• Autor
  • O Blog

vicio da poesia

Tag Archives: Mário Dionísio

Neste café quase deserto… com Mário Dionísio

18 Sexta-feira Jan 2013

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

≈ Deixe um comentário

Etiquetas

Maria Helena Vieira da Silva, Mário Dionísio

Vieira_da_Silva_Maria_Helena_-Interieur_a_la_spiraleNeste cruzar de poesia e quotidiano com que me entretenho e ocupo o blog, percorro por vezes caminhos inesperados, como ir ao encontro deste poema de Mário Dionísio (1916-1993), poeta e critico outrora famoso e hoje empurrado para um inglório esquecimento.

46
Neste café quase deserto
não espero hoje ninguém
senão a cor difusa duma ausência
que não magoa e sabe bem

Uma palavra ou outra incompleta se recorta
na memória um minuto preguiçosa
só mal desperta quando a porta
se abre e fecha e entra alguém
que vai sentar-se longe ou aqui perto

O sol de inverno sinto-o nos dedos
como discreta ajuda carinhosa
a esta construída sonolência
tão espontânea sei lá em tanta gente

Que longe tudo o que procuro!

Ser como os outros todos um instante que seja é tão tranquilo e diferente!

sem planos sem segredos
sem história sem passado sem futuro

O poema pertence ao livro Memória dum pintor desconhecido, de 1965, onde os ecos do pintor, que Mário Dionísio também foi, se encontram.

Cruzando ainda um desolado quotidiano, surge-nos no mesmo livro Que bela manhã de névoa, reflexão em paisagem de gélida beleza, na busca dos outros em si:
Sozinho vou falando por ruas que não há e nos meus dedos / só de névoa outros sinto aflitos sussurrando / não pode ser não pode ser

48
Que bela manhã de névoa
para ser infeliz em companhia

Está frio está bom quase ninguém
nas ruas
E se alguém passa perto vai tão longe e sem ruído que se pensa
em algodão ou asas

Que cidade é esta?

A mágoa que me resta como sempre levo-a
escondida bem no fundo da algibeira
mas vejo-a solta em flocos sobre as casas e suspensa
pairar no céu que mal se vê e enredar-se
em quase roxas chaminés e nas arvores
nuas

Um só toque de verde e vermelho de Veneza deve dar
em muito branco de prata esta frieza de tempo cego e húmida surpresa
onde algures arde uma fogueira
que enxuto faz por dentro o que por fora é água
só e arrepio de gélida beleza

Que vasto o mundo e estranho e que minuto!
E que ilusão saber alguma coisa ou não saber!

Sozinho vou falando por ruas que não há e nos meus dedos
só de névoa outros sinto aflitos sussurrando
não pode ser não pode ser

Partilhar:

  • Tweet
  • E-mail
  • Partilhar no Tumblr
  • WhatsApp
  • Pocket
  • Telegram

Gostar disto:

Gosto Carregando...

Visitas ao Blog

  • 2.092.825 hits

Introduza o seu endereço de email para seguir este blog. Receberá notificação de novos artigos por email.

Junte-se a 876 outros subscritores

Página inicial

  • Ir para a Página Inicial

Posts + populares

  • Camões - reflexões poéticas sobre o desconcerto do mundo
  • Elogio da sombra — poema de Jorge Luis Borges
  • A valsa — poema de Casimiro de Abreu

Artigos Recentes

  • Sonetos atribuíveis ao Infante D. Luís
  • Oh doce noite! Oh cama venturosa!— Anónimo espanhol do siglo de oro
  • Um poema de Salvador Espriu

Arquivos

Categorias

Create a free website or blog at WordPress.com.

  • Seguir A seguir
    • vicio da poesia
    • Junte-se a 876 outros seguidores
    • Already have a WordPress.com account? Log in now.
    • vicio da poesia
    • Personalizar
    • Seguir A seguir
    • Registar
    • Iniciar sessão
    • Denunciar este conteúdo
    • Ver Site no Leitor
    • Manage subscriptions
    • Minimizar esta barra
 

A carregar comentários...
 

    %d bloggers gostam disto: