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Tag Archives: Quentin MASSYS

Da beleza numa fábula de Filinto Elísio com passagem pelo filósofo Kant

28 Quinta-feira Set 2017

Posted by viciodapoesia in Crónicas, Poesia Antiga

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Bernardo Strozzi, Diego Velasquez, Filinto Elísio, Immanuel Kant, Quentin MASSYS

Isto da beleza tem muito que se lhe diga. Ainda que pareça existir um cânon universalmente aceite sobre o que é belo (estou apenas a falar da beleza física), basta começar a listar onde identificamos a beleza para que a controvérsia surja. E a poesia ecfrástica a começar no Cântico dos Cânticos está aí para o provar.

Fundamentalmente subjectivo, o juízo sobre o belo dificilmente põe de acordo duas pessoas, e logo que sobre si próprios se debrucem, a disparidade não pode ser maior.

Nesta volúvel conversa, não resisto a citar o filósofo Immanuel Kant (1724-1804):

…
Se uma certa porção de vaidade em nada diminui uma mulher aos olhos do sexo masculino, não obstante, quando tal se torna mais visível, contribui para dividir o belo sexo. Elas julgam-se entre si muito duramente, quando se percebe que uma obscurece os encantos das demais, e as que têm grandes pretensões de sedução raras vezes são amigas, no verdadeiro sentido da palavra.
…

 

O nosso sábio filósofo, atribuindo-se o papel de árbitro, que não exactamente o de Páris na lenda, mas entre o que respeita a homens e a mulheres, antes escrevera:

…
A virtude da mulher é uma virtude bela, a do sexo masculino deve ser uma virtude nobre.
…
A vaidade que se costuma reprovar ao belo sexo, se é defeito, é então um defeito belo. Pois, os homens tão dados a galantear as senhoras, mais não fazem do que avivar os seus encantos e ficariam numa situação delicada, se elas não estivessem dispostas a aceitar os seus avanços lisonjeadores. Esta inclinação é o estímulo a mostrar-se receptivo e a observar o decoro, para dar livre curso a uma jovialidade espirituosa, e também a brilhar através das invenções volúveis do traje se lhe realçam beleza. Nisto nada há de ofensivo para os outros, aliás, se inspirada pelo bom gosto, é coisa tão encantadora que seria má educação censurá-la com críticas peguilhantes.
…
(1)

Esta reflexão sobre a condição feminina no século XVIII é contemporânea da avaliação feminino/masculino feita na fábula de Filinto Elisio (1734-1819) por interpostos animais, macaca e burro, como convém a estas moralidades, e que a seguir transcrevo.

 

A macaca e o burro

No cristal de uma fonte clara e pura
Uma macaca estava contemplando
             a sua formosura:
Os momos*, e os pulinhos revezando,
Da sua presunção indícios dava.
E de ser bela, com prazer, gozava.
           Um burro, que pastava
Não longe do mostrengo presunçoso,
Condoído as orelhas sacudia.
           E consigo dizia:
Se, ao menos, o meu porte grave e airoso;
Se a minha voz tonante ela tivera,
De ser vaidosa, a permissão lhe eu dera.

* macaquices

Temos assim esboçados claros exemplos das virtude bela e virtude nobre na distinção precisa do nosso filósofo.

Na fábula estamos perante três interlocutores: a macaca, o burro, e o leitor. Se no texto da fábula fica claro como os protagonistas se vêm a si próprios; ao leitor, o entendimento da qualidade e extensão da beleza é aspecto em aberto, deixando à sua sensibilidade a  liberdade de avaliar.

(1) in Immanuel Kant de Observações sobre o sentimento do belo e do sublime, tradução de Pedro Panarra, Edições 70, Lisboa, 2017.

Abrem e fecham o artigo dois extremos de beleza canónica: A Vénus ao espelho pintada por Diego Velasquez (1599-1660), e A velha marquesa imortalizada por Quentin Massys (1466-1530). Pelo meio temos uma mulher de idade a cuidar do seu aspecto, pintada por Bernardo Strozzi (1581-1644) em 1635. Nos seus contrastes e simbologia revelam as diferenças entre o ideal e o real na nossa imaginação.

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Iconografia da Paixão de Cristo e um poema de Ibn Gabirol

25 Sexta-feira Mar 2016

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poesia Antiga

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Derick BAEGERT, Fra Angelico, Gerard David, GIOVANNI di PAOLO, Hans PLEYDENWURFF, Ibn Gabirol, Pietro da Rimini, Quentin MASSYS

Pietro da Rimini (1300-1350) - Descida da cruz 1325-1330 500pxPietro da Rimini (1300-1350) – Descida da cruz 1325-1330

 

Nesta semana de Páscoa, quando a cristandade celebra a morte e ressurreição de Cristo, reúno imagens de alguns mestres antigos da pintura ocidental evocativas da Paixão de Cristo, e transcrevo um poema de Salomão Ibn Gabirol (1021-1058), judeu de Málaga ao tempo do Al-Andaluz, dando conta de um conceito de Deus.

1 Quentin MASSYS - Ecce Homo 1515 detalhe 600pxQuentin MASSYS (1465-1530) – Ecce Homo 1515

2 BAEGERT, Derick - Cristo carregando a cruz detalhe 600pxDerick BAEGERT (1440-1515) – Cristo carregando a cruz 1490

3 Gerard DAVID - Cristo pregado na cruz - 1480 600pxGerard DAVID (1460-1523) – Cristo a ser pregado na cruz 1480

4 Mestre húngaro desconhecido - Cristo cruxificado 1476 700pxMestre húngaro desconhecido – Cristo crucificado 1476

5 PLEYDENWURFF, Hans 1420-1472 Descida da cruz 1465detalhe 600pxHans PLEYDENWURFF (1420-1472) – Descida da cruz 1465

6 GIOVANNI DI PAOLO - Lamentação sobre a morte de Cristo 1430-35 detalhe 600pxGIOVANNI di PAOLO (1399-1482) – Lamentação sobre a morte de Cristo 1430-35

7 Fra Angelico Enterro de Cristo 1438-40 detalhe 600pxFra ANGELICO (1400-1455) – Enterro de Cristo 1438-40

 

 

 

São tempos difíceis os que vivemos hoje, no que à tolerância religiosa respeita. Valham-nos os sucessivos gestos simbólicos do Papa Francisco na construção de um clima de respeito e convivência com a diversidade da fé que em cada um habita.

 

Poema de Salomão Ibn Gabirol

 

Tu és o Vivente

sem que momento algum te determine

sem um tempo

sem um sopro ou uma alma

pois Tu és a alma da alma

Tua vida

não se compara à de um homem

tão semelhante ao nada

 

Quem souber teu segredo

gozará eternas delícias

 

 

Tradução de José Tolentino Mendonça

Transcrito de Rosa do Mundo, 2001 poemas para o futuro, Assírio e Alvim, Lisboa 2001.

 

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