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O prazer na sobriedade dos livros e poema de Xenófanes de Cólofon

28 Quarta-feira Ago 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poesia Antiga

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Paolo Veronese, Poesia Grega Antiga, Xenófanes de Cólofon

Veronese - Bodas de CanaãAbrir o pacote e receber um livro tamanho 12x19cm, espessura pouco mais que um centímetro, que cabe na mão e se segura com prazer, encadernação em pele, lisa, azul escuro, título em dourado a um terço da altura, abrir, papel creme, mate, sedoso ao toque, a mancha impressa, em caracteres legíveis sem esforço, começar a ler e, de súbito, entrar no mundo da Grécia antiga, conversar com os seus poetas sobre temperança e excesso nos prazeres, a mesquinhez e heroísmo dos homens, a vida em sociedade e a sua organização política, os caprichos dos deuses e a incerteza da vida, ser jovem e ser velho, os filhos, os trabalhos da terra, a sobrevivência, ser rico ou pobre, em suma a aprendizagem do viver, tudo isto recebi. Vinha numa edição da Editorial Gredos. São livros da sua Biblioteca Classica. Um mundo para saborear no que já conheço e para descobrir no que não sei que existe. Desses prazeres e surpresas ir-vos-ei dando conta. Por agora o prazer é meu.

De tudo o que referi nos fala, entre outros, também Xenófanes de Cólofon (séc. VI-V a. C.). Dele vos deixo um poema. Não a tradução integral em espanhol de um seu fragmento , que agora leio, mas  os versos1-18 em bela tradução portuguesa de Maria Helena da Rocha Pereira, publicado na sua antologia de Cultura Grega, Hélade.

Agora está o solo puro, e as mãos de todos nós

e os cálices. Um põe-nos as coroas entretecidas,

e outro oferece-nos numa taça a essência fragrante.

O crater está repleto de boa disposição.

Está já pronto outro vinho, que garante que jamais

abandona ao barro o cheiro a mel da sua flor.

No meio, uma árvore de incenso desprende um sacro aroma;

a água está fresca, doce e pura.

Aqui temos os fulvos pães e a mesa sumptuosa,

carregada de queijo e de pingue mel.

Ao meio, o altar está todo coberto de flores.

A música festiva domina o ambiente.

Ao deus devem os homens sensatos entoar primeiro um hino,

com ditos de bom augúrio e palavras puras.

Depois de fazer as libações e preces para procederem

com justiça — pois isso é a primeira lisa —

não é insolente beber até ao ponto de se poder voltara casa

sem ajuda de um escravo, a menos que se seja muito idoso.

(fragmento 1, ed. Diels-Kranz, versos 1-18)

Abre o artigo uma imagem da pintura de Paolo Veronese (1528-1588), As Bodas de Canaã, certa vez contemplada por horas no Louvre  onde se guarda. Acrescento agora alguns detalhes desta gigantesca obra-prima.

Ao leitor deixo a liberdade do confronto entre o que vê e leu, a história, a arte, e a sabedoria que a vida acaba por nos trazer.

Veronese - Bodas de Canaã detalhe 1

Veronese - Bodas de Canaã detalhe 2

Veronese - Bodas de Canaã detalhe 3

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O desejo, canção da Grécia, em versão de Herberto Hélder

17 Domingo Fev 2013

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga

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Herberto Helder, Poesia Grega Antiga

Rune T 02É numa linguagem de oráculo que Herberto Hélder (1930) nos dá a versão dum poema da Grécia arcaica, originário de Epiro, a que chamou O DESEJO.
Podemos escolher entre os versos e desdobrá-los de significados, e a cada leitura novas leituras se nos oferecem, nesta ansiedade de amor:

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu, / eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.

Continuamos a leitura, e ouro, vermelho, maçã, são as palavras/imagens por onde o desejo se espraia.

Ler o poema é penetrar um pouco no mistério do desejo e na dificuldade da sua verbalização.

O DESEJO
(Canção)

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

Versão de Herberto Hélder, in Rosa do Mundo, 2001 poemas para o futuro.

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