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A noite de Verão é como uma perfeição de pensamento. escreveu Wallace Stevens (1879-1955) no poema que hoje arquivo.

Não sei de outra forma mais exacta para exprimir o que em noites de Verão por vezes acontece, como hoje. Corre uma brisa suave que o som do saxofone de Ben Webster embala. O ar quente envolve-se de um acre, potente e delicioso cheiro a resina de pinheiro, e num quase mágico momento o tempo pára. Não há antes nem depois, apenas a harmonia de um céu onde a lua esplende, o cheiro inebria os sentidos, e o  som do saxofone decanta a emoção. É o Verão, são as ferias de Verão!

E o mundo estava calmo. A verdade num mundo calmo, / No qual não há outro sentido, a própria verdade / / Está calma, ela própria é verão e noite, …

Leia-se o poema na totalidade:

A casa estava silenciosa e o mundo estava calmo.
O leitor tornava-se no livro, e a noite de verão

Era como a essência consciente do livro.
A casa estava silenciosa e o mundo estava calmo.

As palavras eram pronunciadas como se não houvesse livro,
A não ser o leitor inclinado sobre a página,

A desejar inclinar-se, a desejar extremamente ser
O letrado para quem o seu livro é verdadeiro, para quem

A noite de verão é como uma perfeição de pensamento.
A casa estava silenciosa porque assim tinha de estar.

O silêncio fazia parte do sentido, parte do espirito:
Era a perfeição no seu acesso à página.

E o mundo estava calmo. A verdade num mundo calmo,
No qual não há outro sentido, a própria verdade

Está calma, ela própria é verão e noite, ela própria
É o leitor em tardia vigília, inclinado, lendo.

In Transport to Summer (1947), tradução de David Mourão-Ferreira.

Não sei de melhor companhia pictórica para este poema que alguma pintura de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) com que acompanhei o artigo e de quem escolho uma das suas bibliotecas para fecho.