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Aproxima-se o Natal e apetece visitar a poesia escrita a seu pretexto.
É a possibilidade de recomeçar, deixar para trás os erros e recuperar a magia do futuro com os olhos da infância, o que sobretudo me atrai na espera do Natal e na sua celebração.
Às vezes basta um nada e o reencontro com esse encanto infantil vivido em torno do Natal regressa:
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa, / a trazer-me da água a infância ressurrecta.
A vida leva-nos mais vezes do que nós a ela,
E quanto mais na terra a terra me envolvia / mais da terra fazia o norte de quem erra.
e se a memória se liberta
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
cresce a vontade de encontrar a bússola que por outro caminho nos conduza
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia…
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
De tudo isto nos fala David Mourão-Ferreira (1927-1996) no poema Natal à Beira-Rio que acima esquartejei e agora transcrevo na totalidade.
Natal à Beira-Rio
É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
a trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
que ficava, no cais, à noite iluminado…
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
mais da terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
à beira desse cais onde Jesus nascia…
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?
1960
O poema abre o livro Cancioneiro de Natal que o poeta publicou em 1971 com 10 poemas onde a sua vivência do Natal se reflecte.