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Cleantes de Assos — Hino a Zeus

11 Segunda-feira Ago 2014

Posted by viciodapoesia in Poesia Antiga, Poesia Grega

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Cleantes de Assos, Grécia, Peter Paul Rubens

Anónimo - atribuido a Rubens - Hercules FarneseAProvavelmente, para o ser humano que pensa, o mais difícil é aceitar quanto o seu conhecimento do mundo será sempre apenas parcial, e nessa medida, a verdade que o conduz será sempre vulnerável ao que não sabe e desconhece. É esta a limitação que introduz incerteza nas nossas vidas e leva ao conceito de algo absoluto, exterior a nós, onde as dúvidas não existem. O que no caso dos gregos antigos é o conceito de Zeus, deus de poder absoluto que tudo sabe e à sua semelhança fez o homem:

 

Em ti está a nossa origem; a sorte de ser a imagem de um deus,

só a nós coube, entre tantos seres mortais que vivem e rastejam sobre a terra.

 

Cito parte da reflexão que o filósofo estóico Cleante de Assos (séc. IV-III a. C.) desenvolve no Hino a Zeus, único texto seu com dimensão chegado até nós, e que a seguir transcrevo em tradução de Maria Helena da Rocha Pereira.

 

É um conceito de um deus regulador que o poema desenvolve, a quem se pede a salvação dos homens da ignorância, e lhes conceda a sabedoria que permite viver com honra:

 

salva os homens da funesta ignorância,

sacode-a, ó pai, da sua alma, concede-lhes que obtenham

a sabedoria com cujo apoio tudo governas com justiça,

a fim de que, honrados, te correspondamos com honra,

 

Pelo meio é dada conta dos comportamentos daqueles para quem esta vontade sobrenatural não faz lei:

 

São eles mesmos, insensatos, que se precipitam cada um para seu mal,

uns com uma pressa funesta de alcançar fama,

outros voltados para a ganância desordenada,

outros ainda para a licença e os doces prazeres físicos;

 

É de novo um entendimento do divino como regulador de comportamentos que aqui lemos, como também já acontecia com o fragmento de teatro filosófico de Crítias que em artigo anterior transcrevi. Mas em Cleantes encontramos não a fala de um ateu, mas um crente agradecido pois entende-se feito à imagem do deus, no que é a invenção maior da mitologia grega.

 

Cleantes de Assos (séc. IV-III a. C.)

 

Hino a Zeus

 

Ó mais glorioso dos imortais, deus de muitos nomes e sempre poderoso,

Zeus, senhor da natureza, que tudo governas com leis,

salve! Pois a todos os mortais é lícito falar-te.

Em ti está a nossa origem; a sorte de ser a imagem de um deus,

só a nós coube, entre tantos seres mortais que vivem e rastejam sobre a terra.

Por isso te entoarei um hino e cantarei sempre o teu poder.

A ti obedece todo este mundo que gira em torno da Terra,

por onde quer que o leves, e de boa mente te é submisso.

Seguras nas invictas mãos, como teu servidor,

o raio incandescente e de dois gumes, sempre vivo.

Sob o seu impulso, caminha toda a obra da natureza:

com ele diriges a tua Palavra universal, que passa através de tudo,

misturando-se com o astro luminoso maior, e também com os menores.

Não se faz sobre a terra obra alguma sem ti, ó deus,

nem sobre o etéreo pólo divino, nem sobre o mar,

excepto os actos dos malvados na sua demência.

Mas tu sabes ajustar mesmo o que é discordante

e ordenar o que é caótico, e ódio em ti é amor.

E assim harmonizaste tudo o que é nobre com o que é vil, numa só unidade,

de modo a originar uma Palavra eterna de tudo,

a que fogem aqueles dos mortais que são inferiores,

insensatos, sempre a almejar a posse do bem,

sem verem nem atenderem à lei universal do deus,

em cuja obediência seriam connosco felizes.

São eles mesmos, insensatos, que se precipitam cada um para seu mal,

uns com uma pressa funesta de alcançar fama,

outros voltados para a ganância desordenada,

outros ainda para a licença e os doces prazeres físicos;

procedem sem pensar, arrastados de um lado para o outro,

apressando-se com vigor para que suceda o contrário dos teus desejos.

Mas ó Zeus remunerador de tudo, senhor das nuvens negras e do raio coruscante,

salva os homens da funesta ignorância,

sacode-a, ó pai, da sua alma, concede-lhes que obtenham

a sabedoria com cujo apoio tudo governas com justiça,

a fim de que, honrados, te correspondamos com honra,

cantando sem cessar as tuas obras, como cumpre

a um mortal, já que, nem para homens nem para deuses,

há maior honra do que celebrar sempre a tua lei universal.

 

in Hélade, 8ªedicao, Edições Asa, 2003.

 

Abre o artigo um desenho anónimo, atribuido a Peter Paul Rubens (1577-1640) conhecido como o Hércules Farnese.

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O Julgamento de Páris — lenda e pintura

10 Terça-feira Set 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte

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Anselm Feuerbach, Carel van savoyen, Cornelis Cornelisz. van Haarlem, Eduard Lebiedzki, Franz Floris, Hendrick van Balen, Henri Pierre Picou, Jean Baptiste Regnault, Joachim Wtewael, Joan de Joanes, Julgamento de Páris, Luca Giordano, Pacecco, Peter Paul Rubens

XKH146463Numa história de Agatha Christie é o desconhecimento de uma personagem sobre quem foi Páris, herói troiano, confundindo-o com a cidade de Paris, que leva à solução do mistério policial.

00 Peter Paul Rubens - O Julgamento de Páris - 1639Na verdade, suponho, poucos serão os que hoje, perante uma pintura que represente O Julgamento de Páris, saberão descodificá-la e de que trata a representação. 000 Joachim Wtewael - O Julgamento de Páris

Para começar, nesta história Páris não é réu mas sim juiz. E juiz da beleza feminina. 01 Jean Baptiste Regnault - O Julgamento de Páris - 1820

Então a história, qual é? 1 Eduard Lebiedzki - O Julgamento de Páris - 1906

Páris, filho de Príamo, rei de Tróia, renegado pelo pai, de forma variada consoante as fontes, cresceu entre pastores, e adulto regressou a Tróia, sendo a sua identidade revelada. O episódio da lenda de Páris que hoje me interessa é o julgamento que terá estado na origem da guerra de Tróia.

02 Luca Giordano 1681-83Os deuses encontravam-se reunidos para celebrar as núpcias de Tétis e Peleu. Éris (a Discórdia) lançou para o meio deles uma bola de ouro, dizendo que deveria ser entregue à mais bela das três deusas: Atena, Hera e Afrodite. No Olimpo ninguém queria a responsabilidade da escolha e Zeus ordenou a Hermes que conduzisse as três deusas junto de Páris, e este julgaria a questão.

9 Joachim Wtewael - O Julgamento de Páris (2)Na presença de Páris cada uma das deusas expôs os seus argumentos para ter direito à bola de ouro. Cada uma prometeu-lhe dons especiais se decidisse a seu favor: Hera entregava-lhe o domínio de toda a Ásia: Atena prometeu-lhe a sabedoria e a vitória em todos os combates; Afrodite limitou-se a oferecer-lhe o amor de Helena de Esparta, lendária beleza por quem Páris, escreve Ovídio, estaria apaixonado . Páris decidiu que Afrodite era a mais bela.

6 Joan de Joanes - O Julgamento de Páris - 1523-1579O episódio conta-o Ovídio numa das Cartas das Heroínas, a carta que Páris envia a Helena. Infelizmente não conheço tradução em português para vos mostrar.

4 Cornelis Cornelisz. van Haarlem -O Julgamento de Páris - 1628Esta é uma lenda para os homens que preferem o amor ao poder, ao triunfo sobre os outros, e até à sabedoria. 2 Hendrick van Balen -O Julgamento de Páris

Sobretudo nos séculos XVI e XVII, ainda que posteriormente não tenha desaparecido da pintura ocidental, o assunto foi tema de variadas pinturas, pois o pretexto era excelente para pintar nus femininos. De entre o acervo que conheço, e obtive imagens de qualidade, deixo uma escolha, e estendo-a até ao inicio do século XX. As características de escola e época estão lá, e como de costume apenas o génio de algum mestre traz o fulgor a um assunto codificado.

3 Pacecco - 1645

4 Carel van savoyen -O Julgamento de Páris

8 Henri Pierre Picou -O Julgamento de Páris - sec XIX

5 Franz Floris

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