Etiquetas

,

Ainda recentemente, em conversa sobre a poesia aprendida na escola e que acompanha tantos de nós pela vida fora, se discutia a autoria do poema  “Descalça vai para a fonte / Lianor pela verdura / …”. A memória já não é o que era, e uns, que a poesia era de Luís de Camões, outros que era de Rodrigues Lobo.

A discussão ficou em aberto.

Chegado a casa, tirei-me de cuidados e fui à procura. Aqui deixo a solução da controvérsia que ficou por resolver.  Ambos os partidos tinham razão.

 

Descalça vai para a fonte

Lianor pela verdura;

Vai fermosa e não segura.

é o mote de autoria desconhecida que tanto Camões como Rodrigues Lobo glosaram, ambos em metro de redondilha maior e com resultado de igual mérito.

Tem nelas a poesia portuguesa duas obras-primas, em minha modesta opinião.

Ei-las:

Luís de Camões

Mote

Descalça vai para a fonte

Lianor pela verdura;

Vai fermosa e não segura.


Voltas

Leva na cabeça o pote,

O testo nas mãos de prata,

Cinta de fina escarlata

Sainho de chamalote:

Traz a vasquinha de cote

Mais branca que a neve pura

Vai fermosa e não segura.


Descobre a touca a garganta,

Cabelos de ouro entrançado,

Fita de cor de encarnado,

Tão linda que o mundo espanta.

Chove nela graça tanta,

Que dá graça à fermosura.

Vai fermosa e não segura.

 

E agora a inspiração de Francisco Rodrigues Lobo

 

Vilancete

Descalça vai para a fonte

Lianor pela verdura;

Vai fermosa e não segura.


A talha leva pedrada,

Pucarinho de feição,

Saia de cor de limão,

Beatilha soqueixada.

Cantando de madrugada

Pisa as flores na verdura

Vai fermosa e não segura.


Leva na mão a rodilha,

Feita da sua toalha;

Com uma sustenta a talha,

Ergue com outra a fraldilha.

Mostra os pés por maravilha

Que a neve deixam escura

Vai fermosa e não segura.