Etiquetas
Quando leio e aqui transcrevo os exaltados êxtases poéticos da rapaziada de inicio do século XX, interrogo-me sobre qual seria o aspecto das mulheres que os entusiasmavam.
Por exemplo, para Juan Ramón Jiménez (1881-1958), o Nobel espanhol, quando escreve no seu poema A mulher nua:
Limite exacto da vida, / perfeito continente, / harmonia formada, único fim, / definição real da beleza, / mulher nua:
que mulher veria?
É uma pergunta para a qual nunca terei resposta, mas apraz-me aceitar que a beleza fotografada a meio corpo que vos trago a abrir poderia estar entre essas deusas de levar à loucura os mancebo da época. Ou então, esta outra menininha com frio apenas nas pernas que prazenteira se mostra, com mais delicadeza e charme que suas netas ou bisnetas que hoje fazem os fólios centrais das revistas de tudo e nada.
Querereis conhecer o poema na totalidade? Ele aqui fica.
A mulher nua
Humana fonte bela,
repuxo de delicia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que contemplavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?
(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corpo,
calor e amor, mulher nua!)
Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza,
mulher nua: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstracta;
não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes
concreta eternidade!
Poema de Juan Ramón Jiménez
Tradução de José Bento
Não estando ao alcance de todos belezas de primeira água como as anteriores, havia a fantasia de sonhar com as divas do cinema já na época, e não muito diferente da primeira, é a foto de Louise Brooks (1906-1985), inesquecível Lulu no cinema mudo e diva dos anos 20 do século XX, com que fecho esta pequena nota de fim-de-semana.