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Iconografia da Paixão de Cristo e um poema de Ibn Gabirol

25 Sexta-feira Mar 2016

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poesia Antiga

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Derick BAEGERT, Fra Angelico, Gerard David, GIOVANNI di PAOLO, Hans PLEYDENWURFF, Ibn Gabirol, Pietro da Rimini, Quentin MASSYS

Pietro da Rimini (1300-1350) - Descida da cruz 1325-1330 500pxPietro da Rimini (1300-1350) – Descida da cruz 1325-1330

 

Nesta semana de Páscoa, quando a cristandade celebra a morte e ressurreição de Cristo, reúno imagens de alguns mestres antigos da pintura ocidental evocativas da Paixão de Cristo, e transcrevo um poema de Salomão Ibn Gabirol (1021-1058), judeu de Málaga ao tempo do Al-Andaluz, dando conta de um conceito de Deus.

1 Quentin MASSYS - Ecce Homo 1515 detalhe 600pxQuentin MASSYS (1465-1530) – Ecce Homo 1515

2 BAEGERT, Derick - Cristo carregando a cruz detalhe 600pxDerick BAEGERT (1440-1515) – Cristo carregando a cruz 1490

3 Gerard DAVID - Cristo pregado na cruz - 1480 600pxGerard DAVID (1460-1523) – Cristo a ser pregado na cruz 1480

4 Mestre húngaro desconhecido - Cristo cruxificado 1476 700pxMestre húngaro desconhecido – Cristo crucificado 1476

5 PLEYDENWURFF, Hans 1420-1472 Descida da cruz 1465detalhe 600pxHans PLEYDENWURFF (1420-1472) – Descida da cruz 1465

6 GIOVANNI DI PAOLO - Lamentação sobre a morte de Cristo 1430-35 detalhe 600pxGIOVANNI di PAOLO (1399-1482) – Lamentação sobre a morte de Cristo 1430-35

7 Fra Angelico Enterro de Cristo 1438-40 detalhe 600pxFra ANGELICO (1400-1455) – Enterro de Cristo 1438-40

 

 

 

São tempos difíceis os que vivemos hoje, no que à tolerância religiosa respeita. Valham-nos os sucessivos gestos simbólicos do Papa Francisco na construção de um clima de respeito e convivência com a diversidade da fé que em cada um habita.

 

Poema de Salomão Ibn Gabirol

 

Tu és o Vivente

sem que momento algum te determine

sem um tempo

sem um sopro ou uma alma

pois Tu és a alma da alma

Tua vida

não se compara à de um homem

tão semelhante ao nada

 

Quem souber teu segredo

gozará eternas delícias

 

 

Tradução de José Tolentino Mendonça

Transcrito de Rosa do Mundo, 2001 poemas para o futuro, Assírio e Alvim, Lisboa 2001.

 

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Aproximação ao Natal com Natal Chique e Anjos de Vitorino Nemésio

19 Quinta-feira Dez 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Bosch, Fra Angelico, Gerard David, Vitorino Nemésio

MASTER of Moulins 1480A azáfama que se espera de nós no corropio das prendas, e a realidade social que nos envolve, mostra-a Vitorino Nemésio (1901-1978) neste poema, Natal Chique, na metáfora da compra do anjo anunciado no jornal e do príncipe pedinte.

 

Natal Chique

 

Percorro o dia que esmorece

Nas ruas cheias de rumor;

Minha alma vã desaparece

Na muita pressa e pouco amor.

 

Hoje é Natal. Comprei um anjo,

Dos que anunciam no jornal;

Mas houve um etéreo desarranjo

E o efeito em casa saiu mal

 

Valeu-me um príncipe esfarrapado

A quem dão coroas no meio disto,

Um moço doente, desanimado…

Só esse pobre me pareceu Cristo.

 

Mas nem só deste embrulho de papel colorido se faz o Natal. Há uma sub-reptícia corrente mística que permanece, e nela, os anjos têm fulcral protagonismo anunciador.

 Fra Angelico (1400-1455) Altar do PradoA

Foi um anjo que anunciou a Maria a concepção divina.

Para os meninos educados na religião católica são anjos que os acompanham na forma de anjo da guarda. É talvez esse o anjo temido por Vitorino Nemésio, capaz de informar Deus das suas traquinices, e assim referido no poema Anjos:

 DAVID, Gerard - Anunciação 1506

Anjos são os terríveis / Modos de Deus connosco; / Nós, as suas possíveis / Transparências a fosco.

 

Lívidos, sem respiração / Ficávamos do toque / Da primeira asa vinda; / Mas eles rondam apenas a oração / Que múrmura os evoque, / E vão-se, e tornam ainda.

 

Enquanto exército imaginado de emissários de Deus, têm presença forte na vida dos crentes, ainda que nos nossos dias esteja um pouco fora de moda a invocação da sua companhia.

Bosch - Triptych of Haywain (left wing) -1500-02 detalhe

Figuras centrais da mitologia do Natal, e imagem de excelência do Paraíso como quotidiano, leia-se a visão deles por um homem religioso.

 

Anjos

 

Os anjos são rijos como as pedras

E leves como as prumas.

Na leira rasa de aves, Tu, que redras

Terra, névoas e espumas,

—Deus, de teu nome! —sabes

Que um anjo é pouco e imenso:

Por isso cabes

No anjo e ergues o incenso.

 

Desfaleço a pensar-te,

Ó ser de Anjos e Deus

Que baixa em mim:

Sobe-me na alma, que ando a procurar-te

E dizendo-te Deus

Acho-te assim.

 

Anjos são os terríveis

Modos de Deus connosco;

Nós, as suas possíveis

Transparências a fosco.

 

Lívidos, sem respiração

Ficávamos do toque

Da primeira asa vinda;

Mas eles rondam apenas a oração

Que múrmura os evoque,

E vão-se, e tornam ainda.

 

Deles para cima, ainda mais graus de glória

Relutam ao sentido

Que deles vem à memória

Como uma bolha de ar na água do olvido:

No mais, são tão pesados,

Os anjos leves ao justo…

Tão alados,

Mas desgostosos do nosso susto!

 

É isso! Disse-mo agora

O verbo súbito surpreso:

Ser anjo é espanto da demora

Nossa e do peso pávido

Que nos estende.

Terrível é quem toca terra

Para a levar, e não a rende.

 

Que o anjo, de si, é àvido

De transe e rapidez,

E é ele que chora

Nosso chumbo, hora a hora:

É ele que não entende

A nossa estupidez.

 

Poemas de O Pão e a Culpa, Lisboa 1955.

 

 

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