúvidas próprias ao humano, e que a sua poesia aborda, surgem poemas de uma carnalidade avassaladora em que a forma poética nos deixa sem fôlego. São algumas dessas poesias as escolhas próximas.
Canção cruel
Corpo de ânsia,
Eu sonhei que te prostrava,
E te enleava
Aos meus musculos!
Olhos de êxtase,
Eu sonhei que em vós bebia
Melancolia
De há séculos!
Boca sôfrega,
Rosa brava,
Eu sonhei que te esfolhava
Pétala a pétala!
Seios rígidos,
Eu sonhei que os mordia
Até que sentia
Vómitos!
Ventre de mármore,
Eu sonhei que te sugava,
E esgotava
Como a um cálice!
Noticia bibliográfica:
O poema pertence a um ciclo “O Amor e a Morte” publicado por José Régio no livro FILHO DO HOMEM editado pela primeira vez em Maio de 1961. É dos livros menos populares do poeta.