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Meditação idiota na hora de deitar-se sózinho por Juan Luis Panero

11 Terça-feira Fev 2014

Posted by viciodapoesia in Poetas e Poemas

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Edward Hopper, Juan Luis Panero

Hotel by a Railroad 1955A secura pungente dos seus processos de sentimentalização, o expressionismo radical de uma redução do vivido a escassos pontos de dor essenciais (a solidão, a viagem, o fracasso, o álcool, os amores vividos e perdidos), dão forma a uma visão magoadíssima da condição individual do humano.

É com esta penetrante e belíssima síntese da obra poética de Juan Luis Panero (1942-2013) por Joaquim Manuel Magalhães que introduzo os leitores no poema Meditación idiota a la hora de acostarse solo em tradução do poeta José Bento.

Eleven AM 1926

Meditação idiota na hora de deitar-se sózinho

 

Se disseste, e tens repetido tantas vezes,

que o teu único amor é uma mala,

para que te queixas e protestas

enquanto olhas o tecto sobre tua cama solitária.

Vítima, juiz e enfim carrasco,

podes ainda sentir que estremeces porque alguém te ama,

mas tu escolheste, de certo modo, esse destino,

e agora deves pagar o preço.

Tu que pronunciaste “amo-te” tantas vezes,

para te rires depois da tua frase,

– o que esperas?, a quem pedes em vão?

Se quando encontras alguém que comparte teus dias,

tuas noites mais terríveis, tua soma de fracassos,

te mete medo dizer-lhe “continuemos sempre juntos”,

embora seja uma frase, embora não o creias,

– que final é o teu?, que esperas tu?

E se também te queixas das farsas grotescas

que amiúde, inúteis, constróis

com frívolas histórias, palavras mercenárias,

– o que pretendes? que pedes à vida?

A vida não é um jogo, deves tê-lo compreendido,

e se há algo evidente é que já envelheceste.

Conforma-te e aguenta e não peças milagres,

que o vodka te acompanhe ao silêncio e ao sono.

Aos pés da tua cama, como cadela no cio,

a morte, serviçal, dá-te as boas noites.

 

in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, selecção e tradução de José Bento, Assírio & Alvim, Lisboa, 1985.

Chair CarAcompanham o artigo imagens de pinturas de Edward Hopper (1862-1967).

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CINZA ETERNA – Poema de Juan Luis Panero (1942) para a pintura de Giorgio Morandi (1890-1964)

04 Sexta-feira Nov 2011

Posted by viciodapoesia in Convite à arte, Poetas e Poemas

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Giorgio Morandi, Juan Luis Panero

…

O quarto decorado em tons pastel lembrava uma pintura de Morandi, transpirava uma atmosfera diáfana e convidava ao repouso. A luz coada pelas cortinas esvoaçantes punha sobre os móveis encerados um dourado acolhedor.

…

 

Depois deste fragmento de uma ficção em curso, deixo-vos com um poema de Juan Luis Panero (1942) evocativo da pintura de Giorgio Morandi (1890-1964).

CINZA ETERNA

(Giorgio Morandi)

 Musica silenciosa da cor, rumor do pincel e da tela,

simbolo simples, segredo azul e cinzento.

O tempo passa, mas não fere, parece flutuar,

suave nos contornos, detido nas formas,

 reflexos onde a realidade se sonha,

 inventada luz, por isso mais intensa.

Milhares de olhos e um único olhar

para pintar esta garrafa, depurar o branco daquela cerâmica,

despir, transparente pele cálida, fulgor acariciado,

o vidro, a toalha, a madeira, as frágeis flores,

para sonhar diferente e única,

repetida e comum, esta matéria eterna,

as suas marcas de espuma, a sua pálida cinza.

Noticia bibliográfica

O poema foi publicado no livro Antes que llegue la noche (1985) e traduzido por Joaquim Manuel Magalhães. A tradução foi publicada por RELÓGIO D’ÁGUA em 2003, na antologia da obra do poeta, POEMAS, organizada e prefaciada pelo tradutor.

 

Termino com três pinturas de Morandi onde o predomínio do amarelo produziu resultados diversos num intervalo de largos anos, num progressivo abandonar do rigor do desenho até àquela diáfana forma de representar sempre os mesmos objectos.

 

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