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Tag Archives: Vieira da Silva

Ernesto Cardenal — Salmo I

29 Quarta-feira Jan 2020

Posted by viciodapoesia in Poesia Hispano-americana

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Ernesto Cardenal, Vieira da Silva

Na turbulenta e perturbada América Latina na segunda metade do século XX e até hoje, a figura humana e política de Ernesto Cardenal (1925) é quase paradigmática destes três quartos de século, onde política, religião, e comprometimento social dos intelectuais foi uma constante. Nascido na Nicarágua, Doutor pela universidade nova-yorquina de Columbia, no início dos anos 50 viajou pela Europa. Opositor ao regime de Somoza, tornou-se monge ainda nos anos 50, e mais tarde, na década de 60, padre. Aderiu ao marxismo depois de visitar Cuba. Foi ministro Sandinista e mais tarde seu opositor. Expulso da igreja católica pelo seu comprometimento político, foi já em 2019 readmitido na igreja católica pelo Papa Francisco. 

Com uma carreira poética recheada de prémios, do poeta transcrevo o Salmo I numa minha tradução. O poema foi inicialmente publicado em 1964 no livro Salmos, e para quem conheça o seu percurso político posterior é um retrato das contradições que envolveram um cidadão empenhado nas circunstâncias do seu tempo.

 

Salmo I 

 

Bem aventurado o homem que não segue as directivas do Partido

nem assiste aos seus comícios

nem se senta na mesa com os gangsters

nem com os Generais no Conselho de Guerra

Bem aventurado o homem que não espia o seu irmão

nem delata o seu companheiro de colégio

Bem aventurado o homem que não lê os anúncios comerciais

nem escuta suas rádios

nem acredita nos seus slogans

 

         Será como uma árvore plantada junto a uma fonte

 

Tradução do castelhano por Carlos Mendonça Lopes,

Poema original em Ernesto Cardenal, Antologia poética, Visor Libros, Madrid, 2009.

Abre o artigo a imagem de um cartaz de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) “ A Poesia está na rua” alusivo ao 25 de Abril de 1974em Portugal.

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Um poema de Iosif Brodskii (Joseph Brodsky)

19 Quarta-feira Fev 2014

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Iosif Brodskii, Joseph Brodsky, Vieira da Silva

Vieira da Silva (1908 – 1992) - A saida luminosa 1983-86

É um poema sobre Separação que escolho para pela primeira vez trazer ao blog a poesia de Iosif Brodskii, ou Joseph Brodsky (1940-1996) como é talvez mais conhecido no ocidente.

Russo de nascimento, expulso da União Soviética em 1972, Prêmio Nobel em 1990, fixou-se nos Estados Unidos, e, auto-didacta, aprendeu inglês, tendo ganho um domínio da língua que lhe permitiu escrever nela com domínio absoluto, tal como já acontecerá com Nabokov.

 

Voltando ao poema de hoje, é à reflexão sobre a dimensão do amor e do seu fim que ele nos desafia:

Esquecemos quem uma vez foi uma paixão?

… o tempo, ao dar de caras com a memória, reconhece a invalidez dos seus direitos.

 

Ao recordar, recordamos como?

Tu tiveste sorte: onde estarias para sempre — salvo talvez

numa fotografia — de sorriso trocista, sem uma ruga, jovem, alegre?

 

E ao recordar significa que o amor permanece? Memória é amor?

 

Não me interpretes mal: a tua voz, o teu corpo, o teu nome

já não mexem com nada cá dentro. Não que alguém os destruísse,

só que um homem, para esquecer uma vida, precisa pelo menos

de viver outra ainda. E eu há muito que gastei tudo isso.

 

Tantas perguntas…; o poema aí fica.

 

Querida, hoje saí de casa já muito ao fim da tarde

para respirar o ar fresco que vinha do oceano.

O sol fundia-se como um leque vermelho no teatro

e uma nuvem erguia a cauda enorme como um piano.

 

Há um quarto de século adoravas tâmaras e carne no braseiro,

tentavas o canto, fazias desenhos num bloco-notas,

divertias-te comigo, mas depois encontraste um engenheiro

e, a julgar pelas cartas, tornaste-te aflitivamente idiota.

 

Ultimamente têm-te visto em igrejas da capital e da província,

em missas de defuntos pelos nossos comuns amigos; agora

não param (as missas). E alegra-me que no mundo existam ainda

distâncias mais inconcebíveis que a que nos separa.

 

Não me interpretes mal: a tua voz, o teu corpo, o teu nome

já não mexem com nada cá dentro. Não que alguém os destruísse,

só que um homem, para esquecer uma vida, precisa pelo menos

de viver outra ainda. E eu há muito que gastei tudo isso.

 

Tu tiveste sorte: onde estarias para sempre — salvo talvez

numa fotografia — de sorriso trocista, sem uma ruga, jovem, alegre?

Pois o tempo, ao dar de caras com a memória, reconhece a invalidez

dos seus direitos. Fumo no escuro e respiro as algas podres.

1989

 

Tradução de Carlos Leite,

in Paisagem com Inundação, Edições Cotovia, Lisboa 2001.

Vieira da Silva (1908 – 1992) - Memória segunda 1985
Abre o artigo a imagem de uma pintura de Vieira da Silva (1908–1992) — A saida luminosa, 1983-86. Fecha o artigo outra pintura de Vieira da Silva, Memória segunda. 1985.

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